segunda-feira, 30 de setembro de 2013

ARTIGO

O açude Castanhão pede socorro

Por Cássio Borges*

Publicado em 26/09/2013 - por Roberto Moreira 


A propósito do que foi publicado na coluna do eminente jornalista  Egídio Serpa, do Diário do Nordeste do dia  16 último, quandio ele diz que “Há um crescente processo de eutrofização das águas do  Açude Castanhão, em consequência do qual  tem morrido grande quantidade de peixes – principalmente a tilápia, que é a espécie criada ali de modo intensivo sem os cuidados ambientais necessários”,  ao enviar a referida matéria para o Dr. Jarbas Studart Gurgel, conceituado técnico do DNOCS na área de piscicultura, recebi dele o seguinte atencioso comentário:

Obrigado, caro Cássio, pela notícia veiculada na coluna do Egídio Serpa sobre a mortandade de tilápia no açude Castanhão. Não é a água do açude a responsável pela morte dos peixes, mas a  ganância dos aquicultores com o cultivo da tilápia em tanques redes, cuja densidade de estocagem está sendo superdimensionada, principalmente nesta época do ano, cujo volume d’água represada  baixo afeta a sustentabilidade do ambiente. A água não fica contaminada por estar rica de nutrientes, uma característica do processo natural da eutrofização que pode ser revertido com a chegada do inverno, com a melhoria do índice do tempo de residência do idm

O que se deve fazer para evitar uma catástrofe é reduzir a taxa de estocagem dos tanques redes e não dar comida aos peixes, deixando que eles se alimentem naturalmente. O ganho de peso passa a ser menor, mas é melhor do que haver uma depleção total dos estoque dos tanques pela mortandade, já que  no estado atual do açude eles podem ser  comparados a verdadeiras câmaras de gás, com irrupção de um ictioholocausto de um momento para outro. Nem os 2.000 cientistas, de 80 países, que chegarão em breve aqui para discutir a aplicação de biotecnologias aplicadas  à piscicultura, encontrarão uma solução para o problema, mas a mais viável de todas  é soltar todos os peixes que vivem confinados nessas câmaras de gás mortífero.”

O autor desta denúncia, Oswaldo Carioca, que comanda a preparação do 16º Simpósio Internacional de Biotecnologia que será realizado em Fortaleza, na coluna do jornalista Egídio Serpa sugeriu a intervenção do DNOCS e de  seus competentes técnicos para solucionar  urgentemente este problema.

Nesta  oportunidade, quero enfatizar a importância do DNOCS para todo o Nordeste, não só na área da piscicultura, fundamental para a oferta de proteína animal para as populações sertanejas,  como na  gestão  dos recursos hídricos de nossa Região, da qual ele é pioneiro em regiões semiáridas do planeta.

Parafraseando o jornalista Egídio Serpa, eu diria que não só o Açude Castanhão está pedindo socorro, mas  toda a população nordestina também,  exigindo das autoridades que aquele Departamento Federal  volte urgentemente   às suas atividades, pois que  de tantos erros inconcebíveis que se têm cometido  aqui mesmo no Estado do Ceará na área de recursos hídricos, cada vez mais fico convencido que ele é absolutamente imprescindível para a nossa Região. 

De uma coisa estou plenamente  convicto: o Estado do Ceará, mesmo com o Açude Castanhão sendo “um mar de água”,   como afirmam os que o visitam, não está em condições de resistir a mais um ano de seca,  podendo ser destruída, como disse o Dr. Flávio Saboia, Presidente da Federação da Agricultura do Estado do Ceará-FAEC,  “todas  as atividades  agropecuárias sem previsão de recuperação a curto prazo”.


Na minha ótica, com os conhecimentos  que tenho do DNOCS e da Região Nordestina, posso afirmar que as coisas  não vão bem. É preciso que as autoridades  lidem  com maior seriedade com este tema das secas e da água em nossa Região. O urgente fortalecimento do DNOCS está incluído neste contexto.











