segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

ARTIGO - 19 Anos de Ordenação Pe. Ivan Dias (FAM)

DEZENOVE ANOS DE ORDENAÇÃO SACERDOTAL
DO Pe. IVAN DIAS, SJ
Fernando Antônio Mesquita*


Coisa admirável! A religião cristã, que parece não ter outro objetivo senão a felicidade da outra vida, nos proporciona, também, a felicidade nesta. (MONTESQUIEU).


Primeiro dos sacerdotes de que se tem registro na História Sagrada (Gênesis, 14, 18-20), Melquisedec aparece na história como Rei de Salém (Jerusalém primitiva), sem genealogia, sem descendência nem qualquer registro de início ou de fim da sua vida.

Na sua Carta aos Hebreus, no entanto, São Paulo nos diz que

Considerai, pois, como Melquisedec era grande: Abraão, o Patriarca, lhe deu o “dízimo dos despojos”. Segundo a Lei de Moisés, os descendentes de Levi que se tornam sacerdotes devem receber o “dízimo do povo”, isto é, dos seus irmãos, embora estes também sejam descendentes de Abraão. Melquisedec, porém, sem figurar entre os descendentes de Levi, recebeu o “dízimo de Abraão” e ainda lhe deu a sua bênção, a ele que havia recebido as promessas de Deus. Ora, aquele que recebe a bênção é, sem dúvida, menos importante do aquele que a concede.

“Rei de Justiça” é o significado do nome Melquisedec. Na Bíblia, é identificado como sacerdote do Deus Altíssimo (Gênesis, 14, 18). Ao contrário do ofício de Aarão, cuja continuidade era assegurada hereditariamente, o de Melquisedec é eterno. Com apenas um sacrifício, seu Ministério se plenificou, pois, com a morte de Cristo, nos foi assegurada a eterna redenção perante Deus (Hebreus, 7, 23-28).

Jesus Cristo tem uma genealogia que remonta a Abrão e, em última instância, ao próprio Deus. Na qualidade de filho de Deus, entretanto, ele é eterno: não possui procedência genealógica (João 1, 1-3).

Neste sentido, pois, Melquisedec é uma prefiguração perfeita do Filho de Deus. 

Nosso sacerdote, Padre Ivan Dias, recebeu do Espírito Santo, por intermédio da Igreja, o múnus sacerdotal – Sacramento da Ordem. Quando de sua ordenação, ouviu do Bispo as palavras do Salmo de David: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec.

De tal modo, na oportunidade na qual o homenageado, Padre da Ordem Jesuítica, José Ivan Dias, perfaz 30 anos de existência religiosa e 19 de vida sacerdotal, ocorrida 1997, no exato sentido de Melquisedec, particularmente, e no nome dos componentes da Sociedade Médica São Lucas, o abraçamos efusivamente pela transcorrência de tão distinto e não menos magno dia.

Auguramos-lhe, por conseguinte, vida longa, permanência segura nos ditames religiosos e humanos que escolheu para obedecer, sob os auspícios da Santíssima Trindade. Nesta homenagem, então, é latente nossa intenção de solicitar do Altíssimo as graças e bênçãos para figura tão grada da Sociedade e do Clero brasileiros, pontificando, novamente, com a ideia davídica – Tu es sacerdos secundum in aeternum ordinem Melchisedech.



ARTIGO - Hoje, Ano Bissexto (VM)


HOJE,
29 DE FEVEREIRO DE 2016,
UM DIA A MAIOR DO ANO BISSEXTO
Vianney Mesquita*



Mil, dez mil anos não passa de simples ponto que nos não é dado ver.       SIMÔNIDES DE CEOS. (YLulis-Ceos, 586 a.C. VAgrigento-Itália, 488 a.C.). 
                                                                                      

Depois de 2012, conforme o Calendário Gregoriano, ora vigente na banda ocidental, este ano é o primeiro bissexto, pois hoje, 29 de fevereiro – só ocorrente de quatro em quatro anuênios – significa o fato de que o exercício fluente possuirá 366 dias, ao passo que os três anteriores perfizeram somente 365 períodos de 24 horas.

Ocorreu de amigos e pessoas modestas a mim chegadas, nomeadamente não muito afeitos ao trato literário, me perguntarem, com recorrência, acerca dessa dicção, empregada a miúdo com relação aos poetas e escritores pouco produtivos ou de produção apenas singular, ou seja, “por que Fulano é considerado poeta bissexto?”

Lembro-me de que, em 2012, conforme referido há pouco, derradeiro bissexto sucedido, as indagações mais afluíram, de modo que passo a narrar o assunto, evidentemente, sem profundidade científica, louvado apenas no conhecimento do senso comum adquirido ao longo do tempo, na vida e na escola, o qual também se encontra à disposição de qualquer pessoa, em obras de referência de domínio público, facilmente acessíveis, como dicionários e enciclopédias.

Colhi, então, a informação de que, no tempo do Império Romano, sob Caio Júlio César, consoante conta Caio Plínio Segundo, o Velho, o ano vulgar possuía 365 dias.



Como o movimento de translação anual da Terra à volta do Sol somente se completa após 365 dias mais um quarto, as seis horas restantes ensejavam divergências entre o ano civil e o moto dos corpos celestes – estrelas, planetas, nebulosas, cometas etc.

