sábado, 30 de abril de 2016

CRÔNICA - Não Dá Pra Ser Feliz (HE)



NÃO DÁ PRA SER FELIZ
Humberto Ellery*


Sugiro que leiam este texto ouvindo “Guerreiro Menino”, do inesquecível Gonzaguinha, que fiz adicionar acima. Estou escrevendo enquanto ouço o terrível lamento: “Não dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz...

Um Homem também chora, menina morena / Também deseja colo, palavras amenas /Precisa de carinho, precisa de ternura /Precisa de um abraço da própria candura.

Assistindo à reunião da Comissão do Senado que analisa o pedido de impedimento da presidente da República, vendo a emocionada defesa oral da Professora Janaína Pascoal, percebi que ela é uma Grande Guerreira, mas padece do mesmo mal que eu: ela se deixa dominar pelas emoções com muita facilidade. O grande orador deve despertar, induzir emoções, e até fingi-las, mas nunca, nunca se emocionar de verdade.

Guerreiros são pessoas / Tão fortes, tão frágeis / Guerreiros são meninos / No fundo do peito.

O Senador Dario Berger (PMDB-SC) perguntou-lhe se, caso o País estivesse hoje numa excelente situação econômica, com pleno emprego, pessoas felizes, salários justos, os aviões lotados de pobres, as Universidades cheias de estudantes de todas as classes sociais (ensinando pra valer, fazendo pesquisas importantes e praticando extensão), mesmo assim ela teria apresentado o pedido de Impeachment por causa das “pedaladas”.

É triste ver esse Homem / Guerreiro, menino / Com a barra do seu tempo por sobre seus ombros.

A pergunta do Senador Berger faz todo o sentido, pois é óbvio que a dramática situação que hoje nosso País está vivendo, precipitou a tomada de posição do Congresso e do povo contra esse governo estroina, corrupto, mentiroso e incompetente para derrubá-lo através do Impeachment. O Congresso nacional, a imprensa, as redes sociais ampliaram o grito de “Basta!” do povo, o que não haveria em uma situação de bonança.

Eu vejo que ele berra / Eu vejo que ele sangra / A dor que tem no peito / pois ama e ama.

Acontece, meu caro Senador, que não dá para separar a causa do seu efeito (não existe efeito sem causa). Aqui cabe um esclarecimento: a acusação que os petista fazem de que “pedaladas” não são crimes, e que governos anteriores também “pedalaram”, é mais que uma falácia, é mentira deslavada, pois é crime mesmo, tipificado de forma claríssima na Constituição, e só a Dilma “pedalou”.

Pequenos saldos devedores, de dois a três dias de duração, não configuram empréstimos, não são “pedaladas”, porque não têm a finalidade de obtenção de um financiamento forçado junto aos bancos públicos, mas apenas regular a relação contratual entre o Tesouro e o banco prestador do serviço (como fizeram o FHC e o Lula).

O que a Dilma fez, e os outros não fizeram, foi sistemática e deliberadamente deixar de enviar BILHÕES de Reais a esses bancos, durante vários meses,  e exigir que eles suportassem a obrigação do Tesouro com seus próprios recursos. ISSO É EMPRÉSTIMO. ISSO É ILEGAL. ISSO É CRIME!

Direcionou então esses BILHÕES de Reais para outras finalidades de forte impacto eleitoral, enquanto a Indústria, o Comércio e o setor Serviços, por falta de investimentos e de uma política séria de desenvolvimento econômico, fechavam suas portas, mandando milhões de pais-de-família para a rua da amargura. Já são MAIS DE DEZ MILHÕES DE DESEMPREGADOS, e cada desempregado representa uma família às portas da fome, do desespero.

Um homem se humilha / Se castram seus sonhos / Seu sonho é sua Vida / E VIDA É TRABALHO.

O Dolo, a Má-Fé, a intenção deliberada de iludir, enganar, trair o eleitor, fazer o diabo, está muito clara nas dotações do Fies, que contou com bilhões de Reais em 2013, saltou exponencialmente para mais de 12 bilhões de Reais em 2014 (ano da eleição) e voltou a cair para menos da metade em 2015.

Não se pode esquecer que Técnicos do Tesouro Nacional alertaram para a irregularidade no início da bandalheira e foram devidamente “enquadrados” pelo poderoso chefão, o Secretário do Tesouro Arno Augustin, mentor intelectual do crime, mesmo porque a Presidente não tem QI para entender dessas minudências técnicas, acho até que ela, por pura burrice, se acha inocente. Chego a ter pena.

