terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

EXORTAÇÃO - Lembra-te, Homem (VM)


 “LEMBRA-TE, HOMEM,
QUE ÉS PÓ”...
(Leitura para Quarta-Feira de Cinzas)
Vianney Mesquita*


O fraco teme a morte; o infeliz a chama; o temerário a provoca; e o sensato a espera. (BENJAMIN FRANKLIN).


É hoje um dia de igreja católica lotada, muitas vezes até por pessoas que a frequentam somente nesta data, quer por superstição, arrependimento pelos seus transportes durante o carnaval, ou mesmo as duas razões combinadas. Infelizmente, entretanto, é ressaltado o primeiro pretexto, manifesto na crendice, retratado na superstição e no fanatismo religioso.

Oportuna, porém, é a ideia de todos evocarem a leitura na Bíblia em Língua Portuguesa, onde está expressa, em Gênesis, 3:19, a divisa Lembra-te, homem, que és pó e em poeira te tornarás, quando o Criador, perpetrada a falta original, expulsou Adão do Paraíso, prescrevendo-lhe intensos trabalhos, rematados com a morte, ocasião em que o corpo  a carne – de nada mais aproveitará.

De modo diverso do ocorrente no lado oriental, a cultura do Ocidente nos infundiu a ideia de que o fim pela morte é algo terrível, embaraçoso, porquanto está disposta nos limites do impossível a admissão da nossa finitude, do termo definitivo da vida, de modo a persistirmos no raciocínio irreal e ilusório de que não se efetivará a condução da alma para a Outra Dimensão, pois a existência terrena seria sem fim.

Eis, entretanto, que balança esta “convicção”, absolutamente equivocada, ao menos uma vez por ano e no primeiro dia da Quaresma, coincidente com a Quarta-Feira de Cinzas. É quando, pois, o sacerdote da Igreja de Roma – cruzando na testa de cada um as cinzas remanescentes das palhas do Domingo de Ramos imediatamente anterior - representa Deus a nos alertar para o fato de que a Humanidade é pó e à poeira retornará em definitivo como matéria.

Então, ao modo como a Igreja procedia antes do Concílio Vaticano II, é substituída a frase latina Memento, homo, quia pulvis, es et in pulverem reverteris, igual a “Lembra-te, homem, que és pó em pó te tornarás”, podendo o celebrante dizer, alternativamente: “Arrependei-vos e crede no Evangelho”.

Esta verdade é terminante e vale para a Humanidade inteira, esteja a pessoa na velhice, quando madura, na condição de preferencial – como é da moda – com vigor na saúde e gozando de bem-estar socioeconômico, na doença e indigência, e, em particular, na juventude ou como adulta nova, em qualquer estado, se impõe que todos se deem conta de que “o reino do céu está perto”, sendo crucial que preparemos o caminho do Senhor, endireitando nossas veredas, à maneira como expresso por João Batista, a voz que clamou no deserto.

Então, no dia inaugural da Quaresma, examinemos a consciência e intentemos remover os habituais excessos, apagar as rixas com o próximo, viver mais a Palavra, ao procurar a indicação divina, a fim de que seja delineada a correção dos rumos, sem simuladas carolices nem devoções aparentes, vedadas as manifestações de atitudes, limitadas ao âmbito do edifício da igreja, porém com eficácia em todo lugar e a qualquer tempo.

De tal maneira, experimentemos a chance de atualizar nossa Contabilidade para demonstrá-la em balanço perfeito aos órgãos de controle do Alto, com vistas a deixar nossos registros sempre limpos e nossa ficha sem rasuras nem lacunas que se façam obstáculos impeditivos do nosso intento de salvação.

Assim, completando a reticência do título, está em Gênesis, 3:19, a importantíssima divisa latina Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris, convidando-nos a evocar a noção de que, na qualidade de corpo, somos cinzas, aquelas cruzadas hoje na testa de cada um.


 
COMENTÁRIOS:

“Lembra-te, homem, que és pó e em poeira te tornarás", a esta determinação da existência, prenunciando a pós, o grande Vianney trata com clareza, inteligência, precisão e clareza sobre a imensa ou curta espera... Bom, muito bom, cristalinas palavras...”

