segunda-feira, 20 de março de 2023

ARTIGO - Os Cem Anos de Millôr Fenandes (RV)

 OS CEM ANOS DE MILLÔR
Reginaldo Vasconcelos* 

 

No próximo dia 16 de agosto vai ser comemorado o centenário do jornalista Milton Viola Fernandes, nas letras Millôr Fernandes, nome que adotou por corresponder ao que consta do assento de seu registro civil, por erro gráfico do cartório. Somando ao que já sabia sobre ele,  pesquisei maiores detalhes da sua vida para fazer este registro. 

Millôr foi um importante caricaturista, chargista, dramaturgo, escritor, ilustrador, poeta e tradutor brasileiro, o qual atuou como colaborador em grandes publicações nacionais, como as revistas O Cruzeiro e Veja, e o  Jornal do Brasil. Escreveu peças de teatro, poesia, textos humorísticos e traduziu obras de Shakespeare e Sófocles. 

Era filho do fotógrafo espanhol Francisco Fernandes e da brasileira Maria Viola Fernandes, e nasceu em 16 de agosto de 1923 no  Meier, subúrbio do Rio de Janeiro. Por desídia de seus pais, Millôr só foi registrado quase um ano depois, e por isso a data de nascimento oficial é 27 de maio de 1924. 

Seu pai morreu de repente em 1925, aos 36 anos, ficando a viúva com a tarefa de criar sozinha os quatro filhos: Milton, Hélio (que também seria jornalista),  Judith e Ruth. Apesar de criancinha quando da morte do pai, Millôr lembrava dele como “um homem bonito, bem vestido, que vivia se fotografando” e que “acordava a família patriarcalmente todas as noites para saborearmos salames e queijos”.  

Com a morte do marido, a mãe do Millôr, então com 27 anos, foi obrigada a alugar uma parte do casarão em que moravam, e passou a costurar para fora, assumindo a profissão de “modista”, como se dizia na época. 

Millôr cursou o ensino básico na Escola Enes de Sousa, no Méier, entre 1931 e 1935. Gostava de dizer que da professora Isabel Mendes guardou a lição definitiva, sobre aprender o prazer de aprender. Mais tarde essa escola pública recebeu o nome da referida educadora, mas para Millôr aquela seria para sempre a “Universidade do Meyer”.

 

A mãe do Millôr morreu de câncer em 1934, quando ele tinha 11 anos, o que o impactou profundamente: “Sozinho no mundo tive a sensação da injustiça da vida e concluí que Deus, em absoluto, não existia”. Os irmãos se separam, e Millôr foi morar com a avó, num quartinho no fundo do quintal da casa de um tio materno, na distante Estrada Nova da Pavuna.

 

Millôr Fernandes compôs o grupo de jornalista talentosos, ousados e irreverentes que fundou do jornal O Pasquim, nos anos 60, em que ganhou fama de filósofo aplicado, pela habilidade de criar frases de efeito que refletiam o contexto social da época, a vida, os relacionamentos, a política, entre outros temas:

 

“Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem”; “Pais e filhos não foram feitos para serem amigos. Foram feitos para serem pais e filhos”; “A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar, ao amigo, de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades”; “Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”.

 

Millôr foi internado na clínica São Vicente, no Rio, em fevereiro de 2011, sem que a família permitisse divulgar as razões da internação, nem a evolução do seu estado de saúde. A equipe responsável pelo  Twitter  do escritor, questionada pelos seus leitores mais fieis, em meados do mesmo mês respondeu que ele estava “melhorando lentamente”, sem fornecer maiores detalhes, mas dois dias depois foi divulgado que Millôr sofrera um “acidente vascular isquêmico”.  

 

Quando o quadro de saúde melhorou ele evoluiu do CTI para um quarto intermediário, em que permaneceu por cinco meses, recebendo alta no dia 28 de junho. Mas permaneceu em casa apenas dois dias, quando se sentiu mal e foi internado na Clínica de Saúde São José, por mais cinco meses. Seguindo a tradicional conduta de discrição sobre a sua intimidade pessoal, adotada pelo Millôr durante a sua vida pública, durante todo o período de sua internação a família manteve silêncio sobre o prontuário médico, até o seu falecimento.

