ERGASIOFOBIA
Vianney Mesquita*
Preguiça e ignorância se revoltam sempre contra aplicação e talento. [GASPAR MELCHOR DE JOVELLANOS – ou Baltasar Melchor Gaspar Maria de Jove Llanos y Ramirez. * Gijón, 05.01.1744; + Veiga, 27.11.1811. Poeta, advogado, diplomata e político).

PREGUIÇA
Este cultismo, em vigor dos Novecentos até hoje,
significa a repulsão doentia ao trabalho, aquele medo, sem razão plausível, de
qualquer atividade laborante. De exata etimologia helena - ergasia + phóbos – o pavor ao trabalho, distante de constituir mera
preguiça - pois estado de prostração
de teor orgânico ou psíquico - solicita atenção médico-psicológica à pessoa que
o conduz, decerto com acompanhamento psicoterápico, senão para curar, pelo
menos a fim de suavizar sintomas tão maléficos, com desdobramentos
psicopatológicos de grande monta, uma vez que induz, também, prejuízos, tanto
sob o prisma da convivência social quanto do ponto de vista econômico.
ÓCIO – OUTRAS LEITURAS


Há bem pouco tempo, experimentei a satisfação,
também, de revistar o texto para qualificação de tese da doutora Adriana de
Alencar Gomes Pinheiro – também comparte do Otium
- de Juazeiro do Norte-CE, a qual trabalha na linha teórico-prática do
ócio, sob a direção didático-científica do Prof. Dr. Clerton Martins, com
artesãos em palha de milho de seu Município – pesquisa em andamento. OTIUM - LABORATÓRIO.
Tem ressalto nos experimentos acerca de ócio na UNIFOR o funcionamento, a pleno
emprego, do OTIUM – Laboratório de Estudos sobre Ócio, Trabalho e Tempo Livre,
criado em 2005, acessório imprescindível do Programa de Pós-Graduação (Mestrado
e Doutorado) de Psicologia, dessa prestigiosa instituição acadêmica local.
Naquele ano,
ex-positis, já se comprovara em movimento a significativa quantidade de
ensaios profundos acerca da necessidade de vincular os assuntos de fulcro de
que hoje se ocupa o Otium – tempos de
trabalho e fora dele – privilegiando seus reflexos na vivência das pessoas,
trabalhadores, sua família e a sociedade como um todo. Este foi, por
conseguinte, o leitmotiv mediante o
qual um pugilo de pesquisadores da melhor crase na grande área da Psicologia
decidiu instituir essa oficina científica, hoje inseparável da esteira temática
da pós-graduação sob comentário nessa gigante Universidade particular na
contextura brasileira.
Por conseguinte, tendo por pretexto o exame encalçado
pela Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza, configurado nos pathé psíquicos na pessoa em sociedade e
sob cultura - a ideia, expressa nitidamente nos objetivos do Laboratório, é
alimentar o discurso dialogal pluridisciplinar, considerando o fato de a
ciência não interpor lindes de começo e fim, com vistas a iluminar o fenômeno
da subjetividade relativamente à elaboração dos tempos livre e ocupado. Assim,
a intenção, até agora exitosa, é aportar à compreensão nítida e aplicável do
que circunda essas dimensões, fato que se exprime absolutamente possível, hajam
vistas os resultados indicados pelas buscas procedidas, no exercício dialógico
com autores nacionais, estadunidenses e europeus, nomeadamente com investigadores
da Universidade de Deusto, localizada em Bilbao, capital da Biscaia, Comunidade
Autônoma do País Basco.
JOHN
NEULINGER (Dresden, 26.04.1924; +Dolgeville – NY – 20.06.1991).

Um dos cientistas a inaugurar o exame do ócio com
estribo da Ciência Psicológica - como noticia a Professora Doutora Ieda Maria
Rhoden, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo- RS, doutora
em Ócio e Potencial Humano pela
mencionada Academia basca – o Psicólogo de Dresden e Nova York sugere um padrão
para taxionomia do ócio, consoante as condições que entende cruciais para a
experiência com tal circunstância – a motivação e o entendimento de liberdade –
molde sistemático, consoante Rhoden, que exerceu enorme influxo no estudos das
ideias ora tratadas nos derradeiros 30 anos, como, por exemplo, as noções de ócio puro e ócio-ocupação.[RHODEN, I. O ócio como experiência subjetiva:
contribuições da Psicologia do ócio. Rev.
Mal-Estar Subj. 9 (4) dez. 2009].
HOMENAGEM AO OTIUM
Uma das muitas satisfações que experimento é a de
haver acompanhado a invejável evolução do Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da UNIFOR, desde seus albores, havendo procedido à revisão de teses
e dissertações, por indicação, de início, dos Professores Doutores Henrique
Figueiredo Carneiro, Isolda Castello Branco Bezerra de Meneses, Sylvia
Cavalcante, Leônia Cavalcante Teixeira e Clara Virgínia de Queiroz Pinheiro, e,
depois, de vários teóricos de uma das especialidades mais preeminentes da
Ciência, conformada pela Psicologia.


Estou ciente de que a totalidade desses
docentes-investigadores tem assento em qualquer cátedra universitária e
desfruta de entrada franca em todo campo de prova do Brasil e do Exterior,
muitos dos quais usuários e consultores dos nada menos de seis laboratórios
mantidos pelo referido Programa da UNIFOR. Seu trabalho seriíssimo, executado
no âmbito exigente das morais condições e intelectuais circunstâncias sob as
quais opera a demanda do feito científico, somente granjeia honra para nosso
Estado e divisas para o País.
Essas ligeiras notações, que muito me aprouveram
proceder, tiveram, especialmente, o desígnio de creditar homenagem aos
docentes-cientistas da UNIFOR, na seara riquíssima da Psicologia. A eles, pois,
dirijo emboras, como também aos seus orientandos, pela copiosa, renovada e
constante produção científica da mais suspendida essência,
em dissertações de mestrado e teses de doutor, além de artigos em periódicos
insertos no sistema Qualis e outros editados em revistas importantes e acreditadas
em várias partes do Mundo, cujas leituras embasam ensaios e mais ensaios à
procura do saber novo, dessedentando, nem que seja por pouco tempo, a
insaciável garganta da ciência, sempre necessitada de se abeberar de algo ainda
não sorvido pelo ânimo voraz do investigador de ofício.
Como termo destas notas, ofereço ao Otium um soneto por mim composto nos
idos de 1976 (há 39 anos), quando não ocorreu uma das aulas da Faculdade de
Direito da Universidade Federal do Ceará, ficando todos OCIOSOS, preguiçosos,
sem fazer nada, na inação, moleza e mandriice, decerto ao modo do ócio-puro, divisado pelo sobredito
pesquisador tedesco-ianque John Neulinger, bem ao gosto da ideia de
ergasiofobia, no começo conceituada.
ÓCIO
(OU ERGASIOFOBIA)
Fazer nada é forjar em forno frio,/É fazer fé na
fronte dos malucos; É atiçar lamparina sem pavio / E duvidar da liquidez dos
sucos.
Fazer nada requer regar o rio, /Remar a ré no
rastro dos caducos./ É, cegamente, acreditar num fio / De masculinidade nos
eunucos.
Fazer nada é, por final, amigo,/ O cogitar em
certas ilações:/ Na certeza iminente de perigo
Que a lazeirenta fome dos leões / Costuma produzir
nos corações/ Que os cardiopatas conduzem consigo.
Artigo-Homenagem ao Laboratório Otium
Pós-Graduação em Psicologia da
Universidade de Fortaleza - UNIFOR
*Vianney Mesquita
Escritor e Jornalista
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