quarta-feira, 6 de novembro de 2024

CRÔNICA - O Livro Não Morreu... (VRA)

 O Livro não morreu...
Carlos Rubens Alencar* 


O verão toma conta do hemisfério norte e, dias atrás, enquanto caminhava pelo Central Park, em Nova York, testemunhava a festa da estação. 

A presença de maravilhosos músicos de rua me lembrou o episódio do violinista Joshua Bell tocando no metrô de Washigton D.C., onde foi simplesmente ignorado, por estar disfarçado de “músico de rua”, ainda que manejasse um Stradivarius de 3 milhões de dólares.

Então, de repente, eu vi John Coltrane. Ele estava lá, e “blue train” ecoou naquele ambiente de paz.  

Monumento a Alice no País das Maravilhas, zoológico, romaria rumo ao mosaico “Strawberry Fields”, lado oeste do parque e na direção do edifício Dakota, onde morou e foi assassinado na calçada John Lennon. 

Lembrando o Beatle, me recordei de passeios pelo Hyde Park, em Londres, e, também pelo Jardim Botânico, Rio de Janeiro, onde encontrei, nos idos de 1986, o educador Lauro de Oliveira Lima. Tivemos oportunidade de conversar longamente sobre a capacidade de aceitar quem não é igual ao que você acha certo ser. 

Cheguei a pensar: Será que um parque ecológico de aproximadamente 30 ha poderia salvar a região central de Fortaleza? Certamente que nos dias atuais o nosso centro parece condenado à degradação e depreciação contínua. 

É tempo de pensar. Os avanços em Tecnologia da Informação, Internet das coisas e a Inteligência Artificial viraram o mundo em 20 anos de cabeça para baixo. Minha geração está perplexa, sobre o que fazer, quando e como fazer. 

A chamada geração Z assume o protagonismo, na esteira da modernidade líquida e da pós-verdade, as quais compõem um “arranjo” que coloca em xeque, ao mesmo tempo em que acena para a importância dos livros como elemento de resistência, levando-nos para um novo universo de reflexão, que certamente não será influenciado por nós, velhos “baby boomers”. 

A resultante da nossa geração é uma sociedade extremamente injusta, onde a remuneração do capital supera o crescimento da produção e da renda, gerando distorções que acentuam as desigualdades. Essas, por sua vez, destroem os princípios que fundamentam as democracias e a natureza humana.  

Acredito que é na dívida pública que se localiza o grande pacto político e social a ser construído no País. Fora disso, continuaremos a ter a sociedade que temos hoje, cuja resultante mais visível é o aumento da violência, expressão cristalina do fracasso humano. 

Na Internet, onde todos somos um produto, as nossas “verdades ou mentiras” são postas e muitas fogueiras são acesas. Tudo de acordo com as necessidades dos novos tempos, que começaram na sociedade de consumo, onde se participa ou se é engolido por ela. Cresci lendo Álvaro de Campos. Lembro-me do dono da tabacaria. 

“Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?”.

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

LITERATURA - Desde o Título, Sublime Influxo (VM)

 Novo Livro de Ítalo Gurgel:

DESDE O TÍTULO,
SUBLIME INFLUXO

 

Vianney Mesquita

(Da Academia Cearense da Língua Portuguesa).


Non sono i titoli a illustrare le persone; questi però sono ciò che danno luce ai titoli. (Niccolò di Bernardo dei Macchiavelli, pensador renascentista. Florença, 03.05.1469; 21.06.1527).

 

AFEIÇÃO E NOSTALGIA

“Para a Tereza est’obra é edificada,
Porque tudo com ela teve início,
Por ela e nela”, o gradil do edifício
Remansa, intato, dês sua fachada.
 
Da bonomia, matéria é enxertada,
No imo do autor, mestre de ofício,
Logo, do bem denota o frontispício
Duma simpleza personificada.
 
Erguidamente afeito à língua-prosa,
De inopino, inscreveu-se na poesia,
Com estrofes de erguida urbanidade.
 
Em dez ictos, pois, nomina e glosa
Ao cortejar, de pronto, a nostalgia,
Cantos de Benquerença e de Saudade.
 

