O
REINO DO
MI-MI-MI
Pierre
Nadie*
Quem nunca teve um apelido, na vida?
Era comum e natural e, mesmo alguns sendo
irônicos, ajudava a gente, no processo de socialização e no enfrentamento das
diferenças e dificuldades, que o mundo nos reserva, em algum momento de nossa
vida.
A convivência social é recheada de "tapas e beijos", de sorrisos e lágrimas, de mimos e ofensas. O rosto, que recebe beijos é o mesmo que recebe tapas.
Ninguém está imune ao que os outros nos dirigem. Não podemos controlar a língua, nem os pensamentos e sentimentos de quem quer que seja. E este processo de aprendizagem era iniciado e acompanhado pela família e na família, na qual também tínhamos apelidos. Em nossos contatos infantis, aprendíamos a lidar com essas situações.
Daí, que o bullying, neologismo de apelido e alcunha, é uma questão de educação, pedagógica e da família. A educação de nossos pais tinha o "não" e a "correção" de atitudes. Nossos pais nos orientavam, nos corrigiam, nos ajudavam a ser fortes e a enfrentar semelhantes situações, comuns ao todo ambiente social, hoje como ontem e como manhã.
Tornando isso questão de polícia e de legislação, pode-se gerar temor presencial, incrementar o egoísmo, enfraquecer o ânimo da ‘luta’ por um espaço na sociedade, transmitir uma visão de que a ‘sociedade é má, o mundo é mau’, mas nunca será equacionado, equilibradamente.
Nossa sociedade está judicializando quase tudo o que pertence ao processo de educação, de convivência, de moralidade, de ética. A convivência está virando um "libelo" contra tudo e contra todos. Parece que estamos nos desumanizando e estamos precisando de focinheira, porque não sabemos mais aprender a conviver como seres humanos, em nossas diferenças e peculiaridades.
Assim, a educação familiar e escolar definham, encolhem-se, diminuem e os 'educadores' são amesquinhados e perdem sua respeitabilidade, bem como a família anula-se, na formação e orientação de seus filhos. A socialização transfere-se para a judicialização, que estamos assistindo: professor ofendido deve fazer BO; aluno ofendido deve fazer BO.
E a ofensa está sendo cultuada como incapacidade de correção e obrigatoriedade de punição "nas garras de leis" criadas para preencher o vazio do processo de socialização, tanto de conhecimentos, como de posturas. Tudo é lícito à criança e ao adolescente, como se assim fosse a vida familiar e social. Geração de crianças e jovens tendentes a serem egoístas, indomáveis, sem limites, sem respeito e sem cultura.
E a criança e o jovem não sentem apoio, acolhida, carinho e orientação nem dos pais, nem da escola, nem da sociedade, mergulham num caos de inadequação social e partem para o vale tudo, a seu bel prazer e para "satisfação" pessoal.
Uma selva humana desumanizada (não me atrevo a desrespeitar os animais) nasce.
Quanto mais precisarmos de leis para regular nossa convivência humana e nossa educação, mais medíocres e menos capazes estaremos sendo em nossa condição de seres pensantes... humanos. Estamos construindo um mundo de menos autoestima e mais egoísmo, menos justiça e mais salve-se quem puder... Uma sociedade secionada, tribal.
Onde abundam leis, escasseia educação.
Quousque tandem?