Júlio César, então, convocou o astrônomo Sosígenes, de Alexandria, e contratou com ele a solução do problema. O Sábio egípcio, então, decidiu estabelecer que, de quatro em quatro anos, seria acrescentado um dia ao mês de fevereiro, resultado da soma das horas sobrantes de 365 nesses anos. 

Tal significa dizer que, após um período de 366 dias (bissexto = duas vezes sexto), se seguem três de 365 e um de 366. De tal maneira, não parece correto se dizer que um ano perfaz 365 dias e seis horas, dada a decisão do Astrônomo alexandrino de somar às 18 horas as seis do tempo bissexto para completá-lo, porém, com 366 conjuntos de 24 x 60 minutos.

Curioso é notar o fato de que todos os anos cuja expressão numérica é divisível por quatro são bissextos, com 366 dias, como nos casos de 1.600, 1.200, 800 e 2.000.

Os anos seculares, salvante esses do exemplo e outros cujos dois algarismos iniciais não se expressam como exatamente divisíveis por quatro, não resultam bissextos, razão por que o ano secular de 1.900 não o foi.

Em alusão a essa periodicidade do tricentésimo sexagésimo sexto dia, inventou-se, no Brasil, uma locução, desusada noutras nações lusófonas – poeta bissexto/escritor bissexto.

A palavra bissexto, bem como o termo bissêxtil, de há muito deixaram de ser neologismos, pois dicionarizados em 1946. Tencionam, então, conotar o estado daquele, particularmente do poeta, dedicado excepcionalmente à literatura, fazendo poucos versos, o que sugere se evocar, em razão dessa escassez de produção, o dia bissexto de fevereiro (29) e os anos bissêxteis.

Ocorre, exempli gratia, com EUCLIDES Rodrigues Pimenta DA CUNHA, celebrado autor nacional das letras, no terreno social, bem como nas áreas histórica e política. O Autor fluminense produziu extraordinárias obras nestas fertílimas searas, internacionalmente conhecidas e acatadas, como, por exemplo, Peru versus Bolívia, Contrastes e Confrontos, À Margem da História e o admirável Os Sertões, além doutras de fecunda inspiração e lúcidas ilações.

Euclides da Cunha (YCantagalo-RJ, 20.01.1866 ; VRio de Janeiro, 15.08.1909) achou de escrever, em meio às produções do seu gênero, o Soneto sequente, intitulado Dedicatória, que extraí de Os mais Belos Sonetos Brasileiros, livro de Edgard Resende (Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1945):

Se acaso uma alma se fotografasse,/De sorte que nos mesmos negativos/A mesma luz pusesse em traços vivos/O nosso coração e a nossa face ...

E os nossos ideais, e os mais cativos/De nossos sonhos ... se a emoção que nasce/Em nós também nas chapas se gravasse/Mesmo em ligeiros traços fugitivos ...

Amigo! Tu terias com certeza/A mais completa e insólita surpresa/Notando   deste grupo bem no meio

Que o mais belo, o mais forte e o mais ardente/Destes sujeitos é precisamente/O mais triste, o mais pálido e o mais feio.


Muitos dos literatos nacionais fizeram versos assim, bissextamente, conforme disse, certa vez, o intelectual-dentista Ivan César a respeito de meu amigo Antônio Girão Barroso, “o único poeta dispensado de fazer poesia”. 

Há alguns livros, especialmente de sonetos (duas estrofes de quatro versos = quartetos; e duas de três = tercetos ou trísticos), enfeixando a produção de poetas bissextos, o mais importante dos quais, pela sua contemporaneidade, é a Antologia dos Poetas Bissextos Contemporâneos, organizada por MANUEL Carneiro de Sousa BANDEIRA Filho.

A produtiva industriosidade neológica brasileira – cearense, nomeadamente – já se serve de estender mais ainda o alcance de bissexto, de maneira que se diz, progressivamente, economista bissexto, administrador bissexto, articulista bissexto, advogado, orador, comentarista e até bebedor bissexto; tudo isto sem remissão a fevereiro como o mês em que, por motivo óbvio – de acordo com a invencionice moleque do cearense –  a mulher fala menos ... 

Não é o que ocorre, porém, no Brasil. com os “lava-jatos”, que, infelizmente, não são bissextos...



domingo, 28 de fevereiro de 2016

CRÔNICA - Ai de Ti, Brasil (AJ)

AI DE TI, BRASIL
Arnaldo Jabor*


Ai de ti, Brasil, eu te mandei o sinal, e não recebeste. Eu te avisei e me ignoraste, displicente e conivente com teus malfeitos e erros. Ai de ti, eu te analisei com fervor romântico durante os últimos 20 anos, e riste de mim. Ai de ti, Brasil! Eu já vejo os sinais de tua perdição nos albores de uma tragédia anunciada para o presente do Século XXI, que não terá mais futuro. Ai de ti, Brasil – já vejo também as sarças de fogo onde queimarás para sempre! Ai de ti, Brasil, que não fizeste reforma alguma e que deixaste os corruptos usarem a democracia para destruí-la. Malditos os laranjas e as firmas sem porta.

