sexta-feira, 26 de abril de 2024

NOTA SOCIAL - Noite de Autógrafos Memorável

 NOITE
DE AUTÓGRAFOS
MEMORÁVEL


Na noite deste dia 25 de abril, no auditório do Sindicato dos Docentes da UFC, o Prof. Vianney Mesquita, lente da Universidade Federal do Ceará, acadêmico de letras, professor do curso de jornalismo, um dos maiores conhecedores do idioma lusitano no Ceará e no Brasil, e um dos mais concorridos revisores de livros e de trabalhos de conclusão de curso universitário, promoveu o lançamento de sua 22º obra literária, intitulada “Encontro de Contas”, com o subtítulo “Balancete de Juízos Literários, Filosóficos, Linguísticos e Históricos”.

A obra, em suas 311 páginas, é composta de 34 artigos primorosos, versando sobre a temática de capa, todos eles vazados sem aplicação do conectivo “que”, e sem que essa supressão proposital traga qualquer prejuízo à clareza e à inteligência do conteúdo e do argumento. Esse esforço gramatical foi exercido pelo autor para o fim didático de demonstrar a desnecessidade desse termo de mil usos, tantas vezes aplicado em excesso, de modo a se tornar uma “muleta redacional” que enfeia o texto. 

Avaliam e avalizam a obra os Profs. Souza Nunes, nas suas abas, ítalo Gurgel em seu prefácio e Assis Martins na contracapa – cada um deles tratando com muita proficiência sobre o autor e sobre o livro, e, sobretudo, aplicando em altíssimo nível a norma culta do idioma, de forma bela e fluente, de modo a se manter inserido no contexto da temática, reverenciando o protagonista e o seu mister. 

O Mestre de Cerimonia da solenidade foi o jornalista Vicente Alencar, Presidente da Academia Cearense de Retórica, e a apresentação da obra coube ao jornalista e advogado Reginaldo Vasconcelos, da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo (ACLJ). 

Representando a ACLJ, da qual Vianney Mesquita é Membro Titular Fundador, estiveram presentes, além do seu Presidente Reginaldo Vasconcelos, o seu Secretário-Geral, Vicente Alencar, e os titulares Arnaldo Santos e Geraldo Gadelha. 

Dona Socorro, Prof. Vianney, Lívia, Marília e Vicente Augusto

Na imagem, Vianney Mesquita e o seu clã doméstico – mulher e filhos – um exemplo de família unida e harmoniosa, em torno do patriarca, e cultuando o seu exemplo de honradez e erudição.  

APRESENTAÇÃO

É de consenso hoje em dia a sabença de que a humanidade toda tem origem concentrada em um casal, conforme o judaísmo e o cristianismo simbolicamente têm pregado, crença que a ciência vem aproximando da verdade, no novo conceito da “Eva Mitocondrial”, trazendo a ideia do ancestral comum a todas as gentes do Planeta. 

As escrituras místicas também dão conta de que a comunidade planetária viveu períodos de catástrofes severas, com a sua drástica redução numérica, salvados os poucos eleitos pela graça de Deus Pai. 

E, de novo, os cientistas concluíram estudos sobre fases pré-históricas em que fomes, pragas, pestes ou intempéries rigorosas apoucaram toda a povoação da Terra, que chegou a limitados indivíduos, sementes a partir das quais a população se recompôs completamente, dividida em etnias diversas, conforme as condições ambientais em que medraram. 

Faço esses prolegômenos para estabelecer uma analogia antropológica desse contexto da religião e da ciência com a saga da última flor do Lácio, que nasceu do latim vulgar e encontrou beleza ingente no sudoeste da Ibéria, o sofrido "Portu Cale", língua cujo número dos que ainda a estudam, dominam e defendem vem se reduzindo a muito poucos, na escala numérica lusofônica.

Lamentável que ameace fenecer um idioma riquíssimo como é o português – em sintaxe, em semântica, em sinonímia – capaz de permitir à cerebração das pessoas – não somente a comunicação de conhecimentos fáticos que se precisem transmitir ou registrar de forma clara e inteligível, mas também a sintonia fina das mais delicadas sensações e elevados sentimentos que a alma queira externar através de um beletrismo elegante, além de mavioso e peregrino, em prosa e verso. 

