TEXTO-RESPOSTA AO PROJETO PALMÁCIA CONTADA EM GÊNEROS
Vianney Mesquita*
Seja escravo do saber, caso pretenda ser realmente livre. (Caio Lucílio, satirista latino.
180-102 a. C).
Recebi com incontido
agrado, enviado pela Professora Risoleta Muniz, do Núcleo de Trabalho, Pesquisa
e Práticas Sociais, pertencente à Escola Maria Amélia Perdigão Sampaio, de
Palmácia-CE, dois questionários cujo conteúdo diz respeito ao projeto que
titula este artigo, com vistas a proceder à recuperação da literatura
palmaciana, honrando-me e enaltecendo na qualidade de uma das pessoas elegidas
pelo Núcleo para ser partícipe do estudo.
Como a indagação
inaugural se reporta apenas a um livro, e se houve influência na decisão de
publicá-lo, a resposta fica, em parte, prejudicada, haja vista que já foram por
mim publicados 16 (dezesseis) volumes.
Com relação à
influência, esta foi recebida desde a infância, da parte de meus pais – Vicente
Pinto de Mesquita e Maria de Lourdes Campos de Mesquita. Na sequência, o
incentivo chegou procedente da primeira professora, a que me alfabetizou – Dona
Eunice Leite Carvalho – e, mais à frente, das outras excepcionais docentes,
Dona Maria Giselda Coelho Teixeira e Dona Maria de Lourdes Campos Araújo.
Depois, já no antigo Ginasial, essa emulação cresceu, com a leitura dos livros
infanto-juvenis de José Bento Monteiro Lobato, bem como da coleção Tesouro Juventude, obra de procedência
estrangeira (inglesa, salvo lapso de memória), transferida para o Português e
editada no Brasil, desde a década de 1930, por W.M. Jackson, São Paulo. Daí por
diante, mais leituras de trabalhos de qualidade me conduziram à frente.
À segunda indagação –
para quem escrevi – respondo haver sido para os alunos da UFC, áreas de
Comunicação, Ciência da Informação e Administração de Empresas, nos cursos onde
lecionava, ou seja, eram livros didáticos, de início. Depois passei para o
terreno da crítica literária, incluindo um livro com foco na religião católica
(...E o Verbo se fez Carne).
Acerca do caminho de
escrita, revisão e impressão – terceira pergunta – experimentei a felicidade de
contar com uma editora bem organizada, nos moldes de então, a Imprensa
Universitária da Universidade Federal do Ceará – Edições UFC, instituída pelo
primeiro reitor e fundador da Instituição, Professor Antônio Martins Filho, bem
assim com as Edições Uva (Sobral) – isto para os livros, porque, nas revistas,
além dessas editoras, foram meus trabalhos publicados em várias delas em
universidades de fora do Ceará. Meu livro de estreia (1984), Sobre Livros – Aspectos da Editoração
Acadêmica, recebeu a chancela do MEC, em Brasília.
Mensagem de Incentivo à Leitura
O mencionado e
extraordinário escritor Monteiro Lobato disse: quem mal lê mal
fala, mal ouve, mal vê. Esta é uma verdade indiscutível! De tal modo, quanto mais lemos, tanto mais
nos instruímos, e quanto mais meditamos, mais adquirimos condições de afirmar
que nada sabemos – expressou assim, Voltaire – tal é a necessidade de
conhecermos, sem, jamais, aportar ao conhecimento completo, haja vista sua
vastidão. Sócrates exprimiu: Só sei que
nada sei.
Segundo Questionário
Vivi na plenitude
palmaciana até os 14 anos, quando saímos para Fortaleza, de nossa segunda casa
– Av. Francisco de Queiroz Lima número 11 (Vila Campos), de maneira que meus
pensamentos, como até hoje, sempre radicaram na Cidade e, sem nenhuma dúvida,
esta e suas características concorreram para a produção dos meus livros, muito
embora eu não haja escrito nenhum trabalho de ficção (romance, conto etc) –
apenas ensaios, críticas e livros didáticos.
