quinta-feira, 28 de novembro de 2019
quarta-feira, 27 de novembro de 2019
REUNIÃO NA TENDA ÁRABE E MOMENTO LITERÁRIO - 26.11.2019
REUNIÃO NA TENDA ÁRABE
E MOMENTO LITERÁRIO
Na noite da última terça-feira (26.11.2019) reuniram-se na Tenda Árabe os acadêmicos Reginaldo Vasconcelos, Altino Farias, Paulo Ximenes, Adriano Vasconcelos, Vicente Alencar, Luiz Rego Filho, e como convidados Eliezer Rodrigues e Jackson Albuquerque.
A experiência gastronômica da semana foi mini-acarajés de entrada, e vatapá de camarão como prato principal, delícias da cozinha baiana — especialidades das culinaristas da família Vasconcelos.
............................................
Essa prática artística e performática, internacionalmente designada como poetry slam, nasceu em Chicago, na Green Mill Tavern, em meados dos anos 80, por inciativa do escritor Marc Kelly Smith, disseminando-se por todo o país e depois pela Europa, e por outras partes do mundo. A palavra inglesa slam refere a poesia produzida para ser lida em público.
Participaram da declamação Altino Farias, Roberto Paiva, Akemi Ito, Adriano Vasconcelos e Eliezer Rodrigues, que lançou o livro "Av. Santos Dumont no Contexto da Cidade", e discorreu sobre a obra.
ARTIGO - O Foco da Análise (RMR)
O FOCO DA ANÁLISE
Rui Martinho Rodrigues*
O atual excesso de liquidez teve um impulso nas emissões destinadas
a fazer face ao choque de petróleo nos anos setenta. Depois vieram as emissões
para conter a crise de 2008. Sobra dinheiro. Mas a inflação é baixa em escala
mundial. Juros também e agora chegaram ao Brasil. O crescimento econômico,
porém, declina como tendência mundial.
Os países da União Europeia têm, no momento, os menores efetivos e
orçamentos militares dos últimos cento e cinquenta anos. Os EUA têm o menor
efetivo militar desde o fim da Segunda Guerra Mundial e o seu orçamento de defesa, embora seja
gigantesco, é aproximadamente metade do que foi entre os anos sessenta e
oitenta do Século XX. Ocorre o mesmo com Coreia do Sul e Taiwan, para citar
dois exemplos mais expressivos. Apenas Índia e Arábia Saudita, entre as grandes
economias, aumentaram significativamente seus gastos militares.
Nações, empresas e famílias nunca estiveram tão endividadas em
tempo de paz, apesar dos juros baixos, dos menores orçamentos militares, dos
preços do petróleo não estarem altos e do comércio internacional ser, a
despeito dos entraves que subsistem, mais aberto do que no passado. Não temos
guerras generalizadas na Europa há mais de sete décadas. Árabes e judeus não
travam grande conflito desde 1973, não passando de pequenas guerras.
A tecnologia avança em ritmo acelerado, possibilitando grandes
ganhos de produtividade. A escolaridade progride em todo o mundo. O impacto das
doenças contagiosas e até das degenerativas é muito menor. A crescente
integração da mão de obra feminina ao mercado de trabalho é o aumento de um
fator de produção. Mas a economia mundial desacelera. O quadro parece
contraditório.
A guerra comercial entre EUA e China não é suficiente para explicar
a situação descrita. O crescimento baixo não surpreende quando se olha para o
nível de investimento. Intrigante é o baixo investimento convivendo com elevada
liquidez e juros baixos. Os poderes públicos e as famílias, não por acaso, têm
baixa propensão marginal a poupar. Os asiáticos estão crescendo e apresentam
tendência inversa neste aspecto. As empresas estão endividadas porque os juros
extraordinariamente baixos se constituíram em convite irresistível para o
endividamento.

Isso estagnou a Europa endividada. Tanta dívida tem um lado credor,
entre os quais se destacam os fundos de pensão e alguns países exportadores de
petróleo. Tanta liquides sem investir, sob juros negativos, exige uma
explicação mais robusta. Falta confiança? O que assusta os potenciais
investidores? O endividamento geral?
