quarta-feira, 27 de novembro de 2019

REUNIÃO NA TENDA ÁRABE E MOMENTO LITERÁRIO - 26.11.2019



REUNIÃO NA TENDA ÁRABE
E MOMENTO LITERÁRIO

Na noite da última terça-feira (26.11.2019) reuniram-se na Tenda Árabe os acadêmicos  Reginaldo Vasconcelos, Altino Farias, Paulo Ximenes, Adriano Vasconcelos, Vicente Alencar, Luiz Rego Filho, e como convidados Eliezer Rodrigues e Jackson Albuquerque.


A experiência gastronômica da semana foi mini-acarajés de entrada, e vatapá de camarão como prato principal, delícias da cozinha baiana   especialidades das culinaristas da família Vasconcelos.



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Seguiu-se à reunião a sessão de leitura de poesia e de prosa poética, o “Momento Literário da Embaixada da Cachaça”, evento cultural semanal instituído pelo Embaixador Altino Farias, Membro Titular Fundador da ACLJ.



Essa prática artística e performática, internacionalmente designada como poetry slam,  nasceu em Chicago, na Green Mill Tavern, em meados dos anos 80, por inciativa do escritor Marc Kelly Smith, disseminando-se por todo o país e depois pela Europa, e por outras partes do mundo. A palavra inglesa slam refere a poesia produzida para ser lida em público.





Participaram da declamação Altino Farias, Roberto Paiva, Akemi Ito Adriano Vasconcelos e Eliezer Rodrigues, que lançou o livro "Av. Santos Dumont no Contexto da Cidade", e discorreu sobre a obra.

ARTIGO - O Foco da Análise (RMR)


O FOCO DA ANÁLISE
Rui Martinho Rodrigues*


O atual excesso de liquidez teve um impulso nas emissões destinadas a fazer face ao choque de petróleo nos anos setenta. Depois vieram as emissões para conter a crise de 2008. Sobra dinheiro. Mas a inflação é baixa em escala mundial. Juros também e agora chegaram ao Brasil. O crescimento econômico, porém, declina como tendência mundial.

Os países da União Europeia têm, no momento, os menores efetivos e orçamentos militares dos últimos cento e cinquenta anos. Os EUA têm o menor efetivo militar desde o fim da Segunda Guerra Mundial e o seu orçamento de defesa, embora seja gigantesco, é aproximadamente metade do que foi entre os anos sessenta e oitenta do Século XX. Ocorre o mesmo com Coreia do Sul e Taiwan, para citar dois exemplos mais expressivos. Apenas Índia e Arábia Saudita, entre as grandes economias, aumentaram significativamente seus gastos militares.

Nações, empresas e famílias nunca estiveram tão endividadas em tempo de paz, apesar dos juros baixos, dos menores orçamentos militares, dos preços do petróleo não estarem altos e do comércio internacional ser, a despeito dos entraves que subsistem, mais aberto do que no passado. Não temos guerras generalizadas na Europa há mais de sete décadas. Árabes e judeus não travam grande conflito desde 1973, não passando de pequenas guerras.

A tecnologia avança em ritmo acelerado, possibilitando grandes ganhos de produtividade. A escolaridade progride em todo o mundo. O impacto das doenças contagiosas e até das degenerativas é muito menor. A crescente integração da mão de obra feminina ao mercado de trabalho é o aumento de um fator de produção. Mas a economia mundial desacelera. O quadro parece contraditório.

A guerra comercial entre EUA e China não é suficiente para explicar a situação descrita. O crescimento baixo não surpreende quando se olha para o nível de investimento. Intrigante é o baixo investimento convivendo com elevada liquidez e juros baixos. Os poderes públicos e as famílias, não por acaso, têm baixa propensão marginal a poupar. Os asiáticos estão crescendo e apresentam tendência inversa neste aspecto. As empresas estão endividadas porque os juros extraordinariamente baixos se constituíram em convite irresistível para o endividamento.

