quarta-feira, 29 de junho de 2022

CRÔNICA - Oásis de Lima Campos (AM)

 Oásis 
de
Lima Campos
Ana Miranda*

Numa rua do Icó, nos anos 1930, andava uma moça faceira em seu vestido rude, costurado por ela mesma. Vaidosa, enfeitava-se de colar, brincos, talvez uma pulseira, e, se calçava algo, seriam alpercatas gastas: era moça sertaneja. Ia debaixo de uma sombrinha, movendo os quadris com sentimento de pecado. O doutor, que passava em seu carro, apaixonou-se ao primeiro olhar, cortejou a mocinha, e se casaram. Ela era filha de um engenheiro autodidata que em 1931 tinha vindo da Paraíba com a família, a fim de trabalhar na construção do açude Lima Campos. 

Ele, o doutor, estava em Lima Campos para fundar e tocar um posto agrícola. Engenheiro agrônomo acabado de se formar em Viçosa de Minas, levava com o maior entusiasmo seu primeiro trabalho. Construiu uma casa rosa, rodeada de varanda pelas quatro fachadas, ampla e arejada, cercada de jardins. Com outros engenheiros puxou canais de irrigação trazendo a preciosa água do açude Lima Campos, vinda de Orós. Terminados os canais, ele ordenou o plantio nas vazantes de feijão, arroz, milho, melão, melancia e outros gêneros alimentícios, assim como o de cana e algodão. Ao mesmo tempo fazia pesquisas agrícolas e experimentos vegetais, para enfrentar as peculiaridades da região. E formava criadouros de animais, como galinhas, cabritos e ovelhas. 

Em torno da casa havia antigas mangueiras, ateiras, cajueiros, e ele  plantou diversos bosques de árvores persistentes, de clima quente. Eram largos os pomares de espinhosas, como laranjeira, limoeiro, tangerineira. Mandou trazer da Califórnia mudas de frutas, como grapefruit; e, do Líbano, sementes de tamareiras. Plantou-as com cuidado e as árvores vicejaram, floriram, deram frutos nutritivos, saborosos. Ali até parreiras davam cachos de uvas, e se fazia um vinho borrento que chamavam de "grapa". A moça recém-casada ia dormir sentindo o perfume suavíssimo dos laranjais, ouvia os estalos das vagens se abrindo, o canto de pássaros, pios e sons de bichos atraídos pela água e pelos alimentos, as risadas das moças agregadas. Cheia de alma, a casa recebia forte influência feminina. 

Mas a vida daquele casal era uma peleja diária. Houve dois estios brabos, um deles a Grande Seca de 1942, que amarelou a paisagem, desnudou a terra em volta do Posto Agrícola, e baixou perigosamente o nível das águas do açude. O Posto transformou-se num oásis, naqueles dias cada vez mais abrasantes e noites cada vez mais frias. O doutor se desdobrava em cuidados para com as plantas e águas, e dava trabalho e moradia aos retirantes que desciam a serra de São Miguel, na fronteira com o Rio Grande do Norte. Chegavam aos magotes as famílias sedentas, famintas, empoeiradas, a pele arranhada pelos espinhos e gravetos secos da caatinga. As crianças, mais frágeis, adoeciam. Como não havia casa para todos, uns se instalavam à sombra das árvores, em meio aos pomares, à beira dos canais. Os homens trabalhavam no plantio e nos regos, e não lhes faltava comida e água. 

Comovida, a esposa do doutor alimentava as crianças, dava-lhes banho, tirava-lhes piolhos da cabeça, espinhos dos pés, tratava suas feridas, e as levava ao médico. Além de desnutridas, muitas padeciam de uma epidemia de tuberculose que dizimava famílias inteiras. Terminada a seca, as famílias retornaram a suas terras, mas deixaram crianças para crescerem ali. Foram os primeiros filhos daquele casal. Depois nascemos minha irmã e eu. 

Há poucos anos sobrevoei o Posto Agrícola de Lima Campos, num helicóptero fumacento. De longe, após um voo sobre mata seca depois de mata seca, já se via o oásis, a mancha verdejante, as árvores frondosas, e os vários tanques de piscicultura construídos posteriormente. Lima Campos continuava a ser uma cidade pequenina, de uma ou duas ruas, com seus moradores gentis, pacatos, calmos, sentados nas calçadas ao entardecer. Suas casas têm quintais cheios de árvores, nunca me esqueço de um pé de seriguela carregadinho como nunca vi. A casa rosa ainda está lá, e por milagre se mantém exatamente a original; mesmo alguns móveis são do tempo de meus pais. Pertence ao Dnocs. 