E sem o seu Trabalho / Um homem não tem Honra / E sem a sua Honra / Se morre, se mata.

Eu fiz meu Curso Superior de graça na UFC (já naquela época eu achava isso um absurdo, uma vez que eu tinha condições financeiras para pagar, mas os esquerdopatas continuam entoando a velha cantilena de “escola pública, GRATUITA, e de qualidade”).

Então, meu pensamento se volta para os estudantes pobres que foram obrigados a interromper seus estudos por causa da verdadeira traição de que foram vítimas pela interrupção do Fies. Mataram seus sonhos? Espero que não, rezo para que resistam, que consigam, de alguma maneira, superar essa dificuldade, que seja passageira. Jamais devemos tirar a Esperança de alguém. Pode ser a única coisa que lhe reste.

Não dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz,
Não dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz...



COMENTÁRIOS:

Difícil mesmo sermos felizes num panorama desses. Por nós mesmos e pelos nossos irmãos carentes. Não dá pra ser feliz...

Altino Farias



Quero registrar o alto padrão literário deste artigo do Ellery, que reúne forma e substância de qualidade.

Rui Martinho Rodrigues




ARTIGO - Sufoco (RV)

SUFOCO
Reginaldo Vasconcelos*


O País pensante suspendeu a respiração nesta última semana. A expectativa com o processo de impeachment de Dilma Rousseff está sufocando de ansiedade as multidões que querem o afastamento dela urgentemente, conforme manifestaram nas ruas, enquanto o medo da derrota está deixando arroxeado o grupo ideológico que a idolatra.

Mas estão absolutamente cianóticos os milhares de militantes de esquerda, que aparelham os órgãos públicos por mais de treze anos, e que se nutrem nas tetas gordas do Governo. Esses estão caindo em depressão cada vez mais profunda, a cada tento marcado pelo movimento “Fora Dilma” – a própria Dilma puxando essa triste procissão.

A comissão de senadores que trabalha para produzir um relatório, admitir a denúncia e abrir a fase decisória do processo, causando o imediato afastamento da Presidente lulupetista do Palácio do Planalto, segue realizando audiências em ritmo frenético, para cumprir o cronograma.

Nessas audiências, meia dúzia de parlamentares da ala governista, como um Exército de Brancaleone, luta com unhas e dentes para enfrentar a grande maioria de opositores, todos muito mais preparados e fluentes, que já declararam seu voto favorável à condenação da Presidente.

E será necessário que se estabeleça apenas a maioria simples – metade mais um – para a vitória de uma das teses confrontadas: Houve ou não crime de responsabilidade? Enfim, a Presidente responde ou não pela nefasta “contabilidade criativa” que o seu governo praticou?

Mas é hercúlea a tarefa dos que nesse embate representam a “Liga da Justiça” – aquela associação de super-heróis criada pela indústria dos quadrinhos e do desenho animado, que visa salvar o mundo e proteger a humanidade de seus vilões e de suas apocalípticas mazelas.

Para começar, esses senadores “do bem” foram jungidos a considerar como “causa de pedir” deste processo única e tão-somente dois itens, no meio de toda a continuidade delitiva e das conexões criminosas que estão demonstrados na denúncia original.

Fazendo uma analogia, é como se depois de uma enorme chacina, configuradas na denúncia materialidade e  autoria, o juiz fosse obrigado por forças estranhas a julgar unicamente se um dos tiros constatados no exame cadavérico, em meio a tantos outros, teria saído mesmo da arma do Réu, e se não teria sido acidental, e se aquele único ferimento teria tido mesmo letalidade, ou se a específica lesão fora ou não fatal, para com base somente nisso condenar ou absolver.       

Então, está visto que, não obstante a superioridade numérica de três para um, e da maior musculatura argumentativa dos antigovernistas que compõem a Comissão do Senado, estes têm que enfrentar a peçonha do Charada, do Pinguim, da Mulher-Gato, do Curinga, do Duende Macabro – gente que joga sujo, que dissimula, que tumultua, que faz reféns, que chantageia.

É notar o que fez o Senador Telmário Mota, que faz parte da Comissão e é contra o impeachment, ao apresentar questionamentos à autora do processo, Dra. Janaína Paschoal, convidada a prestar esclarecimentos sobre os termos da denúncia. 