A propensão marginal a poupar é baixa por motivos ligados ao campo dos valores. O foco das reflexões tem negligenciado este aspecto. O hedonismo do nosso tempo estimula o consumo e desencoraja a austeridade. O Estado provedor desencoraja a poupança das famílias que se sentem seguras sob sua proteção. 

Isso estagnou a Europa endividada. Tanta dívida tem um lado credor, entre os quais se destacam os fundos de pensão e alguns países exportadores de petróleo. Tanta liquides sem investir, sob juros negativos, exige uma explicação mais robusta. Falta confiança? O que assusta os potenciais investidores? O endividamento geral?

Vivemos um tempo marcado pelo maior bem-estar já visto, conforme todos os indicadores objetivos de qualidade de vida. Suicídio, depressão, dependência química e tantos males do nosso tempo guardam relação com aspectos subjetivos que confrontados com os indicadores objetivos revelam a falácia dos fatores materiais como determinantes dos acontecimentos históricos.

A revanche do sagrado (Leszer Kolakowski, 1927 – 2009) sugere a falta de transcendência, totalidade e radicalidade, que não encontra resposta na busca autotélica do prazer ou da felicidade solipsista. Faltou a análise do conflito mimético apontado por Renê Noel Theophile Girard (1923 – 2015). O discurso sobre desigualdade e concentração de renda é uma expressão deste conflito.


domingo, 24 de novembro de 2019

CONVITE - Assembleia Geral do Fim de Ano da ACLJ


PINTURA - O Beijo - Mino







O pintor e cartunista Mino (Hermínio Macedo Castelo Branco), um dos melhores traços nos quadrinhos do Brasil, é considerado o Ziraldo cearense.

Ele edita mensalmente  a “Rivista”, uma publicação marcada pela graça de suas charges espirituosas e pela elegância de seus textos.

A Rivista pode ser encontrada nas melhores bancas, com seus artigos e crônicas, assinados pelo Mino e pelos seus colaboradores.

O personagem mais atuante da Rivista, dentre outros, é o “Capitão Rapadura – A mais doce Criatura – Um herói que tudo atura”.

Mino é Membro Benemérito da ACLJ.


sexta-feira, 22 de novembro de 2019

GALERIA DE PICHAÇÕES INTELIGENTES - (AA)





ARTIGO - Declínio ou Crise de Crescimento (RMR)


DECLÍNIO OU CRISE
DE CRESCIMENTO
Rui Martinho Rodrigues*



Vivemos tempo de incerteza. O ceticismo dos sofistas está em alta. A dúvida metódica, de Renê Descartes (1596 – 1650) não alimenta a perplexidade e a dificuldade de entender o mundo e nós mesmos, nem tampouco o relativismo crítico de Karl Raymond Popper (1902 – 1994). Pode haver correlação fraca entre a incerteza aludida e a escola do racionalismo crítico que tem como ícone Thomas Samuel Khun (1922 – 1996). O que temos é desorientação por perda de referências. Tornamo-nos livres e o preço da liberdade é a solidão. Depressão, dependência química e suicídio são pandemias em curso. Vivemos a decadência da civilização ocidental, hoje globalizada? Ou estaríamos iniciando um grande salto para um patamar mais elevado?

Oswald Arnold Gottfried Spengler (1880 – 1936) diagnosticou o declínio do ocidente, suscitando polêmicas. Arnold Joseph Toynbee (1889 – 1975), que compreendia o processo histórico como marcado pelo nascimento, ascensão e queda das civilizações, recusou a ideia spengleriana de declínio da nossa civilização naquele momento.

