sexta-feira, 29 de agosto de 2014

POEMAS (VM)

LÍVIA
Vianney Mesquita
(Em 7 de julho de 2000)


Abriu os anos Oitenta
Seu estádio pueril.
Passou a era Noventa
No decurso juvenil
E os anos dois mil adentra
Para as hostes do Brasil.

Hábil, destra, experiente,
Bem viver é sua dita,
Fértil de corpo e de mente,
A sabedoria imita,
Seja tudo reverente
A Lívia Lima Mesquita.

De julho, quase o início
– Data sete exatamente –
Dia de seu natalício
Que a vida louva, contente,
É próprio do nosso ofício
Conceder-lhe este presente.

Desmesurada alegria
Se propaga à sua claque;
Porém, nesta alegoria,
Ao estilo de Bilac,
Deus conserve-a, todo dia,
Bem distante de Balzac.

Nestas sextilhas que faço
Sobre seu itinerário
Está bem latente o laço
Da família o ideário.
Queira aceitar nosso abraço
De feliz aniversário.

 A Professora doutora Lívia Lima Mesquita
é docente da Cultura Italiana 
da Universidade Federal do Ceará.
(Y07 de julho de 1980)





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OTIMISTA
Vianney Mesquita*

Não cabe em mim ventura tão imensa
De privar do milagre da existência,
Dádiva de Deus, fortuna densa,
Sem explicação plausível na Ciência.

Desfruto meu viver na plenitude,
Ao desenhar castelos, fazer planos,
Converto a senescência em juventude...
Decerto, viverei mais de cem anos.

E assim, descortinando a humana essência,
Bem fundo guardo em minha consciência
O sempre me haver bem com minha gente.

Quando Ele me tirar a vida, então,
Arrepender-se-á da decisão
E acederá que eu viva novamente.

*Vianney Mesquita 
 Docente da UFC 
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa  
Acadêmico Emérito-titular da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo 
Escritor e Jornalista

ARTIGO (PMA)

DEUSES DE ARAQUE
Paulo Maria de Aragão*
                    
A propaganda política é capaz de transformar governantes em semideuses, quiçá em deuses. Por essa e outras, nos tempos de Saddam Hussein, a televisão iraquiana anunciava que iria mostrá-lo na Lua, à qual chegaria em nome de Alá. A difusão da notícia, por mais inventiva que parecesse, levou ao delírio inúmeros iraquianos. Na data hipotética da aparição, ficaram de olhos atentos, na certeza de ver seu idolatrado presidente destronando São Jorge. O insólito episódio demonstra como o inculto é útil aos manipuladores do poder.

Igualmente, na Argentina, país de alta escolaridade, Juán Perón mistificou e mesmerizou argentinos, feriu a constituição, fazendo prevalecer a sua vontade. O dia escolar se iniciava com um cântico em seu louvor, e parte do tempo reservava-se ao estudo de sua vida. Ao fim de oito anos, um milhão de jovens argentinos não discriminavam entre Deus e o caudilho; principiava a divinização de Perón. Evita, a bela ajudante, deu o tom: “Só há um Perón... Ele é um deus para nós... Nosso sol, nosso ar, nossa vida”. Um de seus ministros o equiparou a Cristo, Maomé e Buda como “o fundador de uma grande doutrina religiosa”.

A máquina publicitária difundia notícias do governo, discursos e cobria a nação, diariamente, com propaganda para realçar a prosperidade e o progresso de “el pueblo”. Ao mesmo tempo, empreendia-se uma campanha para canonizar Evita. Em outubro de 1951, ela foi apresentada a uma multidão peronista como “Nossa Senhora da Esperança”, e o próprio Perón proclamou um novo feriado: o “Dia de Santa Evita”. Após sua morte em 1952, a neurose deliberada se ampliou: um porta-voz, falando da sacada do palácio, dirigiu-se a ela como “Mãe nossa que estais no Céu”.