Ali estava o sonho do jovem agrônomo: a aplicação do modelo de postos agrícolas em todo o Ceará, ou em todo o árido e semiárido nordestinos. Um modelo simples, com açude, irrigação, plantio, criação. E o Ceará se transformaria numa espécie de grande kibutz, com áreas verdes produtivas. Um amigo que conhece bem essa história teve a ideia de fazer na casa rosa um museu agrícola, com o nome de meu pai. Museu Doutor Raul Miranda.

Nota: Texto publicado originalmente na Revista Caros Amigos.


terça-feira, 28 de junho de 2022

RESENHA - Reunião Virtual da ACLJ (27.06.2022)

REUNIÃO VIRTUAL DA ACLJ
   (27.06.2022)





PARTICIPANTES

Estiveram reunidos na conferência virtual desta segunda-feira, que teve duração de uma hora e meia, oito acadêmicos.  O Jornalista e Advogado Reginaldo Vasconcelos, o Especialista em Câmbio e Comercio Exterior Stenio Pimentel (Rio de Janeiro - RJ),  o Advogado e Sionista Adriano Jorge, Juiz de Direito Aposentado,  Advogado e Professor Aluísio Gurgel do Amaral Júnior, o Jornalista Wilson Ibiapina (Brasília-DF), o Agrônomo e Poeta Paulo Ximenes, o Marchan e Publicitário Sávio Queiroz Costa e o Físico e Professor Wagner Coelho.   

 


TEMAS ABORDADOS

Na reunião virtual da ACLJ desta segunda-feira os participantes conversaram sobre a realização do evento intitulado "Tributo a Augusto Pontes", previsto para o dia 17 de setembro, em que serão agraciados integrantes do movimento "Pessoal do Ceará", na década de 70, do qual Augusto Pontes foi participe e maior incentivador.

O Presidente Reginaldo abordou em seguida a homenagem que a ACLJ deverá prestar a mulheres cearenses da atualidade que se destacam em seus respectivos ramos de atividade, tendo sido sugeridos alguns nomes, e decidido que a medalha que lhes será outorgada receberá o nome de Medalha Rachel de Queiroz.

  

Wilson Ibiapina apresentou o livro que está lendo no momento e que recomenda, da lavra do jornalista e biógrafo Fernando de Morais, intitulado "Montenegro", tratando sobre o militar cearense Casimiro Montenegro Filho, criador do Instituto Tecnológico de Aeronáutica e do Departamento de Ciência e Tecnologia Aero Espacial, embriões da Embraer e do Correio Aéreo Militar.

Ao final, Aluísio Gurgel apresentou uma performance literária, lendo os primeiros versos do longo poema "Tabacaria", de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa.

TABACARIA

Álvaro de Campos

 

 

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?


   

FOTOFOFOCA

Na década de 60 foi lançada uma publicação intitulada “Fotofofoca”, que se constituía em fotografias captadas pelos repórteres brasileiros, com artistas e políticos surpreendidos pelas câmaras em posturas ou com expressões jocosas, suscitando balões de imaginários diálogos cômicos. 

Seguindo a mesma ideia, inserindo uma seção de bom humor neste Blog da ACLJ, selecionamos prints realizados durante a reunião virtual, em que os participantes foram flagrados com expressões curiosas e engraçadas. 

Paulo Ximenes parece estar tocando gaita, enquanto Adriano  parece estar ouvindo a música que ele emite. Já Wagner Coelho parece estar gritando freneticamente, e Wilson Ibiapina tentando tapar o ouvido. Sávio também parece uivar, incomodando Wilson, e mais embaixo coça a cabeça em gesto simiesco, que Aluísio parece imitar. Em destaque, Sávio Queiroz reage à crítica mostrando o dedo médio.  

Para ver um mosaico com as imagens referidas acione o link abaixo.    




DEDICATÓRIA
 
A reunião virtual desta segunda-feira, dia 27 de junho de 2022, foi dedicada à memória da jornalista cearense Sandra Chaves, falecida nesta data, vítima de uma recidiva de câncer na faringe, contra o qual lutou durante dois anos.