Ai de ti, Miami, para onde fogem os ladrões que nadam em vossas piscinas em forma de vagina e corcoveiam em jet skis, gargalhando de impunidade. Malditas as bermudas cor-de-rosa, barrigas arrogantes e carrões que valem o preço de uma escola. Maldita a cabeleira do Renan, os olhos cobiçosos de Cunha, malditos vós que ostentais cabelos acaju, gravatas de bolinhas e jaquetões cobertos de teflon, onde nada cola. Por que rezais em vossos templos, fariseus de Brasília? Acaso eu não conheço a multidão de vossos pecados?
Ai de vós, celebridades cafajestes, que viveis como se estivésseis na Corte de Luís XIV, entre bolsas Chanel, gargantilhas de pérola, tapetes de zebra e elefantes de prata. Portais em vosso peito diamantes em que se coagularam as lágrimas de mil meninas miseráveis. Ai de vós, pois os miseráveis se desentocarão, e seus trapos vão brilhar mais que vossos Rolex de ouro. Ai de ti, cascata de camarões!

Tu não viste o sinal, Brasil. Estás perdido e cego no meio da iniquidade dos partidos que te assolam e que contemplas com medo e tolerância?

Cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras, e deste risadas ébrias e vãs no seio do Planalto. Ai de vós, intelectuais, porque tudo sabeis e nada denunciais, por medo ou vaidade. Ai de vós, acadêmicos que quereis manter a miséria “in vitro” para legitimar vossas teorias.

Ai de vós, “bolivarianos” de galinheiro, que financiais países escrotos com juros baixos, mesmo sem grana para financiar reformas estruturais aqui dentro. Ai de ti, Brasil, porque os que se diziam a favor da moralidade desmancham hoje as tuas instituições, diante de nossos olhos impotentes. Ai de ti, que toleraste uma velha esquerda travestida de moderna.

Malditos sejais, radicais de cervejaria, de enfermaria e de estrebaria – os bêbados, os loucos e os burros – que vos queixais do País e tomais vossos chopinhos com “boa consciência”. Ai de vós, “amantes do povo” – malditos os que usam esse falso “amor” para justificar suas apropriações indébitas e seus desfalques “revolucionários”.

Ai de vós, que dizeis que nada vistes e nada sabeis, com os crimes explodindo em vossas caras.

Ai de ti, que ignoraste meus sinais de perigo e só agora descobriste que há cartéis de empresas que predam o dinheiro público, com a conivência do próprio poder. Malditas sejam as empresas-fantasma em terrenos baldios, que fazem viadutos no ar, pontes para o nada, esgotos a céu aberto e rapinam os mínimos picuás dos miseráveis.

Malditos os fundos de pensão intocáveis e intocados, com bilhões perdidos na Bolsa, de propósito, para ocultar seus esbulhos e defraudações. Malditos também empresários das sombras. Malditos também os que acham que, quanto pior, melhor.

A grande punição está a caminho. Ai de ti, Brasil, pois acreditaste no narcisismo deslumbrado de um demagogo que renegou tudo que falava antes, que destruiu a herança bendita que recebeu e que se esconde nas crises, para voltar um dia como “pai da pátria”. Maldito esse homem nefasto, que te fez andar de marcha à ré.

Ai de ti Brasil, porque sempre te achaste à beira do abismo ou que tua vaca fora para o brejo. Esse pessimismo endêmico é uma armadilha em que caíste e que te paralisa, como disse alguém: és um país “com anestesia, mas sem cirurgia”.

Ai de vós, advogados do diabo que conseguis liminares em chicanas que liberam criminosos ricos e apodrecem pobres pretos na boca do boi de nossas prisões. Maldita seja a crapulosa legislação que vos protege há quatro séculos.

Malditos os compradiços juízes, repulsivos desembargadores, vendilhões de sentenças para proteger sórdidos interesses políticos. Malditos sejam os que levam dólares nas meias e nas cuecas e mais ainda aqueles que levam os dólares para as Bahamas. Ai de vós! A ira de Deus não vai tardar...

Sei que não adianta vos amaldiçoar, pois nunca mudareis a não ser pela morte, guerra ou catástrofe social que pode estar mais perto do que pensais. Mas, mesmo assim, vos amaldiçoo. Ai de ti, Brasil!

Já vejo as torres brancas de Brasília apontando sobre o mar de lama que inundará o Cerrado. Já vejo São Paulo invadida pelas periferias, que cobrarão pedágio sobre vossas Mercedes. Escondidos atrás de cercas elétricas ou fugindo para Paris, vereis então o que fizestes com o país, com vossa persistente falta de vergonha.

Malditos sejais, ó mentirosos, vigaristas, intrujões, tartufos e embusteiros! Que a peste negra vos cubra de feridas, que vossas línguas mentirosas sequem e que água alguma vos dessedente. Ai de ti, Brasil, o dia final se aproxima.

Se vossos canalhas prevalecerem, virá a hidra de sete cabeças e dez chifres em cada cabeça e voltará o dragão da Inflação. E a prostituta do Atraso virá montada nele, segurando uma taça cheia de abominações. E ela estará bêbada com o sangue dos pobres, e em sua testa estará escrito: “Mãe de todas as meretrizes e mãe de todos os ladrões que paralisam nosso país”. Ai de ti, Brasil! Canta tua última canção na boquinha da garrafa.