No contexto nacional, semelhante situação é vivenciada por Lula e sua discípula. Não se lhe negue a popularidade e o poder de persuasão, sabe-se que o antigo presidente é um exímio comunicador de massas, nem se lhe retirem os méritos, mas é excessivo chamá-lo de maior gênio da política nacional em todos os tempos.

Com efeito, parte da mística que envolve o antigo presidente advém de milionárias campanhas publicitárias. Foi noticiado por Giambiagi e Schwartsman, em sua recente obra “Complacência”, um fato curioso e pouco conhecido segundo o qual o programa bolsa-família teve sua origem no governo de FHC.

À época, o avô do programa (PBF) foi batizado com o impalatável nome de “IDH-14”, o qual, por razões óbvias, nunca chegou a decolar junto à opinião pública. Algum gênio do marketing, por certo, aconselhou o antigo presidente a fazer o rebatismo.
Na esteira, seguindo as lições de seu mestre, nossa atual presidente, no ano de 2013, despendeu a fábula de R$ 2,3 bilhões em publicidade, batendo o recorde de seu antecessor que atingiu a cifra de R$ 2,2 bilhões no exercício de 2009 (Folha de São Paulo 16.04.14).

Não se deseja aqui desabonar os avanços sociais experimentados nos últimos anos, mas ilustrar como o uso da propaganda pode fazer verdadeiros gols de placa. Daí é preciso muito cuidado na hora do voto: gato é diferente de lebre. Sabe-se da existência de hábeis comerciantes que são capazes de vender geladeiras para esquimós.


(*) Paulo Maria de Aragão 
Advogado e professor 
Membro do Conselho Estadual da OAB-CE
Titular da Cadeira nº 37 da ACLJ

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

ARTIGO (RMR)

A ERA DAS MANIFESTAÇÕES
Rui Martinho Rodrigues*

Eric Hobsbawm escreveu Era dos Extremos, Era dos Impérios entre outras. O historiador britânico poderia escrever, hoje, a Era das Manifestações. Cerca de oitenta países têm vivido movimentos de ruas. 

Norberto Bobbio escreveu A Era dos Direitos, manifestando preocupação com a ameaça do que considerou excesso de demandas, viabilizadas pela democracia, voltando-se contra a ordem democrática. Poderíamos acrescentar: as formas de luta e a fragilidade da democracia confluem perigosamente.

Expectativas ilimitadas chocam-se com recursos limitados e mal administrados, apimentadas pela frustração de expectativas legítimas e mínimas. 

Estimuladas as reivindicações pelos formadores de opinião, concomitantemente a espetacularização da política e a ampla difusão de informações, desnudando as mazelas do poder político, fragilizadas as instituições pela desmoralização dos seus condutores, as manifestações ultrapassam da fronteira dos distúrbios. Sim, o que na velha Europa é considerado distúrbio, no Brasil a imprensa classifica como manifestação. 

Ressalte-se que as condições materiais de amplas parcelas da nossa população se constituem em solo fértil para a insatisfação aguda. Some-se a tudo isso o fato de que se tornou consensual a visão segundo a qual, ao nascer, o sujeito se torna ilimitadamente credor da sociedade e do estado. 

A terceira geração dos direitos, caracterizada por comandos vindos da sociedade e dirigidos ao estado; e por prestações positivas (obrigações de fazer), conferindo exigibilidade aos direitos sociais, contribuem para alimentar as manifestações. Direitos máximos sem ter o mínimo; autoridades e instituições desmoralizadas; formadores de opinião entusiasmados com os movimentos de rua: eis o quadro.

A Argentina é o país das manifestações. Triste exemplo. A Suíça, de onde não se tem notícia de movimentos de massa, é modelo de sucesso. Tais coisas não abalam a fé nos movimentos de rua. A influência dos jesuítas continua presente, com a marca da contrarreforma; do “crê ou morre”; com o nome e disciplina de organização militar; espírito messiânico; e com a não-ética dos fins, atestando a longa duração na História, principalmente nas camadas letradas de onde saem os formadores de opinião. Arregimentar, formar rebanhos obedientes, disponibilizando uma massa aguerrida e dócil aos seus dirigentes, tornam agudas, no Brasil, a era das manifestações.