Sandra se graduou na primeira turma de jornalismo da Universidade Federal do Ceará, e trabalhou em diversas emissores de televisões locais, por último compondo o quadro da TV Assembleia.  


segunda-feira, 27 de junho de 2022

ARTIGO - Kissinger (LA)

 

Kissinger:
Política, História e Diplomacia
Luciara de Aragão*

 

Neste momento difícil da política internacional, nada melhor do que um mergulho rápido na análise aguda de Henry Alfred Kissinger, o homem que por quarenta e cinco anos dá os rumos da política externa americana. Este judeu alemão, fugido da perseguição nazista, chega aos Estados Unidos, aos quinze anos, onde se revela como uma das mentes mais brilhantes do século XX.  Estrategista, diplomata, historiador formado por Harvard (depois seu professor), chegou a Secretário de Estado tendo como um dos seus maiores feitos, entre tantos outros, a aproximação dos EUA com a China, no governo Nixon. 

A ausência de atividades e práticas políticas nos dias de hoje, não neutraliza a sua presença intelectual respeitável, a extensão de suas obras, a repercussão   e o valor do seu legado, mesmo sem a investidura pública do poder. Tanto ele como Nixon se complementavam em termos de política externa, se “ele obtinha na História e no conceito de Geopolítica sua base mais forte para tecer avaliações, Nixon tinha como hobby a política exterior, que praticava com desembaraço a cada viagem “(Suely Moura in Carta Internacional, p. 12 ano VII, número 80). Kissinger faz da avaliação e análise de fatos a sua preocupação principal. Suas Memórias em três volumes (1979, 1982, 2001, estão longe de ser uma autobiografia), comentam fatos e estudam conjunturas da política externa, como a política externa do governo Richard Nixon.

 Diante de nossos olhos, sua obra desvela toda a história profissional de um grande pensador, um historiador em ação no século XX. Não se trata, pois, de uma história de memórias pessoais, mas do traçado de uma vida profissional, com temas como descolonização, decadência do comunismo e a nova ordem mundial, assunto título de um dos seus livros mis celebrados. A herança e os feitos de Nixon deslizam na sua pena experiente, além de fornecer uma visão da Grécia, Oriente Médio, a questão de Cuba, China, Relações Atlânticas, enfocadas de modo especial no terceiro volume de suas Memórias- Anos de Renovação (2001). Que dizer, então dos seus outros livros, compreendendo feixes e gamas de exposição e interpretação, compreendendo e amando a história, traçando e experiência dos homens? 

Após a renúncia de Nixon, com a conclusão do episódio Watergate, as tentativas do vice-presidente Gerald Ford, ao tentar restaurar a confiança perdida dos americanos, desconfiados das ações e propósitos de seus governantes, é duramente criticada pela imprensa e pela oposição. Kissinger opina, justifica e restaura a sua imagem para a história, quando afirma que ele não só deu o melhor de si, como tinha uma imensa habilidade, coragem, devoção e amor ao seus país. 

 A sua análise do governo Nixon, prefere o uso das próprias gravações, produzidas dentro do próprio gabinete presidencial. Ao tomar posse e saber do sistema de gravações na sua sala, Nixon optou por manter o sistema ininterrupto. Foram estes “Nixon tapes” os utilizados por Kissinger, privilegiando, como historiador, uma fonte primária. De muita relevância é a sua avaliação das relações de então, entre Estados Unidos e América Latina. 

Enquanto os Estados Unidos a viam como apropriada a uma oportunidade de expansão do desenvolvimento e de influência política, “a América Latina, temia esses interesses, e tentava simultaneamente salvaguardar sua política doméstica de intervenção e atrair aquele país para investimentos ou assistência. O paradoxo estava montado: a dificuldade de definir medidas de cooperação” (Suely Moura, idem. Ibidem). 

Isto é o que Kissinger conceitua como “percepção de ambivalência”. Seu espírito objetivo e arguto percebe que se perdia muito tempo com a América Latina quando ela podia dar pouco como retorno político, tendo fraca participação nos fóruns internacionais. Observação pertinente a sua sugestão de atuarmos no mundo tal como ele é e não atuar em conformidade do que desejaríamos. Isto também Ele não pode ser interpretado como o reconhecimento do que apregoa:  quanto mais integrado e globalizado é o mundo, menores são a margem de manobra no cenário mundial. Suas vivências ensinam que a complexidade inibe e a flexibilidade é a mestra. 