Vivemos um tempo marcado pelo maior bem-estar já visto, conforme
todos os indicadores objetivos de qualidade de vida. Suicídio, depressão,
dependência química e tantos males do nosso tempo guardam relação com aspectos
subjetivos que confrontados com os indicadores objetivos revelam a falácia dos
fatores materiais como determinantes dos acontecimentos históricos.
A revanche do sagrado (Leszer Kolakowski, 1927 – 2009) sugere a
falta de transcendência, totalidade e radicalidade, que não encontra resposta
na busca autotélica do prazer ou da felicidade solipsista. Faltou a análise do
conflito mimético apontado por Renê Noel Theophile Girard (1923 – 2015). O
discurso sobre desigualdade e concentração de renda é uma expressão deste
conflito.
domingo, 24 de novembro de 2019
PINTURA - O Beijo - Mino
O pintor e cartunista Mino (Hermínio Macedo Castelo Branco), um dos melhores traços nos quadrinhos do Brasil, é considerado o Ziraldo cearense.
Ele edita mensalmente a “Rivista”, uma publicação marcada pela graça de suas charges espirituosas e pela elegância de seus textos.
A Rivista pode ser encontrada nas melhores bancas, com seus artigos e crônicas, assinados pelo Mino e pelos seus colaboradores.

Mino é Membro Benemérito da ACLJ.
sexta-feira, 22 de novembro de 2019
ARTIGO - Declínio ou Crise de Crescimento (RMR)
DECLÍNIO OU CRISE
DE CRESCIMENTO
Rui Martinho Rodrigues*
Vivemos tempo de incerteza. O ceticismo dos sofistas está em alta.
A dúvida metódica, de Renê Descartes (1596 – 1650) não alimenta a perplexidade e
a dificuldade de entender o mundo e nós mesmos, nem tampouco o relativismo
crítico de Karl Raymond Popper (1902 – 1994). Pode haver correlação fraca entre
a incerteza aludida e a escola do racionalismo crítico que tem como ícone
Thomas Samuel Khun (1922 – 1996). O que temos é desorientação por perda de
referências. Tornamo-nos livres e o preço da liberdade é a solidão. Depressão,
dependência química e suicídio são pandemias em curso. Vivemos a decadência da
civilização ocidental, hoje globalizada? Ou estaríamos iniciando um grande
salto para um patamar mais elevado?
Oswald Arnold Gottfried Spengler (1880 – 1936) diagnosticou o
declínio do ocidente, suscitando polêmicas. Arnold Joseph Toynbee (1889 –
1975), que compreendia o processo histórico como marcado pelo nascimento,
ascensão e queda das civilizações, recusou a ideia spengleriana de declínio da
nossa civilização naquele momento.
O diagnóstico requer o exame de sinais e sintomas. Os primeiros são
objetivos e parecem favoráveis. Ciência e tecnologia avançam vertiginosamente e
a tendência secular para a melhoria universal de todos os indicadores de
qualidade de vida, ao lado do aperfeiçoamento de instituições jurídicas e
políticas, se juntam aos longos anos sem conflagração mundial e proporcionam um
saldo positivo quando cotejados com os sinais negativos, tais como depressão,
suicídio, dependência química, desemprego estrutural e aparente tendência para
a instabilidade política?

São, portanto, sintomas, não sinais. Estes são de revigoramento da
civilização. Contrastam com os sintomas de decadência. Quais deles seriam
preponderantes: sinais ou sintomas? As civilizações crescem e fenecem. O que
causa a decadência depois do progresso tem relação de ambos os fatores. O
declínio da agricultura teria sido apontado como fator importante na
determinação do ocaso de Roma. Mas a erosão das instituições e a perda de
valores também estiveram presentes naquela decadência.
Faltam, hoje, lideranças capazes no mundo inteiro. Avanços
objetivos, expressos nos indicadores de qualidade de vida, não satisfazem.
Olhamos para a desigualdade, que é a pobreza comparada, não para o bem-estar
objetivo. Renê Noel Theophile Girard (1923 – 1915) formulou uma antropologia
filosófica segundo a qual o homem não tem uma identidada definida, como os
animais. A coruja nasce para ser um caçador noturno de pequenos mamíferos. O
homem não sabe o que será. Construímos uma identidade mimética. A imitação,
todavia, enseja uma competição na forma de um conflito mimético. Inveja leva ao
conflito.
Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) descreveu o declínio dos regimes
políticos. A república (hoje diríamos democracia) é, para o estagirita,
susceptível de transformar-se em demagogia. A infelicidade e a revolta, a
despeito dos avanços objetivos na qualidade de vida, são induzidas e reforçam o
mal-estar na civilização. Sinalizam a metamorfose da democracia em demagocia. A
desorientação de que fala Theodore Dalrymple (1949 – vivo) guarda relação com a
exploração demagógica.
quinta-feira, 21 de novembro de 2019
CRÔNICA - O Negro Disse (ES)
O NEGRO DISSE
Edmar Santos*
Tiveram que pintar o
invisível e dar-lhe uma cor. Qual a cor do grito, do choro, da dor, da
tristeza, do banzo? Tudo isso tem uma
cor-não-cor.
A identidade pintaram
também; inventam de tudo para separar coisas de um só nome e de tipos variados. Gente é tudo igual, não
fossem os adjetivos; há uns lhes dão sublimes, a outros pejorativos. Que
importa a sua cor?

Por falta de beleza
não seria – Deixe-me dizer-te em segredo – revelaria Mario Quintana – um dos
maiores segredos do mundo – Essas coisas que parece não terem beleza nenhuma; é
simplesmente porque não houve nunca quem lhes desse ao menos um segundo olhar! Dito
isso: Quantos olhares são precisos para poder enxergar direito, o outro, sem
preconceitos?
Para aludir à
dignidade dos que trazem a pele escura, nos acode a consciência; esse ente que
mora dentro da gente e, só quem a busca sabe pensar direito. Consciência
incolor, pintada de negra, na busca de se resgatar da humanidade adjetivada,
uma humanidade substantivada de amor, respeito e aceitação. O sangue bom é
sempre vermelho, nunca azul. Glória às
peles de toda cor que se fazem gente.
quarta-feira, 20 de novembro de 2019
NOTA CULTURAL - Dia da Literatura Cearense
DIA DA LITERATURA
CEARENSE
A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará institui o 17 de novembro, data de nascimento da escritora Rachel de Queiroz, como o Dia da Literatura Cearense.
E em comemoração ao transcurso dessa data, aquela casa distingue a cada ano, com a entrega de uma placa, representantes das academias literárias sediadas em Fortaleza.
Essa iniciativa tem sido do Gabinete do Deputado Heitor Ferrer, e a coordenação da solenidade é do jornalista e poeta Barros Alves, servidor da casa, membro da Academia Cearense de Retórica.
Este ano o evento ocorreu na noite de terça-feira, dia 19 de novembro, no Plenário daquela casa legislativa, e dentre as personalidades literárias homenageadas, três acadêmicos da ACLJ: os poetas Alana Girão de Alencar e Paulo Roberto Coelho Ximenes, e o Professor Rui Martinho Rodrigues, nosso Presidente Emérito.
ARTIGO - O Leviatã e o Paraíso (RMR)
O LEVIATÃ E O PARAÍSO
Rui Martinho Rodrigues*
O sufrágio censitário exigia renda e outros requisitos para a
capacidade eleitoral ativa, desigualdade nada republicana. O voto universal
reconhece o direito de votar sem distinção de renda, escolaridade ou etnia,
conquistado no Século XIX, inicialmente restrito ao universo masculino. É um
importante aperfeiçoamento democrático; fortaleceu a legitimidade da representação
política; ampliou o papel do Estado na promoção do bem-estar social.
Educação, saúde, previdência, seguro desemprego, programas de renda
mínima ganharam impulso. Bens e serviços popularizaram-se. Indicadores de
qualidade de vida cresceram tanto que o discurso sobre “consumismo” eclipsou a
teoria da pauperização (Karl Heirinch Marx, 1818 – 1883). A discussão da
pobreza objetiva, descrita com números absolutos, cedeu lugar ao debate sobre
pobreza comparada (desigualdade).
Democracia e lutas por direitos, fortalecidas pelo voto universal,
assumiram a paternidade exclusiva das conquistas citadas. Ganhos de produtividade
relacionados com as modernas técnicas de administração e avanços tecnológicos
foram excluídos das causas da melhoria da condição de vida apontados pelos
indicadores estatísticos. O voluntarismo e o fetichismo da norma tornaram-se
dominantes. As lutas políticas promoveriam a eunomia (eu = bem, felicidade;
nomus = lei, regra), que asseguraria o bem-estar.