 

Millôr morreu em seu apartamento em Ipanema, por falência de múltiplos órgãos, com consequente parada cardíaca, às nove horas da noite do 27 de março de 2012, o que somente foi divulgado no dia seguinte, por seu filho Ivan Fernandes.

 

O corpo foi velado na manhã do dia 29 no Cemitério Memorial do Carmo, com o comparecimento de grande número de pessoas públicas e sob grande comoção popular, e foi cremado em cerimônia restrita a cerca de 40 pessoas no Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro.

 

Em 1984 ele escreveu:

 

Poeminha com Saudade de Mim Mesmo

Quando eu morrer
Vão lamentar minha ausência
Bagatela
Pra compensar o presente
Em que ninguém dá por ela.
 


A\RTIGO - Os Ciclos das Civilizações (RMR)

OS CICLOS DAS
CIVILIZAÇÕES
Rui Martinho Rodrigues*

 

 

As civilizações nascem, crescem, fenecem conforme Arnold J. Toynbee (1889 – 1975), que estudou inúmeras destas formações históricas. Não é uma lei. Nas ciências da cultura não existe tal coisa. Elas não são nomológicas. Caso fossem nós não seríamos sujeitos da história. Toynbee apenas ressalta uma tendência e um fenômeno que não tem prazo definido e pode ser adiado ou revertido e nem é inevitável, como se pode constatar pela observação, com o auxílio de Clio e de Mnemosine.

Oswald A. G. Spengler (1880 – 1936) publicou, em 1918, uma obra com o título A decadência do Ocidente, antevendo o declínio da civilização ocidental. Era o momento do fim da I Guerra Mundial e o autor contemplava o mundo desde a Alemanha que acabava de sofrer uma dolorosa derrota e a influência do lugar e da época manifestou-se no pensamento de Spengler. Mas não deixa de ser um fato que as civilizações nascem, crescem e passam por graves momentos de decadência, embora possam ressurgir como uma fênix. 

Os pelágios habitavam a região onde posteriormente se formaria a civilização grega. Evoluíram do período neolítico para a idade do bronze, desaparecendo depois, quando dominados pelos dórios, jônios e eólios vindos do Norte. O ciclo de Toynbee realizou-se neste caso aparentemente por fatores exógenos. 

Os romanos, aparentemente derrotados pelos bárbaros, entraram em declínio por fatores internos, tornando-se vulneráveis aos invasores bárbaros. Max Weber (Maximilian Karl Emil Weber, 1864 – 1920) atribuiu a decadência dos romanos a degradação da agricultura. Aristóteles (384 a.C.– 322 a.C.) elaborou uma tipologia de regimes políticos, descrevendo a tendência para degradação de cada um. A monarquia tem na tirania a sua expressão decadente; a aristocracia degenera em oligarquia e a democracia tem na demagogia a sua forma corrompida. A decadência romana está relacionada com o declínio da sociedade, da cultura e da desorientação axiológica. 

Civilizações mais ricas e mais sofisticadas têm sido vencidas, dominadas e destruídas por povos mais rústicos e mais pobres, quando já estão corroídas por dentro. Os gregos foram dominados pelos romanos no período helenístico, quando a expansão do Império Macedônio exacerbou o cosmopolitismo dando origem ao relativismo que abalou os valores gregos. Foi no tempo dos sofistas que se deu a decadência. A coesão da sociedade guarda relação com os valores da cultura nacional. Não se trata do nacionalismo interessado em reserva de mercado, discriminação do estrangeiro ou do favorecimento do que não presta só por ser nacional. 

A base axiológica é fator de coesão, faculta o entendimento, influencia o significado semântico impactando na cognição e na intelegibilidade do discurso. A comunicação fica comprometida quando a cultura fica dos valores que as palavras representam e passam a ter significados diversos e conflitantes, levando ao conflito interno. 