Novos convertidos ao credo democrático, tornamo-nos excessivamente virtuosos, na forma do politicamente correto: órgãos de segurança tolhidos em sua capacidade operacional na presença da imprensa; máscaras toleradas; grupos organizados para promover depredações, obstrução de vias e saques não são indiciados por formação de quadrilha. Confundimos o direito à luta por meios democráticos com o direito à prática do crime.

*Rui Martinho Rodrigues
Professor – Advogado
Historiador - Cientista Político
Presidente da ACLJ 
Titular de sua Cadeira de nº 10

sábado, 23 de agosto de 2014

ANÚNCIO (FD)

FESTIVAL NORDESTE DE MÁGICA 2014
Pelo 11º ano consecutivo, 
Fortaleza será a capital da mágica no Nordeste

Fernando Dantas*



Nos dias 12, 13 e 14 de setembro, Fortaleza sediará um dos maiores festivais de mágica do Brasil, o Festival Nordeste de Mágica (FENOMA), no Centro Dragão do Mar.


Este é o 11º ano do festival, que já reuniu ao longo da sua história mais de 1.000 mágicos de diversos pontos do mundo e um público estimado de mais de 10.000 pessoas.


A organização é do Núcleo de Amigos Mágicos do Ceará (NUAMAC).

SERVIÇO
Espetáculos para o Público em Geral
Local: Centro Cultural Dragão do Mar
Fortaleza – Ceará
Datas: 12 e 13 de setembro – sempre às 19h
14 de setembro às 20h
Ingressos: Inteira R$ 20,00 e Meia R$10,00

Programação e Inscrições para Conferências, Feira Mágica e Competição
www.fenoma.com.br

Vogal Comunicação e Marketing
Mônika Vieira
(85) 8779.2007/ 9803.7123
monika@vogalassessoria.com.br

Juliana Bomfim
(85) 8893.2602/ 9984.9030
juliana@vogalassessoria.com.br

*Fernando Dantas
Jornalista e Advogado
Titular da Cadeira nº 19 da ACLJ

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

CRÔNICA (WI)

A HORA DO ANGELUS
Wilson Ibiapina*


O sino na torre da Matriz de São Pedro, em Ibiapina, tocava para chamar os fieis para a missa, para avisar a morte de algum habitante ou somente  para dar a hora.

Diariamente, ao cair da tarde, logo após as 18 badaladas, o alto-falante instalado no alto da igreja começava a tocar a Ave Maria, de Charles Gounod. A Hora do Angelus, inventada pela Igreja para que os católicos lembrem em preces e orações o momento em que o Anjo Gabriel anunciou a Maria a concepção de Jesus,  o momento da Anunciação.

Quando mudei para Fortaleza, a Hora do Angelus chegava à nossa casa pelas emissoras de rádio. Essa devoção tem origem na tradição franciscana. Ao toque do sino, quando do romper da manhã, os cristãos veneravam a Virgem Maria, recitando três ave-marias, intercaladas por três versículos bíblicos. Mais tarde, começou-se a rezá-lo mais uma vez, ao meio-dia. E mais tarde ainda, pelo século XIV, recitava-se o ângelus também ao entardecer.

No Ceará o toque da Ave Maria acontece só às 18 horas. O cearense Mário Garófalo, que teve a sua emissora Brasília Super Rádio FM inaugurada pelo Papa, toca sempre A Ave Maria às 18:00hs. As cidades modernas dificultam o tocar dos sinos para não interferir na vida social, hoje regida por outros critérios. Aqui em Brasília mesmo, um cearense conseguiu que a Justiça calasse o sino de uma igreja do Lago Sul que fica perto da casa dele.