A Constituição poderia tornar-nos todos imortais, não fosse a
reserva do possível. O acréscimo de renda, vida, escolaridade, acesso aos bens
e serviços são recuos da reserva aludida, proporcionados pelos ganhos e
produtividade obtidos pela tecnologia. Não basta uma norma decretar o
bem-estar. Mas pode-se redarguir lembrando que conquistas tecnológicas, nas
experiências do socialismo real, não trouxeram acesso aos bens e ao conforto.
Por outro lado, tentativas de proporcionar bem-estar sem aumento de
produtividade, valendo-se do voluntarismo das lutas políticas, fracassam. Não
têm sustentabilidade.
O Estado provedor da Europa ocidental foi permitido pelos avanços de
produtividade. Mas começa a claudicar. O endividamento dos ricos estados
europeus chegou ao limite. A necessidade de retroceder, porém, encontra feroz
resistência, a exemplo dos coletes amarelos na França. A dinâmica demográfica,
o custo crescente das tecnologias da área da saúde e o crescimento infinito das
aspirações incorporadas ao entendimento do que seja bem-estar estão
inviabilizando o Estado provedor.
Indiferenciar direitos potestativos e sinalagmáticos é ilusão. Os
primeiros não são créditos, apenas não podem ser contestados. Os segundos são
liames entre credor e devedor, têm exigibilidade. A parte devedora seria a
sociedade. Mas a reserva do possível atrapalha. O resultado é a revolta que
explode em manifestações no mundo inteiro.
O distributivismo é o arrimo da exigibilidade do bem-estar. Mas nem
tudo é concentrado para poder ser distribuído. Exemplo: ninguém toma duzentos
litros de leite por dia. Subjacente ao distributivismo está a confusão entre
diferença e desigualdade, indiferenciando igualdade ontológica e a fenomênica
que é apenas acidental. É preciso investir no aumento da produtividade e da
produção. O distributivismo aumenta a propensão ao consumo, restringindo a
propensão a poupar e ao investimento. Consumo sem renda e investimento sem
poupança é o “milagre” da dívida.
O voluntarismo e a norma são impotentes diante da realidade. Gastos
assistenciais são contrários ao espírito de ascese necessário ao equilíbrio
financeiro. A deusa Bem-Aventurança promete colheita sem plantio. A Virtude,
deusa austera, promete desfrute a quem semear (Gustav Schwab, 1792 – 1850). Os
asiáticos não se iludiram e estão suplantando o ocidente.
ENTREVISTA - Artur Bruno (AS - RV)
ENTREVISTA
COM
COM
ARTUR BRUNO
SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE
SOBRE AS PRAIAS CEARENSES
SOBRE AS PRAIAS CEARENSES

AS - De que forma o Ceará foi atingido, e quais as medidas que foram tomadas pela sua Secretaria para minimizar e reduzir no nosso Estado os efeitos desse crime ambiental?

Houve um crime ambiental,
lamentavelmente há aproximadamente dois meses e meio – apareceu exatamente em
30 de agosto a primeira mancha de óleo, e até hoje a Marinha não conseguiu
descobrir a origem – há suspeita de um navio grego, ou de pelo menos quatro
navios que em determinado momento passaram pela costa, ou entre a América do
Sul e a África, mas não se sabe exatamente e não há provas em relação a nenhum
navio.
De qualquer maneira, foi um
grande prejuízo para as praias do Nordeste – e agora chegando também ao
Espírito Santo.
É preciso ressaltar que os
Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, já estão se
preparando para a possibilidade do óleo chegar lá, então há toda uma
mobilização das autoridades federais, estaduais e municipais para fazer um
trabalho de prevenção.
O Ceará, felizmente, foi um
dos Estados menos atingidos. Dos nove Estados nordestinos, Ceará, Piauí e
Maranhão foram os menos atingidos.
Mesmo assim, o Ceará tem 573
km de litoral. Nós temos 20 municípios no litoral cearense, e 14 municípios, de
alguma maneira, receberam essas manchas de óleo – infinitamente menores do que
em Pernambuco, Bahia, Sergipe e Alagoas, por exemplo. Mas, de qualquer maneira,
essas manchas prejudicam a nossa economia, as pessoas estão comendo menos
peixes, crustáceos, com receio dessas manchas de óleo.