O diagnóstico requer o exame de sinais e sintomas. Os primeiros são objetivos e parecem favoráveis. Ciência e tecnologia avançam vertiginosamente e a tendência secular para a melhoria universal de todos os indicadores de qualidade de vida, ao lado do aperfeiçoamento de instituições jurídicas e políticas, se juntam aos longos anos sem conflagração mundial e proporcionam um saldo positivo quando cotejados com os sinais negativos, tais como depressão, suicídio, dependência química, desemprego estrutural e aparente tendência para a instabilidade política?

Os fenômenos aludidos se relacionam com o mal-estar na civilização (Sigmund Schlomo Freud, 1856 – 1939), tais como a depressão, suicídio e dependência química citadas e outras disfuncionalidades, embora sejam dados objetivos, têm relação com a subjetividade dos sujeitos acometidos, guardando íntima relação com a sensibilidade.

São, portanto, sintomas, não sinais. Estes são de revigoramento da civilização. Contrastam com os sintomas de decadência. Quais deles seriam preponderantes: sinais ou sintomas? As civilizações crescem e fenecem. O que causa a decadência depois do progresso tem relação de ambos os fatores. O declínio da agricultura teria sido apontado como fator importante na determinação do ocaso de Roma. Mas a erosão das instituições e a perda de valores também estiveram presentes naquela decadência.

Faltam, hoje, lideranças capazes no mundo inteiro. Avanços objetivos, expressos nos indicadores de qualidade de vida, não satisfazem. Olhamos para a desigualdade, que é a pobreza comparada, não para o bem-estar objetivo. Renê Noel Theophile Girard (1923 – 1915) formulou uma antropologia filosófica segundo a qual o homem não tem uma identidada definida, como os animais. A coruja nasce para ser um caçador noturno de pequenos mamíferos. O homem não sabe o que será. Construímos uma identidade mimética. A imitação, todavia, enseja uma competição na forma de um conflito mimético. Inveja leva ao conflito.

Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) descreveu o declínio dos regimes políticos. A república (hoje diríamos democracia) é, para o estagirita, susceptível de transformar-se em demagogia. A infelicidade e a revolta, a despeito dos avanços objetivos na qualidade de vida, são induzidas e reforçam o mal-estar na civilização. Sinalizam a metamorfose da democracia em demagocia. A desorientação de que fala Theodore Dalrymple (1949 – vivo) guarda relação com a exploração demagógica.


quinta-feira, 21 de novembro de 2019

CRÔNICA - O Negro Disse (ES)


O NEGRO DISSE
Edmar Santos*

Tiveram que pintar o invisível e dar-lhe uma cor. Qual a cor do grito, do choro, da dor, da tristeza, do banzo?  Tudo isso tem uma cor-não-cor. 

A identidade pintaram também; inventam de tudo para separar coisas de um só nome  e de tipos variados. Gente é tudo igual, não fossem os adjetivos; há uns lhes dão sublimes, a outros pejorativos. Que importa a sua cor?

Pintaram não a pele das gentes, essas já tinham cores; o colorido foi usado para distinção de quais seriam os vassalos, quais seriam os senhores. Que cor você tem?

Por falta de beleza não seria – Deixe-me dizer-te em segredo – revelaria Mario Quintana – um dos maiores segredos do mundo – Essas coisas que parece não terem beleza nenhuma; é simplesmente porque não houve nunca quem lhes desse ao menos um segundo olhar! Dito isso: Quantos olhares são precisos para poder enxergar direito, o outro, sem preconceitos?

Para aludir à dignidade dos que trazem a pele escura, nos acode a consciência; esse ente que mora dentro da gente e, só quem a busca sabe pensar direito. Consciência incolor, pintada de negra, na busca de se resgatar da humanidade adjetivada, uma humanidade substantivada de amor, respeito e aceitação. O sangue bom é sempre vermelho, nunca azul.  Glória às peles de toda cor que se fazem gente.


quarta-feira, 20 de novembro de 2019

GALERIA DE PICHAÇÕES INTELIGENTES - (AA)






NOTA CULTURAL - Dia da Literatura Cearense

DIA DA LITERATURA
CEARENSE


A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará institui o 17 de novembro, data de nascimento da escritora Rachel de Queiroz, como o Dia da Literatura Cearense.