Pois bem. João Vianney Campo Mesquita é um desses poucos bastiões que tentam poupar o mundo desse dramático prejuízo cultural – "mutatis mutandis" – como aqueles ínfimos genearcas resistentes, de tempos imemoriais, que impediram o desaparecimento do homem da superfície deste orbe, ou como um Noé moderno que busca salvar do dilúvio da ignorância verbal, e, consequentemente, da indigência cerebrina, pelo menos uma parcela de ditosos sobreviventes do intelecto, que possam vir a ser os germes de futuras gerações de mais eloquentes brasileiros. 

Então, falar desta obra que meu mestre e confrade Vianney está lançando, “Encontro de Contas”, não é fácil para quem tiver que analisar sua riqueza em minúcia de detalhes, porque isso requereria leituras acuradas para apreender e anotar os tantos aspectos do idioma por ele abordados, aprender cada uma das lições ali contidas, e, enfim, poder pigarrear com autoridade antes de apontar todos os méritos e enumerar todos os muitos encômios merecidos. 

Aliás, falar sobre o conteúdo precioso dessa obra é despiciendo e ocioso, quando se sabe quem verteu cada conceito idiomático e mesmo filológico que nele se lança e desenvolve – simplesmente o maior ícone da matéria no Estado, certamente um dos mais conceituados no País. 

É obra que não se presta ao silêncio das estantes, mas ao manuseio constante na cadeira de balanço, pelos doutos e pelos que pretendem se lançar ao salgado mar idiomático de Camões e de Pessoa, para a navegação mais instrutiva e deleitante, adentrando já em "terra brasilis" pela senda de um Castro Alves, de um Machado de Assis, de um José de Alencar.

Parabéns, Prof. Vianney.

 Reginaldo Vasconcelos

                              

quarta-feira, 24 de abril de 2024

NOTA LITERÁRIA - Livro "Encontro de Contas" - Vianney Mesquita

  ENCONTRO DE  CONTAS

DO
PROFESSOR E MESTRE
JOÃO VIANNEY
CAMPOS MESQUITA



O Prof. Dr. Vianney Mesquita, da Universidade Federal do Ceará, Membro Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa, Membro Titular Fundador da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo e da Arcádia Nova Palmaciana, lançará o seu 22º livro no dia 25 de abril, no auditório do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará, na Av. da Universidade, nº 2346, no Bairro Benfica, em Fortaleza. 

A obra, intitulada “Encontro de Contas”, tem subtítulo que elucida totalmente o escopo desse trabalho, qual seja “Balancete de Juízos Literários, Filosóficos e Históricos” – uma coletânea de artigos da lavra do autor em que ele enfrenta temas sensíveis a respeito do melhor uso do idioma português, matéria que pertence ao seu principal campo de interesse e de domínio. 

A produção bibliográfica do Prof. Vianney Mesquita enriquece a estante de livros de qualquer dos amantes e usuários mais criteriosos do idioma pátrio, porém nessa obra em comento o autor se expande e se supera, fazendo com que o livro seja mesmo de leitura imprescindível aos bibliófilos em geral, aos estudiosos da língua e aos estudantes que pretendam se ilustrar sobre as suas nuances mais curiosas e importantes. 

Esta primeira edição de “Encontro de Contas” traz introitos qualificados e eruditos dos literatos Assis Martins e Ítalo Gurgel, e do Prof. Souza Nunes – abaixo transcrito – que analisam e atestam a excelência dessa obra, a qual será apresentada no lançamento pelo jornalista e advogado Reginaldo Vasconcelos, Presidente da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo.   

Figura solar da prosa vernácula no mundo lusófono, homem de letras fascinado pelo poder do verbo, intelectual de obstinado rigor, polímata de multividência invulgar, Vianney Mesquita oferta-nos uma obra louvável sobre todos os aspectos, porque Encontro de Contas é produto refinado do labor indefesso da pena fluente e erudita do verdadeiro amante da Língua Portuguesa.

