Escorço biográfico do
Visconde de Saboia
Visconde de Saboia
Responsável pela
instituição do
Ensino Odontológico no Brasil
José Dilson Vasconcelos de Menezes*
Ensino Odontológico no Brasil
Vicente Cândido Figueira de Saboia nasceu em Sobral – Ceará, no dia 13 de
abril de 1835, da união do Tenente Coronel da Guarda Nacional José Saboia com
Joaquina Figueira de Melo Saboia.
Iniciou os estudos na sua cidade natal, tendo, aos catorze anos, se
transferido para Recife, onde cursou os preparatórios.
Mudou-se, em seguida, para o Rio de Janeiro, onde se matriculou no curso
médico da Faculdade de Medicina, pela qual se graduou em 1858.
No ano seguinte, viajou à Europa, tendo estagiado, por dois anos, em faculdades
de Medicina de Paris e de Londres, aprofundando seus conhecimentos em Cirurgia
e Obstetrícia.
Regressando ao Rio de Janeiro, em 1861, apresentou ao Ministro do Império,
Barão de Loreto, sugestões para novos acréscimos nos Estatutos da Faculdade de
Medicina.
Nesse mesmo ano, contraiu núpcias com Luiza Marcondes Jobim, de cujo
consórcio nasceram cinco filhos.
Com a participação de alguns colegas de turma, fundou a Academia
Filosófica do Rio de Janeiro.
Em 1863, na condição de Membro Titular, ingressou na Imperial Academia de
Medicina, tendo presidido essa instituição de 1891 a 1982.
Concorrendo para o cargo de Catedrático da Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro, obteve o 1º lugar, tendo assumido a cátedra de Patologia Externa que,
por sua sugestão, passou a se denominar Clínica Cirúrgica.
Introduziu, no Brasil, os métodos antinfecciosos de Pasteur e Lister. Recomendado pela Congregação da Faculdade de Medicina, viajou à Europa
para estudar a organização de faculdades de Medicina na Inglaterra, Alemanha,
França e Itália.
Nessa ocasião publicou, em Paris, importante trabalho adotado pelas Faculdades de Medicina de Liège e Montpellier, que lhe valeu reconhecimento científico na França, sendo distinguido com o título de Membro Correspondente da Sociedade de Cirurgia de Paris.Ao retornar, foi designado para preparar um Plano de Reforma do Ensino Primário e Secundário no Município da Corte e do Ensino Superior nas faculdades de então, elaborou um documento que serviu de base para o estabelecimento do ensino livre, sancionado pelo Decreto Imperial de 19 de abril de 1879, conhecido como Reforma Saboia.
Foi investido no cargo de Diretor da Faculdade de Medicina, em 1880, e no
de Médico do Paço, ou seja, Médico da Família Imperial, em 1882.
Nesse mesmo ano, passou a integrar o Conselho do Império, lhe tendo sido
concedidos os títulos de Comendador da Ordem de Cristo e de Barão de Saboia,
com honras e grandeza.
Viajou à Europa, em 1887, na companhia do Imperador D. Pedro II, tendo
oportunidade de visitar os Institutos de Ensino Prático das Faculdades de
Medicina de Paris, Bordeaux , Lyon, Genebra, Basileia, Zurich, Nápoles, Roma,
Bolonha, Viena, Munich, Berlim e Strasburgo.
Em 1888, foi-lhe outorgado o título de Visconde de Saboia, com honras e grandeza.
No ano seguinte, visitou vários centros médicos na Europa, proferindo
conferências.
Com o advento da República, solicitou demissão do cargo de Diretor da
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e sua jubilação da Cátedra, tendo o Governo
Republicano lhe concedido o título excepcional de Diretor Honorário.
Afastou-se da direção da Faculdade, mas não da Medicina, continuando seus
trabalhos cirúrgicos e de divulgação.
Em 1891, foi elevado à Presidência da Academia Nacional de Medicina.
Quando das comemorações do Centenário de Ensino Médico no Brasil, ocorrido
em 1908, a Academia Nacional de Medicina, homenageando destacadamente o
Visconde de Saboia, confere-lhe Medalha de Ouro com sua efígie.
Em 18 de março de 1909 faleceu, em Petrópolis, verificando-se atos de
demonstração de amor e respeito pelo povo. A Academia de Medicina de Paris
prestou-lhe significativa homenagem póstuma.
Aliado ao profícuo trabalho em prol do ensino médico, dedicava-se, com
vivo interesse, a temas literários e filosóficos, elevando-se a mais de
quarenta os trabalhos publicados: teses, monografias, notas, artigos , memórias
e discursos.
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Compreendendo que, além da Medicina, outras profissões da área da saúde,
igualmente, necessitavam participar dos avanços científicos da época, em 1880,
ao ser nomeado Diretor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, procurou
atender as necessidades reinantes, no
elenco de profissões afins da Medicina.
Com relação à Odontologia, constata-se no “Relatório acerca dos trabalhos
realizados”, apresentado em 1881:”Resta somente, para satisfazer as
necessidades actuaes crear-se o laboratório de cirurgia dentária.”
Nesse relatório está, outrossim, explicitado o fato de que o local para
esse Laboratório já havia sido preparado, bem como, o de ter providenciado a
importação, dos Estados Unidos, dos aparelhos e instrumentos necessários.
Essa foi a medida inicial, o primeiro passo para libertar a profissão do
marasmo em que se encontrava e cujo exercício, vez que ainda era regulamentada
pelo Decreto de nº 1.764 , de 14 de maio de 1856.
A época, não existiam cursos de formação odontológica, sendo exigido do
candidato a realizar procedimentos odontológicos, tão-somente, que se
submetesse a um exame numa Faculdade de Medicina para, caso lograsse êxito,
ser-lhe atribuído o título de Dentista Aprovado. Dessa forma simplória, estava legalmente habilitado ao exercício das ações
odontológicas.
A fim de reparar essa situação que, entre outras coisas, acarretava graves
danos à população assistida, na condição de Diretor da Faculdade de Medicina, o
Dr. Vicente Cândido Figueira de Saboia, encaminhou, em 1884, à consideração da Corte,
um anteprojeto de reforma das faculdades de Medicina, constando no seu artigo
inicial:
Cada uma das faculdades de Medicina do Império “se comporá de um curso de
sciencias medicas e cirurugicas e de três cursos annexos: o de pharmacia , o de
obstetrícia e o de odontologia”.
Esse documento foi bem acolhido pelo Imperador, recebendo da parte de Sua
Majestade plena aprovação, consubstanciada na sanção do Decreto de nº 9311, de
25 de outubro de 1884.
Ao ser aprovado o mencionado diploma legal, o Curso de Odontologia passou
a integrar elenco universitário, proporcionando aos cirurgiões - dentistas,
além de correta formação profissional, o ambiente necessário à constante
ampliação dos conhecimentos técnico – científicos.
A esse consagrado Mestre, notável administrador, com destacada atuação no Brasil
Império e que tanto impulsionou a Medicina no nosso País, pelas medidas
implantadas devem-lhe os integrantes da categoria odontológica respeitável
reverência à sua memória, vez que, graças a elas, a Odontologia experimenta a
projeção atualmente alcançada.
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