Lembro a Rádio Tupi do Rio. Todo dia, após a hora do Angelus, entrava uma crônica, ao som da melodia "Moonlight Serenade", com Glenn Miller e sua orquestra,  que terminava com o Carlos Frias dizendo "o meu boa noite para você". Na Rádio Tamoio, que hoje pertence ao Sistema Verdes Mares de Fortaleza, tinha no horário o programa Pausa para Meditação. Os ouvintes escreviam contando seus problemas e terminavam as cartas com a frase “Me aconselha, seu Júlio Louzada!"

Em Fortaleza, a pausa para meditação era comandada por José Limaverde, pai de Narcélio e Paulo Limaverde. A Rádio Iracema apresentava a Hora do Pobre, logo após a Ave Maria. O programa era apresentado pelo Padre Paixão, que recebia pedidos de ajuda através de cartas, já que naquela época, anos 50/60, telefone era coisa rara.


Mauro Benevides, ex-presidente do Congresso Nacional, estava começando na política e foi pedir a ajuda do Padre Paixão para sua primeira eleição. O Padre fez a apresentação dele no programa Hora do Pobre: “Meus amigos, este  jovem advogado, católico, candidato a vereador, muito vai fazer pelo povo de Fortaleza”. E depois de pedir que votassem nele, solicitou ao jovem advogado que lesse uma das cartas que estavam ali sobre a mesa. E Mauro Benevides, com sua voz fanhosa, foi em frente: “Meu nome é Maria das Dores, estou grávida, preciso muito de sua ajuda...”. O hoje deputado federal Mauro Benevides diz que nunca mais esqueceu aquele momento.

*Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação
em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

ARTIGO (AS)

Aprendiz de Rei
Arnaldo Santos*


A política traz em sua essência a busca incessante pela coroa do rei simbolizada pelo poder que a corte confere aos eleitos.

Em busca dessa conquista os candidatos ao trono se nos apresentam cheios de boas intenções, espírito público e sentimento humanista. Não raro temos a falsa impressão de que estarmos diante de homens dotados de “virtudes” como a “compaixão” com o sofrimento do povo, “prudência”, moral e bom senso. Uma vez entronados, bem... o resultado em maior ou menor grau todos nós sentimos na pele, quão afiada é a espada dos aprendizes de rei.

Ao escrever esse texto o faço com a intenção de contribuir para que possamos fazer uma reflexão sobre a discussão até aqui apresentada por aqueles que disputam essas eleições.

Uso a expressão “contribuir” porque não tenho a pretensão de dizer o que deve ou não ser debatido, mas igualmente chamar atenção do eleitor para a pobreza de ideias e propostas a que estamos assistindo nessa campanha, pela televisão.

Dois meses de campanha já se passaram e ainda não percebemos uma discussão substantiva, uma ideia-força que possa ancorar o debate eleitoral, e não será por falta de temas importantes para a sociedade que teremos uma campanha medíocre em termos de debate, sobre propostas que possam resultar em políticas de governo.

Um rápido olhar no cenário nacional, para muito além dos programas Bolsa Família, e Mais Médicos, se vão ou não ser mantidos por quem venha a ser eleito, em caso de vitória da oposição, ou se a Petrobras teve ou não prejuízo com a compra da refinaria de Passadena, seria mais proativo debater a redefinição da matriz energética do país. 

Afinal, se quisermos ter condições de fazer crescer a economia, o ponto de partida é a geração de energia, e ao que nos consta, estamos prestes a crises de desabastecimento de água e energia. Por que não se discute uma política de segurança nacional para o combate ao crime organizado e à disseminação das drogas que vicejam em todo país? Afinal, que país queremos construir até a metade deste Século?

Quando observamos o cenário aqui no Ceará a pobreza de temas e ideias é ainda mais acentuada. Em vez de se discutir, por exemplo, o que fazer para conter os alarmantes índices de assassinatos, assaltos, explosões de bancos e o alto consumo de crack, discute-se a riqueza dos candidatos, o fato de uma única família continuar gerindo o poder, etc. Será essa a agenda prioritária da população cearense?

Mesmo consciente de que na política não há lugar para os virtuosos, também não é razoável admitir o despudor generalizado que nos atinge a todos, como nos tempos do “cólera” ou do vírus “ebola”.