 

No dia 26 de outubro de 2024, obtive a mercê de participar das comemorações do quadragésimo sétimo ano de instituída a Academia Cearense da Língua Portuguesa (evento sucedido em 1977, sob a ordem de seu fundador, o inesquecível Professor Hélio de Sousa Melo), tendo por domicílio o Colégio Batista Santos Dumont, aqui em Fortaleza.

Cumpre evidenciar, por conformar sucesso venturoso, consoante as demais ocorrências insertas na ordem do dia, em seção dirigida pelo Professor Marcelo Braga, Presidente da nossa ACPP, o lançamento do primeiro livro de poesias, da agricultura verde do ínclito professor, jornalista, escritor e cultivador de orquídeas, Ítalo Gurgel, intitulado Cantos de Benquerença e de Saudade.  

Evidentemente, por não ser azado o ensejo (ainda não experimentei o lance de o ler com detenção), deixo de proceder a comentários mais penetrantes, projetando fazer isso no tempo adequado. 

Inaugurativamente, individualizo o fato de esse escritor de tão subidos predicados – morais, intelectuais e outros associados a pessoas credoras de benignidade – haver decidido inscrever-se na esfera desta propensão nostálgica, ajuntando poemas em pés clássicos, conforme sucede com os segmentos/parte do volume sob lábil comentário. Esta ocorrência certifica, incontroversamente, sua capacidade de arrostar a produção de componentes linguísticos próprios desse estalão da Literatura, configurado na ventura do bem poético, ora magnificamente operado pelo autor, a julgar pelas três ou quatro peças por mim transitadas, antes de vir a público na escoliada edição. 

Ítalo Gurgel, na qualidade de docente dos patins elevados de estudos e perquisições acadêmicas, sobre haver sido e continuado feito produtor de livros de cariz científico no terreno das ciências literárias e na feição dos ramalhos da História – suas circunstâncias universitárias ao extenso da vida  estampa um cidadão leve, polido, dotado, pela Providência, de uma civilidade propícia a conquistar parceiros e admiradores, complexo de pessoas por ele contabilizado a mancheias. Não é interdito expressar o fato de que estou na dita fila, desde que o conheci nos preteríssimos mil e novecentos e setenta. 

Não sei se, de adrede ou por estreme casualidade, imprimiu à denominação de sua novel produção um verso decassílabo lusitano – Cantos de Benquerença e de Saudade – o qual, a ele pedido como suprimento, perfaz meu Afeição e Nostalgia, transferido para cá em sua reverência. 

Se sobrou tal deciso de caso pensado, está assente a comprovação de seus haveres poéticos, adicionados ao patrimônio cultural e científico aglomerado no seu fértil portefeuille haurido nos lindes das delongas inerentes ao senhor tempo, desde que chegado a Fortaleza, em 1964, proveniente de Caraúbas-RN, onde nasceu em 1948. 

De outra vertente, caso haja sido simples contingência redacional, já se lobriga a normalidade conducente à expressão dos devaneios inspirativos do seu estro, ora concertado no âmbito de Cantos de Benquerença e Saudade. 

Por determinação da verdade, neste passo, impende dizer-se que o Professor Ítalo Gurgel já não é apenas da nata periodista, docente de Língua e Literatura Francesa, bem assim de outros teores linguísticos e jungidos ao saber parcialmente ordenado. Isto porque, nesta hora, vagueja feito um menestrel, cuja substância suntuosamente delineada pelo Prof. Myrson Melo Lima, nas considerações preambulares ao livro em comento (sob minha decodificação) protege a família e os amigos, bem como a estende às melhores proposições, a fim de apregoar sua poética, oferenda não propiciada aos vates mais pequenos.  

Nesta produção ítalo-gurgelana, adonde “A família é toda uma galáxia” (e da qual intento, azadamente, me referir com certa profundez de cobertura), transporto o consulente à epígrafe lavrada pelo florentim, mestre e pensador-mor do Renascimento, Nicolau Maquiavel, a quem despejo razões, ao expressar a ideação de que os títulos não ilustram as pessoas, porém estas é que os esclarecem, ao procederem de acordo com o que as titulações exigem. 