*Cássio Borges é Engenheiro
e Membro Honorário da ACLJ

sábado, 28 de setembro de 2013

CRÔNICA

ORAÇÃO – SILÊNCIO E RECOLHIMENTO
 Por Vianney Mesquita*
(Extraído de www.vianneymesquita.blogspt.com)
                                           


Segundo o conceito mais geral e notório, oração corresponde à elevação da alma e do coração a Deus, a fim de adorá-lO, agradecer-Lhe e dEle solicitar as graças de que todos necessitam.

Em ideia semelhante, denota a súplica destinada aos santos, com o escopo de rogar-lhes, como entes que já privam da Presença Divina, a intercessão, junto ao Criador, para que Ele aceda aos pedidos de cada qual, desde que procedentes e justos: “Vosso Pai sabe o que vos é necessário, primeiro que vós lhO peçais”.(Mt. 6-8)

Com efeito, para a súplica ser integral e efetiva, é absolutamente indispensável uma circunstância especial: haver SILÊNCIO e RECOLHIMENTO. Impõe-se, portanto, antes de tudo, se aquietar o espírito, sossegar o transporte e a têmpera da alma, por via da tranquilidade, com vistas a se instalar a meditação sob quietude completa.

Afigura-se realmente impossível uma pessoa orar ao ritmo da celeuma e ao compasso do ruído, quando da comunicação com o Pai e os seus eleitos. A prece jamais poderá suceder, efetivamente, sem o recato espiritual, na ausência de SILÊNCIO absoluto e RECOLHIMENTO perfeito.

O tempo durante o qual se permanece no templo antes de iniciar o ministério da Santa Missa é a ocasião ensejada para se aprestar a ambiência de oração, aprontar o locus da paz e quietação e completar o diálogo com Deus na plenitude.

É por demais recorrente, entretanto, no interior de nossas igrejas, capelas, santuários e afins, o fato de os fiéis demandarem os requisitos do SILÊNCIO e do RECOLHIMENTO e não lograrem sucesso em tal pretensão, em virtude da interferência de cochichos e colóquios, até em tons elevados, por parte de seus vizinhos, cobrindo todo tipo de assunto, desde os temas domésticos e as fofocas até o futebol.

Resta, então, por conseguinte, inviabilizada a condição propícia à conversação transcendente, configurada nas preces, para recepcionar a celebração do Ofício Divino.

Não será, entretanto, o cumprimento sóbrio, a vênia ou reverência discreta, a obstarem um bom estado de oração -- isso é admissível. Contrario sensu, a zoada e a sibilação constantes, denotativas de uma insuficiente urbanidade – estas, sim – é que atalham os pensamentos de quem pretende e precisa rezar, confundindo o entendimento comunicacional com as Pessoas do Alto e baldando o ideal de quem se dirigiu à Igreja com o objetivo de agradecer, pedir perdão, implorar por quem se finou e tantas outras rogativas de que o ser humano é carecente.

Respeitemos, pois, o fiel cristão que intente estabelecer ligação pacífica e sem arruídos com Deus e os seus santos, colaborando ao fazer SILÊNCIO – este que, na dicção do escritor e político espanhol Luiz Araquistain, é o pai da meditação, que é a mãe da crítica, e esta, por sua vez, é a madrasta do pessimismo.

Reverenciemos, pois, esses irmãos que desejam orar e não podem, em virtude do pouco caso, dessa indiferença em relação a eles, das conversas travadas em fala alta na intimidade da Igreja, impedindo os liames que cogitam estabelecer com o Pai Celeste e as almas nEle santificadas.

Tenhamos, por conseguinte, na devida conta o fato de que a ORAÇÃO efetiva solicita a circunstância primordial do 
SILÊNCIO e do RECOLHIMENTO!