E também, de qualquer maneira,
o turismo fica de sobreaviso, porque as pessoas que estavam pensando em passar
o réveillon, o carnaval, elas começam a pensar se devem ou não vir para o
Nordeste.
De qualquer maneira, no Ceará
foi pouca mancha em relação à maioria dos Estados Nordestinos, e aqui a gente
fez um combate imediato.
Nós criamos, ainda em setembro,
um grupo de trabalho, com várias entidades – Ibama, Marinha, só do Governo do
Estado são 10 entidades, com a participação também de pescadores, de ONGs, das
Universidades, e o nosso primeiro trabalho foi fazer a limpeza, onde havia
mancha nós nos unimos, a Marinha teve um papel decisivo, a gente junto com a
Prefeitura fazia a limpeza.
Como também o atendimento aos
animais oleados, tem duas ONGs – Verde Luz e Aquazes que fazem atendimento a
esses animais, com apoio logístico de transporte da Sema, da Semace do Ibama.
Isso também foi feito.
A partir de determinado
momento, discutindo com a Marinha, com o Labomar e com o Ibama, nós, estudando
os ventos e as correntes marítimas, percebemos que havia uma possibilidade
muito grande de uma mancha vindo para o Ceará, ela poderia penetrar ali na foz
do Jaguaribe.
Foi quando nós tomamos a
decisão de contratar uma empresa para colocar ali barreiras, com mantas de até
quatro metros e embaixo correntes, para justamente, se a mancha vier, ela não
entrar, porque essa manta seguraria, e essas correntes com um peso embaixo... isso
daria condição..
RV – Não entendi essa
preocupação com a foz. Na foz o rio não está desaguando?
AB – Mas, dependendo da maré,
ele entra e sai. Atingiria o mangue, uma região de muitos crustáceos, de muita
pesca, gerando até um problema de abastecimento, porque essa mancha entraria
até onde? E ela tem um problema porque ela se desloca não pela superfície. Ela
se desloca a meio metro, a um metro de profundidade, ela é densa, ela é pesada,
é petróleo mesmo.
E, portanto, nós fizemos lá
esse bloqueio, uma técnica utilizada em Brumadinho, e está dando certo. Tem uma
equipe lá 24 horas com barco, com gente, fazendo essa trabalho de
monitoramento.
E aí também nós passamos a
trabalhar com um navio-patrulha da Marinha, que faz essa fiscalização no mar,
esse monitoramento, o Ciopaer do Estado, todos os dias o helicóptero vai e
volta nesse litoral, e a Marinha está fazendo esse monitoramento por terra, nos
573 km.
Então, de certa forma, aqui
houve uma grande integração das entidades, e agora nós vamos fazer com a
Semace, com o Nutec e com o Labomar um estudo mais bem elaborado sobre a
balneabilidade, porque a Semace toda semana anuncia a balneabilidade, mas ela analisa
as questão dos coliformes fecais. Não se analisava a questão físico-química, a
questão da toxidade, e agora também votamos no Coema – Conselho Estadual de
Meio Ambiente uma resolução definindo os parâmetros para essa análise
toxicológica.
O que a gente quer? A gente
quer mostrar para as pessoas que vão vir ao Ceará, e para os próprios cearenses
que querem ir à praia se essa praia é segura ou não. Nós estamos acreditando
que seja, porque a poluição aqui foi muito pouca, em relação aos outros
Estados. Mas a gente precisa mostrar à população a segurança, com transparência,
de que essa água é balneável. E não vamos analisar somente a água, mas também a
areia, porque a areia pode ter óleo, e isso significaria contaminada para a
população.
AS – As melhores praias do
Ceará estão aqui nestas praias mais próximas, e algumas mais distantes. O
Município de Amontada tem praias muito famosas, como Icaraizinho, Caetanos, e
essas praias também tiveram presença da mancha de óleo. Com que intensidade
isso ocorreu lá?