Nada acontece na política sem que aconteça antes na literatura (Hugo L. A Hofmannstal, 1874 – 1929). A produção literária de utopias não tem novas obras. Só temos distopias como expressão literária, vaticínio ou diagnóstico de decadência. A linguagem passou a ser vista como um produto de conspiração da classe dominante para induzir submissão; as civilizações passaram a representar o domínio de poder ilegítimo e todas as configurações sociais passaram a ser vistas como opressivas, a universalidade do dimorfismo sexual, renomeado como “sociedade binária”, para esta é uma opressão multimilenar e universal. 

Perdemos o contato com a realidade. Até o rigor epistemológico é visto como desculpa para a dominação das consciências pelo domínio cognitivo. A banalização dos mores trouxe solipsismo oculto sob o disfarce do discurso libertário cujos resultados são liberticida. A dissolução dos laços sociais da sociedade líquida descrita por Zygmunt Bauman (1925 – 2017) não encontrou solução nos grupos identitários. Estes servem para a guerra de todos contra todos mencionada por Thomas Hobbes quando se referiu ao estado de natureza. 

O controle social era exercido pela sociedade com o protagonismo dos pais, dos parentes e dos mais velhos em geral, dos professores, e clérigos. Mas a fluidez dos valores destruiu a autoridade dos pais em nome do combate ao patriarcalismo. A autoridade dos mais velhos foi contestada em nome do repúdio a dominação, no caso do tipo tradicional descrita por Max Weber. Os professores foram deslegitimados com o argumento da crítica o tipo de dominação classificado como racional legal, também na tipologia de Weber. Este mesmo argumento foi usado contra os agentes do Estado em geral. Restou a anomia, um vácuo no qual os poderes informais, como o das facções criminosas, se fortaleceram. As tribos urbanas, que estão substituindo a influência da família, da escola e das igrejas, também se fortaleceram, valendo-se ainda do discurso libertário e hedonista. 

O conservadorismo entendido como o pensamento para o qual o homem não pertence a si mesmo, mas à família, pátria e igreja, conforme Robert Nisbet, em O conservadorismo; juntando-se a isso a prudência diante das práticas que fazem da sociedade um laboratório e das pessoas cobaias de experimentos sociais e políticos, seguindo o entendimento de Roger V. Scruton, 1944 – 2020, em O conservadorismo: um convite a grande tradição. Conservadores tentam resistir, mas são violentamente reprimidos pela censura e por outros meios. A semelhança entre conservadores e revolucionários é maior do que parece. Ambos entendem que o homem não se pertence, embora atribuam o pertencimento a instituições ou entidades diferentes. O revolucionário se transcende na classe social, grupo identitário ou partido. 

O liberalismo, para quem o homem se pertence, podendo agir livremente até o limite da alteridade, não gosta da dominação dos construtos coletivos, sejam eles “conselhos” (soviets), classe, grupos identitários, igrejas, Estado ou partido. Encontra dificuldade em formar aliança com o conservadorismo. 

O liberalismo é pouco sedutor pois o autopertencimento não se coaduna com a ilusão do Estado provedor. É próprio dos liberais dizer que quem troca a liberdade pelo bem-estar acaba ficando sem as duas coisas (Milton Friedman, 1912 – 2006). O ceticismo em face da proposta paradisíaca da garantia estatal de conforto não se presta ao exercício da demagogia, forma decadente da democracia, na citada tipologia do estagirita. A democracia decadente prefere os mitos e mitologias políticas de que fala Raoul Girardet (1917 – 2013). 

Anthony Daniels (Theodore Dalrymple, 1943 – vivo) afirma: a humanidade está desorientada por influência dos intelectuais. A grande confusão é indício do declínio de uma civilização. “Zumbis” criados pela dependência química e o envelhecimento populacional da espécie que não quer se reproduzir são sugestivos de decadência. Repensemos tudo.

quarta-feira, 8 de março de 2023

CRÔNICA - O Marinheiro e o Oceano (RV)

 O MARINHEIRO E O OCEANO
Reginaldo Vasconcelos*



A visão que tenho da mulher, na minha ótica masculina, tem evoluído no tempo, desde que me entendi como pessoa. Nascido e criado durante o ocaso do obscurantismo milenar – segunda metade do Século XX – experimentei a grande transição cultural que promoveu a igualdade essencial do ser humano.