Edmar Ribeiro




Ao discorrer sobre tão inusitado assunto, Prof. Vianney nos remete aos primórdios da Igreja primitiva quando nasceu a tradição de impor as cinzas nas pessoas.

Àquela época se colocavam cinzas, "cinis" em latim, na cabeça e se apresentavam ante a comunidade com um hábito penitencial, para receber o Sacramento da Reconciliação na Quinta-feira Santa.

A cinza é um símbolo e sua função dá um sentido de morte, expiração, mas também de humildade e penitência. O texto, como sempre, é de uma excelente clareza.


Antônio Custódio Matos

CRÔNICA - O Inverno e o Carnaval (RV)


O INVERNO E O CARNAVAL
Reginaldo Vasconcelos*


O carnaval e o inverno cearense coincidem, coexistem, misturam-se e se molham um ao outro de alegria.

O inverno é o carnaval da Natureza, que se fantasia de verde a festeja-lo, numa alegria gigantesca.

Úmidos corpos molham fantasias coloridas, brotam amores, chovem sorrisos e abraços são colhidos. Cheiro de terra, grama molhada e poças d’água nas calçadas.

Antes de tudo, o inverno e o carnaval são perfumes e cores, que portanto podem descolorir e evaporar, durante a vida e os anos sobrepostos.

Milhares de crianças vestem penas, pintam o rosto, colocam máscaras, vestem panos de seda e calçam botas: são índicos, super-homens e piratas.

Os adultos tornam-se palhaços, viram tuaregues, ou transformam-se em havaianas e odaliscas. No meio da folia, no epicentro da algazarra, no momento da fervura cai a chuva.

Rostos suados, gotas brilhando entre lantejoulas e confetes, plumas e paetês apanham chuva nos cordões, bumbo e corneta salpicam som, sopram chuviscos.

Pelo asfalto, nos estandartes os símbolos místicos do baralho. Desce o maracatu titubeando ao “chim-bum” afro dos tambores, e ao tinir dos guizos e chocalhos.

Índios e negros vestindo os trajes da Corte, trazem à tona as raízes da raça e da cultura, de onde se eleva o envolvente éter da História.

Sob os véus das fantasias veem-se os corpos mornos da folia, molhados de suor. Entre apitos, passes de dança e evoluções, uma euforia, um incêndio íntimo.

Sorrisos franqueados, empurrões e abraços se permitem, suor e cerveja para a chuva temperar. O carnaval não é loucura, é remédio, é antídoto, alivia todos da luta insana pela vida, evitando a demência da dor e da solidão.

No terceiro dia o folião já canta rouco, o bêbado cai de porre na calçada, as fantasias já se rasgaram mas ainda resta alegria.

E na quarta-feira a chuva chora e lava o asfalto, num chuá sentido de saudade. Nos salões as serpentinas fazem engodo, que simbolizam mil paixões, namoros mominos, recordações de outros carnavais.

Tribuna do Ceará – Fevereiro de 1980


    

COMENTÁRIO:

Que sensacional!  Por isso é que sou seu fã. Deveria ter sido, pois, desde 1980. É tempo, ainda, porém.
(........................................................................................) 
Grande abraço, Dr. Reginaldo. Meus emboras comovidos.

Vianney Mesquita

sábado, 25 de fevereiro de 2017

POEMA - Lamento (HE)


LAMENTO
Humberto Ellery*


Poesia, para mim, é a própria vida.
Mais do que a vida: a vida só não basta!
Já dizia Gullar, com sua voz sentida.
Poesia é mulher, tão linda, tão casta.

Dos grandes vates seu cantar venero
Genuflexo, contrito, reverente, mudo.
Camões, Mello Mourão, Junqueiro, Antero.
Na mão de Deus meu coração desnudo.

Choro em silêncio a minha pouca Arte.
A pobre lira em minha mão se parte,
Por não saber tangê-la, qual queria.

Imploro a Deus, que me parece mouco:
“Se o talento que me deste foi tão pouco

Por que me deste tanto Amor pela Poesia?”


