segunda-feira, 29 de agosto de 2022

CRÔNICA - O Reino do Mi-Mi-Mi (PN)

O REINO DO
MI-MI-MI
Pierre Nadie* 


Quem nunca teve um apelido, na vida? 

Era comum e natural e, mesmo alguns sendo irônicos, ajudava a gente, no processo de socialização e no enfrentamento das diferenças e dificuldades, que o mundo nos reserva, em algum momento de nossa vida.

A convivência social é recheada de "tapas e beijos", de sorrisos e lágrimas, de mimos e ofensas. O rosto, que recebe beijos é o mesmo que recebe tapas.

 

Ninguém está imune ao que os outros nos dirigem. Não podemos controlar a língua, nem os pensamentos e sentimentos de quem quer que seja. E este processo de aprendizagem era iniciado e acompanhado pela família e na família, na qual também tínhamos apelidos. Em nossos contatos infantis, aprendíamos a lidar com essas situações. 

Daí, que o bullying, neologismo de apelido e alcunha, é uma questão de educação, pedagógica e da família. A educação de nossos pais tinha o "não" e a "correção" de atitudes. Nossos pais nos orientavam, nos corrigiam, nos ajudavam a ser fortes e a enfrentar semelhantes situações, comuns ao todo ambiente social, hoje como ontem e como manhã. 

Tornando isso questão de polícia e de legislação, pode-se gerar temor presencial, incrementar o egoísmo, enfraquecer o ânimo da ‘luta’ por um espaço na sociedade, transmitir uma visão de que a ‘sociedade é má, o mundo é mau’, mas nunca será equacionado, equilibradamente. 

Nossa sociedade está judicializando quase tudo o que pertence ao processo de educação, de convivência, de moralidade, de ética. A convivência está virando um "libelo" contra tudo e contra todos. Parece que estamos nos desumanizando e estamos precisando de focinheira, porque não sabemos mais aprender a conviver como seres humanos, em nossas diferenças e peculiaridades. 

Assim, a educação familiar e escolar definham, encolhem-se, diminuem e os 'educadores' são amesquinhados e perdem sua respeitabilidade, bem como a família anula-se, na formação e orientação de seus filhos. A socialização transfere-se para a judicialização, que estamos assistindo: professor ofendido deve fazer BO; aluno ofendido deve fazer BO. 

E a ofensa está sendo cultuada como incapacidade de correção e obrigatoriedade de punição "nas garras de leis" criadas para preencher o vazio do processo de socialização, tanto de conhecimentos, como de posturas. Tudo é lícito à criança e ao adolescente, como se assim fosse a vida familiar e social. Geração de crianças e jovens tendentes a serem egoístas, indomáveis, sem limites, sem respeito e sem cultura. 

E a criança e o jovem não sentem apoio, acolhida, carinho e orientação nem dos pais, nem da escola, nem da sociedade, mergulham num caos de inadequação social e partem para o vale tudo, a seu bel prazer e para "satisfação" pessoal. 

Uma selva humana desumanizada (não me atrevo a desrespeitar os animais) nasce. 

Quanto mais precisarmos de leis para regular nossa convivência humana e nossa educação, mais medíocres e menos capazes estaremos sendo em nossa condição de seres pensantes... humanos. Estamos construindo um mundo de menos autoestima e mais egoísmo, menos justiça e mais salve-se quem puder... Uma sociedade secionada, tribal. 

Onde abundam leis, escasseia educação.

Quousque tandem?

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

ARTIGO - Conhecimento, Paixão e Popularização - Parte III

 CONHECIMENTO, PAIXÃO
E POLARIZAÇÃO
PARTE III
Rui Martinho Rodrigues* 


A polarização e os ânimos acirrados guardam relação, entre outros fatores, com a confusão semântica. O socialismo proposto pela Sociedade Fabiana, fundada por Hubert Bland (1855 – 1914); Edith Nesbit, 1858 – 1924; Frank Podmore, 1856 – 1910 e outros intelectuais, no século XIX, rejeitava o projeto revolucionário e não pleiteava cargos. O seu grande objetivo era o que no Século XX Mao Tsé-Tung (1893 – 1976), sem aderir e talvez sem ter conhecimento dos fabianos, referiu como conquista de corações e mentes. Significativamente o nome da sociedade era uma homenagem ao general e ditador romano Quinto Fabio Maximo (275 a.C. – 203 a.C.), que ganhava batalhas evitando combates decisivos, preferindo guerrilhas. 