Conselheiro político de vários presidentes e diplomata da nação americana, nas mais variadas e difíceis situações, convive com a forte noção de excepcionalidade que a caracteriza e a crença permanente de ter sido formada para uma missão superior, consubstanciada no Destino Manifesto. Ele não perde de vista a importância dos EUA na Guerra Fria, o idealismo de Woodrow Wilson:  a importância do Plano Marshall e os persistentes esforços de contenção do comunismo, a defesa da Europa Ocidental e mesmo a Liga das Nações e sua transformação posterior em ONU. 

A intimidade de Kissinger com o jogo diplomático globalizado e a perspectiva de sua decisiva influência nos acontecimentos do século XX, fazem retornar os holofotes sobre ele, citado como possível conselheiro e estrategista da NOM (Nova ordem Mundial). Decerto não está alheio as formulações da nova ordem, tão sensível aos interesses do seu país onde teve influência política, ainda mais marcante, até o governo Reagan. Sua biografia nos revela que ele foi assessor de Segurança Nacional, Secretário de Estado dos Presidentes Nixon e Ford e conselheiro de muitos presidentes em assuntos relativos à segurança e a política internacional. Ganhador do Prêmio Nobel da Paz (1973) pelo fim da guerra do Vietnam (1959-1975) e responsável pelo acordo de paz entre Egito e Israel (1979) e da Medalha Presidencial, dentre outros prêmios e honrarias. No campo da diplomacia, conseguiu a retirada das tropas no Egito em Israel como condição para o acordo de paz firmado em Camp David (1979). 

As controvérsias o precedem e as críticas sempre o acompanharam.  No Brasil, o pesquisador Matias Specktor, (FGV/ CPDOC) encontrou um memorando do ex-diretor da CIA, William Colby, onde comunica a Kissinger (11 de abril de 1974) ter elementos comprobatórios do   conhecimento dos governos militares brasileiros sobre o desaparecimento de presos políticos no período do movimento de 1964.Isto demonstra o envolvimento dos EUA, em diferentes graus, na contenção do comunismo em toda a América Latina. Não lhe faltam ainda, acusações de crimes de guerra, nos casos de invasão da Indonésia ao Timor Leste (1975) e dos golpes de estado no Camboja, precedidos pelo Chile e Uruguai (1973). 

O interesse central de Kissinger, porém, quando secretário de Estado norte-americano, em sua primeira visita ao Brasil, repousa na condição do país como potência chave regional, aconselhando Nixon sobre a necessidade de uma condução produtiva de aproximação. Entre os vários documentos referentes a sua visita ao Brasil e a outros países da América Latina em 1976, no período do chanceler Azeredo da Silveira, constam temas como direito do mar, relações comerciais EUA-Brasil, reforma da Carta da OEA-Organização dos Estados Americanos e observações sobre a assinatura do Memorandum de Entendimento, que rege as relações bilaterais entre os dois países. (Manuscrito MRE Brasil – EUA 3.2. 1975 a 00.00.1976- CPDOC). Ao voltar ao Brasil (1976), cunhou a frase de ser o Brasil uma potência emergente. Sua política hemisférica contou com o apoio do Chanceler Azeredo da Silveira com quem compartilhava as mesmas opiniões quanto a um diálogo produtivo com a América Latina, numa política comum com os Estados Unidos, talvez célula embrionária do MERCOSUL. 

Independente dos rumos traçados ou não, para a política externa norte-americana, mesmo sem a liberdade de modificá-los, Kissinger tem palavras que aclaram não ter a História o condão de um entendimento pleno do presente e menos ainda a antecipação do que nos trará o amanhã. Sua proposta “considera que o conhecimento da História é a melhor forma de iluminar o percurso” (Luís Felipe Lampreia, in Apresentação do livro de Henry Kissinger, Diplomacia, RJ: Francisco Alves, 2001). Talvez por isso, possa interpretar os anseios da politica externa dos EUA, ostentando um grau de poder tal que lhe permitia agir como o “grande irmão”, que os seus líderes podiam insistir que, os seus desejos de expansão da democracia eram basicamente fornecer uma luz, servindo de farol aos assuntos internacionais hemisféricos ou não.


sexta-feira, 24 de junho de 2022

ARTIGO - Revisão Textual (VM)

Academia Cearense da Língua Portuguesa – Hora do Vernáculo – Sessão de 30.05.2022 – Vianney Mesquita – Cadeira número 37. 