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

ARTIGO - Honra ao Mérito (VM)


HONRA AO MÉRITO
DA
ACADEMIA CEARENSE
DE
ODONTOLOGIA*
Vianney Mesquita**



A Odontologia é um mister a exigir do seu  oficiante o senso técnico de um artista, a destreza de um cirurgião, os conhecimentos científicos de um médico e a paciência de um monge. (São Pio XII).


A Escolástica, linha do pensamento cristão da Idade Média, sugere a quem for estabelecer contato com um circunstante, para cuidar de qualquer assunto, a ideia configurada no dístico “Sê breve para ser agradável” (Esto brevis et placebis).

Como, porém ser rápido, atendendo a este juízo da Filosofia medieva, se outro valor mais alto se alevanta? (L.V de Camões, n’Os Lusíadas).

Sucede-me, pois, agora um dos incontáveis instantes especiais da vida, diuturnamente repetidos, que me oferece as delícias da felicidade, pois, talvez até sem corresponder em merecimentos, sou uma pessoa sobejamente feliz, em todos os aspectos da existência.

Por tal pretexto, nova ária componho, celebrando a vida, na ocasião em que, pela inexcedível benevolência dos imortais dessa Academia, recebo, juntamente com o Presidente da Academia Cearense de Medicina, meu amigo – Prof. Dr. Aprígio Mendes Filho (UFC-óbito em 11.01.2016) – o diploma de Honra ao Mérito deste Silogeu.

Ramalho longínquo daquela sociedade onde Platão prelecionava, nos jardins de Academo (rei lendário da Ática), esta umbela seleta abriga doutos mestres cearenses da Odontologia, Ciência cujas origens mais remotas são iluminadas apenas por suposições de pesquisadores. Reúne, então, o que há mais de expressivo em matéria de representação de suas cátedras, para dar como regalo ao Ceará uma sociedade científica mais viva, atuante, moderna, em dia com o estado d’arte da atividade, e que se estende à comunidade, a fim de serem cultivadas e cultuadas, também, as manifestações das coisas do espírito.

A Academia Cearense de Odontologia ostenta-se, com raro sucesso nos resultados, como instituição plural, privilegiando a Ciência, a Tecnologia, as Artes e a Cultura de modo geral.

Sendo assim, é lícito proclamar para todos os quadrantes da Terra o fato de que esta Casa constitui, das do seu gênero, a maior operadora em nosso meio, o que já a fez ultrapassar os umbrais do Ceará e do Brasil.

Sem pretender importunar a assistência, nem ralar a paciência dos confrades e confreiras deste Sodalício, tampouco desobedecer à Ordem de Santo Tomás de Aquino e Guilherme de Occam, não será ocioso, para informação aos leigos e memento dos facultativos, delinear a larga seara onde mourejam os profissionais da Ciência do médico francês Pierre de Fauchard.

Ao campo odontológico pertencem os dentes, sua articulação e os aparelhos que os sustêm; a mucosa da cavidade bucal; lábios e partes salientes da face; a língua e o assoalho da boca; os palatos duro e mole, os maxilares e as mandíbulas; os músculos da mastigação e articulação de têmporas e mandíbulas; as glândulas salivares; a fluidez sanguínea e a drenagem linfática.

Não se há de esquecer de que todas as relações das mencionadas partes com o restante do organismo também se compreendem no âmbito da Odontologia. Consoante ocorre, ainda, com as estruturas limítrofes da boca, seios maxilares como os de todas as cavas humanas, é a boca a mais suscetiva a traumas e infecções, sendo sede frequente da manifestação de muitas doenças.

Por esta razão, as universidades e centros de ensino e pesquisa da Dentística procuram, como fazem os cursos de Odontologia das Universidades Federal do Ceará, e de Fortaleza – UNIFOR, fornecer ao estudante, ao profissional e ao professor uma compreensão adequada do organismo humano, com o emprego da qual estes poderão colaborar com os demais agentes científicos da saúde.

Evidentemente, não se há de postergar a importância plástica da boca, sendo que os variados aspectos da Ciência-Arte de Sá Roriz são muito bem delineados por São Pio XII, conforme está na epígrafe, tudo isso, digo, adicionado a uma compreensão holística do ser, do cliente como pessoa humana, com problemas transpostos às moléstias orgânicas.

