POSSE
DE TRÊS ACADÊMICOS
DA
ACADEMIA CEARENSE
DA
LÍNGUA PORTUGUESA
(Reprodução
e Notas)
27.10.2017
Vianney
Mesquita – Cad. 37
A sociedade Inteligente do nosso Estado, por
intermédio da Academia Cearense da Língua Portuguesa, a qual perfaz, hoje, 40
anos de proficiente existência, mourejando em prol do desenvolvimento e defesa
da Língua de José Augusto Bezerra, regista a satisfação imensa de acolher no
seu quadro de imortais três paredros da intelectualidade do nosso Estado.
Os professores Maria Gorete Oliveira de Sousa,
Raimundo Evaristo Nascimento dos Santos e Maria Margarete Fernandes de Sousa são
ora guindados à circunstância de titulares da Instituição, eleitos pelos seus
pares, com arrimo nos reconhecidos caracteres de intelectuais, transitados pelos
mais destacados ambientes de conhecimento, devidamente comprovados nos seus curricula.
Complementam o conjunto das quarenta cátedras
componentes desta Casa de saber linguístico, a qual, no decurso de quatro
décadas, desenvolveu os planos de seus fundadores, alguns dos quais comparecentes (1) a esta solenidade. Não
é, no entanto, o caso do meu paradigma de pessoa humana, protótipo de docente e
que jamais deixou de me remover uma dúvida de Língua Portuguesa, de maneira
incontinenti, figura inexcedível a me enobrecer com o fato de me assentar no
romaneio de suas amizades – o acadêmico Myrson Melo Lima. Ele está de viagem à
Europa, onde visita uma filha.
A tríada de imortais hoje empossada enriquece,
com seus predicados de transmissores insuperáveis dos nossos conhecimentos
linguísticos e produções de alçado valor nesta mesma seara, os cabedais e
propósitos desde Silogeu, configurados na propagação, evolução e defesa do
código lusitano, um dos mais esplêndidos mananciais glossológicos do mundo, sob
o qual Camões [...] chorou no exílio
amargo o gênio sem ventura e o amor sem brilho, para evocar a verve poética
bilaquiana.
Discorro, sucinta e rapidamente – e também para
ser agradável, como quis o movimento cristão da Escolástica (Esto brevis et placebis) – a respeito
dos seus currículos de vida, os quais não cabem num livro pequeno.
A Professora Maria Gorete Oliveira de Sousa é
graduada em Letras pela Universidade Estadual do Ceará, mestra pela
Universidade Tecnológica do Paraná e obteve o título de Doutor (2) em
Artes, em tese sustentada na Universidade Federal de Minas Gerais. Em
complemento a tão faustoso capital, ela é formada atriz pelo Curso de Arte
Dramática da Universidade Federal do Ceará. Reformada por tempo de trabalho do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, onde mourejou por 21 anos
dos 29 de magistério que exerceu, dedicados à Língua Portuguesa e produção de
texto. Antes de operar escritos academicamente, escreveu a obra poética
intitulada Na Galáxia da Estrela Ímpar.
O Professor Evaristo Santos nasceu em 1961, em
Guaiúba, então Distrito de Pacatuba. Diplomou-se em Letras pela UFC e é
especialista em Língua e Literatura pela UVA. Desenvolveu Programa de Grego
Clássico, Koiné Intermediário e Koiné Avançado, também, pela Universidade
Federal do Ceará, tendo recebido certificado em Latim, em curso promovido pela
Associação dos Professores do Ensino Superior do Ceará- APESC. Lecionou em
vários colégios de Fortaleza e no Colégio Ipuense, havendo integrado a equipe
de docentes de Português do Colégio Geo-Studio, com atuação no Ceará e fora
daqui, e do Colégio Tiradentes, de onde saiu para assumir vaga em universidade
pública, aprovado em concurso em 2013. Nesse ano, integrou o Sistema Ari de Sá,
na equipe de elaboração do livro de Português destinado ao Ensino Médio como
coautor, obra essa adotada em muitas escolas do Nordeste. Hoje leciona nos
Colégios Irmã Maria Montenegro, Luciano Feijão (Sobral), Sete de Setembro e
Antares.
A Professora Maria Margarete Fernandes de
Sousa nasceu em Jaguaruana, tendo se mudado para Fortaleza aos 15 anos, onde se
graduou em Letras pela UECE, em 1983, e em Pedagogia, pela UNIFOR, em 1989.
Especializou-se em Língua Portuguesa pela UECE e, na sequência, se fez mestra
em Linguística pela UFC, em 1998, e doutora, também em Linguística, pela
Universidade Federal de Pernambuco (2005). É docente associada da Universidade
Federal do Ceará e coordenadora do Grupo de Pesquisa Gênero - Estudos Teóricos e Metodológicos. Constitui o GT da ANPOL
de Linguística de Texto e Análise de Conversação. Tem publicações em análise de
gêneros discursivos, com ênfase nas estratégias de construção de sentidos do
texto.
Acolho, então, em nome da Diretoria, os três
intelectuais com a maior satisfação, em virtude da certeza desta Arcádia em
relação ao fato de que, dotados de tanta qualificação, o professor Evaristo e
as professoras Margarete e Gorete vão reforçar a consolidação dos propósitos
desta Academia. Estes descansam em conservar a elevação da Língua Portuguesa
até o zênite do seu valor como codificação glotológica da mais alevantada
significação na contextura das constituições linguísticas lácicas. Ajudarão a
divulgá-la e defendê-la das falsas fulgurações que, às vezes, são postuladas
pelos novos tempos, os modismos, os estrangeirismos, os aceites de novidades
inconsequentes, o que somente destrui (3),
sob o prisma da correção, aquilo estudado, perquirido e defendido como certo
por estudiosos da Língua Portuguesa ao longo curso de sua existência. Bem-vindos,
estimados acadêmicos-imortais, ao seu novo ambiente de trabalho.
Disse.
NOTAS
(1)
A despeito de nenhum dos empossados haver se
reportado durante a solenidade de sua recepção – tampouco depois – a esta curta
fala, ao seu final, um acadêmico estranhou, por desconhecer, devidamente
dicionarizado, o vocábulo comparecente. Apliquei-o – com a devida
correção, diga-se – primeiro, porque gosto de usar os recursos da Língua e, em
segundo lugar, pelo fato de presente
e presença terem, na atualidade, em
especial no âmbito universitário, uso bastante abusivo, chegando a ser até vergonhoso.
Não há a menor possibilidade de eu empregar termo não recepcionado pelo Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras!
(2)
Também fui (indireta e incorretamente)
repreendido por um dos membros do Sodalício, pela aplicação, a uma das imortais
empossadas, da dicção título de Doutor.
Embora seja ela mulher, “de Doutor” é o título, o gênero deste, absolutamente
correto o masculino.
(3)
Houve troca de olhares, desconfiados e
impugnativos, quando conjuguei, também esmeradamente, no discurso, a terceira
pessoa do singular, indicativo presente, do verbo destruir – “destrui” –
que, a igual de construir (“construi - constrói”), concede
a opção destrói .
Solicito,
então, que os contraditores, antes de se manifestarem acerca daquilo onde veem
impropriedade, levem na devida conta a frase de Públio Ovídio Nasão – Ignoti nulla cupido! (Arte de Amar, III, v. 397).