 

REVISÃO TEXTUAL
Vertente de Comicidade
Vianney Mesquita*

 

                                                                      

 

A língua é o trajo do pensamento. Samuel Johnson – ou Dr. Johnson – pensador e literato inglês. (Lechfield, 18.9.1709; Londres, 13.12.1784).

 

 


RESUMO


Relata, sumariamente, a tarefa de revistar escritos, nomeadamente os de teor acadêmico. Demonstra a necessidade absoluta de os produtores textuais recorrerem a um profissional experto em Língua Portuguesa e experiente em operações de pesquisa stricto sensu. Exprime, sob o ponto de vista pessoal, o ensejo de se deleitar com os causos interessantes advindos de alguns autores. Mostra a constante ocorrência de deslizes, não apenas de natureza linguística, como também o mau vezo das repetições de vocábulos e sentenças, redundâncias e outras manias arraigadas nos escritos de cariz científico no Brasil. Aponta vocábulos e dicções evitáveis pelos escritores deste jaez, os quais os revisores hão de substituir quando submetidos ao seu crivo.

ACIONE O LINK ABAIXO
PARA ACESSAR A
O TEXTO NA ÍNTEGRA

https://drive.google.com/file/d/1-V0t6f_A-dr86zltU1Y1AhR-E9h5mhkM/view?usp=sharing 





quarta-feira, 22 de junho de 2022

RESENHA - Reunião Virtual da ACLJ (20.06.2022)

 REUNIÃO VIRTUAL DA ACLJ
   (20.06.2022)





PARTICIPANTES

Estiveram reunidos na conferência virtual desta segunda-feira, que teve duração de quarenta minutos, seis acadêmicos.  O Jornalista e Advogado Reginaldo Vasconcelos, o Especialista em Câmbio e Comercio Exterior Stenio Pimentel (Rio de Janeiro - RJ),   o Agente de Exportação Dennis Clark (Maringá - PR), o Advogado e Sionista Adriano Jorge, o Procurador da UFC Edmar Ribeiro, e o Médico, Professor e Latinista Pedro Coelho de Araújo . 

Justificaram ausência o Jornalista e Sociólogo Arnando Santos, o Físico e Professor Wagner Coelho (Rio de Janeiro (RJ), e o Publicitário e Marchand Sávio Queiroz Costa. O convidado especial, Dr. Betoven Oliveira, justificou ausência com motivo de saúde. 
 

TEMAS ABORDADOS

Na reunião virtual da ACLJ desta segunda-feira os participantes conversaram sobre arte pictórica, a partir de uma reminiscência de Edmar Ribeiro, sobre um padeiro espanhol da sua infância no Acre. Nascido na Galícia, o padeiro tinha o sobrenome "Miró", o mesmo do grande pintor catalão Joan Miró i Ferrà (1893-1983).


A partir desse tema Reginaldo lembrou o nosso Chico da Silva, narrando que ele foi levado pelo Banco do Estado do Ceará a pintar um de seus quadros para o acervo da instituição, durante a inauguração da nova Agência da Aldeota, depois rebatizada de Evilásio Miranda.

A propósito disso, Stênio, que também foi funcionário daquele Banco, acrescentou que esse referido quadro pintado durante a inauguração da agência bancária, em 1978, não tinha boa qualidade. Só então se tomou conhecimento de que o grande pintor não desempenhou bem naquela noite porque estava sóbrio e nervoso, pois ele já declarara que os seus galos e peixes fantásticos lhe vinham de suas etílicas visões.


Desenvolvendo o mesmo assunto Edmar lembrou que certa vez visitou o Chico da Silva em seu atelier, no Bairro do Pirambu, acreano como ele, o qual insistia que o visitante se sentasse em um banco alto, em que ele não tinha como se acomodar.  

Na sequência, comentou-se a solenidade de posse na Academia Cearense de Letras do poeta, repentista, violeiro, cordelista, intelectual de escol,  Geraldo Amancio, Membro da ACLJ, neste dia 21 de junho. 