Mas ainda conheci a mulher encastelada no status de ser especial, sujeita a estritos deveres morais, quando distinguida pelo destino para ser esposa ou freira, ou relegada à condição de pária social, se destinada a suprir os instintos poligâmicos da espécie, neste caso, impiedosamente rotulada de “mulher desonesta.

Para o menino que fui não havia distinção: filho de uma mãe recatada, vivendo numa prole sem irmãs, a mulher, para mim, toda ela, era sempre um ente fabuloso, magnífico, intangível. Fossem as professoras, as domésticas, as meninas da vizinhança, todas eram objeto da minha adoração apaixonada. E principalmente as prostitutas, quando a elas tive acesso, na transição da puberdade, causavam-se uma pletora de ternura e encantamento. Éramos como o observador e a montanha verdejante.

Depois, na aurora boreal dos hormônios, sob a virilidade solar da juventude, a essa condição de ser etéreo  e  angelical  da  mulher  – da qual jamais a demiti – somei a de fetiche sensual, fonte aparentemente inesgotável de carinho e de prazer. Galgaram, então, as moças, no meu conceito, o altar votivo do mais enlevado culto erótico, sem perderem a sua deidade, sempre alvo do maior respeito e de grande reverência. Era então o observador na montanha dominando o vale fértil.

Hoje, além de semideusa da estética superior do Universo, na sublimidade intrínseca de sua condição ontológica, e de insuperável objeto tátil e lúdico de deleite, a mulher assume ante os meus olhos a função suprema de companheira imprescindível, alicerce indispensável da estrutura masculina, arcabouço e argamassa do edifício da família.

A mulher se me afigura hoje o complemento essencial do macho, que sem ela não existe como tal, porque sem ela se vai delir moralmente como qualquer criança solitária, perdida no caos da orfandade. 

Na maturidade concluo enfim que tenho vivido em função da mulher, a princípio cativo de seus encantos  como o zangão em torno da abelha rainha  hoje servo absoluto de sua majestade, sempre a serviço de sua nobre alma, em troca de um simples olhar seu de aprovação, ou de um sorriso, ou de um gesto de confiança, ou de um suspiro de prazer que me conceda. Somos agora como o marinheiro e o oceano.

NOTA: Escrito e publicado originalmente no dia 08.03.2005 Dia Internacional da Mulher.



Crônica dedicada a Dona Estefânia, a Dona Tatá e a Dona Jaci (todas elas in memoriam). 

À Graça, à Fana, à Thiena, à Júlia e à Iva. 

À Vólia e à Jô. 

À Dona Célia, à Ana Paula e à Ana Sophia. Na pessoa delas, a todas as mulheres do Universo.


quinta-feira, 2 de março de 2023

CRÔNICA - Fazendo a Diferença (WI)

 Fazendo a diferença
Wilson Ibiapina*

 

No vídeo que meu filho Fábio editou sobre os meus 80 anos de idade, familiares e amigos deixaram seus depoimentos sobre minha trajetória profissional. Como a redação da Globo em Brasília está informatizada, repleta de computadores que substituem as máquinas de escrever, Olavo Denecial preferiu gravar sua fala no arquivo, onde sabia encontrar as matérias do meu tempo de trabalho na emissora. 

E lembrou um episódio que aconteceu na cobertura da primeira visita do Papa Joao Paulo II ao Brasil, em 1980. Na ocasião, fui escalado pela Alice Maria, diretora da Central Globo de Jornalismo, para chefiar uma das duas equipes formadas para acompanhar Sua Santidade pelo País. A outra equipe ficou sob o comando do Tomzé, de Belo Horizonte. 

Depois de receber o Papa em Brasília seguimos para o Rio. Os repórteres Ricardo Pereira e Pedro Rogério, e o cinegrafista Ricardo Straus. Na sede da Globo, toda a estrutura do telejornalismo estava trabalhando na cobertura, e fiquei meio deslocado. Foi quando descobri que uma equipe da RAI, televisão italiana, acompanhava o Papa de perto, colada nele. 

Peguei uma das fitas de vídeo gravadas pelos  italianos, entrei numa ilha de edição e comecei a assistir a visita à favela do Vidigal. Com um forte esquema de segurança, o Papa subiu o morro acenando e cumprimentando as pessoas. 