E em comemoração ao transcurso dessa data, aquela casa distingue a cada ano, com a entrega de uma placa, representantes das academias literárias sediadas em Fortaleza.

Essa iniciativa tem sido do Gabinete do Deputado Heitor Ferrer, e a coordenação da solenidade é do jornalista e poeta Barros Alves, servidor da casa, membro da Academia Cearense de Retórica.

Este ano o evento ocorreu na noite de terça-feira, dia 19 de novembro, no Plenário daquela casa legislativa,  e dentre as personalidades literárias homenageadas, três acadêmicos da ACLJ: os poetas Alana Girão de Alencar e Paulo Roberto Coelho Ximenes, e o Professor Rui Martinho Rodrigues, nosso Presidente Emérito.




ARTIGO - O Leviatã e o Paraíso (RMR)


O LEVIATÃ E O PARAÍSO
Rui Martinho Rodrigues*


O sufrágio censitário exigia renda e outros requisitos para a capacidade eleitoral ativa, desigualdade nada republicana. O voto universal reconhece o direito de votar sem distinção de renda, escolaridade ou etnia, conquistado no Século XIX, inicialmente restrito ao universo masculino. É um importante aperfeiçoamento democrático; fortaleceu a legitimidade da representação política; ampliou o papel do Estado na promoção do bem-estar social.

Educação, saúde, previdência, seguro desemprego, programas de renda mínima ganharam impulso. Bens e serviços popularizaram-se. Indicadores de qualidade de vida cresceram tanto que o discurso sobre “consumismo” eclipsou a teoria da pauperização (Karl Heirinch Marx, 1818 – 1883). A discussão da pobreza objetiva, descrita com números absolutos, cedeu lugar ao debate sobre pobreza comparada (desigualdade).

Democracia e lutas por direitos, fortalecidas pelo voto universal, assumiram a paternidade exclusiva das conquistas citadas. Ganhos de produtividade relacionados com as modernas técnicas de administração e avanços tecnológicos foram excluídos das causas da melhoria da condição de vida apontados pelos indicadores estatísticos. O voluntarismo e o fetichismo da norma tornaram-se dominantes. As lutas políticas promoveriam a eunomia (eu = bem, felicidade; nomus = lei, regra), que asseguraria o bem-estar.

A Constituição poderia tornar-nos todos imortais, não fosse a reserva do possível. O acréscimo de renda, vida, escolaridade, acesso aos bens e serviços são recuos da reserva aludida, proporcionados pelos ganhos e produtividade obtidos pela tecnologia. Não basta uma norma decretar o bem-estar. Mas pode-se redarguir lembrando que conquistas tecnológicas, nas experiências do socialismo real, não trouxeram acesso aos bens e ao conforto. Por outro lado, tentativas de proporcionar bem-estar sem aumento de produtividade, valendo-se do voluntarismo das lutas políticas, fracassam. Não têm sustentabilidade.

O Estado provedor da Europa ocidental foi permitido pelos avanços de produtividade. Mas começa a claudicar. O endividamento dos ricos estados europeus chegou ao limite. A necessidade de retroceder, porém, encontra feroz resistência, a exemplo dos coletes amarelos na França. A dinâmica demográfica, o custo crescente das tecnologias da área da saúde e o crescimento infinito das aspirações incorporadas ao entendimento do que seja bem-estar estão inviabilizando o Estado provedor.

Indiferenciar direitos potestativos e sinalagmáticos é ilusão. Os primeiros não são créditos, apenas não podem ser contestados. Os segundos são liames entre credor e devedor, têm exigibilidade. A parte devedora seria a sociedade. Mas a reserva do possível atrapalha. O resultado é a revolta que explode em manifestações no mundo inteiro.