Saibam os aprendizes de rei que na era do conhecimento se insere uma sociedade pós-industrial, resultante da produção de saberes que essa mesma sociedade seja capaz de disponibilizar e aplicar em sua própria construção.

Nessa perspectiva, a política assume um caráter fundante e insubstituível, pois não vislumbramos outra forma de se promoverem as transformações sociais reclamadas, senão pela política. Não confundir com politicagem.


*Arnaldo Santos
Jornalista
Doutor em Ciência Política

Titular da Cadeira de nº 13 da ACLJ

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

ARTIGO (VM)

TEXTO-RESPOSTA AO PROJETO PALMÁCIA CONTADA EM GÊNEROS
Vianney Mesquita*

Seja escravo do saber, caso pretenda ser realmente livre. (Caio Lucílio, satirista latino. 180-102 a. C).


Recebi com incontido agrado, enviado pela Professora Risoleta Muniz, do Núcleo de Trabalho, Pesquisa e Práticas Sociais, pertencente à Escola Maria Amélia Perdigão Sampaio, de Palmácia-CE, dois questionários cujo conteúdo diz respeito ao projeto que titula este artigo, com vistas a proceder à recuperação da literatura palmaciana, honrando-me e enaltecendo na qualidade de uma das pessoas elegidas pelo Núcleo para ser partícipe do estudo.


Primeiro Instrumento

Como a indagação inaugural se reporta apenas a um livro, e se houve influência na decisão de publicá-lo, a resposta fica, em parte, prejudicada, haja vista que já foram por mim publicados 16 (dezesseis) volumes.

Com relação à influência, esta foi recebida desde a infância, da parte de meus pais – Vicente Pinto de Mesquita e Maria de Lourdes Campos de Mesquita. Na sequência, o incentivo chegou procedente da primeira professora, a que me alfabetizou – Dona Eunice Leite Carvalho – e, mais à frente, das outras excepcionais docentes, Dona Maria Giselda Coelho Teixeira e Dona Maria de Lourdes Campos Araújo. Depois, já no antigo Ginasial, essa emulação cresceu, com a leitura dos livros infanto-juvenis de José Bento Monteiro Lobato, bem como da coleção Tesouro Juventude, obra de procedência estrangeira (inglesa, salvo lapso de memória), transferida para o Português e editada no Brasil, desde a década de 1930, por W.M. Jackson, São Paulo. Daí por diante, mais leituras de trabalhos de qualidade me conduziram à frente.

À segunda indagação – para quem escrevi – respondo haver sido para os alunos da UFC, áreas de Comunicação, Ciência da Informação e Administração de Empresas, nos cursos onde lecionava, ou seja, eram livros didáticos, de início. Depois passei para o terreno da crítica literária, incluindo um livro com foco na religião católica (...E o Verbo se fez Carne).

Acerca do caminho de escrita, revisão e impressão – terceira pergunta – experimentei a felicidade de contar com uma editora bem organizada, nos moldes de então, a Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará – Edições UFC, instituída pelo primeiro reitor e fundador da Instituição, Professor Antônio Martins Filho, bem assim com as Edições Uva (Sobral) – isto para os livros, porque, nas revistas, além dessas editoras, foram meus trabalhos publicados em várias delas em universidades de fora do Ceará. Meu livro de estreia (1984), Sobre Livros – Aspectos da Editoração Acadêmica, recebeu a chancela do MEC, em Brasília.

Mensagem de Incentivo à Leitura

O mencionado e extraordinário escritor Monteiro Lobato disse: quem mal mal fala, mal ouve, mal . Esta é uma verdade indiscutível!  De tal modo, quanto mais lemos, tanto mais nos instruímos, e quanto mais meditamos, mais adquirimos condições de afirmar que nada sabemos – expressou assim, Voltaire – tal é a necessidade de conhecermos, sem, jamais, aportar ao conhecimento completo, haja vista sua vastidão. Sócrates exprimiu: Só sei que nada sei.