Depois de ler as perguntas técnicas que sua assessoria produziu – pois pelos erros gramaticais que comete na fala já demonstra as suas limitações redacionais – ele referiu-se de maneira absolutamente impertinente a um determinado cliente da Dra. Janaína – um certo agente público que teria investido institucionalmente contra o Lula em algum momento, e que presentemente estaria respondendo por suposta agressão à esposa (conduta que se atribui a outra mulher da família), sob o patrocínio técnico da referida advogada. Vade Retro!

Ora, Telmário fez assim uma manobra odienta, à altura de sua aparência, cabível ao Curinga, nas suas lutas inglórias contra o Batman.    

Assim é que o grupo político no poder, envolvido até o pescoço em escândalos financeiros, com diversos membros investigados, denunciados, condenados, presos, objetos de irrefutáveis delações de comparsas e de induvidosas interceptações telefônicas legais – e que afinal levou o País à bancarrota – conseguiu restringir seu delito a ser escrutinado a duas simples manobras contábeis ilegais.

Mas como isso é possível, se o povo está contra o Governo em altíssima porcentagem, se a crise econômica e ética é aguda e insofismável, e se a maioria do Parlamento quer o impeachment? Ora, isso é possível porque não há ruptura institucional, o processo segue os trâmites legais  e a chefia de cada um dos três poderes da República ainda está contaminada pelo DNA lulopestista. Isso possibilita tecnicalidades golpistas contra o bom direito, exatamente contra a tese dos que são indevidamente acusados pelos petistas de "dar golpe” no Governo

Senão vejamos: Os presidentes da Câmara e do Senado, que estão na linha de sucessão presidencial, e assim continuarão, além da sua influência na recepção da denúncia, estão envolvidos em crimes relacionados ao grupo demissionário, do qual foram aliados por anos, ainda poupados pela Justiça – todos do mesmo partido político a que pertence o prócer que assumiria o “mandato tampão” em função do impeachment.

Por seu turno, o Presidente do Supremo Tribunal Federal, de quem se devia esperar isenção absoluta, nos padrões da “mulher de César”, foi nomeado por Lula da Silva, com quem sabidamente tinha e mantém relações pessoais – teve encontro pretensamente secreto com a Presidente da República em Portugal – e foi citado, entre outros Ministros do Tribunal, em delações e gravações judiciais de ligações telefônicas trocadas entre bandidos do Governo.


A Nação brasileira assiste assim a uma luta renhida e sangrenta do bem contra o mal, da qual depende o seu futuro – que mesmo na vitória da boa causa será duvidoso  mas que na hipótese inversa continuaria induvidosamente muito mau.  

O adversário é tinhoso, mente, sofisma, joga sujo – uma hidra com cabeças ofídicas das quais algumas redivivas sobrevivem. Então, mesmo contando no Senado com os super-homens do bom-senso, precisamos ainda de proteção mística especial. Então vale orar muito e rogar, como diria Vianney Mesquita, que Deus se apiade de nossas almas!



sexta-feira, 29 de abril de 2016

RESENHA - Presente ao Cônego Sadoc de Araúco (VM)

REGISTO MEMORIAL (1)

PRESENTE AO CÔNEGO
SADOC DE ARAÚJO(2)
Vianney Mesquita*


Um pouco de filosofia nos afasta da religião, ao passo que muita filosofia a ela nos reconduz. (Antoine RIVAROL – escritor polêmico francês – Y26.06.1753 – V11.04.1801).


Cônego é vocábulo oriundo do Latim canonicu, representativo do sacerdote nomeado por autoridades do clero elevado para constituir, junto a outros pares, o cabido (Latim capitulu), que é o colegiado (ou corporação) ao qual são cometidas tarefas religiosas numa catedral ou sé – sede de uma jurisdição episcopal, arquiepiscopal ou patriarcal da Igreja Católica Apostólica Romana.

Para o exercício desta dignidade, impende necessário o eclesiástico ser condutor de qualidades muito particulares, além daquelas próprias do sacerdote ordenado, vigário, que exerça serviço religioso de coadjutoria ou trabalho ordinário qualquer de organização nas unidades eclesiásticas.

Há muitos anos, o cônego Francisco Sadoc de Araújo é dignitário desse título, tendo vivido com a máxima intensidade seus misteres sacerdotais, sem prejuízo dos ofícios de cidadão secular – por exemplo, como imortal titular da Academia Cearense de Letras.

Em tais atividades, ele se desdobra para deixar à posteridade vasta e substanciosa produção no campo do saber, feito verdadeiro polígrafo, tão bem configurado pelos que lhe traçaram o perfil na seleção de artigos reunidos no livro Cônego Sadoc de Araújo – um Homem Integral.