*ARNALDO JABOR
Cineasta e Jornalista
Da sua coluna em O Globo

sábado, 27 de fevereiro de 2016

ARTIGO - A Natureza Humana e a Economia Nacional (RMR)

A NATUREZA HUMANA
E A ECONOMIA NACIONAL
Rui Martinho Rodrigues*


Penso que existe uma natureza humana. Isto é, o homem não é inteiramente produzido historicamente. A natureza humana que atravessa os séculos e os milênios, sem perder a sua identidade, pode ser constatada no Antigo Testamento da Bíblia.

No Livro de Ruth, e nos livros históricos do Antigo Testamento em geral, vemos os mesmos conflitos, as mesmas paixões, as mesmas ambições. É a tal natureza humana. E essa natureza humana é feroz. O apóstolo Paulo, em suas cartas, fala na luta do espírito contra a carne (natureza humana, feroz e egoísta).

Uma das maiores mentiras (difícil saber qual é a maior delas) da chamada esquerda ideológica é dizer que o homem tem uma natureza boa, ideia claramente expressa por Rousseau, quando disse que “o homem nasce bom e a sociedade o corrompe”. O mistificador disse isso, mas nunca se preocupou em explicar quem corrompeu a sociedade.

Na verdade, a melhor forma de organização política e social é aquela que coloca a mesquinhez humana a serviço da sociedade. Aristóteles se dizia monarquista porque essa forma de governo convocava os homens a servir o interesse público mediante recompensa com honrarias, tornando-os “nobres”. A república, dizia ele, pretende que os homens sirvam à sociedade por virtude cívica. Duvidava o grande pensador que isso pudesse funcionar.

Adam Smith deu mais um passo: disse que a competição e a ambição, colocando o egoísmo a serviço da sociedade, seriam proveitosas. Eu vejo no crediário um exemplo da confirmação disso. Quem criou a venda a crédito só queria ganhar dinheiro. Não pensava em fazer o bem. Mas é o crediário que viabiliza o conforto de milhões de pessoas e aquece a economia gerando emprego, renda e impostos.

A fórmula política que divide as funções do poder (Legislativo, Executivo e Judiciário) também é um esforço para colocar as contradições humanas a serviço do bem comum. A iniciativa privada é dirigida por homens de natureza feroz. Mas eles concorrem entre si, denunciando uns aos outros. O Estado, quando acumula a função jurídico-política com a função econômica, não tem concorrência. Nem tem quem o fiscalize
.

Assim, o que se precisa fazer é limitar a participação do Estado na economia, para que ele fique fiscalizando; além de fortalecer as instituições autônomas dos poderes divididos – é o que o Ministério Público, o Judiciário e a Polícia, no âmbito federal, estão fazendo no caso Lava Jato). A alternância no poder completa o jogo.


A corrupção existe no interior da iniciativa privada, mas é limitada pelo interesse egoístico do dono, que é vigilante – “o olho do dono é que engorda o cavalo” – diz a parêmia. As relações entre empresários e políticos precisam de vigilância externa. Oposição e imprensa deveriam fazer isso. No Brasil, hoje, a oposição tem se omitido.

O setor público só se moraliza quando uma imprensa atuante, uma oposição vigilante e instituições públicas autônomas umas em relação as outras denunciam e limitam os desvios de conduta. Isso se dá porque a mesquinhez aí é posta a serviço do bem comum. O político e o jornalista que denunciam não o fazem por virtude, mas por inveja.



Vejamos os políticos do PT, que fizeram carreira denunciando corrupção e pregando ética. Os fariseus combatem a corrupção por invejar o corrupto, mas, ao fazê-lo, prestam um serviço à sociedade. A indignação é pelo privilégio alheio, e não pela justiça social. Sim, da maldade humana vem o equilíbrio, porque os maus lutam continuamente entre si.

Para que o empreendedor faça investimento é preciso haver confiança. É preciso haver segurança relativa ao marco regulador do ordenamento jurídico vigente. A instabilidade normativa afasta o investidor. É preciso haver um direcionamento estável no planejamento. É preciso haver equilíbrio nas contar públicas para que haja estabilidade monetária. É preciso que haja uma previdência, uma ordem tributária, uma Justiça Trabalhista que inspirem confiança no investidor.

O empreendedorismo do investimento formiguinha é desespero de quem perdeu o emprego ou quer começar a vida e não tem perspectiva, como o jovem que, perto de terminar o curso universitário, já está pensando em tentar um pequeno negócio, porque não há outro caminho. Mas o investimento em logística pesada, como metrôs, portos, aeroportos, ferrovias, etc, este não vêm sem as condições da estabilidade e da segurança.

O investimento público, por outro lado, depende de superávit fiscal e do crédito público. Tivemos mais de uma década quebrando recordes de arrecadação, mas ao invés de fazermos superávits acumulamos uma dívida que já chega a 67% do PIB e continua crescendo a passos largos. E não fizemos nada com o dinheiro que gerou essa dívida. 

Ela foi toda usada para manter a máquina estatal (despesas correntes); fazer política monetária, vendendo títulos para enxugar os meios de pagamento; fazer uma pseudo política social, que não passa de clientelismo; manter o câmbio artificialmente, elevando juros para atrair dólares, gerando despesa financeira com o serviço da dívida.

Na raiz de tudo está o problema das contas públicas. Caso tivéssemos equilíbrio financeiro teríamos poupança pública para investir; teríamos crescimento e não precisaríamos de artifícios com os quais tentamos segurar o câmbio; não teríamos necessidade de enxugar os meios de pagamento lançando títulos e estocando dívida e criando despesas financeiras que desequilibram as contas públicas. O realismo tarifário e cambial completaria o trabalho de soerguimento da economia.