Ele, que foi eleito, e empossado em dezembro de 2018, na Cadeira de nº 28 da nossa Academia de Jornalismo, patroneada por Patativa do Assaré, ocupará agora a Cadeira de nº 14 da veneranda Casa de Tomás Pompeu Sobrinho.



Ao centro o Presidente da ACL, Dr. Lúcio Gonçalo de Alcântara, à sua direita o
Vice-Presidente, Juarez Leitão, e Geraldo Amâncio, à esquerda.  

Infelizmente toda a delegação acelejana que se prontificara a assistir à posse de Amancio na ACL não pode comparecer, por motivo de saúde na família, em face do surto de gripe que se seguiu ao período de chuva extemporânea em Fortaleza. Estavam escalados o Presidente Reginaldo, o Presidente Emérito Rui Martinho Rodrigues, o Secretário-Geral Vicente Alencar, o Segundo-Secretário Adriano Vasconcelos e o membro da Decúria Diretiva Arnaldo Santos. 

Por fim,  Reginaldo apresentou o projeto de se fazer uma homenagem às mulheres cearenses que se têm destacado nas suas profissões, notadamente aquelas que conquistaram funções executivas no mundo empresarial e na administração do serviço público, notadamente a atual Governadora do Estado, a Profa. Izolda Cela, a primeira mulher a ocupar o Governo Estadual, depois de mais de 200 Governadores, nos 419 anos de emancipação desta Unidade da Federação. 


DEDICATÓRIA
 
A reunião virtual desta segunda-feira, dia 20 de junho de 2022, foi dedicada à jovem médica cearense Luciana Aquino, pela forma humana, carinhosa e eficiente com que ela se dedica a cada um dos pacientes que atende na emergência do hospital em que trabalha.


Notadamente com os idosos que atende ela tem um comportamento filial, uma atenção desvelada, se necessário os acompanha aos exames, trabalhando em absoluta sintonia com colegas de outras especialidades.   

A Dra. Luciana é um autêntico "anjo de esmeralda", que cumpre o juramento de Hipócrates com exação excepcional, trazendo para si a missão de diagnosticar e medicar com segurança, mas, principalmente, de inspirar confiança e levar tranquilidade àqueles para os quais ela exercita a sua clínica.


   

CRÔNICA - À Estefânia (TV)

 À ESTEFÂNIA
MINHA NEGA MULATA
Thiena Vasconcelos*
 

O aniversário dela não é hoje, dia 22 de junho... É no dia 23, mas nós sempre nos falamos à meia-noite, em todos os aniversários, então lá vai textão para ela. 

Ela faz 46 e eu estou na vida dela há quase 34 anos. Quantas histórias eu teria para contar! Quantos momentos temos para relembrar! Quanta vida ainda temos para viver! Aprontar, brigar e brigar e brigar... e brigar mais um pouco. 

Sou completamente apaixonada pela minha irmã, pelo que ela fez de mim, pelo que ela deixou em mim, pelo que ela faz dela. Orgulha-me, me acalma, me instrui, me coordena, me guia, me auxilia. 

......................................

Sim, Mana, ainda tenho muito para te tirar o juízo. Passou tudo tão rápido. Tu já tens filhos, já te aventuraste e me mostraste o mundo e seus mistérios, mas continuo nos teus calços, agarrada na barra da tua saia, como se tu ainda tivesses 25. Bom, 25 nem eu tenho mais. Passa!!! 

A mamãe e o papai, a tia Jô e a tia Vólia criaram a gente, duas bestas, duas mimadas, duas choronas. Mas dois mulherões que topam tudo, que enfrentam a vida, meio doidinhas (como o papai diz). Sempre tão unidas. 

Por vezes nos encontramos com problemas, sentamos na mesa redonda (já perdi as contas das muitas casas em que  já moraste), e assistimos aos nossos problemas em algum ponto se encontrarem, ou resolvemos primeiro o de uma, depois o da outra. 

E, hoje em dia, ainda chegou a Júlia de quebra, com os dela a tiracolo, para colaborar com a confusão de tantas artes que aprontamos. Eu me lembro de quando nós éramos pequenas, e tu me fazias chegar tarde à aula, só para me fazer comer um salgado, porque eu não almoçava.