É tão grande a estima, de tal dimensão a benquerença, que foi imediata a resposta ao pedido do Professor José Teodoro Soares para que as pessoas manifestassem opiniões acerca da sua vida e a respeito da obra material e espiritual por ele edificada.

Eis que uma chuva de artigos regou a boa intenção do Reitor (JTS), que regala o público com esta edição especial, na data em que, por decisão dos órgãos colegiados superiores da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, é entregue à comunidade acadêmica, na Praça dos Fundadores, Campus da Betânia, a herma do Cônego Sadoc de Araújo, fundador da mencionada Academia.

Reportando-me à terminologia de Walter Benjamin, no tempo em que grassa a reprodutibilidade técnica, o busto é a efígie, o simulacru imanotranscendente de um homem que vive em abundância, não se pertence e, evangelicamente, veio à Terra somente para servir, como sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedec, de modo que sua brônzea representação – juntamente à produção fecunda que a cada dia cresce para os pósteros – haverá de romper o tempo e se acumular como fausto da História.

Cônego Sadoc de Araújo – um Homem Integral é mais um capítulo da memória da UVA, de Sobral e do Ceará como um todo, na oportunidade em que se protesta reconhecimento, veneração e respeito a esta pessoa plural em todos os aspectos.

Sobral, 21 de maio de 2000 (Há 16 anos).


1 De caso pensado, empreguei a grafia registo, em Português, forma variante e correta de registro, esta mais usada no Brasil.


2 Texto ligeiramente modificado das guarnições do livro comentado,  publicado em MESQUITA, Vianney. Fermento na Massa do Texto – Apreciações. Sobral: Edições UVA, 2001.


quarta-feira, 27 de abril de 2016

NOTA LITERÁRIA - Obra Nova de Geraldo Jesuino

OBRA NOVA DE
GERALDO JESUINO

O acadêmico acelejano Geraldo Jesuino da Costa acaba de lançar, pela Impressora do Ceará, IMPRECE Editorial, um primoroso livro de contos, denominado “Brumas”, belo no continente e no conteúdo, e tudo nele é autoral: a capa, os textos, as gravuras. Três dos contos mereceram o seguinte comentário de Cleuberson Rios, que prefacia a obra.



Eu gostaria de destacar o aspecto jesuiniano destes três contos: ‘Sementes’, ‘Tango’ e ‘Aurora’. Digo jesuiniano porque para mim estes três são os que menos se parecem com qualquer coisa que eu já tenha lido em minha vida, ou seja, eu não consigo encontrar nada nas minhas gavetas mnemônicas que sirva de comparação. Claro que não encontrei nada, pois com estes três contos eu não devo procurar em epifanias vividas, senão preencher as gavetas com mais duas delas. Quais?

Para mim, ‘Sementes’ e ‘Tango’ falam de uma paternidade que eu não sei muito bem explicar. Versam sobre uma certa sabedoria de vida, da descoberta de respostas para certos enigmas, de quem já aprendeu algo e de que este algo deve ser transmitido de pai para filho, tal como a árvore para os seus descendentes as folhas, os frutos, o caule, as flores e a raiz através do silêncio dormente das sementes. Claro que não faço aqui uma leitura psicológica do seu escrito.

Parece que você diz um pouco de seu pai nestes dois contos de maturidade. Um filho falando do que aprendeu com o pai. Uma fala austera e agradecida, de uma altivez surpreendente.

E o terceiro, o ‘Aurora’, que também faz parte desta leva jesuiniana, talvez seja o mais jesuiniano, tendo em vista que me parece que é o homem Geraldo Jesuino quem agora nos fala”.  

REPORTAGEM - E Arquem com as Consequências (FD)


“...E ARQUEM COM AS CONSEQUÊNCIAS!”
Fernando Dantas*


Não se pode julgar o todo pelo o unitário. Mas a soma dos unitários faz o todo.

No último feriado de Tiradentes foi registrado um fato que envolveu o Secretário de Desenvolvimento Agrário do Ceará, Dedé Teixeira, deputado estadual licenciado pelo PT.

Tudo se deu em uma blitz da PRE, na CE 216, próximo a Icapuí, município de onde foi prefeito, quando foi abordado orientando que seu motorista não fizesse o teste do bafômetro.

Conheço pessoalmente Dedé Teixeira de longa data, pessoa que sempre nos tratou com cordialidade.   No vídeo gravado pelos policiais percebe-se que Dedé Teixeira estava alcoolizado.