AB – A mancha no Município de
Amontada foi mínima. Dos 14 municípios onde a mancha chegou, esse foi dos que
não chegou a criar alguma situação de poluição. Foi mínima. Icaraizinho foi
muito pouco, Caetanos alguma coisa, mas muito pouco mesmo, e imediatamente a
população se mobilizou, juntamente com o Poder Público Municipal, com apoio da
Marinha e da Sema e da Semace, e isso rapidamente foi solucionado. Então chegou
em determinado momento, depois não chegou mais, e é, sem dúvida, um dos municípios onde houve menos
problema de mancha de óleo nesses últimos dois meses e meio.
AS – E no turismo? Teve algum
reflexo, alguma repercussão? O seu colega Secretário Arialdo Pinho lhe relatou
alguma diminuição no fluxo esperado nesse período no Ceará, ou não, e o rebatimento
foi mínimo?
AB – Nós tivemos agora um bom
teste, que foi o feriadão do 15 de novembro, sexta, sábado e domingo, e houve
um aumento da busca de turismo pelo Ceará, em relação ao ano anterior – mas é
verdade também que essas passagens já poderiam ter sido compradas anteriormente,
os pacotes feitos, e tal. Na semana passada houve uma reunião dos Secretários
de Turismo do Nordeste, aqui em Fortaleza, capitaneada pelo Secretário Arialdo
Pinho, e há uma expectativa, é preciso que a população fique tranquila, e ela
saiba de que aonde chegar a mancha as autoridades vão tomar as melhores medidas,
tanto preventivas como corretivas, para que efetivamente isso não nos
prejudique consideravelmente. Claro que há um temor, a população está observando,
acompanhando os meios de comunicação. Hoje, por exemplo, todas as praias do
Ceará estão limpas.
RV – E o nosso pescado, está liberado?
AB – O Ministério da Agricultura,
recentemente fez uma portaria declarando que esse pescado não continha o óleo.
Outros estudos estão sendo feitos, mas por enquanto não houve ainda prova de
que houve algum prejuízo para o nosso pescado.
ACIONE O LINK ABAIXO E OUÇA O ÁUDIO DA ENTREVISTA
terça-feira, 19 de novembro de 2019
ARTIGO - Vozes Alheias (ES)
VOZES ALHEIAS
Edmar Santos*
Vozes,
essas vozes que não são minhas e que não calam. Impositoras de minhas condutas;
não quero, não vou. Fiz... sim, para minha angustia infinda; não resisti.
O
que fiz? Não sei. Não sei também a medida do que fiz, sua intensidade, sua amplitude.
Nada, não fiz nada; as vozes, foram elas. Eu as escuto, agora mesmo estão
falando. Sussurros!
Noites
insones. Imagens, formas, cores, gente; inteiros, pedaços, geometria. Olhos que
veem múltiplas coisas, coisa nenhuma de se admirar. Mentiras, ou talvez
verdades. Diz para mim!
Não,
ninguém sabe. Quem vai saber o que eu... Mas não sou eu, são elas! Escute...
Não me entende não é? Sei, eu sei.

Outro
dia até pensei que estava louco. Não me acho louco; penso que sou normal até
demais. O que há de mau em ouvir vozes.
Tudo, não é? Sim, tudo porque elas estão no controle de mim. Estou louco então.
Preciso
de água. Pode me servir água? Deixe o copo aí onde coloquei; sempre coloco o
copo a essa distância. Não importa, apenas prefiro que ele fique aí. Sede, é
bom ter sede; tão bom quanto saciá-la, não acha? Isso importa, claro que sim.
Fumar,
não fumo. Álcool é bom para fazê-las cantar; essas vozes ébrias e cantadoras, é
o que são. Que música? Muitas... Estrangeiras; não sei traduzir nenhuma. Curto
o ritmo meio balada, meio zen. O som? Paran, paran, paraaann... Lento, meio
lento.
Prefiro
a vigília. É sempre mais tranquilo estar acordado. Saio por aí, vejo gente,
olho os lugares. A noite é feita para que andemos vagando sem rumo; tem sempre
muita sombra pela noite. Se olho para o céu? Não, prefiro as esquinas.
Normal,
me sinto bem normal. Acho mesmo que estou me acostumando a ouvir essas vozes
como sendo minhas. Estou ouvindo as suas agora. Isso é normal?
NOTA DO EDITOR
A
História está repleta de nomes famosos que ouviam vozes: Jesus, Sócrates,
Galileu, Joana D´Arc, Pitágoras, William Blake, Carl Jung e Ghandi.
Assinar:
Postagens (Atom)