    *Vianney Mesquita     
  Membro Emérito da ACLJ
Titular da Cadeira de Nº 22

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

NOTA ACADÊMICA

PROGRAMA DIMENSÃO TOTAL

O Programa Dimensão Total, que vai ao ar nas manhãs de domingo pela Rádio Assunção Cearense, pela sintonia AM-620, sob o comando do radialista Ronald Machado, tem se tornado um espaço de excelência da radiofonia em Fortaleza.

Participam do programa os maiores nomes da intelectualidade alencarina, que se revezam no estúdio, em grupos de sete a dez, a cada semana, debatendo, ao vivo, os temas mais graves da Cidade, do Estado e da República.
Em sentido horário: Cid Carvalho, Arnaldo Santos, Assis Cavalcante, 
Ronald Machado, Antônio Mourão, Rui Martinho Rodrigues, 
Roberto Martins Rodrigues, e Tarcísio Leitão. 
Domingo passado, 22 de setembro, quatro membros da ACLJ estavam presentes ao programa: o Senador Cid Carvalho, o jornalista Arnaldo Santos, o Prof. Rui Martinho Rodrigues e o jurista Roberto Martins Rodrigues – além do advogado Tarcísio Leitão, o Deputado Assis Cavalcante e o psiquiatra Antônio Mourão.
O acadêmico Reginaldo Vasconcelos, Secretário-Geral da Academia, compareceu ao estúdio apenas para entregar a Cid Carvalho e a Roberto Martins Rodrigues um novo broche de lapela, com o distintivo da entidade literária, que os dois acadêmicos eméritos ainda não tinham recebido.
O programa Dimensão Total é exibido ao vivo na Internet, para o Ceará, o Brasil e o Mundo, com as imagens captadas pela Webcam instalada em seu estúdio.

Fotos: Paulo Roberto - Cortesia: Alexandre Maia. 

ARTIGO


DILMA PROTESTOU NA ONU CONTRA OBAMA. A METEOROLOGIA GARANTE QUE VAI DAR PRAIA PORQUE AMANHÃ FARÁ BOM TEMPO.

Todo o noticiário nacional anunciou o veemente protesto da Presidente Dilma Rousseff na ONU, contra a espionagem eletrônica americana no Brasil.

Curiosamente, logo em seguida a essa matéria, o noticiário tratou das preocupações de Barack Obama com a Síria e com o Egito.

Com isso as agências de notícias parecem querer demonstrar que o homem mais importante do Planeta está se lixando para as mágoas brasileiras, quando tem na agenda assuntos internacionais muito mais graves.

Barack Obama não repercutiu ainda as críticas da presidente brasileira porque sabe que ela apenas faz uso político do chamado “jus esperniandi”, de modo a desviar a atenção da mídia interna para essa platitude, enquanto a Nação Brasileira tem problemas mais agudos e reais, como a imensa insegurança pública e a desvairada corrupção institucional.
Sim, cabe a qualquer presidente se manifestar diplomaticamente contra atalaias invasivas, montadas por outros países contra os seus interesses, sempre que uma delas se revele. Mas isso não significa que seus protestos venham a ter consequência positiva. O único resultado será o aprimoramento dos métodos, para que a espionagem americana fique mais eficiente e se torne incógnita novamente.

Todo chefe de governo sabe de antemão que as nações se monitoram entre si – as maiores economias averiguando as menores, as grandes se investigando umas às outras – e as informações assim obtidas são essenciais para pautar as políticas internas e externas dos países.

Ademais, espionagem nada tem a ver com ofensa à “soberania nacional”, ao contrário do que têm alegado os próceres do Governo Federal. Atentar contra a soberania de um país é interferir na sua autodeterminação administrativa e ideológica, com ações ostensivas e  acintosas contra a sua liberdade de decidir e de operar os seus destinos, sua constituição e suas leis, sua religião oficial, seu sistema político e sua forma de governo.