O fato do Secretário de Estado ter ingerido bebida alcoólica em seu momento de lazer tem pouca relevância, pois não sejamos mesquinhos com quem toma “umas” em um feriado ou fim de semana. Mas o estado de embriaguês constatado no vídeo não justifica o que foi dito pelo Secretário de Estado, e que foi devidamente gravado.

Dedé Teixeira não estava dirigindo. Seu amigo e motorista era quem conduzia o veículo. Este, orientado pelos gritos do Secretário, se negou a fazer o exame do bafômetro, o que lhe é garantido por Lei. Entretanto, as atitudes e falas de um Secretário do Estado do Ceará gravadas no vídeo merecem profunda reflexão, principalmente por se tratar de um homem público; ex-prefeito, deputado licenciado  pelo Partido dos Trabalhadores, e que atualmente integra o staff do governo no primeiro escalão. Do vídeo se observam algumas frases, de onde podemos tirar algumas reflexões.

DEDÉ TEIXEIRA: “Não tem nenhum marginal aqui não”. Realmente não tinha nobre secretário. Mas a Lei de Trânsito é para todos. Pobres e ricos; pretos e brancos, petistas e opositores, cidadãos comuns e parlamentares, marginais e autoridades públicas. Eu mesmo já fui parado na blitz do bafômetro, e deu positivo. E não fiquei esperneando na hora pelo ocorrido.

DEDÉ TEIXEIRA: “Itamar é meu amigo”. Mas uma vez lembramos que a Lei de Trânsito é para todos. E em nenhum estatuto do ordenamento jurídico do Brasil existe previsão normativa de salvo conduto e privilégio para que amigos de autoridades escapem da Lei em casos de infrações de trânsito, contravenções ou até mesmo crimes.

DEDÉ TEIXEIRA: “Não faça!” Esta ordem ao amigo para que não faça o exame do bafômetro demonstra um exemplo que não deveria ser dado por uma autoridade estatal. Detentores de cargos, funções públicas e mandatos eletivos de qualquer partido devem dar o exemplo maior a todos. O nosso Direito Administrativo prevê inclusive que o comportamento do agente público deve ser condizente com a função que ocupa, mesmo nos momentos de lazer, quando não se está no pleno exercício da mesma. No ocorrido talvez fosse menos inconveniente ter ficado pelo menos em silêncio.

AMIGO ITAMAR: “Eu acho que uma autoridade do município, chamado Dedé Teixeira... Eu pedi a vocês...”. Mais uma vez observamos a tentativa de se utilizar de um salvo conduto para o descumprimento de normas legais, por estar acompanhado por uma autoridade. E, no caso, não uma autoridade municipal, mas estadual. Isto jamais poderá ajudar a se livrar da fiscalização. Uma tentativa em vão de querer intimidar as autoridades policiais, que, diga-se de passagem, agiram de forma educada na abordagem.

DEDÉ TEIXEIRA: “Façam o que quiserem. Podem fazer. E arquem com as consequências”. Este trecho do vídeo demonstra uma atitude lamentável na fala do Secretário, demonstrando um autoritarismo ameaçador de uma autoridade em relação aos policiais. O mesmo autoritarismo que eu já vi diversas vezes ser combatido pelos correligionários petistas do Secretário Dedé Teixeira. Uma autoridade de Estado não pode fazer ameaças, explícitas ou implícitas, aos policiais militares que estavam no estrito cumprimento do dever legal.  Secretário, que consequências seriam estas que poderiam os policiais  se deparar? Eu imagino...

DEDÉ TEIXEIRA; “Estão com preconceito”.  Distinto Secretário Dedé Teixeira. Preconceito em relação a que? A quem deseja descumprir a Lei? Preconceito contra quem deseja incentivar a prevaricação? Ou preconceito em relação a autoridades que dão ordens sem legitimidade? Se os preconceitos forem estes, eu também sou preconceituoso, e muito. Principalmente quando se busca usar do cargo ocupado para ajudar amigos a escapar da legislação pátria. Isto é, em minha visão, tentar dar eficácia à velha "Lei de Gerson", ainda vigente, que busca legitimar o jeitinho brasileiro.

Não se pode julgar o todo pelo o unitário. Mas a soma dos unitários faz o todo. Não podemos dizer que todos os secretários de estado agem assim. Mas a soma de atos como estes acima explícitos maculam a imagem de todos os demais.