Graças à grandiosidade de sua visão polifônica e ao seu percuciente método de análise, este balancete de juízos literários, filosóficos, linguísticos e históricos oferece uma confluência enriquecedora de saberes, por abranger, com perícia e justeza, vastos domínios do conhecimento, do Jornalismo às Letras, da História ao Direito, da Sociologia à Filosofia, da Filologia à Linguística, da Bibliofilia ao Ensaísmo, além de outras áreas das ciências. Da leitura desta obra não vai sair o leitor senão engrandecido, mais crítico e mais cônscio da realidade. 

Em linguagem clássica e sem nenhuma concessão ao brilho fácil dos discursos vazios, a obra de Vianney Mesquita, por sua riqueza lexical e propriedade gramatical, a par de sua vasta cultura humanística, contrasta com a reinante pobreza vocabular e cultural, a avultar, até mesmo, nos meios universitários, infausta consequência de um País onde se lê tão pouco. 

Se, pois, o livro é o fundador da civilização, como nos ensina o doutíssimo bibliófilo José Augusto Bezerra, porque recolhe o pensamento e o situa ao abrigo do esquecimento para o progresso da Humanidade, é com louvor que saúdo Vianney Mesquita, semeador de bons livros, como é este sua vigésima segunda obra em livro físico. E louvo-o com as palavras lapidares do também genial Castro Alves, que há mais de 150 anos vaticinou o destino ainda inconcluso de nossa América do Sul: 

Oh! Bendito o que semeia

Livros... livros à mancheia

E manda o povo pensar! 

Este Encontro de Contas é, sem dúvida, a prova incontestável de que o Autor ocupa lugar de destaque entre os que melhor cultivam o Vernáculo. Sua prosa e poesia têm o sabor dos grandes clássicos, que nos marcam depois de lidos, pelo esmero, a profundidade e a leveza com que são escritos. 

Seguramente, ler Vianney Mesquita é, como já ressaltou o saudoso Genuíno Sales, resgatar a esperança nos ideais culturais e no milagre da inteligência.

 SOUSA NUNES

 


ARTIGO - Encruzilhadas da História - Parte II (RMR)

ENCRUZILHADAS
DA HISTÓRIA
Parte II

Rui Martinho Rodrigues*

 

Morte ou continuidade da civilização ocidental

Conforme dito no início deste ensaio, civilizações nascem, crescem, fenecem e morrem, conforme constatou Arnold Toynbee (1879 – 1975), na obra Um Estudo da História. As transformações históricas, que ocorrem sempre, podem, alguns casos, representar o fim de um período e o início de outro. Tal mudança pode ser (1) o início de um novo período sem significar o fim de uma civilização ou pode ser (2) a sua morte e o nascimento de outra. 

A contribuição dos gregos para a formação da civilização ocidental sofre o ataque da chamada dialética negativa, segundo a qual tudo é manipulação do poder, sendo a razão, seja indutiva ou dedutiva, serva do poder, de modo análogo ao argumento retórico dos sofistas. Isso é a negação da razão que, segundo Oliver Nay (1968 – vivo) na obra História das Ideias Políticas, substituiu o uso da força quando os gregos resolveram adotar o debate de propostas e votação, no processo decisório.

Caso prevaleça a negação da razão, restará a força como processo decisório na arena política, não só nas relações internacionais, como na própria ordem interna dos estados nacionais. É preciso saber se isso está acontecendo. Há um processo de transformação em curso. Qual será o seu desfecho é especular sobre o futuro, que é inescrutável. Podemos analisar a marcha dos acontecimentos até o momento presente. 

O Direito vive um momento de fortalecimento da chamada Nova Hermenêutica constitucional, que representa uma grande mudança na interpretação e aplicação do Direito, amparada pelas novas constituições que pretendem ir além do Estado Social, concretizando o “Estado democrático de Direito”, conforme Carlos Simões, na obra Teoria & Crítica dos Direitos Sociais (O Estado social e o Estado Democrático de Direito). Estas novas cartas políticas vão além daquelas que eram classificadas como constituições analíticas, sendo nomeadas como totais, diretivas, programáticas ou dirigentes. 

A nova Hermenêutica Constitucional e as constituições dirigentes

As constituições programáticas, diretivas, dirigentes ou totais têm normas que representam obrigações de fazer. Tanto particulares como o Estado é assim obrigado a fazer algumas tarefas definidas no corpo constitucional. A classificação “programática” não teria exigibilidade, quando tais constituições foram discutidas e votadas, configurando tarefas que na prática seriam meras intenções. Depois surgiu o argumento de que os textos constitucionais não podem conter palavras ociosas. Assim, o que era promessa sem exigibilidade, passou a configurar, quando não cumpridas, inconstitucionalidade por omissão. 