Segundo Questionário

Vivi na plenitude palmaciana até os 14 anos, quando saímos para Fortaleza, de nossa segunda casa – Av. Francisco de Queiroz Lima número 11 (Vila Campos), de maneira que meus pensamentos, como até hoje, sempre radicaram na Cidade e, sem nenhuma dúvida, esta e suas características concorreram para a produção dos meus livros, muito embora eu não haja escrito nenhum trabalho de ficção (romance, conto etc) – apenas ensaios, críticas e livros didáticos.

Informo que é um palmaciano da gema o patrono na cadeira ocupada por mim na Academia Cearense de Literatura e Jornalismo (Non male sedet qui bonis adhaeret)(**) – Professor José Rebouças Macambira. Eu próprio o escolhi, e tive a ventura de privar da sua presença na qualidade de seu colega na Academia Cearense da Língua Portuguesa.

Eis que me perquiriram se em algum momento pensei em desistir de produzir literatura. Exprimo que não, pois sempre fui apoiado no que procurei, não havendo encontrado nenhum óbice considerável – todos eles foram vencidos e ultrapassados - de sorte a lograr uma produção, desde que comecei em livros (1984), ou seja, em 30 anos, que perfaz 16 edições, mais de um a cada dois anos, sem levar em conta trabalhos em revistas científicas e literárias. Assim, só encontrei apoio e nenhum empecilho considerável.

Indagam, também, os pesquisadores de Palmácia – da Escola Professora Maria Amélia Perdigão Sampaio – se os escritos de minha colheita tiveram reconhecimento, ao que respondo positivamente, pois todos – conquanto sejam pequenas as tiragens – estão esgotados.

No que concerne ao meu Município incentivar os seus jovens a terem interesse pela leitura na Cidade, não sei responder, pois não conheço em profundidade o estado da arte da sua educação e cultura, porém, entendo que, se não for o caso, o tempo é este, quando há alguém integrado, interessado, disposto e determinado a favorecer a Cidade com um projeto de tanta significação, como é este encabeçado pela minha conterrânea, Professora Risoleta Muniz.

Procuram saber, ainda, os pesquisadores conterrâneos, se pretendo editar obra exaltando Palmácia. Digo que, há algum tempo, havia pensado, juntamente com outro palmaciano, o Professor da UFC, Francisco Antônio Guimarães –  homem de muito prestígio, presidente da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura da UFC – porém, por força de circunstâncias de trabalho, o assunto ficou em banho-maria, não significando isto dizer que não possamos retornar ao assunto.

Reportando-me a outra pergunta, ao revisitar a reflexão de Lobato, há pouco reproduzida, expresso o fato, já referido no primeiro questionário, de que o bom leitor coincide com o bom falante e se harmoniza ao escritor de qualidade.

Concordo, por fim, com a ideia de que a boa leitura enriquece e abre possibilidades para o conhecimento de outras coisas da vida em todos os seus quadrantes, não somente na Literatura e nas Artes em geral, pois, também, serve de lenimento para as “dores” do espírito e os padeceres da mente, refrigerando o calor do pensamento equivocado acerca dos problemas de cada pessoa, concedendo-lhe a oportunidade de indicar rumos mais bem direcionados e consentâneos em relação ao que é correto.

Em remate, perguntam-me se a Literatura é bem trabalhada na escola. Decerto, deveria ser em todos os ambientes escolares, no entanto, na maioria das escolas dos mais de cinco mil municípios do País, tal não acontece, por motivo diverso que me não cabe comentar.

Basta somente, contudo, divisar o estado de coisas no Brasil para enxergar esse status quo.

Palmácia, entretanto, ao deslanchar esse projeto, certamente, vai adentrar o rol do universo de escolas que conferem valor e divisam na atividade literária uma das trilhas para a consecução do conhecimento, fato realmente auspicioso para a nossa terra, o Ceará e o Brasil, cada vez mais cheio de contrastes, a despeito do seu considerável momento desenvolvimentista, malgrado os altos-e-baixos.

