LAMPIÃO
ERA GAY?
Wilson Ibiapina*
Já chamaram o pernambucano Virgulino Ferreira de Lampião,
Rei do Cangaço. Há quem acredite que ele não passou de um facínora, bandido,
calhorda. Agora, estão dizendo que ele também era bicha. A polêmica está na
rua. Duvidar de sua masculinidade é desmoralizar o maior herói popular do
Nordeste. Seria verdade?
Capitão Virgulino foi morto pela polícia no sítio
Passagem das Pedras, em Sergipe, a 40 quilômetros de Serra Talhada, onde
nasceu. Na década de 30 ele foi chamado também de defensor dos pobres e
oprimidos do sertão.
O que não se esperava é que agora, 77 anos depois de sua
morte, surgisse em Sergipe o juiz aposentado Pedro de Morais para duvidar da
masculinidade do perverso cangaceiro. Lenha na fogueira. No livro Lampião
– O Mata Sete, cuja publicação e comercialização foram proibidas em caráter
liminar, a pedido da família do biografado, o juiz revela que o machão Lampião era
homossexual.
Em entrevista a Ana Cláudia Barros, no Site Terra
Magazine, o juiz diz que “o livro não trata exatamente da homossexualidade de
Lampião. Eu apenas mostro que ele era homossexual, mas não com força
pejorativa. Eu não tenho absolutamente nada contra os homossexuais, nem a
favor. Eu relato um fato histórico. Aliás, não sou o primeiro a escrever sobre
isso, e nem o vigésimo”.
O Juiz revela que tem depoimentos de remanescentes, de
parentes de Maria Bonita, de Lampião. Que ela era adúltera está em todos os
livros. E acrescenta: “O que eu digo e mostro é que havia no cangaço um trio
amoroso, envolvendo Lampião, Maria Bonita e Luiz Pedro, o amor dos dois".
Luiz Pedro era um cangaceiro, que seria namorado de
Lampião, e eles teriam trocado juras de amor eterno. Certa vez, Luiz Pedro
matou o irmão de Lampião, que era a coisa que Lampião mais queria bem, e, em
troca, Lampião, que nunca foi de clemência, absolveu Luiz Pedro, exigindo dele
juras de que jamais se separariam. Isso não me parece coisa de macho.
NOTA
DO EDITOR:
Gays
apreciam a tese de que grandes personalidades históricas eram gays. Reis, gênios
das artes, heróis em geral – O imperador
Adriano, o pintor Da Vinci, o escritor Proust, o quilombola Zumbi – eram todos
eles gays, segundo defendem ativistas do arco-íris, puxando brasas para as suas
sardinhas delicadas.
Na mão
contrária, inimigos do terceiro sexo contra-atacam, apontando o uranismo como
causa da monstruosidade de celerados notórios, os quais, amorosamente
incompreendidos e frustrados, se teriam tornado pervertidos sexuais e criminosos
violentos – Nero, Jack (o estripador), Hitler... Agora, Lampião.
Notar
que homossexualismo, no Brasil atual, não é crime; para a Igreja Católica de
hoje, não é pecado; para a medicina moderna, não é doença; para as Forças Armadas, não é mais justa causa de expulsão. Portanto, apontar a
homossexualidade de alguém não o deveria denegrir, nem enaltecer, pois grandes
homens e rematados facínoras, indistintamente, foram gays no passado, como outros
o são hoje.
Tampouco
é considerado opção ser ou não ser homossexual, ao contrário do que se dizia até recentemente,
de modo que sê-lo não envolve culpa ou dolo. Ser gay seria então uma contingência, uma
característica inata, que não influi nem contribui com o caráter e a índole da
pessoa, assim como ser daltônico ou ser canhoto.
Também
não faz sentido o termo “homofóbico”, porque “fobia” indica doença, e a aversão
intelectual, ou a reprovação moral, ou a intolerância religiosa a alguma
postura ou conduta alheia nada tem de patológico. É uma faculdade do indivíduo,
no seu inalienável direito de opinião e de expressão – o que permite gostar ou
não, apoiar ou não, conviver ou não – embora não autorize ninguém a agredir, maltratar, injuriar quem quer que seja.
Sendo
assim, a eventual homossexualidade de Lampião é matéria de interesse histórico
relativo – era ele canhoto? Seria ele daltônico? – características eventuais que
não concorreriam para os seus crimes, nem elidiriam as suas culpas – e não têm
importância maior para a história e para a ciência.
Maria
Bonita foi adúltera, pois traiu o marido barbeiro ao entregar-se a Virgulino – isso é fato. Se ela deitava com algum outro cangaceiro do bando, e se Lampião consentia
ou não, isso está adstrito à intimidade do grupo e à conveniência do casal.
Mas o
cangaceiro Zé Pedro, cujas feições eram realmente mais aprimoradas que as dos
demais cangaceiros, tinha a sua própria companheira no bando. Também é fato.
Então, não haveria um triângulo, mas um quadrângulo sexual?
Esclarecimento
Virgulino Ferreira da Silva
nasceu em 7 de julho de 1897, no sítio
Passagem das Folhas, no Município de Serra Talhada (PE).
Foi morto em 28 de julho de 1938 pela
¨volante¨ comandada pelo Tenente João Bezerra, no município Poço Redondo (SE),
na Grota de Angicos, perto do Rio São Francisco.
É sabido que a biografia do Lampião
tem muitas controvérsias quanto a datas, locais, lendas surgidas em torno do
mito, mas esses dados que apontei são os mais aceitos.
José Humberto Ellery
Engenheiro Químico
Ex-Oficial da Marinha Brasileira
Membro Honorário da ACLJ