De parabéns estão os Policiais Rodoviários Estaduais, que agiram dentro do estrito cumprimento do dever legal. Mais uma vez ressalto que não se pode julgar o todo pelo o unitário. Mas a soma dos unitários faz o todo.  Que este exemplo se espalhe a cada policial militar do Ceará, e que tenhamos um todo que gere orgulho ao povo do Ceará.


terça-feira, 26 de abril de 2016

APRECIAÇÃO LITERÁRIA - Causus Picarescos (VM)



CAUSOS PICARESCOS*
Vianney Mesquita**
                                                      

Prefiro saber apreciar o que não posso ter a ter o que não posso apreciar.

(Orison Sweet MARDEN. Escritor, médico e empresário estadunidense. Y1850 - V1924).



Quem ainda não conhecia o Tom Soares comprova, com a edição deste livro – É Sempre uma Festa – ser ele um excecional narrador de causos. Revela-se deveras surpreendente o fato de o autor lograr facilmente a transferência, para o papel, com a mesma graça e igual tom mordaz, das lérias narradas por via da oralidade, ao destacar o veio artístico, a gaiatice e a molecagem cearenses, capazes até de vaiar o sol, quando este apareceu depois de braba invernada, na Praça do Ferreira, em Fortaleza.



Leva muito jeito o Tom para o mister de contar esses gimmics pracianos e beiradeiros, no exagero dos modos, valorização do conteúdo e atavio com sua estória moleque imprimidos aos mais desapercebidos detalhes na manifestação dos seus protagonistas.

O jeito saboroso de contar, ao que se alia o aspecto coloquial da fala, harmonizando com a correção da linguagem, confere ao leitor a certeza de que este toma contato com um escritor maduro, prontificado devidamente para empreender voos mais alçados na seara das letras em seus diversificados gêneros de ficção.

A estratégia da surpresa, no final de cada uma das suas petites histoires, traz a faculdade de propiciar, a todo período, o interesse crescente pela leitura, sem revelar o desfecho do enredo, como sucede com narradores de menor fortuna. De tal modo, o derradeiro parágrafo é constantemente o remate da estória, ora em definitivo, às vezes em reticências, cometendo a quem lê o desenlace da trama.

Curtos na forma, expressivos e diretos nas ideias, os causos enfeixados neste volume constituem amostras do enorme universo de nossas traquinadas, feliz e inteligentemente preparadas para os momentos de ócio e descanso, refrigério para a fadiga do trabalho, muitas vezes maçante, a que estamos submetidos, quando somos forçados, constantemente, às adaptações das regras globalizantes.

O certo é que as circunstâncias esdrúxulas, de ordinário, nos trazem ensinamentos e se prestam como matéria-prima de qualidade para acumulação do nosso já riquíssimo anedotário, em particular, quando há quem o registre em memória mais consistente, conforme é o caso do livro feito veículo.

Chamamos aqui a atenção para o fato de que a cearensidade nos conduz a produzir, com supedâneo nesses argumentos – conforme essas estórias de Tom Soares – novas versões enriquecidas e ornadas com os adereços de épocas, locais e pessoas. Daí por que, com arrimo somente na transmissão oral, não se tem a origem exata de um fato jocoso, uma estória, uma léria, uma piada, pois sempre aberta ao campo prolífico das adaptações.

É Sempre uma Festa colige uma composição bem urdida em matrizes e teores, feita de lorotas, burlas e deleitosos chistes, de estudo para tirar do sério muita alma empedernida, muito coração indiferente, dando ensejo a gostosas gargalhadas, com vistas a desopilar vísceras em mau funcionamento.


*Texto condensado do livro Fermento na Massa do Texto (Apreciações). Sobral: Edições UVA, 2001, pp. 51-2).


segunda-feira, 25 de abril de 2016

ARTIGO - O Foco, a Ênfase e a Repetição (RMR)

O FOCO, A ÊNFASE E A REPETIÇÃO
Rui Martinho Rodrigues*



Os limites da percepção sofrem os efeitos do confinamento. Quem só ouve os seus pares perde contato com a realidade. Foi o que aconteceu durante a luta armada, fato conhecido como “paranoia dos aparelhos”. Tudo que discordasse do discurso dos companheiros era mentira. A avaliação das condições objetivas da luta resultou estupidamente errada.

O conhecimento pode ser obstáculo ao conhecimento (Gaston Bachelard); ou cegueira dos paradigmas (Thomas Kuhn). A catequese nas escolas e universidades, somada à doutrinação dos partidos e meios de comunicação levou à cegueira aludida, obstáculo ao conhecimento.