Mas não temos partidos, líderes ou receptividade na sociedade para estas coisas. Vamos continuar trilhando o caminho errado, até que o desastre nos obrigue a reconhecer a realidade simples: não existe almoço de graça; não se colhe sem plantar; não se investe sem poupança; não se tira proveito do crédito mal utilizado, que não gera nenhuma alavancagem.





NOTA DO EDITOR:

A base deontológica do pensamento expresso acima é o postulado de que o dever social do indivíduo não é fazer o bem; mas é não fazer o mal. Ao atuar na vida privada sem fazer o mal, mas procurando fazer o bem a si mesmo, no varejo da licitude, termina por fazer o bem no atacado  quando, visando lucros e outros ganhos pessoais, contribui intelectualmente com o progresso da ciência e com os avanços tecnológicos; ou com o seu trabalho, sua inventividade e seu empreendedorismo, produz confortos sociais  emprego, renda, tributos.    

A prática do mal está prevista e tipificada no ordenamento jurídico, com a suas consequências penais, bem como nos mandamentos religiosos, que ameaçam com “castigos”. A prática do bem é estimulada pelo prazer da caridade, a sublimação do orgulho, pelo diletantismo altruístico de minorar a dor alheia, de forma pontual, o que para qualquer um é uma faculdade, mas para ninguém é obrigação – e tampouco é solução coletiva para o drama humano como um todo.

O ser humano é egoísta por natureza, psiquicamente programado para sobreviver e prosperar, o que importa em concorrer na sociedade e em lutar com os circunstantes em prol de seus próprios interesses. Se for temente à Deus ou às tenazes da Justiça, o indivíduo segue as normas de conduta postas, místicas ou jurídicas, e de forma indireta se constitui em benfeitor da sociedade.

Esse processo justifica, inclusive, o celibato no sacerdócio, pois para não concorrer na sociedade e não se confrontar com o próximo, dedicando-se unicamente ao amor universal, em busca da virtude, o “pastor de almas” celibatário de qualquer religião se procura isentar do amor romântico, e da consequente constituição familiar.

Na primeira fase da vida o indivíduo norteia a sua ação anímica pelo sexo, na emulação com os concorrentes na busca do parceiro ideal, e, vencida essa etapa, ele passa a defender seu próprio núcleo familiar, o seu clã e o patrimônio que deixará aos futuros sucessores, o que impende em concorrência e em egoístico confronto de interesses, ainda que de forma lícita e pacífica. Esse processo é inevitável quando não se é celibatário.  

Alguns não cometem ilícitos por lhe faltarem oportunidades (“não faço porque não posso). Os demais temem a Justiça (“não faço porque não ouso”). Porém, quando na luta pelo progresso pessoal a concupiscência eventualmente suplanta o medo e faz delir as suas cautelas racionais,  então a pessoa  incide em delinquência. Isso, em não havendo princípios éticos intransigentes, sedimentados no espírito da pessoa pela via da moral, que não depende da razão (“não faço porque não devo”) – e esses são casos muito raros.

Essa é a saga dos políticos corruptores alcançados pela Operação Lava Jato, que se quiseram eternizar no poder “fazendo o diabo”, bem como dos empresários por eles corrompidos, os quais se renderam à condição sine qua non imposta pelo Governo para contratar com o Poder Público.


Tinham que praticar o superfaturamento de contratos, e que firmar contratos fictícios, para o repasse de propinas – único meio de suas empresas sobreviverem no mercado, suplantarem a concorrência e enriquecerem alegremente  mesmo em detrimento da economia e das finanças do País.
         

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

APRECIAÇÃO LITEROECLESIÁSTICA - JC e a Igreja Atual (VM)


JESUS CRISTO E
A IGREJA ATUAL*
Vianney Mesquita**


Tu es petrus et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam. 


Há poucos dias, à procura de conferir um indicativo em fonte jornalística a fim de ilustrar um escrito para publicação, dei com o registo surpreendente dos dois anos de mudança, para a Grandeza Edênea, do sacerdote católico, Diocese de Sobral (natural de Tapuio, Distrito de Cariré), Padre Martins de MedeirosY30.04.1945 - V04.02.2014), com quem há tempos, mantive contato, sem conhecimento pessoa a pessoa, conforme passo a narrar.

No já distante 1998 - há 18 anos, pois – coadjuvava, em Fortaleza, o trabalho das Edições UVA, da Universidade Estadual Vale do Acaraú, ao tempo do reitor e hoje deputado estadual, Professor José Teodoro Soares, na tarefa de preparação de originais, constante de revistas de língua portuguesa, acomodação de conteúdos, apropriações bibliográficas no que concerne às normas da A.B.N.T. e tantos outros procedimentos peculiares aos misteres de uma casa publicadora acadêmica.


Eis que, a instâncias da saudosa Professora Norma Soares, a qual dirigia a Editora da IES Sobralense, procedi ao prazenteiro encargo de aparelhar para uma edição possível o conjunto postulante a infólio, versão moderna, subordinado ao título Jesus Cristo e a Igreja, produzido pelo dito Padre Martins de Medeiros, há já dois anos, decerto, sob experimentação das delícias celestes.