Em decorrência de todo esse espectro de atuação do cirurgião-dentista, é que hoje são objeto de risco e mofa as denominações antigamente conferidas aos profissionais do Brasil e d’alhures.

Imaginemos, hoje, uma Academia Cearense de Barbeiros, Cabeleireiros, Sangradores e Dentistas... Proh pudor!
Seria realmente risível!

Bem mais do que barbeiros e sangradores, denominações ingênuas do empirismo da Ciência Odontológica, temos, aqui na Casa, cientistas dos diversos sub-ramos odontológicos (incluindo-se a implantodontia), doutos de seu ofício, ecléticos do conhecimento global, homens e mulheres cultos, com alçado padrão de preparo intelectual também noutras esferas do saber.

Comprovam esta prontidão espiritual seus invejáveis curricula-vitae, haja vista a atuação vigorosa de cada qual, na perseguição do conhecimento, por meio de cursos, seminários, congressos, conferências e assemelhados.

Testemunha esta grandeza o vigor da Academia, traduzido no seu patrimônio físico e intelectivo, com maciça comparência a cada evento – seja ele ligado direta ou indiretamente à Ciência Odontológica – na excepcional Revista que edita, na biblioteca, museu, casa de artes, nas múltiplas promoções do seu Núcleo Feminino, nos natais, festas de Páscoa, nos cursos de pós-graduação que oferece, nas iniciações de acadêmicos e nas multivariadas ações institucionais.

Muito me comprazo, pois, com fazer referência ao bom número de colegas professores e amigos da Universidade Federal do Ceará, componentes desta Academia Científica, adiante dos quais, por motivo de gênero, menciono a minha mais ilustrada conterrânea, de Palmácia, a Professora Doutora Maria Grasiela Teixeira Barroso, gente da mais alta estima e ab imo corde.

Seguem-se os professores-doutores José Dilson Vasconcelos de Menezes, José Mário Mendes Mamede, Manuel Perboyre Gomes Castelo, Aldo Frota Nogueira, Flávio Prata Crisóstomo, Haroldo Beltrão, Augusto Mota Borges Filho e outros, os quais – malgrado não privar estreitamente de suas amizades – conheço seus perfis humanos e acadêmicos, seja por meio de funções que desempenhei da U.F.C. ou os acompanhando pela leitura da Revista da A. C. O.

Os demais árcades, que não abraçaram o sacerdócio pedagógico, são todos grados partícipes da sociedade fortalezense pela missão que exercem de minimizar, com o máximo de competência e visão holística, os problemas bucais e periféricos em uma terra de edêntulos, conforme é o Ceará, cientes de que fazer cessar a dor corporal e espiritual é trabalho de Deus, que nos quer à Sua imagem e semelhança.

Exprime uma sentença corrente: Àquele que julga com amor ocorre de enxergar um corvo branco. Talvez tenha sucedido com o Dr. Dilson Menezes, ao me saudar nesta solenidade, pois carregou um pouco nas tintas do sentimento.

Recebo, pois, humilde, do mais recôndito da alma, a dignidade que a Academia Cearense de Odontologia me confere nesta oportunidade. Dela farei troféu. Transformá-la-ei em lauros nobilis, aquele ramo de Dafne – a ninfa mitológica – que, perseguida por Apolo, invocou a Terra, sua mãe, e foi por esta transmudada nos louros da vitória.

Então, invito a sabedoria de Lao-Tsé, para quem o agradecimento é a memória do coração.



*In MESQUITA, Vianney. Fermento na Massa do Texto. Sobral: Edições UVA, 2001, pp. 123-6. Texto, modificado e atualizado, de conferência proferida em 13 de setembro de 1999, quando da recepção do Diploma de Honra ao Mérito, conferido pela Academia Cearense de Odontologia, por sugestão do presidente, na época, Prof. Dr.Francisco Wilson de Vasconcelos Dias (falecido). 




ARTIGO - O Cenário Para 2018 (AS)


O CENÁRIO PARA 2018
Arnaldo Santos*



A essência da democracia reside nos valores que a consubstanciam. Dentre estes, merecem relevo as liberdades em sentido amplo, para que a sociedade possa eleger, entre os cidadãos, suas lideranças políticas. A estas caberá a nobilíssima responsabilidade de promover as transformações econômico-sociais, ampliando o espectro participativo para construir uma nação, com igualdade de oportunidades para todos e, especialmente na área do saber, para as crianças. A democracia brasileira ainda não foi capaz de edificar os valores derradeiros do pensamento aqui esposado.