O distributivismo é o arrimo da exigibilidade do bem-estar. Mas nem tudo é concentrado para poder ser distribuído. Exemplo: ninguém toma duzentos litros de leite por dia. Subjacente ao distributivismo está a confusão entre diferença e desigualdade, indiferenciando igualdade ontológica e a fenomênica que é apenas acidental. É preciso investir no aumento da produtividade e da produção. O distributivismo aumenta a propensão ao consumo, restringindo a propensão a poupar e ao investimento. Consumo sem renda e investimento sem poupança é o “milagre” da dívida.

O voluntarismo e a norma são impotentes diante da realidade. Gastos assistenciais são contrários ao espírito de ascese necessário ao equilíbrio financeiro. A deusa Bem-Aventurança promete colheita sem plantio. A Virtude, deusa austera, promete desfrute a quem semear (Gustav Schwab, 1792 – 1850). Os asiáticos não se iludiram e estão suplantando o ocidente.


ENTREVISTA - Artur Bruno (AS - RV)


ENTREVISTA 
COM

ARTUR BRUNO
SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE

SOBRE AS PRAIAS CEARENSES


Entrevista que o ex-Deputado Artur Bruno, atual Secretário do Meio Ambiente do Estado do Ceará,  concedeu à ACLJ, nas pessoas dos jornalistas Arnaldo Santos e Reginaldo Vasconcelos, a respeito do desastre ambiental provocado por misterioso derramamento de petróleo em alto mar, que poluiu praias do litoral brasileiro, mais gravemente no Nordeste. 


AS - De que forma o Ceará foi atingido, e quais as medidas que foram tomadas pela sua Secretaria para minimizar e reduzir no nosso Estado os efeitos desse crime ambiental?

AB – Primeiro é preciso ressaltar que houve realmente um crime ambiental, acidentalmente ou não, de qualquer maneira é um crime, pois se foi acidental, o fato de um navio não ter avisado às autoridades portuárias, isso, por si, já é crime – um crime culposo – mas é crime.

Houve um crime ambiental, lamentavelmente há aproximadamente dois meses e meio – apareceu exatamente em 30 de agosto a primeira mancha de óleo, e até hoje a Marinha não conseguiu descobrir a origem – há suspeita de um navio grego, ou de pelo menos quatro navios que em determinado momento passaram pela costa, ou entre a América do Sul e a África, mas não se sabe exatamente e não há provas em relação a nenhum navio.

De qualquer maneira, foi um grande prejuízo para as praias do Nordeste – e agora chegando também ao Espírito Santo.

É preciso ressaltar que os Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, já estão se preparando para a possibilidade do óleo chegar lá, então há toda uma mobilização das autoridades federais, estaduais e municipais para fazer um trabalho de prevenção.

O Ceará, felizmente, foi um dos Estados menos atingidos. Dos nove Estados nordestinos, Ceará, Piauí e Maranhão foram os menos atingidos.

Mesmo assim, o Ceará tem 573 km de litoral. Nós temos 20 municípios no litoral cearense, e 14 municípios, de alguma maneira, receberam essas manchas de óleo – infinitamente menores do que em Pernambuco, Bahia, Sergipe e Alagoas, por exemplo. Mas, de qualquer maneira, essas manchas prejudicam a nossa economia, as pessoas estão comendo menos peixes, crustáceos, com receio dessas manchas de óleo.

E também, de qualquer maneira, o turismo fica de sobreaviso, porque as pessoas que estavam pensando em passar o réveillon, o carnaval, elas começam a pensar se devem ou não vir para o Nordeste.

De qualquer maneira, no Ceará foi pouca mancha em relação à maioria dos Estados Nordestinos, e aqui a gente fez um combate imediato.