De tal sorte, é o escritor e agora poeta Ítalo Gurgel quem guarda o mister de prosseguir na concessão da honra aos seus títulos universitários, científicos, literários et reliqua e, extensivamente, às denominações das matérias provindas do seu ardor inventivo. 

Abraço de parabém pela publicação de mais uma obra a engrandecer o recheio literário brasileiro de qualidade, gazofilácio de bens intelectuais de estimação indescartavelmente altiva. 

Em francês meio derribado, diversamente do seu, correto e clássico como professor da matéria, procedo-lhe a este preito:

C’est une immense gloire d’avoir l’opportunité d’écrire cest notes.

Abraço.


terça-feira, 29 de outubro de 2024

CRÔNICA - Acertos e Erros (TL)

 

NOTA SOCIAL - Exemplo de Vida (RV)

 EXEMPLO DE VIDA
Reginaldo Vasconcelos* 


Compareço ao octogésimo aniversário de José Brasileiro, festa suntuosa em que será lançada e distribuída aos seletos convidados a sua biografia, em edição de luxo, da qual fui copidesque e editor.

Adentro extasiado o salão de festas do novíssimo arranha-céu que vi construir desde as fundações e o esqueleto – observando do terraço do Ideal Clube, que é vizinho, entre doses de uísque ou taças de vinho, em eventos que recentemente promovi ou frequentei naquele histórico templo da alta sociedade cearense.


Ninguém é menos José que esse devoto Brasileiro, que fez construir uma capela no refúgio domingueiro da família, nem mais brasileiro, ele que identifica com orgulho o autóctone baiano na sua ascendência muito próxima, já ali nos bisavós – não obstante a sua aparência lusitana. 

Escreveu suas memórias com esmero e com riqueza de detalhes, desde a sua infância famélica no Brasil profundo, de onde saiu para a metrópole com a família, ainda menino, tangido pela estiagem severa dos anos 50, para brilhar na profissão e nas empresas que fundou e administra com a família. 


Agora Brasileiro celebra a adolescência da velhice, com alma de menino, sempre apaixonado pela consorte amadíssima e amantíssima, pela bela família, e principalmente pela vida, cujos percalços ele venceu com galhardia, e com muito trabalho conquistou absoluta independência econômico-financeira e boa projeção social por onde morou Brasil afora.

No seu Lions Clube, no time de futebol que ele fundou, nos profícuos negócios, faz da vida um colorido festival, sempre cultuando a música raiz no seu lazer – hábil no pandeiro, na sinuca, na elaboração de caipiroscas, desde que se tornou mixologista diletante entre os amigos. 

E eu que estou chegando à infância da velhice, que já superei fronteiras, que já escrutinei intelectualmente o Universo e a Humanidade, colecionando experiências e deparando pessoas diferentes, ainda me surpreendo com o caráter luminoso desse Brasileiro genuíno  logo depois de biografar o célebre jornalista veterano pseudonominado Lúcio Brasileiro, coincidentemente. 

E então me ocorre citar passagem poética da lavra de Caetano: “Eu nunca pensei que houvesse tanto / coração brilhando / no peito do mundo”.

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

CRÔNICA - Despedida (AV)

 Despedida
Adriano Vasconcelos*

 

Ah, a Suyanne... bem a seu modo, discreto e delicado, ela conseguiu uma forma gentil de despedir-se. Foi-se aos poucos, para que fôssemos nos acostumando com a ideia, amortecendo assim a seca pancada da temporária separação. 

Nossos destinos se cruzaram em 1992, em pleno período momino. “E a vida, tão generosa comigo, veio de amigo a amigo, me apresentar a você”, exatamente como na maviosa cantiga do Jorge Vercilo. 

Tornamo-nos um, com os mesmos gostos, preferências, amizades, famílias, e principalmente o modo de ver e curtir a vida, cultivando amigos mundo a fora. A mesma estética. Quem conheceu sabe do que estou falando.