Os fabianos escolheram a guerra cultural. Recomendavam aparelhar as instituições de ensino muito antes de Antonio S. F. Gramsci (1891 – 1937) e de Louis Althusser (1918 – 1990). Chegaram a recomendar até a ressignificação das palavras antes que Ferdinand Saussure (1857 – 1913) explicasse o domínio da compreensão pelo controle da semântica de parte significativa do léxico. O legado dos fabianos foi grandemente fortalecido pelos que vieram depois aqui citados e por muitos outros. Assim, hoje, temos confusão entre indignação cívica e “crime de ódio”, apesar de não haver lei anterior que defina tal crime, como seria se a CF/88, em seu art.5, inc. XXXIX, fosse obedecida. 

Temos confusão entre valores morais (concordemos com eles ou não) e preconceitos, embora o prefixo “pre”, na palavra preconceito, indique um juízo concernente a um objeto antes de conhece-lo, apesar dos valores desqualificados como preconceito terem sido estabelecidos com o conhecimento das condutas valoradas, concordemos ou não com os juízos assim formulados. Confundimos desigualdade com diferença, esquecendo que a primeira tem a conotação de juízo de reprovação e a segunda denota objetivamente realidades distintas, conforme J. D’Assunção Barros (1957 – vivo), na obra “Igualdade e diferença”. Confundimos liberdade de ser com liberdade de agir e fazer, que J. Guilherme Merquior (1941 – 1991) refere, na obra “O Argumento Liberal”. 

A guerra pela mudança artificial da gramática pretende impor a ressignificação de categorias gramaticais, atribuindo, em alguns casos, o sentido de opressão, como resultado de conspiração. O domínio das consciências se faz sub-repticiamente, sem que a vítima perceba que está aceitando uma teoria conspiratória, segundo a qual a norma gramatical é feita para incutir a submissão de algumas parcelas da sociedade. Assim, quem diz “todes”, ao invés de todos, ou sujeitos e sujeitas, pode não saber que foi robotizado. 

A Sociedade foi fundada por intelectuais. A vontade de potência, conforme Friedrich Nietzsche (1844 – 1900). É o desejo demiúrgico de criar uma nova sociedade e por meio dela um novo homem, sem uma ciência nomológica a respeito dos dois objetos que pretendem criar, a despeito dos sucessivos fracassos de suas tentativas. Resulta de um cientificismo equivocado, paixão pelo poder, transtorno de personalidade narcisista e interesse argentário no desfrute do poder. A engenharia social precisaria equacionar um número infinito de fatores e variáveis que Friedrich Auguste von Hayek (1899 – 1992) demonstrou em suas obras (“Erros Fatais do Socialismo”, “Menos Estado Mais Liberdade” e outras), só é possível na ordem espontânea. 

Os intelectuais narcisistas gostam de perguntar: “espelho meu, espelho meu, quem é mais virtuoso do que eu”? Paul B. Johnson (1928 – vivo), na obra “Os intelectuais” apresenta retalhos biográficos de dezenas de grandes pensadores de renome internacional. O autor descreve personalidades deformadas, cujas vidas contraria a retórica virtuosa de todos eles. A história dos intelectuais é uma galeria de hipócritas. Erudição não é atestado de bom caráter, nem mesmo do domínio de conhecimentos consistentes. Intelectual não é alguém estudioso. Um engenheiro nuclear estuda muito. Mas não é intelectual. Thomas Sowell (1930 – vivo) reserva este título aos pensadores que tratam do mundo da abstração, podendo pisar nos astros distraídos, como diria Orestes Barbosa (1893 – 1966). 

Intelectual é quem faz parte da intelligentsia, palavra originada na Rússia, usada para designar grupos de pessoas envolvidas em atividade criativa, empenhadas em movimentos políticos. Seus membros não são superiores, nem do pondo de vista moral e nem mesmo sob o aspecto cognitivo. Candidatos a herdeiros dos filósofos de Platão (428/427 a.C. – 348/347 a.C.) são inimigos do poder que emana do povo, dotado de representatividade. Os instrumentos mais poderosos de que se servem atualmente são as constituições totais, dirigentes, programáticas e principiológicas, com o auxílio da Nova Hermenêutica Constitucional e do controle concentrado ou abstrato de constitucionalidade. Mas estes aspectos exigem, ainda que em apertada síntese, uma reflexão específica a ser feita oportunamente.