Informo que é um
palmaciano da gema o patrono na cadeira ocupada por mim na Academia Cearense de
Literatura e Jornalismo (Non male sedet
qui bonis adhaeret)(**) – Professor José Rebouças Macambira. Eu próprio o
escolhi, e tive a ventura de privar da sua presença na qualidade de seu colega
na Academia Cearense da Língua Portuguesa.
Eis que me perquiriram
se em algum momento pensei em desistir de produzir literatura. Exprimo que não,
pois sempre fui apoiado no que procurei, não havendo encontrado nenhum óbice
considerável – todos eles foram vencidos e ultrapassados - de sorte a lograr uma
produção, desde que comecei em livros (1984), ou seja, em 30 anos, que perfaz
16 edições, mais de um a cada dois anos, sem levar em conta trabalhos em
revistas científicas e literárias. Assim, só encontrei apoio e nenhum empecilho
considerável.
Indagam, também, os
pesquisadores de Palmácia – da Escola Professora Maria Amélia Perdigão Sampaio
– se os escritos de minha colheita tiveram reconhecimento, ao que respondo
positivamente, pois todos – conquanto sejam pequenas as tiragens – estão
esgotados.
No que concerne ao meu
Município incentivar os seus jovens a terem interesse pela leitura na Cidade,
não sei responder, pois não conheço em profundidade o estado da arte da sua
educação e cultura, porém, entendo que, se não for o caso, o tempo é este,
quando há alguém integrado, interessado, disposto e determinado a favorecer a
Cidade com um projeto de tanta significação, como é este encabeçado pela minha
conterrânea, Professora Risoleta Muniz.
Procuram saber, ainda,
os pesquisadores conterrâneos, se pretendo editar obra exaltando Palmácia. Digo
que, há algum tempo, havia pensado, juntamente com outro palmaciano, o
Professor da UFC, Francisco Antônio Guimarães – homem de muito prestígio, presidente da
Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura da UFC – porém, por força de
circunstâncias de trabalho, o assunto ficou em banho-maria, não significando
isto dizer que não possamos retornar ao assunto.
Reportando-me a outra
pergunta, ao revisitar a reflexão de Lobato, há pouco reproduzida, expresso o
fato, já referido no primeiro questionário, de que o bom leitor coincide com o
bom falante e se harmoniza ao escritor de qualidade.
Concordo, por fim, com
a ideia de que a boa leitura enriquece e abre possibilidades para o
conhecimento de outras coisas da vida em todos os seus quadrantes, não somente
na Literatura e nas Artes em geral, pois, também, serve de lenimento para as
“dores” do espírito e os padeceres da mente, refrigerando o calor do pensamento
equivocado acerca dos problemas de cada pessoa, concedendo-lhe a oportunidade
de indicar rumos mais bem direcionados e consentâneos em relação ao que é
correto.
Em remate,
perguntam-me se a Literatura é bem trabalhada na escola. Decerto, deveria ser
em todos os ambientes escolares, no entanto, na maioria das escolas dos mais de
cinco mil municípios do País, tal não acontece, por motivo diverso que me não
cabe comentar.
Basta somente,
contudo, divisar o estado de coisas no Brasil para enxergar esse status quo.
Palmácia, entretanto, ao deslanchar esse projeto,
certamente, vai adentrar o rol do universo de escolas que conferem valor e
divisam na atividade literária uma das trilhas para a consecução do
conhecimento, fato realmente auspicioso para a nossa terra, o Ceará e o Brasil,
cada vez mais cheio de contrastes, a despeito do seu considerável momento
desenvolvimentista, malgrado os altos-e-baixos.
A corrida, espero,
será vencida pelo mais forte, configurado, incontroversamente, no SABER.
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa
Acadêmico Emérito-titular da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo
Escritor e Jornalista
(**) Quem à boa árvore se chega boa sombra o
cobre.