Quando tu andavas a cavalo comigo, porque eu não alcançava a sela; quando tinhas que ir à minha escola brigar com alguém, porque eu era frágil e “bullyingnável” (inventei agora essa palavra); quando tu saías arrumada de casa para farrear; quando nós dormíamos juntas nas viagens, e tu cantavas para mim, e contavas histórias, e criavas um mundo lúdico inteiro só para mim. 

Vi-te casar, e a pior parte aconteceu. Saíste de casa. Parecia me faltar ar, então eu acordava chorando, e ia dormir chorando. Ainda hoje me pego desejando que isso tivesse demorado mais a acontecer. Como estou agora, de saudade, de estar agradecida, por ter sido abençoada por ser a tua irmãzinha caçula, que sempre te teve por traz para segurar a onda. 

E quanto de chicotada a vida te deu em!!?? Foi-se o tempo que esses eram nossos problemas – alcançar a sela, pentear o cabelo com condicionador, depois de viajar na traseira dos carros do papai, alugar vídeo e devolver rebobinado, ficarmos acordadas para assistirmos juntas aos filmes da época, à noite. 

A vida veio e bateu dicunforça, mas, como me faz bem viver esse delicioso mundo oscilante, sendo tua irmãzinha! Desculpa se ainda te enlouqueço com as minhas coisas, até dizeres: “Thieeeeena!!!. Vira o disco, mulher!”; ou “Mããããe!, só mande a Thiena para minha casa se ela estiver medicada” – para depois tu reclamares “Eeeei, tu tá me ouvindo? Tá prestando atenção no que eu tô dizendo?”. 

Enfim, te assisti em todas as tuas fases, como as da lua: donzela, mãe, e caminhando para anciã. Sim, por que não? Sempre cheia de palavras fortes, sempre cheia de frases de impacto, sempre de peito aberto e ombros largos. Vi-te ser essa coisa cheia de sabedoria, construída pouco a pouco, por cada situação de sufoco, de medo, de preocupação. 

E como eu queria que tu não te machucasse nunca mais! Queria e quero que nesse novo ano nada te cause medo, nada te sufoque, nada te angustie, nada te faça abaixar a cabeça. Desejo, finalmente, que tu continues a mesma, do jeitinho que nós fomos criadas. Frágeis, mas cheias de disposição, prontas para as batalhas, que venham uma, duas, dez, mil. Eu vou estar contigo, do teu lado, porque hoje somos duas mulheres feitas e tu me mostraste como ser as tuas costas quentes, os seus ombros largos, teu cão de guarda... duas lobas uivantes. 

Eu logo faço de qualquer ponta de osso minha um punhal; eu logo mostro a minha carne como armadura; eu logo uso meu sangue como veneno para o mal, ou como antídoto, caso tu  precises. Aqui a distância nunca irá alcançar, aqui a maldade não vinga, aqui a nossa história vira um astral, uma muralha, contra o que vier. 

Aqui só reina a nossa amizade, os nossos desejos, a nossa voz, o teu canto (e eu amo quando tu cantas). Aqui, planejamos as guerras com garrafas de café, invocando todas as nossas ancestrais tão fortes, espalhando as nossas palavras que sempre colocam tudo no lugar. 

O mundo é nosso campo de batalha, e nossas armas são divinas. Forjadas com o mais puro sentimento de amor que nos foi dado. Fomos feitas com tanto amor, e somos tão amadas, principalmente uma pela outra. 

Amo-te sem dimensão, te amo incondicionalmente, te amo até o fim do mundo. Queria te agarrar hoje, mas já-já tu estarás de saco cheio de mim de novo, de tanto que vou grudar em ti, como sempre faço. Quem quiser saber onde me encontrar, lá estamos nós, juntinhas, arquitetando o próximo passo. 

Que venham todos os milênios, ainda seremos irmãs, ainda estaremos de mãos dadas, ainda estaremos mostrando os dentes para qualquer situação conflitante. 

Que venha o resto da eternidade minha irmã, porque do teu lado eu não tenho medo, eu não me apavoro, e minhas lágrimas são só de amor, que arde e vibra. 

Que teu dia seja colorido como o mundo que fizeste existir na minha cabecinha de criança; que seja mágico como os filmes da Disney que nós decorávamos; que seja intenso como as nossas conversas; que seja divertido, como cada dia em que tu ias me dar banho para ir para a escola cantando “Terezinha de Jesus”. Eu te amo, estou mais do que aí, estou sempre dentro de ti. Amo-te, minha nega mulata.