Por mais de 32 anos nos ocupamos em ser felizes, com festas, viagens, amigos, sem, entretanto, negligenciarmos a ajuda ao próximo e às indefesas criaturinhas de quatro patas. Nisso ela era bamba! Sua comunicação empática com eles era patente. Dizia ser seu ministério divino, outorgado diretamente pelo Criador.

Adotou como seus os meus quatro filhos, que chamavam-na de “boadrasta” – e, depois, os muitos netos. 

Cuidamos dela na doença como ela teria cuidado de nós, nada lhe faltando em termos de conforto e tratamento. Conforme sua vontade sempre expressada, foi poupada de dor, quer física, quer psíquica. Mais um bônus do Pai Eterno. 

Não foi sem deixar, além de muita saudade, um exemplo de como ser gente. Deus a quis perto de si (O Senhor a deu, o Senhor a levou; louvado seja o nome do Senhor – Livro de Jó, capítulo 1, versículo 21), cabendo a nós agradecer-Lhe por termos tido a chance de conhecê-la, e de termos convivido com sua doce pessoa. 

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etério, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te;
Roga a Deus que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
(Luiz de Camões – ca. 1560)

Ela não morreu... ela apenas partiu antes do combinado. Até breve, Sukita!

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

POESIA - Improvável (MJ)

 IMPROVÁVEL
Josefina*
 

Eu nasci improvável
No ventre de minha mãe.
Meu corpo esqueceu de me dar
Um cérebro inteiro!
Eu nasci improvável!
Venci a improbabilidade
De um dia, um mês, um ano,
uma década!
Eu vivi improvável.
 
Em um mundo que não conheci,
Entre pessoas com quem não convivi,
Em um corpo que não foi meu. Improvável!
Improvável comunicação!
Apenas gritos que minha garganta emitiu.
Sinais que meus olhos falavam,
Boca que só recebeu, nunca falou!
Improvável velhice.
 
Estou velha, meu corpo sabe. Todos sabem, eu sei, não tenho mais lugar. Improvável morte.
Morte desejada, morte adiada, morte que não morre.
 
Vou morrer improvável???

 

Para Dinda!
Que a receba na sua paz.
Fortaleza,16/08/21.


CRÔNICA - O Amigo, o Poeta e a Saudade (RMR)

O AMIGO,
O POETA E A SAUDADE
Rui Martinho Rodrigues*

 

Somos como a pragana, espécie de barba de espigas de existência fugaz, nos ensina o livro de Jó. Cronos, devorador implacável, destrói quase tudo. Mas Mnemosine disponibiliza a memória, para que o Titã destruidor, que reina sobre o tempo e nos tira tantas coisas, não nos deixe apenas a ausência.

 

A perecibilidade da nossa existência é compensada pelo legado deixado pelos amigos que partem. Paulo Coelho Ximenes, um amigo, um técnico e um bardo de largos méritos, nos deixa a memória de um homem afável, ético, cujo bom gosto musical e a produção poética nos consolam. 

Engenheiro agrônomo, tendo como habitat natural a área técnica, tinha sensibilidade artística. Sabia expressar com grande beleza na forma, capturando a essência feita de emoções e significados que, embora difíceis de traduzir em palavras, se tornavam fáceis de compreender quando saiam da sua pena.

 

O sínolo, constituído por forma e essência, era uma poesia bela e portadora de sabedoria, que, como a ética, não é proporcionada pelo conhecimento. É a esfera da afetividade o arrimo da aptidão para o bom uso do domínio cognitivo da realidade. A lhaneza e o dom da compreensão e de expressar sentimentos, presentes no já saudoso amigo Paulo Ximenes, não eram produtos dos saberes técnicos de engenheiro agrônomo. 

Nem somente da sensibilidade artística. A sabedoria, entendida como capacidade de fazer bom uso do conhecimento, discernimento para entender e inspiração para traduzir em palavras coisas indizíveis revelam que o poeta tem bom caráter. Assim era o amigo, o intérprete de emoções e sentimentos, deixando saudades e um baú de versos que sintetizam amor, lembranças e valores. 