A corrida, espero, será vencida pelo mais forte, configurado, incontroversamente, no SABER.

*Vianney Mesquita 
 Docente da UFC 
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa  
Acadêmico Emérito-titular da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo 
Escritor e Jornalista

(**) Quem à boa árvore se chega boa sombra o cobre.

CRÔNICA (WI)

LIÇÕES DE UM VELHO JORNALISTA

Wilson Ibiapina*


Ele é a cara do Jornal do Brasil. O jornal carioca já se foi das bancas mas ele continua na ativa. A primeira vez que ouvi seu nome foi pronunciado por Tarcísio Holanda, que tem uma admiração profunda por sua competência. Wilson Figueiredo, Wilson Charuto (por causa do vício) ou simplesmente Figueiró, é um marco na história da imprensa.

Na entrevista que concedeu a Paulo Chico, publicada no jornal da ABI, Wilson Figueiredo analisa o cenário da imprensa, fala de sua trajetória e do amor ao texto. Diz que o jornalismo é um exercício literário.

Poeta por vocação, trocou a carreira literária pelo jornalismo. Nascido no Espirito Santo, a exemplo do gaúcho Mauro Santayana, do piauiense Carlos Castelo Branco ou do baiano Sebastião Nery, Wilson Figueiredo começou na imprensa mineira. Ele diz que se sente mineiro, “pois Minas é um vício”.

Quando começou em 1944 na redação do Estado de Minas não existia curso de jornalismo. Desistiu de fazer Medicina e foi fazer jornalismo na redação. Lembra que era diferente. Tinha menos redatores e mais material. Recebia informação de agência e fundia tudo em matéria. 

Depois foi para O Jornal, no Rio e em seguida no Jornal do Brasil, onde ficou famoso como colunista e editorialista. Quando começou não havia curso, quanto mais diploma de jornalista. Acredita que o jornalismo de hoje só foi possível porque usou como mão de obra jornalistas que fizeram curso e chegaram com o diploma. Palavas dele: “Essa mania de combater o diploma não quer dizer nada. Talvez alguns precisem disso em um país de precário nível social. Mas o jornal precisa do repórter que saí, que vai para a rua e sabe do que está falando- sabe que é uma profissão. Os cursos de Jornalismo fizeram um bem enorme para a profissão. Acabar com a exigência do diploma, na verdade, apenas desestimula o jovem a estudar”. Algumas de suas opiniões:


A INTERNET
  
A criação de novos meios fez do jornalismo uma coisa maior do que ele é e acabou por enriquecer e diversificar a prática. Agora, por outro lado, surgiu o amadorismo no lugar do profissionalismo. Nesse ambiente há uma tendencia que escapa ao princípio do jornalismo, que é a impessoalidade”.


JORNALISMO

Para mim, o jornalismo não é o jornal. Ele já existia mesmo antes de haver o jornal. O jornal tornou-se veículo de uma coisa chamado jornalismo, que nada mais é do que uma plataforma, um meio de progressão da informação, do andamento das notícias, da difusão das ideias, dos costumes. Vi o rádio nascer. Naquela época disseram que o rádio iria matar o jornalismo impresso. Bobagem. Pelo contrário, o jornalismo ganhou foi um aliado. O mesmo aconteceu com a televisão e agora se repete com a Internet. Ou seja, a tecnologia em questão pode até ser nova, mas essa história de fim do jornal impresso é velha pra caramba”.

Hoje , aos 88 anos de idade, Wilson Figueiredo continua na ativa. Conta Paulo Chico que ele vai a pé de sua casa no Leblon, até Ipanema, onde trabalha na FSB Comunicações. Quase todo dia, para mostrar seu vigor, que não sente o peso da idade. Wilson Figueiredo se diverte quando lhe perguntam se é o jornalista mais velho na ativa: “Evito pensar que possa ser o mais antigo jornalista em atividade no País. Há de haver outro desgraçado, e ainda mais velho, por aí”.

*Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação
em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