Nós criamos, ainda em setembro, um grupo de trabalho, com várias entidades – Ibama, Marinha, só do Governo do Estado são 10 entidades, com a participação também de pescadores, de ONGs, das Universidades, e o nosso primeiro trabalho foi fazer a limpeza, onde havia mancha nós nos unimos, a Marinha teve um papel decisivo, a gente junto com a Prefeitura fazia a limpeza.

Como também o atendimento aos animais oleados, tem duas ONGs – Verde Luz e Aquazes que fazem atendimento a esses animais, com apoio logístico de transporte da Sema, da Semace do Ibama. Isso também foi feito.

A partir de determinado momento, discutindo com a Marinha, com o Labomar e com o Ibama, nós, estudando os ventos e as correntes marítimas, percebemos que havia uma possibilidade muito grande de uma mancha vindo para o Ceará, ela poderia penetrar ali na foz do Jaguaribe.

Foi quando nós tomamos a decisão de contratar uma empresa para colocar ali barreiras, com mantas de até quatro metros e embaixo correntes, para justamente, se a mancha vier, ela não entrar, porque essa manta seguraria, e essas correntes com um peso embaixo... isso daria condição..

RV – Não entendi essa preocupação com a foz. Na foz o rio não está desaguando?

AB – Mas, dependendo da maré, ele entra e sai. Atingiria o mangue, uma região de muitos crustáceos, de muita pesca, gerando até um problema de abastecimento, porque essa mancha entraria até onde? E ela tem um problema porque ela se desloca não pela superfície. Ela se desloca a meio metro, a um metro de profundidade, ela é densa, ela é pesada, é petróleo mesmo.

E, portanto, nós fizemos lá esse bloqueio, uma técnica utilizada em Brumadinho, e está dando certo. Tem uma equipe lá 24 horas com barco, com gente, fazendo essa trabalho de monitoramento.

E aí também nós passamos a trabalhar com um navio-patrulha da Marinha, que faz essa fiscalização no mar, esse monitoramento, o Ciopaer do Estado, todos os dias o helicóptero vai e volta nesse litoral, e a Marinha está fazendo esse monitoramento por terra, nos 573 km.

Então, de certa forma, aqui houve uma grande integração das entidades, e agora nós vamos fazer com a Semace, com o Nutec e com o Labomar um estudo mais bem elaborado sobre a balneabilidade, porque a Semace toda semana anuncia a balneabilidade, mas ela analisa as questão dos coliformes fecais. Não se analisava a questão físico-química, a questão da toxidade, e agora também votamos no Coema – Conselho Estadual de Meio Ambiente uma resolução definindo os parâmetros para essa análise toxicológica.

O que a gente quer? A gente quer mostrar para as pessoas que vão vir ao Ceará, e para os próprios cearenses que querem ir à praia se essa praia é segura ou não. Nós estamos acreditando que seja, porque a poluição aqui foi muito pouca, em relação aos outros Estados. Mas a gente precisa mostrar à população a segurança, com transparência, de que essa água é balneável. E não vamos analisar somente a água, mas também a areia, porque a areia pode ter óleo, e isso significaria contaminada para a população.

AS – As melhores praias do Ceará estão aqui nestas praias mais próximas, e algumas mais distantes. O Município de Amontada tem praias muito famosas, como Icaraizinho, Caetanos, e essas praias também tiveram presença da mancha de óleo. Com que intensidade isso ocorreu lá?

AB  A mancha no Município de Amontada foi mínima. Dos 14 municípios onde a mancha chegou, esse foi dos que não chegou a criar alguma situação de poluição. Foi mínima. Icaraizinho foi muito pouco, Caetanos alguma coisa, mas muito pouco mesmo, e imediatamente a população se mobilizou, juntamente com o Poder Público Municipal, com apoio da Marinha e da Sema e da Semace, e isso rapidamente foi solucionado. Então chegou em determinado momento, depois não chegou mais, e é,  sem dúvida, um dos municípios onde houve menos problema de mancha de óleo nesses últimos dois meses e meio.