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

NOTA LITERÁRIA - Livros

 LIVROS

1

Nesta sexta-feira, dia 26 de setembro, estará sendo lançado o livro “Governantes, Poder & Dinheiro – Uma Palavra Sobre Corrupção”. 


A obra é uma coletâneas de artigos sobre o tema, de diversos autores, dentre eles o Jornalista e Sociólogo Arnaldo Santos e o Professor Rui Martinho Rodrigues, nossos confrades na ACLJ. 

A noite de autógrafos será no Piso 3 do Shopping Benfica, às 19:00h.  


 

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2

No próximo dia 01 de setembro, às 19:00h, na Faculdade de Direito, da UFC, o Magnífico Reitor Cândido Albuquerque, nosso confrade, estará laçando o livro “Crimes Contra de Sistema Financeiro Nacional”, em parceria com seu colega Sérgio Rebouças.

Trata-se de uma obra muito especial, já que nela consta parte importante das vidas dos autores, como professores de Direito Penal e Processual Penal da UFC e, ainda, como advogados criminalistas, com marcante atuação nessa área específica.

Exatamente por isso o livro tem larga e profunda base teórica e uma visão aplicada da realidade judicial da matéria. 

A aceitação da obra, que tem prefácio do Prof. Lênio Streck, tem ultrapassado as nossas expectativas. 

RESENHA - Reunião Virtual da ACLJ (22.08.2022)

 REUNIÃO VIRTUAL DA ACLJ
   (22.08.2022)





PARTICIPANTES

Estiveram reunidos na conferência virtual desta segunda-feira, que teve duração de quarenta minutos, oito acadêmicos.  O Jornalista e Advogado Reginaldo Vasconcelos, o Marchand e Publicitário Sávio Queiroz Costa, o Advogado Sionista Adriano Vasconcelos, o Poeta Paulo Ximenes, o ex-Juiz de Direito, Advogado e Professor Aluísio Gurgel do Amaral Júnior, o Engenheiro e Empresário Maurílio Vasconcelos, Bibliófilo e Empresário José Augusto Bezerra e o Especialista em Câmbio e Comércio Exterior Stenio Pimentel (Rio de Janeiro-RJ). 



TEMAS ABORDADOS

A reunião virtual da ACLJ desta segunda-feira foi monotemática e menos extensa que as demais, com duração aproximada de 40 minutos.

O assunto  foram  os 200 anos da Proclamação da Independência do Brasil, data magna da Pátria que será comemorada, como sempre, no dia 07 de setembro, data em que, no ano de 1822, o Imperador D. Pedro I, deu o chamado "Grito do Ipiranga".  

José Augusto Bezerra registrou a vinda solene do coração de Dom Pedro I ao Brasil, pela primeira vez, enviado por Portugal, para marcar as comemorações da Independência, e fez uma dissertação sobre a família real Brasileira, da qual tem em seu acervo documentos epistolares originais, como as cartas entre Dom João VI e Pedro I.

Debateu-se sobre a morbidez da relíquia, sobre o seu caráter tétrico, mas se concluiu que o próprio Dom Pedro teria referido que o seu coração seria brasileiro, e que o costume de preservar órgãos  e até corpos inteiros  de santos, de sacerdotes, de magistrados e de imperadores,  faz parte da cultura universal.

Por fim, Paulo Ximenes fez a declamação de um de seus poemas, intitulado "Valha-me Deus", que abaixo reproduzimos.

Valha-me Deus!
 
Ó Deus, eu não entendo
O sentido dessa teima
Dessa saudade que não se vai,
Se desde há muito eu pretendo
Fugir do fogo que me queima,
Da meiga dama que me atrai.
 
Talvez esteja ela noutro laço
E eu tangido... Fora da curva!
Buscando um amor esmaecido.
Dai-me, Senhor, outro traço
Livrai-me da mente turva
Desse feitiço empedernido.
 
Que me venha acolher também a poesia
(Rios doces de brandura
Há deles em meu quintal!)
Quem sabe, assim, nessa agonia
Pelo que a arte em mim apura
Cessem o fogo e o vendaval.