Portanto, dizer que os grampos americanos na Internet afetam a soberania brasileira seria o mesmo que processar um vizinho por desrespeito ao seu poder familiar, em virtude da janela dele devassar o seu quintal.

Enfim, em vez de agir como um cônjuge traído que vai se queixar ao rival amoroso, melhor faria o Brasil se preparando tecnologicamente para controlar a espionagem eletrônica estrangeira, precatando-se de deixar vazar os seus segredos.

Entender, afinal, que toda a comunicação eletrônica, do telefone ao face book, nunca foi, não é e jamais será meio adequado e seguro para a troca de segredos. Tudo o que transita por fio ou via satélite assume, tacitamente, domínio público eventual.   


Reginaldo Vasconcelos
Titular da Cadeira de nº 20 da
ACLJ  













terça-feira, 24 de setembro de 2013

ARTIGO

A IMPORTÂNCIA  DA  EDUCAÇÃO  SUPERIOR
Por Antonio de Albuquerque Sousa Filho*

A educação superior está penetrando o interior do Estado do Ceará, com forte presença em alguns Municípios como Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha, Sobral, Quixadá e Iguatu, dentre outros. Os Cursos Superiores  no interior começaram através de Faculdades, sobretudo as Católicas (Crato e Sobral), depois incorporadas  pelas Universidades Estaduais do Cariri (URCA) e do Vale do Acaraú (UVA). Fator importante foi a expansão da Universidade Estadual do Ceará (UECE), através dos Campi de Iguatu, Quixadá, Limoeiro do Norte, Crateús. Itapipoca e Tauá. 

Nos últimos anos a Universidade Federal do Ceará (UFC) também expandiu suas ações através dos Campi de Sobral, Quixadá e Cariri e que foi absorvido pela nova Universidade Federal do Cariri (UFCA). Por sua vez, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), de ensino superior (antiga Escola Técnica Federal) está presente em 22 municípios das nossas diversas regiões geográficas do Estado. Foi criada a Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), localizada em Redenção, e mais inúmeras Faculdades particulares.

Gostaríamos de destacar ainda a Faculdade Católica de Quixadá, criada pelo anterior bispo de cidade, Dom Adélio, hoje dirigida com grande eficiência pelo Professor Manoel Messias. Ali estão matriculados 2.300 alunos, em 17 Cursos de Graduação, vindos de 150 diferentes municípios do Ceará, com 78% dos seus professores pós-graduados, tendo formado 1.500 ex-alunos, com o índice de 90% já empregados.

Chama atenção a infraestrutura existente:  amplas salas de aula, vários laboratórios bem equipados, excelente biblioteca, inúmeros computadores com  finalidade didática e todos os procedimentos que vão desde matricula, retirada de livros, até os administrativos, informatizados, situação financeira equilibrada e com ampla programação de novos investimentos. Os Cursos de odontologia, fisioterapia e educação física têm equipamentos modernos os quais muitas vezes faltam nos mesmos cursos de Universidades maiores, prestando valioso serviço à população da região.

A presença da Educação Superior nos Municípios tem gerado mais empregos e rendas, vez que a construção civil cresce para atender as necessidades de moradia para alunos, professores e funcionários que vêm de fora. Novos restaurantes, bares e hotéis (Quixadá tem um hotel 4 estrelas) surgem. Prestadoras de serviços aparecem para atender às novas solicitações. Novos profissionais são requeridos, principalmente, na área da saúde. Linhas alternativas de transporte público são abertas e o comércio tende a diversificar-se, oferecendo novos produtos. Vê-se, assim, a demonstração prática de como a Educação Superior forma recursos humanos qualificados, capazes de fixá-los e de torná-los potenciais modificadores das suas realidades socioeconômicas.

*Engenheiro-Agrônomo e Professor da UFC.  


