segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

ARTIGO (RMR)

O PETRÓLEO É DELES
Rui Martinho Rodrigues*


“O petróleo é nosso”, lema da campanha pelo monopólio estatal do petróleo, empolgou o Brasil, na década de 50. Foi criada a PETROBRAS. Nos primeiros anos rendeu a autossuficiência em refino, mas não em produção de petróleo. O crescimento da empresa foi apresentado como um sucesso. Convencemo-nos de que a campanha do “petróleo é nosso” fora certa e bem sucedida. Alegres por termos uma grande empresa e pela autossuficiência no campo do refino, fechávamos os olhos para pecadilhos que iam desde de diretorias distribuídas politicamente e dos investimentos guiados por critérios eleitorais, passando pelos preços salgados e a dependência das importações, até aquelas negociatazinhas tão comuns na administração direta e indireta da “res publica”.

Vieram a OPEP e a crise de 1973, multiplicando os preços do outro negro. Produzíamos apenas vinte por cento do que consumíamos. Sucederam-se crises internacionais e aumentos de preço. Nossas finanças naufragaram. Mas estávamos felizes porque... o petróleo era nosso! Não importavam os preços nem a dependência da OPEP. Por isso recusávamos investimentos de terceiros, embora não tivéssemos dinheiro para investir, não obstante aceitássemos investimentos nacionais e estrangeiros em outros setores menos urgentes, porque chutávamos “raciocínios lineares”, afinal a lógica da vida é tortuosa, dizíamos.

A PETROBRAS apresentou novo sucesso, além da própria existência e grandeza: desenvolveu tecnologia destinada a exploração em águas profundas. As descobertas de reservas petrolíferas no mar encorajam o sonho da autossuficiência produtiva, tantas vezes prometida e anunciada. Os dispendiosos investimentos em prospecção e produção levaram ao reconhecimento, ainda que tardio, da necessidade de aceitarmos a participação de outros investidores. A produção cresceu, aproximando-se da tão sonhada autossuficiência produtiva, que chegou a ser anunciada em palanques.

Perdemos a autossuficiência em refino, em cujo campo não aceitamos investimentos de terceiros, preservando o monopólio da estatal. Além de preservamos o monopólio neste campo, os seus investimentos foram preteridos pela prospecção e produção. Ainda assim, não nos tornamos autossuficientes na produção, embora a tenhamos nos aproximado dela. O gigantismo da empresa estatal e o domínio da tecnologia da produção em águas profundas os consolavam.

As descobertas no mar pareciam confirmar que o petróleo era nosso. O nacionalismo favoreceu empresas ineficientes e rendeu votos, mas não favoreceu a autossuficiência, por impossibilitar a participação de investidores. Também não trouxe preços baixos.

Eis que de repente, não mais que de repente, como diria o poeta, a Polícia Federal e o Ministério Público levantaram a ponta do véu da nossa querida estatal, revelando a farra das negociatas, pior do que a farra do boi. Além do atentado ao patrimônio da empresa “do povo” (e dos acionistas) temos o atentado às instituições republicanas. A corrupção alimenta o jogo político e eleitoral degenerado, praticado pelos empresários, políticos e tecnocratas.

O petróleo é deles.


*Rui Martinho Rodrigues
Professor – Advogado
Historiador - Cientista Político
Presidente da ACLJ
Titular de sua Cadeira de nº 10


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