Depois de ouvir o coral de crianças da favela e abençoar a população, presenteou a comunidade com seu anel episcopal. A TV italiana mostrou o Papa tirando o anel do dedo  e entregando a uma garota. Editei a cena, que passou a ser um dos momentos mais emocionantes da cobertura global. Nas demais visitas que acompanhamos, a Porto Alegre, Salvador, Belém e Manaus, não tirei os olhos das imagens gravadas pela RAI. E isso salvou nossa cobertura em Salvador.

Em seu oitavo dia no Brasil, o João Paulo II foi visitar a favela de Alagados. Quando nossa equipe chegou, toda a área já estava ocupada por uma  multidão, e cercada pela polícia. Foi quando o cinegrafista Ricardo Straus começou a filmar uma menina que tentava enfrentar a multidão para chegar ao Papa. Ricardo virou a câmara e mostrou um repórter de uma rádio baiana, com um microfone cara de gato, enrolado numa flanela amarela, fazendo um apelo:  “Por favor, deixem a menina passar. Ela só quer entregar um presente ao Papa”. 

Até que a garota furou o cerco e mergulhou na multidão.  Na redação, de posse da fita da TV italiana, vi a menina saindo da multidão e correndo para entregar um embrulho ao Papa. O Pontífice abriu e viu que o presente era uma jangadinha, que ele exibiu ao público,  que aplaudiu. 

No avião, o comandante anunciou que o diretor da Globo estava parabenizando a equipe pelo êxito na cobertura em Salvador, sem saber que naquela manhã dormimos demais e chegamos à favela depois do Papa, quando tudo já estava fechado de gente. E eu até pensei: “Deus está nos ajudando”.


quarta-feira, 1 de março de 2023

NOTA ACADÊMICA - Wilson Ibiapina Recebe Homenagens

WILSON IBIAPINA
RECEBE HOMENAGENS


O jornalista Wilson Ibiapina completou 80 primaveras neste dia 26 de fevereiro, e é alvo de homenagens dos colegas da Rede Globo, a que serviu por muitos anos, e dos confrades da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, em reunião festiva dos confrades na Tenda Árabe, na noite do dia 28 de fevereiro.


Na imagem abaixo os acadêmicos da ACLJ: no lado esquerdo Rui Martinho Rodrigues, Adriano Jorge, Paulo Ximenes e Pedro Bezerra de Araújo; no lado direito César Barreto, Reginaldo Vasconcelos e Roberto Moreira. Em pé, Altino Farias. Fez parte da mesa, antes da foto, Luciano Maia, e depois dela o convidado Galileu Viana.



Na oportunidade Reginaldo Vasconcelos revelou a satisfação de ter sido indicado por Ibiapina e por JB Serra e Gurgel para compor o Conselho Editorial do jornal “Ceará em Brasília”, editado pela Casa do Ceará, na Capital Federal, já há 58 anos. 


O link abaixo dá acesso ao vídeo em que, além de manifestações de carinho da família, os ex-colegas apresentam mensagens e imagens sobre a trajetória profissional de Ibiapina, que foi Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação em Brasília, afiliada da Rede Globo no Ceará.   


terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

RESENHA - Reunião Virtual da ACLJ (27.02.2023)

 REUNIÃO VIRTUAL DA ACLJ
   (27.02.2023)





PARTICIPANTES

Estiveram reunidos na conferência virtual desta segunda-feira, que teve duração de 30 minutos, dez acadêmicos.

Compareceram e trocaram ideias o Jornalista e Advogado Reginaldo Vasconcelos, o Marchand e Publicitário Sávio Queiroz Costa, o Professor, Médico e Latinista Pedro Bezerra de Araújo, o Especialista em Câmbio e Comércio Exterior Stenio Pimentel (Rio de Janeiro-RJ), o Agrônomo e Poeta Paulo Ximenes,  o Advogado Sionista Adriano Vasconcelos, o Jornalista Wilson Ibiapina (Brasília), o Magistrado Emérito, Professor e Advogado Aluísio Gurgel do Amaral Júnior, o Advogado, Professor, Apresentador de Rádio e TV, Compositor Musical,  Músico e Cantor César Barreto, todos Membros Titulares da ACLJ, e o Linguista e Escritor Dmitry Sidorenko, Membro Honorário Correspondente da ACLJ (São Pètersburgo, Rússia). Como convidadas especiais Svetlana e Anfisa Sidorenko, mulher e filha do Dmitry, e a infanta Ana Sofia Paiva, neta afetiva do acadêmico Reginaldo. 
  