A desinformação também se faz presente. Foco, ênfase e repetição miram no “bandido” Eduardo Cunha, tão “bandido” quanto Sarney, Jáder Barbalho e Maluf. A reabilitação pode vir, conforme a conveniência. Qual a importância do personagem? Liderou ou presidiu o próprio partido? Não. Governou Estado, foi senador, prefeito de grande cidade ou ministro? Não. O presidente da Câmara tem autoridade sobre os deputados? Não. É apenas um deputado do “baixo clero”. Não tem a importância que se lhe atribui. O propósito é colocá-lo no foco dos acontecimentos para desviar a atenção dos escândalos que permeiam o Poder Executivo, que é de fato poderoso e por isso é mais responsável; e deslegitimar o impeachment.

Como chegou a presidir a Casa e sob a sua presidência a Câmara deixou de ser servil ao Executivo? Ele foi eleito presidente da Câmara quando o governo tentava destruir o PMDB, estimulando a criação de partidos às expensas da citada agremiação. Escândalos e impopularidade davam o tom da política. O PMDB era chamado a apoiar as políticas do governo, mas não a participar da sua formulação. A presidente tratava grosseiramente os parlamentares. Cunha não se fez líder. O governo praticamente o nomeou para tal função. Ele apenas mostrou disposição para enfrentar o rolo compressor do Planalto; conhece o Regimento Interno da Câmara, e sabe dialogar com os pares.

Alega-se que ele é investigado em grande número de inquéritos e até já foi denunciado, com denúncia aceita pelo STF. Foco, ênfase e repetição se fazem ao abrigo do esquecimento da garantia constitucional de presunção de inocência. Enquanto ele não for condenado presume-se: é inocente. Não se pode restringir direitos sem condenação prévia. Ele pode sim, presidir a Câmara. As “manobras” do Cunha são procedimentos regimentais de defesa semelhantes aos que a Presidente da República usa para se defender do impeachment.

O senador Renan Calheiros é igualmente investigado em numerosos inquéritos. Não foi denunciado ainda. O Procurador Geral da República, por coincidência, pediu busca e apreensão contra cinquenta e três deputados somente da ala oposicionista do PMDB; por coincidência só denunciou o oposicionista Eduardo Cunha, mas não denunciou o governista Renan Calheiros. Não existe um clamor contra o presidente do Senado, que não é apontado como o “bandido Renan”, embora já tenha passado por isso em outro momento. Paixão, conhecimento derivado de catequese e interesse em desinformar estão na raiz de tudo isso.

O presidente da Câmara não manda nos deputados, é apenas um entre 513 votos. Suas “manobras” são formalmente válidas e foram legitimadas pelo STF. Foco, ênfase e repetição representam táticas inocentes ou desonestas de luta política.

Menti, menti que alguma coisa há de ficar.


CRÔNICA - Bem que Ele Poderia (AF)

BEM QUE ELE PODERIA...
Altino Farias*


Bem que ele poderia ainda estar por aqui com suas brincadeiras, tiradas geniais e ideias fantásticas.

Será que ele enfim encontraria o tempo, já que sempre viveu anos e anos à frente dele, ou teria continuado caminhando de forma que estivaria muito além dos dias de hoje?

No início dos anos 70 falava na importância do lazer, quando lazer era sinônimo de fazer nada; em criar um parque urbano que compreenderia uma área das dunas do Mucuripe até o Cocó, quando a especulação imobiliária falava (falava?) mais alto que um bom plano para a cidade. Assuntos impensáveis á época.

Com um pé no universo outro no “universo Brasil” (sim, o Brasil é um universo), celebrava com entusiasmo de um colegial Chaplin e Oscarito, Beethoven e Vila Lobos, Tolstoi e Lobato. 

Tinha a certeza da grandeza da família, da importância fundamental da educação e da ética como essência para uma vida social e profissional saudável.

Visonário, dentro de sua área profissional criou novos conceitos e participou ativa e pioneiramente da formação de entidades de interesse de sua classe quando eram, ele e os outros, apenas oito em todo o Ceará.

É... Bem que ele poderia ainda estar por aqui. Se não mais atuante como naqueles dias devido à ação de seu próprio tempo, pelo menos observando o mundo e passando seu pensamento adiante. Por certo serviria a alguém, quem quer que fosse esse alguém.

Poderia estar, mas se foi cedo, aos quarente sete. Como estava muito à frente, mesmo em tempo exíguo deixou legado denso, sólido, que o próprio tempo levará outros tantos para apagar.