 DEDICATÓRIA

A reunião desta segunda-feira, dia 22 de agosto de 2022, por aclamação do grupo virtualmente reunido, foi dedicada à memória de Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon (12.10.1798 - 27.09.1834)cognominado Dom Pedro IV de Portugal, onde foi Príncipe Real,  e Dom Pedro I do Brasil, seu Imperador. 




   

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

NOTA ACADÊMICA - Solenidade Aniversária da ACL

 ACADEMIA CEARENSE
DE LETRAS CUMPRE
128 ANOS

 

Na noite da última terça-feira, dia 16 de agosto, a Academia Cearense de Letras (ACL) – a mais antiga do Brasil – comemorou o seu aniversário de 128 anos, (transcorrido no dia anterior) no Palácio da Luz, em que aquela arcádia é sediada, com a participação da Banda de Música da 10ª Região Militar. 

No Palácio da Luz a veneranda e centenária instituição literária alencarina abriga suas congêneres mais jovens – o que confere ao prédio a condição de “silogeu”, termo que designa edifícios que reúnem entidades culturais. 


O evento contou com um grande número de imortais da ACL, dentre os que puderam comparecer, tendo em vista que prevalecem pessoas de idade avançada na quadraginta numerati da ACL, naturalmente com resguardo de saúde.

A acadêmica Beatriz Alcântara, Primeira-Dama da ACL, fez uma fala inicial, trazendo uma bela prosa poética da também acadêmica Gizelda Medeiros, que não pode comparecer, lida da tribuna por Dona Beatriz como muita graça, saudando os 128 da entidade.  

A Mesa de Honra foi presidida pelo Dr. Lúcio Gonçalo de Alcântara, Presidente da ACL (Benemérito da ACLJ) e contou com a presença do Vice-Prefeito de Fortaleza, Elcio Batista, e do Magnífico Reitor da Universidade Federal Cândido Albuquerque (ACLJ). 

Compuseram ainda a Mesa de Honra o General Lima Verde, Presidente do Instituto do Ceará, o Professor Antônio Colaço Martins, e duas senhoras integrantes da Sociedade Amigas do Livro (SAL).

A Mestra de Cerimônia foi Regina Fiúza, Diretora da ACL, enquanto o imortal e Presidente Emérito da Casa, o Bibliófilo José Augusto Bezerra (Benemérito da ACLJ), foi o orador oficial da solenidade, apresentando uma fala muito rica em citações aos 200 anos da Proclamação da Independência, que se completam neste ano, com a projeção de imagens históricas no telão. 





O novel integrante da ACL, o poeta popular Geraldo Amâncio (ACLJ), também subiu à tribuna para recitar um poema de sua lavra, nos moldes da poesia sertaneja, saudando a efeméride. 




Dentre as entidades culturais representadas esteve a Academia Cearense de Literatura e Jornalismo (ACLJ), pelo seu Presidente Reginaldo Vasconcelos, seu Presidente Emérito Rui Martinho Rodrigues, seu Secretário-Geral Vicente Alencar, seu Segundo-Secretário Adriano Vasconcelos, seu Tesoureiro Paulo Ximenes e os Membros titulares Pedro Bezerra de Araújo, Humberto Ellery, Edmar Ribeiro e Cândido Albuquerque.


Em suas falas de encerramento Dr. Lúcio Alcântara lembrou as dificuldades enfrentadas por todos durante a pandemia, referiu às iniciativas culturais da ACL neste ano, como a edição de livros e a produção de um vídeo sobre a entidade, produzido pelo jornalista, documentarista e cineasta Roberto Bonfim, cujo trailer foi exibido no telão - na foto, como o imortal Batista de Lima. 

Falou também dos projetos para o futuro da instituição, que comparou ao deus Janus, da mitologia romana, representado com dois rostos, um  virado para o traz, mantendo a memória e a tradição no campo das letras cearenses, e um outro rosto voltado para a frente, visando o futuro do beletrismo no Estado.

Após a solenidade foi servido um lauto coquetel, pelos auspícios do imortal Tales de Sá Cavalcante, animado pelo Quarteto Musical do Maestro Poty, no salão principal do Palácio da Luz. 

Foi oportunidade de congratulação entre os acadêmicos e convidados, ao som de muito boa música, com a participação vocal de algumas das senhoras presentes.