A princípio, não atinei para o fato de que a obra representasse vigor autoral de maior profundidade. Dantemão, pensei que o Autor cuidava de ajuntar os tópicos de suas preleções no Instituto Teológico e Pastoral e em aulas ministradas na UVA, apenas para efeito didático-pedagógico, sem pretensões mais afoutas. Por certo, essa ousadia era inocente, sem o propósito estudado de que o trabalho corresse mundo. A julgar, todavia, pelo agradabilíssimo espanto de que fui tomado, acreditei, então, que o fado da obra seria o sucesso – conforme veio mais tarde a se confirmar – máxime pela tenção investigativa que o Padre Martins de Medeiros ali imprime, particularmente, na parte de Eclesiologia.  

De tal modo, sob o prisma do romaneio bíblico e da verdade também de outras vertentes, confirmo agora, novamente, depois de quase duas dezenas de anos, o fato de que os estudos de Cristologia partem da comparação do Jesus Cristo histórico com o Cristo da fé, enroupando, com habílimo poder sinóptico, todo o roteiro da Salvação, tendo por centro a estampa binatural da Segunda Personagem da Trindade – divina e humana. De tal maneira, o autor prosseguiu, de foz em fora, até a atualidade, com reflexões de remate acerca da perenidade do Cristianismo.

No módulo sequente, absolutamente altivo em relação à literatura jungida ao argumento relatado – pois conhecia procedência e língua em que foram vazados os documentos – grego, aramaico, latim e hebraico – o Padre Martins de Medeiros não se prevaleceu daquele teologismo exacerbado, do apego enfermiço aos princípios dogmáticos, para conceder visão pública às ideações de estudioso respeitável.


Mensageiro de uma reflexão independente, mediante a qual exprimiu erudição frugal, não apenas deitou judicativas conceituações, como também retirou ilações de passagens obscuras  e até polêmicas  da doutrina, aclarando entendimentos cuja má interpretação conduz a cismas, heresias e reformas, conforme aconteceu com Ário (256-336), Jansênio (1635-1738) e Henrique VIII (1491-1547), só para mencionar alguns dos mais afamados heresiarcas/reformadores.

Têm destaque na obra de Padre Medeiros, pelo que de responsavelmente atiladas, suas menções analíticas à epistolografia são-paulina, ao recorrer, não apenas, às Cartas, mas também a uma multiplicidade de fragmentos da Escritura Santa e da literatura coadjuvante, a fim de explicitar os textos do Apóstolo Sírio e seus vínculos com a fé professada pelos cristãos de contorno católico e de outros perfis confessionais.

Marcações de relevo, também, de Jesus Cristo e a Igreja radicam no papel exercido pelas assembleias episcopais – concílios, consistórios, sínodos etc – nomeadamente os Concílios de Trento, Niceia, Constantinopla e Vaticano II, por exemplo, quando restaram tomadas importantes decisões relativas a mudanças estruturais internas, à adoção de modelos litúrgicos – como a missa vernacular, por exemplo – além de deliberações que modificaram profundamente o modus operandi temporal-adjetivo e imprimiram revisões de relevo nos conceitos cristoeclesiológicos, espirituais-substantivos, então exercitados pela Igreja.

Temas como o Corpo Místico, a Igreja Povo de Deus e Corpo de Cristo, Estrutura e Jerarquia Eclesiásticas, os Carismas, Primado Pontifical e Colegiabilidade Bispal, a exemplo dos demais assuntos abordados no livro do Padre Martins de Medeiros, são dissecados com vigor, conhecimento e coragem. O Autor, também, sine grano salis,  com o máximo de responsabilidade, também se referiu à Igreja do futuro, àquela hoje desenvolvida. Ao parafrasear o hoje Pontífice resignatário, Bento XVI – então Cardeal e teólogo Joseph Ratzinger, ele expressou:

[...] como essa Igreja consta de  homens fracos e pecadores, que podem falhar em sua responsabilidade para com a missão recebida de Cristo, o seu futuro também  depende dos homens [...].

Conquanto haja falhas, entretanto, o empenho, a decisão – agora sob o pastoreio do Papa Francisco – é de não fracassar, a fim de que, compostos e resolvidos os erros, a Instituição possa cada vez mais se achegar à ideia maior de Chiesa Aggiornata.

Lembrança marcante, por conseguinte, deste sacerdote-escritor-teólogo, Jesus Cristo e a Igreja é livro que, por seu alcance teológico, continua a ser apreciado e estudado por todos os estratos da nossa Santa Madre Igreja no Ceará, nomeadamente nos seminários, conventos e assemelhados, bem como, principalmente, nas academias católicas.



*Jesus Cristo e a Igreja tem guarnições escritas por mim, cujo texto foi publicado no meu livro Fermento na Massa do Texto. Sobral: Edições UVA, 2001, pp.127-8. 190 p.




quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

CRÔNICA - Incongruência (PX)

Incongruência
Paulo Ximenes*

Tenho a clara convicção de que não cabem mais carros nas ruas do Brasil. Até mesmo na minha graciosa Fortaleza desposada com o sol (outrora o paraíso do sossego) parece não remanescer uma só ruela tranquila onde os veículos enfileirados não param de passar...

Pouco importam o alargamento de avenidas e a construção de túneis e viadutos, que rapidamente há de campear o trânsito lento, perverso, estressado. A mobilidade urbana, tão almejada, tão prometida, confunde-se com a própria concepção da palavra caos, e o ato de estacionar é um exercício de paciência.