Pedro Altino Farias, em 23/04/2016

A José Armando Farias, arquiteto e professor

(Y 23-04-1927 / V16-07-1974)


sábado, 23 de abril de 2016

CRÔNICA - Golpe Cucaracha (HE)

GOLPE CUCARACHA
Humberto Ellery*


Resolvi assumir que o Impeachment em andamento no Congresso Nacional, devidamente balizado em seu rito processual pela nossa Suprema Corte, cumprindo rigorosamente os preceitos da nossa Constituição Federal, embasado em denúncia legitimamente exarada por três grandes juristas, ainda assim é mesmo um “golpe”.

Tudo fundamentado em provas concretas, cabais e insofismáveis de crimes de responsabilidade cometidos descaradamente pela Presidente da República, e contando com o apoio explícito e determinado da grande maioria da população espoliada, mas, na realidade, trata-se mesmo de um  “golpe”.

Por que mudo de opinião tão abruptamente? Por uma razão muito simples: a Dilma afirmou ontem (22.04.2016) em Nova York que vai recorrer à cúpula do Mercosul, invocando a chamada “cláusula democrática” daquela organização, que data de 2011 (la cláusula, por supuesto).

A tal cláusula impõe sanções severas aos países membros que assumam qualquer posição antidemocrática, aí incluído o golpe de Estado. E quais as penalidades? É aí que reside meu novo posicionamento em relação ao Impeachment da Dilma.

Vamos às sanções previstas pela “cláusula democrática”: Primeira, expulsão do país do Bloco Econômico (?) Mercosul; segunda, fechamento total das fronteiras terrestres, tráfego aéreo e marítimo; e terceira, corte nas comunicações e no fornecimento de energia, serviços e  abastecimento.


Ora, eu sonho com essas providências desde o dia em que percebi o que é esse tal Mercosul, que só serviu até agora, nas mãos dos petistas, como uma irresistível força de atraso ao nosso comércio internacional!

Já pensaram? Não termos mais nossas fronteiras escancaradas ao tráfico de drogas, armas, contrabando... (coisas em geral permitidas, e até incentivadas, por essa quadrilha do PT?).

Já pensaram? Não termos mais que manter o comércio de energia altamente deficitário que temos com o Paraguai, via Itaipu?

E a compra superfaturada de gás da Bolívia? Se o cocaleiro Evo Morales não nos vender seu gás, vai vender a quem? E a que preço? E as nossa refinarias, que ele nos roubou, em conluio com Lula da Silva?

E os serviços prestados pelos “mais médicos” cubanos, alimentando as burras dos irmãos Castro com verbas do nosso erário? Tudo isso vai acabar se o Brasil for sancionado! 

Parece um sonho. Por isso, para que a cúpula do Mercosul nos ouça, conclamo todos a bradar: VAMOS DAR UM GOLPE!!



COMENTÁRIOS:

Dilma Rousseff teve a ideia brilhante de aparecer na ONU para tratar do clima global, aproveitando para denunciar ao mundo a sua tese farsesca de que está sofrendo um “golpe”.

Certamente o pobre do Eduardo Cardoso (tenho muita pena dele!) aconselhou que ela não fizesse isso, porque ele sabe que tal não é verdade, e que no concerto das nações ela seria desmascarada.

Imagino que com apoio de petistas incendiários, como o Ministro Jaques Wagner (que aconselhou Lula a “sair na porrada” com o Oficial de Justiça Federal), ela tenha passado um pito no advogado, e insistido, entre palavrões, que ia mesmo tocar fogo do circo.

Mas então entraram em cena três “bombeiros” do Supremo Tribunal Federal e jogaram água sobre as chamas da insensatez presidencial – e o que eles quiseram não foi meramente dar opinião à Dilma, mas lhe fazer um alerta grave, quase uma ameaça velada. 

Talvez ela tenha praguejado, parafraseado Lula, chamando os Ministros de covardes (os mais bravos, Lewandowski e Marco Aurélio Mello, ficaram na moita), mas Dilma se lembrou de que brigar com o STF, tendo o rabo preso em delitos federais, seria um péssimo negócio.

Então ela foi a Nova York, mas ficou bem quietinha ao microfone. Leu o que escreveram para ela falar sobre aquecimento global, e referiu à crise brasileira, que é real e foi provocada por ela. Mas nada de falar em golpe. Tomara que vá mesmo ao Mercosul e cheque por lá gritando que está sendo golpeada.

Reginaldo Vasconcelos



Caro Humberto,

Excelente raciocínio. Diante do exposto, estou assumindo o caráter golpista de nossas instituições, que parecem, numa grande e inverossímil articulação, ter resolvido golpear de morte o atual (des)governo. 

Golpe já!

Altino Farias