TEMAS ABORDADOS

Na reunião virtual da ACLJ desta segunda-feira, após os assuntos vicinais relativos aos fatos recentes da vida de cada qual, sua experiência e o seu extrato filosófico, e dos temas carroçáveis das anedotas, entrou-se pela rodovia pavimentada pelas matérias acadêmicas, tratando-se dos preparativos para a Assembleia Geral Aniversária prevista para o dia 04 de maio vindouro, em que será lançado o livro de memórias do Dmitry Sidorenko, "De Khabarovsk a Fortaleza", e tomarão posse o jornalista João Bosco Serra e Gurgel e o médico e escritor José Maria Chaves, nas Cadeira nº  31 e nº 23, respectivamente.

DEDICATÓRIA

A reunião desta segunda-feira, dia 27 de fevereiro de 2023, por aclamação do grupo virtualmente reunido, foi dedicada ao Governador de São Paulo, o engenheiro carioca Tarcísio Gomes de Freitas, oficial da reserva do Exército, Ministro da Infraestrutura no Governo Bolsonaro, pela sua magnífica atuação emergencial durante os esforços de socorro às vítimas do grande temporal ocorrido no litoral norte do Estado, durante o carnaval deste ano.

Tarcísio transferiu  a sede do Governo para a cidade de São Sebastião  local do teatro de operações  e tomou enérgicas e profícuas providências, junto à Defesa Civil, ao Corpo de Bombeiro, à Marinha e ao Exército, na busca por sobreviventes, no resgate dos corpos das vítimas fatais entre os escombros e sob o solo dos deslizamentos, mas principalmente garantindo alojamento seguro e confortável aos desabrigados pelas chuvas torrenciais que fizeram derruir suas residências. Ao "Capita", as nossas homenagens.        


   

CRÔNICA - Laprovitera À Paris (TL)

 LAPROVITERA À PARIS
Totonho Laprovitera*

 

Três breves histórias em Paris.

 

A primeira.

 

No dia 11 de setembro de 2001, em Paris, eu estava expondo desenhos e pinturas na Embaixada do Brasil na França, quando uma brasileira que andava por lá, desesperada, chegou duma vez na galeria e deu a notícia do ataque terrorista às Torres Gêmeas, em Nova Iorque. Agoniada que só, anunciou até o início da Terceira Guerra Mundial! Vixe Maria, respeite o susto! E logo pensei: Ô, meu Deus, que saudade de casa...

 

No dia seguinte fui instruído pela Embaixada a evitar andar de ônibus, de metrô e ir a lugares onde houvesse concentração de pessoas. Contaram-me, ainda, que 24 horas após o atentado, a polícia parisiense havia desarmado cerca de 60 bombas pela cidade.

 

Cortei foi prego, não vou nem mentir...

 

A segunda.

 

Aconteceu em Paris. Após irmos à exposição “Hitchcock et l'art: coïncidences fatales”, eu e Elusa fomos convidados pelo Anuar Nahes, então conselheiro cultural da Embaixada do Brasil na França, para tomarmos um café no terraço do Centre Georges Pompidou.

 

Conversando acerca de cultura, costumes e comportamentos, Anuar me instruiu que quando nos oferecem um copo d’água, por exemplo, devemos dizer “eu quero” ao invés de “aceito”. No caso, quem aceita toma atitude de povo submisso, sem capacidade de escolha para decidir se quer ou não o que lhe apresentam.

 

Curioso, foi quando fui apresentado ao Anuar e falei que achava já lhe conhecer de algum lugar. Ele, educadamente, me contrapôs: “Já sei, você deve estar me confundindo com o garoto-propaganda da Bombril”.