Quando a sociedade brasileira, com luta, sangue, suor e lágrimas, conquistou a utopia da redemocratização, legando ao Brasil a Constituição de 1988, existia um “estoque” de homens públicos cuja trajetória política nos fazia acreditar que para além das liberdades, direitos e garantias individuais, cidadania política com eleições diretas em todos os níveis (que não é pouco), haveria o exercício de uma ação político-republicana, ancorada em princípios éticos. O desafio permanece.



Homens da estirpe de Leonel Brizola, Franco Montoro, Tancredo Neves, Mário Covas, Ulisses Guimarães, Aureliano Chaves, Itamar Franco e José Richa, para citar aqueles de maior visibilidade, compunham um ativo político, moral e ético, que permitia a todos sonhar com um novo fazer político, e esperar pela consolidação de uma Nação remoçada em seus valores e livre da corrupção.

Decorridos quase 30 anos da redemocratização, esse estoque de lideranças quase zerou, e o País não foi capaz de formar um novo estoque político, com o mesmo padrão; ao contrário, salvo algumas honrosas exceções, e poucas conquistas sociais, nosso principal ativo jurídico político é a operação "lava jato". Menos mal.


Quando prospectamos o cenário para 2018, e examinamos as personalidades políticas que se nos apresentam como opções, na disputa pela Presidência da República, (Marina Silva - Geraldo Alckmim - Aécio Neves - José Serra - Ciro Gomes - Lula - e o próprio Michel Temer), logo percebemos que, no “stock”, embora numericamente igual, as qualidades pessoais e políticas não se equivalem, conquanto se possa extrair desse universo outras qualidades, não necessariamente virtuosas.

Em maiores ou menores latitude e longitude, os discursos por eles engendrados são assemelhados, previsíveis, e, de tão atrasados, passam longe dos reais interesses da sociedade. Muitos pertencem à fauna da velha política e sulcam mares jamais d'antes navegados pelo povo, em razão de suas águas serem revoltas e poluídas pelos interesses subalternos, aos quais a maioria deles, historicamente, de modo servil, sempre capitulou, e continua.

São velhos conhecidos de todos, desprovidos de novas ideias capazes de enriquecer o debate em torno dos desafios que o País terá que enfrentar, tanto do ponto de vista endógeno como exógeno. Muitos deles já disputaram eleições para a Presidência da República, e não dizem nada fora da caixa – digo, além do que as pesquisas inferem supostamente ser o que o povo quer ouvir, pois assim orientam os “marqueteiros” (ou seriam marreteiros?)

Nessa perspectiva, o pré-candidato Ciro Gomes revela-se como a exceção, pois é o único, até aqui, a sair do seu quadrado, com uma postura agressiva, língua sem bride (ao meu sentir, um grave erro), bem ao estilo “cabra da peste”, como são os nordestinos.

Admirado e respeitado por essas bandas do País, tem dificuldade em se fazer aceito em parte dos grandes centros urbanos de maior densidade eleitoral, habitado pela elite econômica, de tradição mandonista, e temerosa de que se eleja alguém que possa ameaçar seus privilégios de longa duração. Os da grande mídia, em reconhecendo que Ciro Gomes é quem melhor formula uma ideia para o Brasil, não o tolera, e a serviço do provincianismo elitista, espera o momento certo para dar o bote e tirá-lo da disputa. 

Um homem que se propõe a liderar o País, mais do que a coragem para enfrentar seus adversários, e os desafios da disputa eleitoral, na defesa dos seus ideais e dos valores que balizam sua conduta moral, ao longo da vida pública, dizendo as verdades que a política malsã insiste em negar ao cidadão, pode fazê-lo da maneira mais incisiva e dura, sem abdicar, entretanto, da polidez e do respeito, não apenas para com aqueles aos quais tem de enfrentar, no debate durante as várias fases da disputa, mas especialmente sendo reverente com o cidadão.