Amigos se alegram e choram juntos. Os amigos da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, neste momento, fazem ouvir o pranto da citada casa de letras. Agremiação em que a amizade é um forte liame entre os confrades que tantas vezes riem juntos, pranteia Paulo Coelho Ximenes, consolada pelos versos que ele nos deixou e pela memória de seu companheirismo.

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

POEMA - Largo da Poesia (SQC)

 Largo da Poesia
Sávio Queiroz Costa*


No largo da poesia, os ventos sussurram,
Palavras que dançam no ritmo da brisa.
Cada esquina guarda versos que murmuram,
Segredos antigos que o tempo eterniza.


Ali, os poetas encontram abrigo,
Nas sombras das árvores, sob o céu aberto.
Entre flores e sonhos, construo contigo
Um universo onde o amor é o certo.


No largo da poesia, te espero a sorrir,
Com versos no bolso e a alma a fluir.
Somos dois viajantes, sem pressa de ir,
Num mundo onde o sentir é o único existir.
 
 
* Dedicado ao amigo Paulo Ximenes


sábado, 5 de outubro de 2024

ARTIGO - As Nossas Abluções Recivilizatórias (PE)

 AS NOSSAS ABLUÇÕES
RECIVILIZATÓRIAS
Paulo Elpídio*


Houaxia é um conceito usado na China para designar “Civilização”, como propósito de definir e fixar os “povos das estepes” aos quais os chineses negavam o reconhecimento de sociedades organizadas. Eram os “não-chineses”, destituídos dos atributos que lhe são próprios. 

Os gregos designavam, por sua vez, de “bárbaros” os grupos sociais primitivos constituídos de “não-gregos”. 

Há no conceito “civilizado” um conjunto de atributos que refletem o grau civilizacional superior em que se encontra um povo em relação aos seus vizinhos ou com referência aos que não compartilham das mesmas origens, dos mesmos valores, do avanço dos seus conhecimentos, de uma história e da memória subjacente, em comum, de instituições e padrões de organização e de dogmas de fé que lhes conferem uma certa identidade compartilhada. 

Trata-se, no fundo, de um conceito discriminatório utilizado para afirmar a superioridade de um país e do seu povo em relação a outras nações.  

Uma ilustre personalidade deu-se conta, mercê de graves reflexões, de que ao Brasil impõe-se um mergulho batismal em um penitente “processo recivilizatório”. Sua Excelência não brande o nosso descuido em nosso favor. Antes, bem ao contrário, aponta para o primitivismo da sociedade em que nos organizamos, carentes do essencial de uma desejável conquista civilizatória. 

Provavelmente, o ínclito magistrado contrapõe as conquistas e os avanços alcançados por outros países à indigência de uma sociedade primitiva de terceiro plano. 

Até agora, entretanto, para angústia nossa, o ministro não deu mostras tranquilizadoras de onde encontrar o modelo que deveríamos usar. 

Em um Mundo bipolar, cujas diferenças se acentuam e aprofundam celeremente, nada mais sobra como modelo do que as ideologias que correm em paralelo e irão nos jogar à esquerda, ou à direita, alternativas singulares, imposições incontornáveis para ingressarmos em um estágio civilizacional aceitável aos olhos do ilustre filósofo-constitucionalista. 

As potências mais aguerridas de ideias e dotadas de “belligerantium animus” trazem para si as virtudes que a civilização lhes confere. As demais, devem contentar-se com as sobras da “barbárie” que lhes cabe por justa injunção. 

Neste lugar de solertes conjecturas, falávamos do Brasil e sobre ele, se estão lembrados, a propósito da receita de uma reinserção civilizatória a que nos deveríamos resignar, sem delongas.  Uma espécie de expurgo de entidades malvistas e indesejáveis, cerimônia de descarrego das nossas idiossincrasias ancestrais. 

Pois aí está, que não nos faltem coragem, esperança e fé para que essas abluções bem lembradas pelos Ministro nos abram os caminhos da Houaxia e nos deem força para alcançarmos este bravo mundo novo, em boa hora, a salvo da barbárie que nos ronda, “ad hunc modo”.