 

A última notícia que tive do Anuar, é que ele era embaixador do Brasil no Iraque.

 

A terceira.

 

Noutro dia eu estava ouvindo “Café Soçaite”, de Miguel Gustavo, e reparei no final da canção Maria Bethânia dizer: “Como é que pode, Nina Chaves conta...”


 

Pra quem não sabe, possuidora de uma escrita refinada e respeitada, na década de 60, Nina Chaves trabalhou no jornal O Globo como editora de moda. De elevado prestígio e credibilidade ilibada, o que ela escrevia, fazia-se valer!

 

Em 2001, eu tive a oportunidade de conhecer Nina em Paris. Apresentado por Anuar, assuntamos muito sobre arte. Confesso que eu fiquei seduzido com a capacidade da jornalista de expor ideias tão ricas de simplicidade, o que até parece ser fácil, mas não é.

 

Querem saber duma coisa? Eu vou é botar de novo “Café Soçaite” pra tocar na radiola!


sábado, 25 de fevereiro de 2023

CRÔNICA - Uma Parada Na Rota do Meu Rumo

 Uma parada
na rota do meu rumo
JB Serra e Gurgel* 

 



Meu melhor momento no Rio de Janeiro foi quando trabalhei com Ibrahim Sued. Diziam isso e aquilo sobre ele, mas, para mim, ele foi um pai. Não tenho nada a reclamar. Sempre me tratou com dignidade e respeito. Exigia notas “off the records”, “em primeira mão”, “bomba-bomba”, com identificação de fonte. Chegava cedo ao escritório na Rua Siqueira Campos, 43, sala 836, onde me esperavam dois telefones, 2376850 e 236 5212, e um “sebo”. Tinha que falar com meio mundo em Brasília via telefonista, com muita demora. 

Todo mundo queria ser informante de Ibrahim. Isto me facilitou a missão. Assim, no Senado a fonte era o Senador Gilberto Marinho, Presidente. Na Câmara, o Deputado José Bonifácio, Presidente. No Supremo, o Ministro Luís Galotti, Presidente. Na Academia de Letras, Pedro Calmon, Presidente. Todos amigos dele. No Itmaraty, os embaixadores Maury Gurgel, Donatello Griecco, Italo Zappa, idem. 

Ainda na Academia Brasileira de Letras: Josué Montello, Gilberto Amado, Guimaraes Rosa, Peregrino Júnior, Ivan Lins, Cícero Dias, Di Cavalcanti, Isaac Karabtchevsy. A elite empresarial do Rio de Janeiro era fonte. 

Ministros de Estado e dos Tribunais Superiores; procuradores, juízes, senadores, deputados, do governo e da oposição – todos os seus assessores de imprensa queriam ser fontes. 

Oscar Ornstein era informante de personalidades, pois era o poderoso gerente do Hotel Copacabana Palace. 

Eu não procurava o high socitety, que ficava por conta de Fernando Carlos de Andrade, irmão de Evandro Carlos de Andrade, que foi editor de O globo e diretor da Rede Globo, também sócio de Ibraim em objetos de arte. Tiveram uma galeria em Ipanema. 

Pintores famosos lhe levavam quadros, para que ele desse nota na sua coluna. Muitas dessas pinturas ficaram comigo. Eles saíam do escritório, Ibrain dava a nota e me dava os quadros. Fui o amigo de um que nunca foi ao escritório, Orlando Teruz. Este me deu um miniquadro, que fui buscar no seu atelier. Foi muito útil, pois não tendo como dar sinal em dinheiro para compra de um apartamento em Niterói, dei o miniquadro. Teruz me repôs com um desenho. 

Ibrahim chegava ao escritório, lia os recortes do Lux Jornal, jogava os papéis lidos no chão. Lia livros jogando as páginas lidas no chão.  Não esquentava a cabeça com os xingamentos de Stanislaw Ponte Preta, a quem respondia com seu clássico bordão: “ladram os cães, e a caravana passa”. Ou: “cavalo não desce escada”. Depois pegava um livro de pensamentos, tirava um deles e punha na boca de alguém. Certo dia, o embaixador Gilberto Amado ligou para o escritório querendo falar com ele, muito aborrecido. Ibrahim colocara na sua boca um pensamento que não se coadunava com sua pessoa. Ligou várias vezes, Ibrahim não o atendeu. 