Na Beira-Mar – Deus nos acuda! – é custosa a disponibilidade de qualquer espaço onde caiba enviesado um carro pequeno, qualquer que seja o dia da semana. Nem sei quantas vezes desisti de saborear a famosa peixada cearense na orla da praia, por conta desse empecilho.

O tempo urde e os especialistas da urbanidade e os executores da coisa pública mantêm-se privados da vista. 

Não sei porque raios de motivos a falta de chão e o sufoco na via pública com o ar irrespirável e o barulho incessante dos motores, ainda não trouxeram à luz do senso, a ascosa incongruência: quer-se a todo custo incentivar o aumento da produção automobilística, como se a gordura da economia fosse tudo na vida e a questão não solvida das ruas fosse coisa do futuro distante. E, enquanto isso, a auto sustentabilidade do que quer que seja, em seu viés mais utópico, é conversa pra boi dormir.




ARTIGO - A Respeito dos Críticos (VM)

A RESPEITO DOS CRÍTICOS
Vianney Mesquita*


Qual o mais duro dos críticos? – O amador malogrado (J.W. GOETHE).




Decerto agastado com as opiniões dos comentadores de arte, de quem experimentou do látego, o poeta e artista paulistano Sérgio Milliet da Costa e Silva (20.09.1898-09.11.1966) demonstrou desagrado em relação a alguns deles, assim dizendo em conhecida expressão:

O crítico é um arquiteto a posteriori, habilitado a desmontar o conjunto da obra peça por peça, para dizer como foi feita e com que material. E nessa tarefa mexeriqueira de desmontagem e remontagem, mais de uma vez se engana e ficam sobrando parafusos (DELLA NINA, 1985, p.320).

Sobejas razões assistem ao escritor de Cartas à dançarina, pois os criticastros, quando não usam da louvaminha, da bajulação, fazem o reverso, retalhando comentários sórdidos, via de regra tangidos pela inveja e animados pela vindita. Os comentaristas de verdade são sóbrios nos seus escólios, pois leves nos reparos e parcimoniosos no elogio. Reprováveis são as críticas encomendadas, como censuráveis são as apologias e os ditirambos.

Gilberto Freyre, por sua vez, também reclama, ao exprimir a noção de que certos críticos, no Brasil quanto em Portugal, abrem um romance ou um poema à cata de pronomes mal colocados, erros de infinito, falhas de metrificação.

Para o Intelectual pernambucano, estes se comportam como simples guardas-civis da ordem gramatical, meros mata-mosquitos de higiene da Gramática (IBIDEM).

Outro expoente da nossa cultura a verberar contra os aristarcos brasileiros é Gladstone Chaves de Melo – político, filólogo e escritor pátrio (Campanha-MG, 12.06.1917- Rio de Janeiro, 07.12.2001) - ao se reportar, por exemplo, às increpações de José Feliciano de Castilho (irmão de Antônio, cego) e Franklin Távora, os quais, ao que se dizia, excitados com dinheiro oficial, moveram “injusto” e “impiedoso” esforço, de estudo, contra José Martiniano de Alencar, o filho, em relação à polêmica travada acerca da Confederação dos Tamoios, de Domingos José Gonçalves de Magalhães, o Visconde do Araguaia.

[...] é uma campanha de desmoralização e de descrédito, organizada e levada a efeito com técnica e minúcia, um ataque sistemático e constante ao político, ao jurista, ao dramaturgo, ao escritor... É a crítica soez, feita a retalhos. Castilho é o tipo do caturra, gramaticoide estreito, exsudando latim e erudição por todos os poros, arvorando-se em mestre do bom gosto, do estilo, em paladino da vernaculidade. (MELO apud LELLIS, In MESQUITA,1989).

No concerto internacional, consoante o enorme João W. Goethe (1740-1832), o mais cáustico dos críticos é o amador mais fracassado (IDEM, 1985), referência que, aliás, deve doer profundo em quem é assim conceituado.

Já o festejado escritor de O Vermelho e o negro, Stendhal (Henrique-Maria Beyle – Grenoble, 23.01.1783 – Paris, 27.03.1843), parte para a liça, aprestado com os aços da palavra, ao exprimir, revoltado, a uma pessoa que dirigia comentários com desaires a uma de suas obras: “Este homem não tem a minha opinião; logo, é um imbecil; critica o meu livro, logo é um celerado, ladrão, assassino, asno, falsificador, canalha, covarde”. (DELLA NINA, 1985, 319).

Também Jorge Cristóvao Lichtenberg (Ober-Ramstadt, 01.07.1742 – Gottingen, 20.02.1799), filósofo e primeiro docente de Física Experimental da Alemanha, acicata os maus críticos, ao exprimir a ideia de que, entre os maiores descobrimentos realizados pela mente humana, nos últimos tempos, figura a arte de julgar os livros sem sequer os folhear (IDEM), isto é, o não-li-não-gostei das mentes desprovidas, que comentam os escritos de alguém às vezes sem sequer proceder à leitura das guarnições.