As promessas programáticas foram transformadas em obrigação de fazer, dotadas de exigibilidade. Surgiu até um instrumento de “cobrança”: a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão, a ser proposta no STF, em sede de controle concentrado de constitucionalidade. Isso teve, entre outros, os seguintes efeitos: (a) submeteu o legislador do futuro aos ditames da maioria ocasional da Assembleia constituinte originária ou até do legislador constituinte derivado ou autorizado via Projeto de Emenda Constitucional (PEC); (b) deu ao STF poder sobre o Executivo e o Legislativo, pois a concretização do conteúdo programático da Carta Magna é, necessariamente, uma ação da competência de um desses Poderes ou de ambos. 

A “omissão”, seja do Legislativo ou do Executivo, deveria ser, conforme as constituições sintéticas do passado, uma legítima decisão sobre a conveniência e a oportunidade de concretização de um desígnio. As constituições sintéticas diziam basicamente (c) qual a forma de organização do Estado e (d) quais as seriam garantias individuais, normas que configuravam obrigação de não fazer, que não trazem nenhum ônus e que não ensejam reivindicação de poder para viabilizar o seu cumprimento. 

As constituições dirigentes, programáticas ou totais passaram a dizer como resolver problemas práticos no campo social, político, econômico e jurídico. Sucede, todavia, que a solução de tais problemas configura obrigação de fazer, que têm caráter oneroso. Obrigações desta ordem precisam, para adquirir viabilidade, dizer (e) quanto custam e (f) qual a fonte de recursos. A reserva do possível afasta toda obrigação de fazer que não responda satisfatoriamente a estas duas questões, mas não tem sido levada em consideração. Resultado: déficit fiscal, dívida pública crescente, jurus altos e toda uma série de problemas. Adotamos o Estado do bem-estar antes de sermos um país desenvolvido. 

A baixa produtividade agrava a tendência para o desequilíbrio fiscal, que nos países desenvolvidos é mitigada pela elevada produtividade da economia. Tudo isso originou a Nova Hermenêutica Constitucional, que consiste em indiferenciar a interpretação da lei com a realização da justiça, sem obedecer os limites semânticos da norma escrita, com o auxílio da positivação dos princípios gerais do Direito pelas constituições dirigentes. 

A interpretação do direito foi substituída pela “concreção”, que é alegadamente a transposição da norma abstrata para a suposta singularidade do caso concreto em julgamento, ao arrepio da sabedoria salomônica segundo a qual “o que foi, isso é o que há de ser, o que se fez, isso se tornará a fazer, de modo que nada há de novo debaixo do sol” (Eclesiastes 1; 9). 

As constituições diretivas e a positivação de princípios 

As constituições diretivas positivaram os princípios gerais do Direito. Estes sempre foram considerados, mas só eram usados para dirimir questões processuais quando houvesse lacuna na lei em sentido amplo. Era assim porque a conformidade entre tais princípios e a normatividade social vigente era definida pelo Legislativo, valendo-se da legitimidade dos representantes eleitos pelo povo, de onde emana todo o poder. 

Agora a “concreção” e a positivação, que colocou os princípios gerais do direito na primeira linha da fundamentação que ampara o dispositivo normativo das sentenças, têm natureza principiológica. Princípios são uma espécie normativa caracteriza pelas inúmeras hipóteses de incidência. Enquanto as regras são normas que só podem incidir em uma situação prevista, a exemplo do limite de 60KM/h, os princípios são normas abertas à subjetividade do intérprete, a exemplo de “não dirigir perigosamente”. 

A Nova Hermenêutica, invocando (i) a superioridade da Carta Política, (ii) a concreção, (iii) os princípios gerais do Direito positivados na Constituição e (iv) a “inconstitucionalidade por omissão”, (v) valendo-se do controle concentrado de constitucionalidade, (vi) transformou tudo em questão constitucional e deu ao STF um poder absoluto, acima dos demais poderes. Estado Democrático de Direito não é o Estado de Direito do Estado Liberal, nem mesmo do Estado Social, mas um Estado de Direitos, no plural, que universaliza todos os direitos, sem se preocupar com o custo nem com a fonte de recursos, em franco desprezo pela reserva do possível. 