Mais do que algum grau de formação intelectual, experiência política, conduta ética e vocação para servir a Nação, impõe-se a temperança necessária para se fazer ouvir e construir o maior ativo que um homem público necessita – a confiança. O pré-candidato Ciro Gomes é o único que, até o momento, se expressa frontalmente contra as medidas do atual governo, bem como avesso ao establishment econômico, que aplaudiu de pé a aprovação da PEC do teto dos gastos, e faz pressão sobre o Congresso pela aprovação da reforma da previdência.

Ao contrário do que acentuam o Presidente Michel Temer e seus ministros, com o apoio incondicional dos setores econômicos, Ciro Gomes  mesmo admitindo ser premente o estabelecimento de uma reforma, para evitar problemas futuros na previdência, nas várias entrevistas e palestras realizadas nos diversos fóruns pelo País, ao estilo "sou do Ceará"  chama o Presidente de mentiroso e afirma que não existe défice na previdência. Quem tem razão?


HOMENAGEM ANIVERSÁRIA - Nataliciante Estimada (RKGC)


NATALICIANTE ESTIMADA
Régis Kennedy Gondim Cruz*



Nesta quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017, estão em festa a Escola de Tempo Integral Filgueiras Lima (antigo Colégio Municipal), a casa do Sr. Cristóvão e Dona Lucila (os pais), o Programa de Mestrado em Linguística da Universidade Estadual do Ceará – onde cursa pós-graduação stricto sensu - e, enfim, todos os lugares por onde circula social, familiar e profissionalmente a minha colega docente, Joana Francisca Lopes dos Santos.


Ocorre de esta professora de Língua Portuguesa estar de aniversário hoje, motivo por que todos os seus amigos, membros familiares e circunstantes se comprazem com o fato de a cumprimentarem efusivamente pela data.

É uma manifestação de apreço por figura tão estimada, em razão de sua urbanidade, do fino trato com as pessoas com quem priva do convívio, em reconhecimento pela sua inteligência e preparo, pela cidadã e correta participação política, no atual momento nacional, militando na demanda de direitos e em defesa da sua categoria profissional, ao lado do marido, o também professor Humberto Santos, para quem, igualmente, dirijo fraternal abraço.

Seus parceiros de docência da nossa ETI Filgueiras Lima almejam sucesso absoluto para a nataliciante, êxito, aliás, registrado normalmente no decurso de sua vida, à medida que expressa atitudes de responsabilidade e desvelo pelo ofício que abraçou, tanto em relação à transferência de saberes, quanto no concernente às profissionais conquistas, em busca das quais peleja constantemente, sem quaisquer influências negativas na recepção dos conhecimentos por si transmitidos em sala de aula.

Incluindo na ideia da composição os meus colegas de carreira, guardo a satisfação de dedicar-lhe o seguinte soneto decassilábico português, expresso com a máxima satisfação.

N A T A L Í C I O

Dois mil e dezessete; vinte e três,
Ditosa festa anota o calendário,
Em fevereiro recaiu o mês
Do seu afortunado aniversário.

Joana Francisca traz no seu fadário
De mestra do idioma português
Um esplêndido acervo multifário
A ufanar tanto a mim quanto a vocês.

Por conseguinte, em dia assim festivo,
Pois natal incomum, celebrativo
De uma docente além do trivial,

Assente sobre admissível lógica,
Numa cumplicidade pedagógica,

Acolha nosso abraço fraternal.


*Régis Kennedy Gondim Cruz 
Docente das redes pública estadual do Ceará e 
municipal de Fortalez

POEMA - Eu e o Desenho (KK)


EU E O DESENHO
Karla Karenina*


De quem será esse olhar?
Eles me evocam uma tristeza conhecida de alguém que não conheço. Ou conheço bem?
Para onde miram esses olhos hipnotizantes?
Talvez não estejam a olhar exatamente para onde penso.
Penso que estão perdidos ou, simplesmente, a ver  alguém ou a ver nada...
Talvez olhem para dentro de si e, perdidos, não se encontrem em si... E se perdem no nada.
A beleza do rosto do desenho perdida no olhar ao nada.
Nada sei sobre ela. E, inconscientemente, dela conheço o íntimo.
Eu que penso não ser íntima da arte do desenho, a desenhei...