Ibrahim ficava feliz quando chegava ao escritório e pedia que eu pusesse o Presidente Costa e Silva na linha. Eu ligava para o Major Lair de Almeida, Ajudante de Ordens, e dizia que Ibrahim queria falar com o Presidente. Rapidamente o Major punha o Presidente na linha e eu falava: “Ibraim! O Presidente”. Ele ficava muito tempo ao telefone, comentando coisas do dia-a-dia da política. Nunca falou com o Presidente Médici. Nunca falou com o Presidente Geisel. 

Aos sábados, quando fechávamos a coluna de domingo e de segunda de O Globo, Ibrahim chegava depois das duas, sempre vermelhão do sol da piscina do Copacabana Palace. Contava suas vantagens e suas aventuras. Certa vez, pegou um taco de polo e tentou fazer uma jogada no escritório. Deu-se mal, pois a bola acertou um lustre e foi um susto. 

O melhor momento de Ibrahim não foi quando lançou o seu livro “000  Contra Moscou”, mas quando foi eleito paraninfo de uma das primeiras turmas de comunicação da Universidade de Brasília. Elio Gaspari foi com ele a Brasília e ajudou a escrever a saudação. 

Eu saía do escritório na semana às 16:30h, indo de ônibus para a TV Globo, na Gávea, a fim de falar com meio mundo, colhendo notícias para o seu programa, “Ibrahim Sued, o Repórter”. Foram muitas “bombas-bombas”. Guardo fotos do programa de despedida quando me apresentou ao distinto público... 

Ibrahim me indicou a Joaquim Xavier da Silveira para um emprego na Embratur, ao Governador Raimundo Padilha para um emprego na Flumitur, e ao  Paulo Cesar Ferreira para um “bico” com o Ministro Delfim Neto – que se transformou num emprego com Carlos Alberto de Andrade Pinto no Embratur/IBC. 

Certo dia me inscrevi para comprar um fusca na Caixa. Não sabia nem dirigir. Falei para ele que fora sorteado, mas não podia pegar o carro, pois não tinha a entrada. No outro dia ele chegou com um envelope com o valor da entrada e me disse: “Vá pegar seu carro”. Fui pegar o carro com um amigo que o levou para garagem em Niterói. 

Num determinado momento ouvimos, eu e o Fernando, que ele atendia muitos telefonemas do Dr. Roberto Marinho. Percebemos que o Dr. Roberto o aconselhava a manter o casamento com Dona Glorinha Sued, mãe de seus filhos, de quem fora padrinho do casamento. Vida que segue, Ibrahim foi em frente seu destino e o Dr. Roberto se separou da mulher, Dona Stela, e acabou se casando com Dona Lyli, que fora sua namorada na juventude e que fora casada com Horácio Carvalho, dono do Diário Carioca. 

Quando andava de taxi comigo, se era reconhecido, não gostava. Pagava suas contas no restaurante onde almoçávamos juntos. Não aceitava cortesia. 

No natal recebia muitos presentes, eu mesmo ganhava dele muitas cestas que levava para Niterói. 

Apoiou-me quando da minha ida para Brasília, indicado por Elio Gaspari e Evandro Carlos de Andrade, para assessorar o Nascimento Silva. O Nilo Dante indicou o Ricardo Boechat para me substituir. 

Quando Ibrahim ia à Brasília eu era seu motorista, do aeroporto para o hotel e do hotel para onde fosse. Continuei como informante da coluna, em admiração ao mestre, ao líder, ao colunista, a quem me acolheu com humanidade na parada do meu rumo.


 

Nota do Editor 

O jornalista cearense João Bosco Serra e Gurgel foi proposto à quadraginta numerati da ACLJ pelo confrade Fernando César Mesquita, tendo sido eleito e com posse prevista para o dia 04 de maio próximo, na Cadeira de nº 23. Nessa crônica de estreia ele fala de sua longa convivência jornalística com um dos primeiros e mais famosos cronistas sociais do Brasil, o carioca Ibrahim Sued (1924-1995).