       


ARTIGO - Conhecimento, Paixão e Popularização - Parte II

 CONHECIMENTO, PAIXÃO
E POLARIZAÇÃO
PARTE II
Rui Martinho Rodrigues* 

 

A Revolução Científica do Século XVII obteve êxitos espetaculares. Conseguiu prever, com grande precisão, fenômenos como eclipses e explicou todos os fenômenos mecânicos, desvendando o comportamento da gravidade, a trajetória parabólica dos projéteis permitindo aos físicos que nunca tinha manuseado um canhão ministrar aulas para artilheiros. 

Isaac Newton (1643 – 1727) foi merecidamente reconhecido por seus grandes feitos. Isso motivou a compreensão de que havia algo radicalmente novo no modo de pensar e adquirir conhecimentos, embora o grande Físico tenha dito que os seus próprios feitos foram possibilitados por haver se colocado sobre os ombros de gigantes, referindo-se aos pensadores da Antiguidade Clássica e até a alguns medievais cujas contribuições lhe foram úteis. Prevaleceu, todavia, a ideia de que só o novo, o moderno tinha valor. 

O merecido prestígio das ciências da natureza, por suas grandes realizações, foi apropriado indevidamente pelas ciências da cultura. A distinção entre estas duas formas de conhecimento suscita o debate sobre monismo e o dualismo metodológico. 

Mas a diferença é real. A possibilidade de replicar experimentos como critério de validação só existe na natureza. Não é possível repetir a Revolução Francesa ou hiperinflação brasileira dos anos oitenta do Século XX para testar uma teoria. O conhecimento nomológico, isto é, explicados por leis em sentido científico (condições definidas e um conjunto de fatores necessariamente causando um mesmo resultado) que proporcionam a recorrência dos fenômenos diferem dos fenômenos sociais. Ciências humanas tendem a produzir conhecimentos idiográficos. 

A volição dos sujeitos e a ação finalista valorada limitam drasticamente a recorrência dos fenômenos sociais, afasta o conhecimento nomológico, propicia a singularidade do conhecimento idiográfico, possibilita a busca do significado da ação dos sujeitos (pesquisa compreensiva), coisa inexistente quando o objeto de pesquisa é parte da natureza (K. E. Maximilian Weber, 1864 – 1920), na obra “Metodologia das ciências sociais”. 

O monismo metodológico toma por base a necessidade de validação pelo falseamento das teses e pela efetividade das “proibições” impostas pelas formulações teóricas. Isto é: conhecimento, tanto nas ciências da natureza como nas ciências humanas, para ser válido, deve “proibir” algum acontecimento, do ponto de vista do racionalismo crítico de Karl R. Popper (1902 – 1994) em diversas obras entre as quais a coletânea “Textos Escolhidos”. Na natureza os ácidos, ao reagir com as bases, estão “proibidos” de resultar em outra coisa que não sejam sal e água. 

Nas ciências da cultura existem “proibições”? A elasticidade da demanda em função da renda está “proibida” de apresentar resultado diferente da relação entre os fatores renda e demanda? A resposta é relativizada pela multicausalidade dos fenômenos sociais. A “proibição” não prevalece, embora a influência exista e possa ser rigorosamente observada, em certas condições. 

Mas tais condições não são constantes. Ao lado da renda houve seca, guerra, manipulação da oferta mediante especulação? A política, a economia, o Direito e a cultura como um todo não apresentam comportamento estritamente nomológico como os fenômenos da natureza. A volição dos sujeitos e a ação finalista valorada favorecem a singularidade dos fenômenos elegendo a busca, pelo pesquisador, do significado da ação aludida na forma de pesquisa compreensiva. 

Tudo isso afasta a “comprovação indubitável” do erro ou do acerto das formulações políticas econômicas e sociais e torna o debate permeável à manipulação e dificulta a análise. Paixões e interesses completam a complexidade e a incomunicabilidade. Ainda assim a crítica social aponta erros com “certeza inquestionável” e sugere transformar o mundo com “sabedoria infalível”. O mundo, acreditando nos intelectuais ungidos de que fala Thomas Sowell (1930 – vivo), anseia por servir de cobaia de experimentos. 