Antonio de Albuquerque Sousa Filho,
com o jornalista acelejano Vicente Alencar




segunda-feira, 23 de setembro de 2013

PANEGÍRICO À POETISA

MÔNICA SILVEIRA À JANELA*
Por Vianney Mesquita



“Em estética não há matéria pura nem impura. Por acaso, não envilece ao sublime uma forma vulgar, e vice-versa?”
Hegel


Mônica Silveira, imortal da Academia Cearense de Literatura e jornalismo, o Ceará conhece e admira. Não bastassem seu caráter, personalidade e competência profissional inquestionáveis, ela faz poesia e não apenas versos. Poeta, dizia o autor de Juca Mulato, Menotti del Picchia, é aquele que não faz apenas versos.

“Pois, tu és como Deus, Diva Poesia! Sim, tu és como o sol, por toda parte, cultos te rendem de uma zona a outra; cada mortal te oferece um culto igual a força de sua alma”.

No dizer do Visconde de Araguaya — nosso primeiro romântico — e na minha dicção também, são divas a poesia e esta Janela e a Mônica, poetisa à mancheia que faz poesia e não somente versos. “Trabalha e teima e lima e sofre e sua”, qual decassílabo português, fazendo, constantemente, insistentemente, indefinidamente, maravilhosamente verso e poesia. Este gênero literário, entre nós, só vive porque há quem o entenda e quem o faça, como a nossa, Selma Lagerlof.

Já divisara o fenomenal Júlio Diniz que nem sempre os entendidos da poesia a podem fazer, nem os que a fazem, fazem-na entendendo. Não é, evidentemente, o caso de Mônica, a Mônica deste inusitado momento   do   seu livro   Janela — o poema “Cotidiano”.

“Acorda, corre, corre, toma o coletivo...
corre, corre, toma o coletivo, morre, morre.”

Os torneios da nossa Autora são simples mas singulares, meros, entretanto inéditos em inspiração e simplicidade. Não se parece com ninguém sua poesia infantojuvenil carregada de coisas dos grandes, deleitando os pequenos e, principalmente, os grandes. Mônica Silveira, querida de todos nós aqui, felizmente está à margem do anátema que fez, aos escrevinhadores de versos, o escritor Monteiro Lobato:

— Poeta... que surrada andas tu, pobre palavra, e que longe andas do sentido íntimo, pelo abuso de te vestirem quantos por aí medem versos nos dedos para uma periódica postura nas revistas!


A poesia da Autora desta Janela, aberta à beleza da urbe e do orbe, não quer e não precisa de postura nas revistas. Por isso mesmo não necessita, também, de medir versos nos dedos. Ela é, sim, como queria Lobato, a dor.

“Dor estilizada, dor de amor, dor de saudades, dor de esperanças, dor de ilusões murchas, dor dos anseios vagos, dor da impotência, dor do inexprimível. [...] Poeta não é o malabarismo engenhoso que acepilha sonetos, embora belos. Poeta é a criatura eleita, que ressoa as mais sutis vibrações ambientes, como se toda ela, corpo e alma, fora uma harpa eólia de cordas vivas”.

Poetisa é assim, com sentimento, leveza, graça; é desta maneira, como nossa autora: doce, leda, trova não azeda, anelo utópico mas sentido, ledice doída, “toque certeiro, leve e preciso” — conforme já lhe disse o “poetíssimo” Chico Miranda, há pouco desaparecido.

É dizer o coração sem catar palavras, sem gírias e respeitoso ao vernáculo. Poeta é assim, pureza. “A poesia me quer puro”, sentenciou Antenor Nascimento Filho. Não há receita para uma boa poetisa conforme ela é. O Poeta nasce feito, mas lapida o seu veio. Sabe-se, porém, que é preciso inteligência, é necessária tranquilidade; a poesia requer sentimento.

A poesia — falou o idealista romântico Wordsworth, “é o fluxo espontâneo de poderosos sentimentos, e tem a sua origem na emoção relembrada na tranquilidade”. Isto porque nossa autora conduz poderosos sentimentos, de alma e corpo e plumas e verdade e vida e emoção relembrada na tranquilidade. É um síndeto interminável de nomes e adjetivos, vazado no sentimento de quem, como na Bíblia, vive em abundância.