O Direito invocado pelo Estado Democrático de Direito não se refere aos direitos e garantias individuais, porque é um desdobramento da tradição que optou pela precedência do coletivo sobre o individual, situação que acaba por aniquilar os direitos e garantias individuais.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

NOTA ACADÊMICA - ACLJ Promove a Sua 13ª Assembleia Aniversária

 ACLJ
PROMOVE A SUA
13ª ASSEMBLEIA
ANIVERSÁRIA

 

A ACLJ vai promover, na noite do próximo dia 06 de maio, uma segunda-feira, no Palácio da Luz, a sua 13ª Assembleia Aniversária, solenidade em que cumprirá a sua pauta administrativa e social. 

Na oportunidade tomará posse na titularidade da Cadeira de nº 31 da quadraginta mumerati Geraldo de Melo Gadelha Filho, sucedendo ao saudoso confrade José Maria Chaves, em vacância mortis causa. 

Geraldo Gadelha – graduado em História, em Administração e em Direito, já é Membro Honorário da ACLJ desde 2014, tendo em vista que antes tinha vida profissional assaz atribulada e teria dificuldade de se dedicar efetivamente à Confraria – tendo hoje  disponibilidade para uma vida social e acadêmica mais intensa.

Também faz parte da pauta do evento a outorga da Comenda Benemérito Chanceler Airton Queiroz ao empresário do ramo de serviço de telecomunicações José Roberto Nogueira, fundador e presidente da Brisanet, empresa dedicada a promover a inclusão digital do Nordeste Brasileiro – meios rural e urbano. A Brisanet é um fenômeno de sucesso empresarial, pelos esforços meritórios de seu proprietário.

Por fim, a Academia prestará um tributo póstumo a três de seus membros, falecidos em 2023 e neste ano – o engenheiro Cássio Borges, que foi jornalista no passado, o jornalista Wilson Ibiapina, e o médico e professor José Maria Chaves, que por seu turno foi radialista na sua juventude. 

 

domingo, 7 de abril de 2024

POESIA - Soneto Decassilábico Português [Sem rimas com substantivos nem adjetivos] (VM - MC)

PROVEITO DO SILÊNCIO
Vianney Mesquita*
Márcio Catunda*  


Oculte o que sente, o que pensa. Orne-se e exalte-se de ignotos esplendores a alma na prisão dos sentidos. Admire-se, aprecie-se e cale-se.

 

[FIÓDOR IVANOVITCH TIÚTCHEV, poeta russo.
Ovstug, 05.12.1803; San Petesburgo, 27.07.1873].


 

Em não falar pensemos tão-somente
Quedos restemos em sazões quaisquer,
Na taciturnidade, adredemente.
Ao decidir não sibilar, sequer.
 
Manda a razão, conforme se pressente,
E consoante a lógica requer,
Vivamos no silêncio integralmente
Quando a harmonia se justapuser.
 
Nada expressemos sem tir-te nem guar-te
Mudos, então, prezemo-nos, destarte,
Ornados e exaltados de esplendores.
 
Sob o trio verbal, recato à parte,
Iremos nos querer - que o amor se farte –
Com noss’alma aditada de fulgores.

  

ARTIGO - Encruzilhadas Históricas (RMR)

ENCRUZILHADAS
HISTÓRICAS
1ª Parte
Rui Martinho Rodrigues *

  

Considerações preliminares

Transformações históricas, profundas e abrangentes podem modificar os costumes, a economia, a organização social, jurídica e política, reconfigurando a correlação de forças entre as potências no pesado jogo internacional da geopolítica. Assim, embora a todo momento aconteçam mudanças, certas ocasiões caracterizam transições de períodos históricos. A queda de uma árvore não é um acontecimento histórico. Mas se o tronco caído provocar o desvio de um caminho de formigas na direção de uma grande plantação, provocando uma grande perda na colheita, então a queda da árvore será um acontecimento histórico, conforme Barbara Tuchman (1912 – 1989), na obra A Prática da História.