O cientificismo, entendido como o ato de invocar em vão o “santo nome da ciência” como saber unívoco, indubitável, desclassificando do pensamento divergente como ignorância, obscurantismo ou superstição acirra os ânimos, embora muitos se iludam com isso. Os “esclarecidos” fizeram a Revolução Francesa prometendo igualdade, liberdade e fraternidade. Entregaram a “fraternidade da guilhotina”, a “liberdade” da tirania jacobina e a “igualdade” do bonapartismo Trataremos destes aspectos nas próximas reflexões.

 

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

RESENHA - Reunião Virtual da ACLJ (15.08.2022)

 

REUNIÃO VIRTUAL DA ACLJ
   (15.08.2022)





PARTICIPANTES

Estiveram reunidos na conferência virtual desta segunda-feira, que teve duração de uma hora, dez acadêmicos.  O Jornalista e Advogado Reginaldo Vasconcelos, o Agente Comercial de Exportação Dennis Clark (Maringá - PR), o Marchand e Publicitário Sávio Queiroz Costa, o Físico e Professor Wagner Coelho (Rio de Janeiro - RJ), o Advogado Sionista Adriano Vasconcelos, o Poeta Paulo Ximenes, o ex-Juiz de Direito, Advogado e Professor Aluísio Gurgel do Amaral Júnior, o Médico, Teólogo e Latinista Pedro Bezerra da Araújo e o Procurador da UFC Edmar Ribeiro o Especialista em Câmbio e Comércio Exterior Stenio Pimentel (Rio de Janeiro-RJ).
 

TEMAS ABORDADOS

A reunião virtual da ACLJ desta segunda-feira discutiu longamente o fenômeno da homossexualidade, rememorando o comportamento de homossexuais brasileiros históricos, que honraram sua orientação sexual pela boa conduta social, além do grande desempenho artístico e da absoluta probidade na vida pública, como o cantor e político Agnaldo Timóteo, o estilista de moda e político Clodovil Hernandez, e o ator Astolfo Barroso Pinto, que assumiu desde jovem o travestismo e o heterônimo de "Rogéria", com grande dignidade.

Debateu-se as implicações jurídicas que envolvem atualmente o assunto da homossexualidade, em toda a sua gama de manifestações, sintetizadas hoje em uma reunião de letras que remete à inicial de cada uma delas. 

Inclusive abordou-se o equívoco de, por uma espécie do "tabu", não se poder sequer identificar naturalmente alguém com essa característica especial que detenha sem ser acoimado de "homofófico"  muitas vezes produzindo intolerância reversa.

Como as atuais posturas sociais consideram todas as orientações sexuais como hígidas e lícitas, isentas de vergonha e de opróbrio, não deveria constituir nenhuma forma de agressão, ofensa ou injúria identificar alguém com uma delas. Deveria ser como reconhecer afetuosa e respeitosamente alguém como ele realmente é, com toda a honra e todo o júbilo.  

Concluindo a reunião houve duas performances literárias: Pedro Bezerra de Araújo disse um poema autoral dedicado ao seu falecido pai, intitulado "Sinfonia Indômita", e Edmar Ribeiro, após relacionar os nomes dos integrantes da Padaria Espiritual, com seus respectivos pseudônimos, leu um poema do jornal  "O Pão", editado por aquela agremiação – "Sinfonia de Abertura", abaixo reproduzido.



 DEDICATÓRIA

A reunião desta segunda-feira, dia 15 de agosto de 2022, por aclamação do grupo virtualmente reunido, foi dedicada à Academia Cearense de Letras, nas augustas pessoas de seu atual Presidente, Dr. Lúcio Gonçalo de Alcântara (com Dona Beatriz), e de seu Presidente Emérito, José Augusto Bezerra (com Dona Bernadete), pelo transcurso do aniversário de 128 anos da entidade, a mais antiga academia de letras do País.


 



   

ARTIGO - A "Cultura Industrial" Como Comunicação (LA)

 A “CULTURA INDUSTRIAL”
COMO COMUNICAÇÃO
Luciara de Aragão*

 

A tentativa do sincretismo buscando uniformizar e priorizar a informação vem procurando o sensacionalismo da notícia. Privilegia-se o exótico, o inesperado e o chocante na vida cotidiana como atrativo similar ao das telenovelas, com ênfase nos pseudo-heróis que imitam a vida, ou na vida “glamourosa” de modelos, atrizes e pessoas da realeza. Real e imaginário associam-se no campo de diversificação e aumento da audiência na comunicação. 


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