O Brasil tem este Ceará, de grandes poetas da magnitude estelar da Mônica, que abre esta Janela, de excelentes poemas em verso branco e estâncias rimadas, da inconfundível progênie dos bons e de insuperável beleza, como este “Sono”, na página 10.

“Quero dormir... de quem foge da Guerra”.

Parabéns às letras de metro no Ceará pelo excepcional rebento: Janela, poemas da jornalista e acadêmica Mônica Silveira.

Deleitemo-nos com ele.


*(Modificado do original em Impressões - Estudos de Literatura e Comunicação, Fortaleza: Agora, 1989, p.39).

Vianney Mesquita é professor, filólogo, escritor, crítico literário,  e Titular da Cadeira de Nº 22 da ACLJ

CRÔNICA

A IMOBILIDADE URBANA

Por Paulo Maria de Aragão (*)

Além da desmedida violência em Fortaleza, os crescimentos demográfico e vertical desordenados resultaram na maior concentração de habitantes em espaços diminutos. A situação agravou-se mais ainda devido ao enxame de motos que invade ruas não planejadas para recebê-las.

É tamanho o estorvo que o espaço público “agoniza”, tendo como um dos fatores determinantes as grandes obras verticais desvinculadas de planejamento urbanístico. Nesse particular, parece induvidoso que o interesse público está sendo desrespeitado pelo próprio município, a teor do que dispõe o art. 30, VIII, CF: “promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano”.

No eterno antagonismo entre o interesse público e o interesse econômico, em geral, prepondera este, gerando novos transtornos à vida urbana. Desse modo, erguem-se espigões, decepam-se árvores centenárias, são lançados ao chão prédios históricos, mutilando o princípio da primazia do interesse coletivo, inerente à atuação municipal.

Essas edificações residenciais e não residenciais são lucrativas, mas causadoras de tormentos às metrópoles, porque permitem o crescimento demográfico em sentido vertical. Enfatize-se: ocupam áreas reduzidas, sem a previsão de locais necessários ao livre fluxo de veículos e pedestres ou a estacionamentos. O quadro se mostra mais crítico nas zonas comerciais em virtude do traçado das ruas, avenidas e praças.

Em Fortaleza, como se não bastasse, por dia, entram em circulação 218 novos veículos, que se adicionam aos 800 mil existentes. Segundo estatísticas, em 2015, o espantoso número superará a casa de um milhão, abarrotando mais ainda a malha urbana. Impõe-se, em vista disso, aplicar medidas planejadas, compatíveis com a realidade, essenciais ao bem-estar social.

Porém, a par de tudo isso, o Governo Federal, atendendo aos reclamos da queda nas vendas do setor automobilístico, reduziu o IPI - imposto sobre produtos industrializados. Não obstante, a renúncia fiscal em nada contribuiu para os serviços necessários ao desenvolvimento da infraestrutura urbana ou para o arrefecimento dos embaraços no trânsito.

Sem desprezar as antigas exigências do homem que o urbanista continua precisando satisfazer, reconheça-se que o tráfego sempre exigirá maior atenção. Assim, por não se tratar de produto imaginário, especialistas devem antever o projeto futurista do carro voador, o Audi Shark - já considerado profético.

Cidades crescem, e com elas avolumam-se problemas, inclusive os de proteção ao pedestre, o mais sacrificado no contexto. Não se precisa de empreendimentos baseados na megalomania (como o trem-bala), mas de investimentos em transporte de massa, metrô de superfície ou subterrâneo e veículos leves sobre trilhos (VLT). “País rico é onde o povo anda de trem, bonde e ônibus; no país pobre, o povo anda de carro e fica parado no engarrafamento”.

 










Paulo Maria de Aragão
Titular da Cadeira
de nº 39 da ACL

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