A solução de problemas pode induzir mudanças dignas de um novo período. O cultivo da terra transformou nômades em sedentários. A irrigação deu lugar aos impérios do regadio. Darcy Ribeiro (1922 – 1997), na obra O Processo Civilizatório, refere-se estas duas mudanças como primeira e segunda revolução verde. A escrita e a fundição de metais também são exemplos de inovações indutoras de transformações históricas profundas. A solução de problemas, mais do que o conflito, desencadeia mudanças. A produção de um hormônio sintético, permitindo o controle da ovulação e disponibilizando contraceptivos é mais um exemplo de solução de problema mudando o mundo. 

Não só na produção de bens materiais a solução de problemas muda o mundo. Os gregos adotaram um processo decisório para a solução de problemas políticos, baseado na tentativa de debate racional e votação, renunciando ao uso da força, conforme Olivier Nay (1968 – vivo), na obra História das ideias políticas. Profundas mudanças na organização política e jurídica nasceram daí, evoluindo para a democracia. O fenômeno político é ação finalista do homem, admitindo-se que este exerça o papel de sujeito dos acontecimentos. Tenha, juntamente com as demais influências, uma natureza humana, além da constelação de fatores que promovem a dinâmica os fatos e atos. A influência dos aspectos socioculturais, as condicionantes do chamado poder suave e os efeitos da solução de problemas materiais; ao lado da coerção do chamado poder duro nos condicionam parcialmente; mas existe a natureza humana e a História não é despersonalizada. 

Estabelecer os marcos da periodização histórica sofre limitações decorrentes dos problemas da diacronia e da sincronia histórica. A distância enseja uma visão mais ampla da montanha, conforme de aconselha Nicolau Maquiavel (1469 – 1527), na obra O Príncipe. É mais fácil demarcar períodos históricos depois de muitos anos, porque os desdobramentos dos fatos e atos podem ser observados com o passar do tempo. As, rápidas, profundas e abrangentes transformações em curso talvez sejam as maiores ocorridas em tão poucos anos. É oportuno reconhecer um novo período histórico. Há quem fale em pós-modernidade (Gilles Lepovetsky, 1944 – vivo, em A Sociedade Pós-Moderna); como em sociedade líquida (Zygmunt Bauman, 1925 – 2017, em Sociedade Líquida) e em sociedade global (Marshall McLuhan, 1911 – 1980, em A Aldeia Global). 

O reconhecimento do mundo emergente 

As civilizações nascem, crescem, fenecem e morrem (Arnold Toynbee, 1889 – 1975, em Um estudo da História). É possível definir o fim de um período e o início de outro pela morte e o nascimento de uma civilização. Após o fim de um período, pode haver uma indefinição anárquica. A fase anárquica, para quem entende que o caos é insuportável por muito tempo, seria uma transição seguida por uma nova ordem. Pergunta-se: (i) a civilização ocidental morreu ou (ii) está se adaptando a novas realidades? Dizer que ela morreu ou permanece viva exige que se tenha uma ideia mais ou menos discernível do seria tal civilização. 

A civilização ocidental pode ser descrita como uma mistura (a) da tradição cosmocêntrica dos gregos, com a Filosofia teorética, misturada ao (b) Direito e ao pragmatismo romano, temperado com (c) o teocentrismo da tradição judaico-cristã. A sobrevivência da civilização ocidental seria a permanência destas influências. A busca e o reconhecimento de um logos impessoal, universal e cósmico, herdado da civilização grega, que buscava superar a simples opinião (doxa) está em crise. A razão dedutiva do silogismo; somada ao raciocínio indutivo, sob a vigilância epistemológica da lógica aristotélica, tem sido repudiada. 

A razão é questionada como instrumento de dominação ou em nome da dialética que Lucio Colletti (1924 – 2001) nomeava como senhora de costumes cognoscitivos fáceis. A razão impessoal tem sido questionada por uma razão identitária antropocêntrica. O componente grego da civilização ocidental declina. A subjetividade assume um protagonismo antagônico à superação da doxa. Adota um voluntarismo que chega a negar realidades objetivas em nome da subjetividade. Homens se dizem cachorros prisioneiros em um corpo humano e por isso exigem direitos. Contraditoriamente, porém, cresce o repúdio ao subjetivismo de quem condena as manifestações da contracultura. A censura alega combate ao “preconceito”, mas combate ao subjetivismo do outro.