Efetivamente, esses exemplos, pinçados de centenas de registos procedidos por pessoas afamadas e açoitadas pelos criticoides, conquanto verdadeiros, liberam a verve dos honestos comentaristas, os quais, à isenção, erigem aos seus devidos patins a arte produzida, conferindo-lhes o merecido lugar no panteão da história, conduzindo-os ou não à posteridade, resistentes ou não resilientes às intempéries e modismos , e.g., da indústria cultural, divisada, inauguralmente, por Max Horkheimer e Theodoro Wiesengrund Adorno.

Como primeira serventia, no entanto, intentamos com estas referências justificar a alegoria do nosso livro Arquiteto a Posteriori – apreciações críticas (UFC, 2013) – com a vênia do artista e escritor paulistano, referido no pórtico desde segmento.

Suplementarmente, também, expressamos a ideia de homenagear esse literato, de referência nacional e mundial, como jornalista, poeta bilíngue (escrevia em Francês – seu avô tinha esta por nacionalidade) e tradutor.

Consoante assere o historiador literário e escritor do concreto, paulista Mário da Silva Brito (Dois Córregos, 14.09.1916),

[...] nome de importância na história da cultura de vanguarda no Brasil, tendo-se interessado por todas as manifestações inovadoras surgidas no País, a partir da Semana da Arte Moderna, da qual foi participante. Fez polêmica modernista, notadamente a irrompida entre os próprios grupos renovadores, e, pela sua busca de equilíbrio, já o apontaram como o elo de ligação (sic) entre os modernistas históricos e as novas gerações suas sucessoras (Apud  MENESES, 1969, p. 840).

Expressa, ainda, esse seriíssimo analista da Literatura brasileira o fato de que, da obra em língua prosa do Poeta de Par le sentier e Les départ sans pluie, tem destaque, “[...] especialmente para o conhecimento da evolução do Modernismo, e, notadamente, da poesia dessa fase, a série intitulada Diário Crítico – vasto painel que documenta as ideias, os livros e os autores do período que abrange”. (IBIDEM, pp. 840-1).

Nossa homenagem e reconhecimento a este, que abre Arquiteto a Posteriori e apadrinha as dezenas de produtores cearenses ali comentados, em seus escritos de Ciência e Tecnologia e Literatura, em uma reunião de artigos, guarnições, quartas-capas, pronunciamentos e prefácios ao longo de algum tempo e que não perderam atualidade nem essência, de sorte a ter valido a pena – pensamos – guardá-los e, então, os trazer enfeixados em livro.

Chamamos a atenção para o fato de que não nos consideramos um arquiteto ao depois, ao jeito como diz Sérgio Milliet, porquanto não desmontamos nem remontamos nada, limitando-nos a comentar – sem bater os autores e tampouco os adular. Também optamos por não escrever acerca de escritos de má qualidade, nem tomar de assalto os bons textos, impingindo-lhes, adredemente, defeitos nestes não contidos, como procedem certos comentadores para estimular a arenga e proceder à vindita, pois (e isto é uma glória) não constituímos desafetos. Os textos comentados no Arquiteto a Posteriori são, todos, de boa qualidade.

Neste comenos, pedimos cortesia aos leitores para reproduzir a epígrafe do nosso volume de estreia – Sobre livrosaspectos da editoração acadêmica – publicado pelas Edições UFC em 1984. Historicamente, consoante a pesquisadora Leilah Santiago Bufrem, na investigação Editoras Universitárias Brasileiras – uma crítica para a reformulação (São Paulo: EDUSP. 2001), nosso livro há pouco mencionado é o primeiro da área de editoração acadêmica no Brasil.

Prefalada epígrafe é da colheita de Pavel Dmitriyevich Korin {Palek (Ivanovo Oblast), 08.07.1892 – Moscou, 22.11.1967}, pintor e restaurador de arte, conhecido e admirado pelo tamanho enorme de suas peças e em razão do extraordinário realismo.

A menção coincide com a nossa intenção ao preparar o Arquiteto a posteriori.

Mi articulo no es un tratado cientifico ni um programa, sino mas bien meditaciones em lo alto de um puerto montañoso, cuando el largo camiño queda ya atrás, pero la cima se encuentra todavia delante desde la altura conquistada por nuestro arte desde la altura de los ideales e objetivos del siglo, se siente la necessidade de ojear em torno, de mirar atrás y de avizorar el futuro. Ocurre eso porque el presente es siempre um puente entre el pasado y el porvenir.

Naturalmente, non pretendo plantear todas las cuestiones transcendentales del arte contemporâneo, ni, mucho menos, resolverlas. Pero hay algo que quiero dejar fuera de dudas, y desde las primeras paginas, hablo, em recuerdo a Montaine:

Esse libro es sincero, lector!

BIBLIOGRAFIA

BUFREM, Leilah Santiago. Editoras Universitárias. Uma Crítica para a Reformulação. São Paulo: EDUSP, 2001.
LELLIS, Raul Moreira de. História Literária do Brasil. São Paulo: Nacional.1970.
MENESES, Raimundo de. Dicionário Literário Brasileiro. (Ilustrado). São Paulo:Saraiva, 1969.
MESQUITA, Vianney. Sobre Livros – Aspectos da Editoração Acadêmica. Fortaleza/Edições UFC; Brasília: PROED-MEC, 1984.
MESQUITA, Vianney. Impressões – Estudos de Literatura e Comunicação. Fortaleza: Agora, 1989.
NINA, A. Della. Dicionário da Sabedoria. São Paulo: Fitipaldi, 1985.