AS – E no turismo? Teve algum reflexo, alguma repercussão? O seu colega Secretário Arialdo Pinho lhe relatou alguma diminuição no fluxo esperado nesse período no Ceará, ou não, e o rebatimento foi mínimo?

AB – Nós tivemos agora um bom teste, que foi o feriadão do 15 de novembro, sexta, sábado e domingo, e houve um aumento da busca de turismo pelo Ceará, em relação ao ano anterior – mas é verdade também que essas passagens já poderiam ter sido compradas anteriormente, os pacotes feitos, e tal. Na semana passada houve uma reunião dos Secretários de Turismo do Nordeste, aqui em Fortaleza, capitaneada pelo Secretário Arialdo Pinho, e há uma expectativa, é preciso que a população fique tranquila, e ela saiba de que aonde chegar a mancha as autoridades vão tomar as melhores medidas, tanto preventivas como corretivas, para que efetivamente isso não nos prejudique consideravelmente. Claro que há um temor, a população está observando, acompanhando os meios de comunicação. Hoje, por exemplo, todas as praias do Ceará estão limpas.

RV – E o nosso pescado, está liberado?

AB – O Ministério da Agricultura, recentemente fez uma portaria declarando que esse pescado não continha o óleo. Outros estudos estão sendo feitos, mas por enquanto não houve ainda prova de que houve algum prejuízo para o nosso pescado.  

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terça-feira, 19 de novembro de 2019

ARTIGO - Vozes Alheias (ES)


VOZES ALHEIAS
Edmar Santos*



Vozes, essas vozes que não são minhas e que não calam. Impositoras de minhas condutas; não quero, não vou. Fiz... sim, para minha angustia infinda; não resisti.

O que fiz? Não sei. Não sei também a medida do que fiz, sua intensidade, sua amplitude. Nada, não fiz nada; as vozes, foram elas. Eu as escuto, agora mesmo estão falando.  Sussurros!

Noites insones. Imagens, formas, cores, gente; inteiros, pedaços, geometria. Olhos que veem múltiplas coisas, coisa nenhuma de se admirar. Mentiras, ou talvez verdades. Diz para mim!

Não, ninguém sabe. Quem vai saber o que eu... Mas não sou eu, são elas! Escute... Não me entende não é? Sei, eu sei.

Estou calmo. Elas disseram para eu me acalmar; querem que eu lhe diga algo: “Estão aqui e são reais. Estão dentro da minha cabeça. São coisas da minha cabeça.” Hahaha!

Outro dia até pensei que estava louco. Não me acho louco; penso que sou normal até demais.  O que há de mau em ouvir vozes. Tudo, não é? Sim, tudo porque elas estão no controle de mim. Estou louco então.

Preciso de água. Pode me servir água? Deixe o copo aí onde coloquei; sempre coloco o copo a essa distância. Não importa, apenas prefiro que ele fique aí. Sede, é bom ter sede; tão bom quanto saciá-la, não acha? Isso importa, claro que sim.

Fumar, não fumo. Álcool é bom para fazê-las cantar; essas vozes ébrias e cantadoras, é o que são. Que música? Muitas... Estrangeiras; não sei traduzir nenhuma. Curto o ritmo meio balada, meio zen. O som? Paran, paran, paraaann... Lento, meio lento.

Prefiro a vigília. É sempre mais tranquilo estar acordado. Saio por aí, vejo gente, olho os lugares. A noite é feita para que andemos vagando sem rumo; tem sempre muita sombra pela noite. Se olho para o céu? Não, prefiro as esquinas.

Normal, me sinto bem normal. Acho mesmo que estou me acostumando a ouvir essas vozes como sendo minhas. Estou ouvindo as suas agora. Isso é normal?




NOTA DO EDITOR


A História está repleta de nomes famosos que ouviam vozes: Jesus, Sócrates, Galileu, Joana D´Arc, Pitágoras, William Blake, Carl Jung e Ghandi.