A permissividade cognitiva que permite aos novos gestores da moral negar a realidade objetiva, não se aplica aos dissidentes. Seria uma nova ética? Qual seria o seu fundamento de validade? Não é teocêntrica. Não pode invocar a vontade divina. É cosmocêntrica? Neste caso não poderia dizer que a objetividade de um corpo humano cede lugar à subjetividade canina. Então só pode ser antropocêntrica. Neste caso falta dizer qual é o critério de validação que pode dirimir as divergências ou conflitos entre subjetividades. Seria a maioria? Faríamos plebiscito para decidir se um cachorro pode ter um corpo humano, substituindo juízo de realidade por juízo de valor? Isso merece outra reflexão.

terça-feira, 2 de abril de 2024

Poesia - SONETOS DECASSILÁBICOS PORTUGUESES (VM)

 1 SACRIFÍCIO E GLÓRIA 
* Vianney Mesquita
 

Aquele que é incapaz de operar o sacrifício é incompetente para a glória.

 (ERNESTO BERTARELLI – Empresário e filantropo italiano, naturalizado suíço. Roma, 22.09.1965).

 


Nos rastos de ostentosa trajetória, 
Despegados de angústia e sofrimento,
Inversos a qualquer padecimento
Conforma-se impossível alçar vitória.
 
Nessa mira erradia e ilusória,
Ao tencionar-se repelir o tormento,
Tal não transpassa falaz lenimento,
À fantasia procrastinatória.
 
 Dessa maneira, de oblações isento,
Forro de todo o comprometimento
Ocorre a circunstância dissuasória.
 
Então, tomado de constrangimento,
O ser remansa, em dúplice momento,
Inepto ao sacrifício e inábil à glória.
 

 

2 SAÚDE E DECESSO

 

Os médicos trabalham sem cessar para nos conservar a saúde. E os cozinheiros para destruí-la. Estes, contudo, têm mais certeza de êxito. (DENIS DIDEROT, filósofo e escritor francês. Langres, 05.10.1713; Paris, 31.07.1784).

 

Na intenção de premunir saúde,
Quantos se louvam nos facultativos!
Sob os galenos se conservam ativos,
Muito embora infalível a finitude.
 
 Entrementes, no entanto, e amiúde,
Maus procederes deliberativos
Costumam conduzi-los, taxativos,
À trilha moribunda do ataúde.
 
A porfia cozinha e Medicina
É lapso (desrazão) que patrocina
Contenda estéril, despropositada:
 
Projetam os cozinheiros cada sina,
E, ao passo que a desgraça a essência mina,
Nossa existência sobeja expirada.

 

3 ODE À DISCRIÇÃO

 

O segredo mais confiado é aquele que a ninguém se confia. (Provérbio xino).

 


Recato, quietismo e confidência,
Ideias de iguais acepções,
Consolidam as mesmas ilações
Expressas no idioma em evidência.
 
Defesas suas manifestações,
Reservas bem-dotadas de abrangência,
Porque demostram autossuficiência
De quem for proponente das moções.
Franquear os segredos, com efeito,
É arrebatar seguidamente, a eito,
Nesse lance a retida confiança.
Em remate, porém, no autorrespeito,
Sob uma idônea retidão afeito,
Habita-se o portal da temperança.
 

4

 A soma das dores possíveis para cada alma é proporcional ao seu grau de perfeição.  (HENRI- FRÉDERIC AMIEL, Escritor e filósofo suíço. Genebra, 27.09.1821; 15.11.1881.

  

 Tanto mais vigorosa a dor molesta,
De mágoas e reclamos é eximido
O espírito ardente, redimido
Pelo valor que a robustez assesta. 
 
Se a pena afronta um ente destemido,
Intimorato quanto ao que lhe arresta
Nada jamais a embaraçá-lo resta,
Porquanto já usurpou o seu olvido.
 
Visto assim sob o prisma paramétrico,
Todas as almas têm passo simétrico
Medido por igual percuciência.
 
O relatado estalão isométrico
Ao resguardar seu perfil dosimétrico,
Reconcilia-se à sobre-excelência.