sábado, 28 de dezembro de 2019

RESENHA - Franciscos: Moradores do Céu de Vianney Mesquita (LF)


Franciscos:
Moradores do Céu
de Vianney Mesquita
Linhares Filho*


Desvia-te do mal, e faze o bem. E terás uma morada eterna, porque o Senhor ama a equidade, e não desamparará os seus santos: serão eternamente conservados. (BÍBLIA, Salmos, 36-27,28).


Depois dos comentários críticos autorizados, abrangentes e cheios de sensibilidade, assinados, respectivamente, pelo professor, teólogo e acadêmico Myrson Lima, pelo professor, engenheiro e teólogo Duílio Reis da Rocha e pelo médico-cirurgião cardíaco Fernando Antônio Mesquita, todos pronunciando-se sobre o magnífico livro Franciscos: Moradores do Céu, de autoria do polígrafo e professor Vianney Mesquita, pouco resta falar acerca dessa obra e do seu festejado autor.

Diante das biografias dos catorze santos de nome Francisco, criteriosamente apresentadas pela erudição, competência teológica e linguística do cristão católico Vianney Mesquita, o que fica no coração e na mente do leitor é uma vontade imensa de ser bom, de seguir as virtudes dos vários santos e santas focalizados. E acredito que esse deve ter sido o desiderato maior da mensagem do grande hagiógrafo de quem me honro de ser amigo e admirador.

Avultam no livro a pesquisa acurada, o espírito de sensibilidade cristã e a fidelidade aos dogmas católicos, que orientaram a escritura do precioso livro, trabalho que surgiu inspirado pelas virtudes franciscanas do santo que precedeu na glória a todos os outros eleitos que se retratam no aludido livro e, de modo mais próximo, suscitado pela tese de igual valor, Francisco de Assis, Alegria e Santidade na Pobreza, escrita pela competência e piedade da escritora Socorro Lima Mesquita, digna consorte de Vianney. Importante salientar que a vida conjugal do casal Mesquita constitui, antes dos dois livros escritos, realçados aqui, um verdadeiro livro aberto e vivo de virtudes heroicas.

Não se pode esquecer que uma obra como essa em causa, Franciscos: Moradores do Céu, foi concebida com grande sensibilidade poética, graças à vis poética do seu autor, demonstrada em outras oportunidades como em ... E o Verbo se Fez Carne, sobre parte do Evangelho de São Lucas.

Como conclusão deste meu pequeno testemunho, vai uma proposta a Vianney Mesquita. Já que ele se chama João e que não é menos rica a quantidade de santos com esse nome no céu, que ele proceda a uma pesquisa dos seus xarás glorificados para matéria de um novo livro de sua autoria. E espero que, como corolário dos Joões moradores do céu, Deus contará na glória com o próprio João Vianney Mesquita, pois, como este mesmo prevê num poema,

 Quando Ele me tirar a vida, então,
 Arrepender-se-á da decisão
 E acederá que eu viva novamente



sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

ARTIGO - É O Que Se Tem (RV)


É O QUE SE TEM
Reginaldo Vasconcelos*


Jair Bolsonaro está muito longe de ser o presidente que desejávamos. Particularmente, eu preferiria um estadista, um diplomata, que falasse corretamente o português – sem articular um “porra” a cada frase – idealmente que também dominasse o inglês, para melhor se comunicar com o mundo todo.

Que fosse um orador prodigioso, que soubesse se colocar com clareza e beleza, e que não falasse com a secura e a objetividade áspera dos discursos militares, reproduzidos nos pronunciamentos do mítico Bolsonaro. Que soubesse ser incisivo sobre os fatos e as pessoas que lhe causem desagrado, mas sem ser rude e agressivo.

Seria desejável também que Jair Messias tivesse filhos bem formados e polidos, profissionais brilhantes, egressos das melhores escolas e Universidades nacionais, com pós-graduações no Exterior, acima de quaisquer suspeitas – em vez de três “meninos do Rio” falastrões, imiscuídos na podre política carioca, que vem produzindo tantos presidiários quando a bandidagem das favelas.

Melhor seria, ainda, que o seu mentor filosófico fosse um pensador de boa cepa, que tivesse uma visão enérgica sobre a missão de um presidente, mas que trouxesse a marca dos homens sábios – a serenidade – ao invés de um velho apátrida e boquirroto, cujo linguajar se nivela com o jargão da ralé.

Mas Jair Bolsonaro é o que se tem na Presidência, eleito democraticamente, e que, convenhamos, se tem comportado de maneira honesta e democrática, garantindo ampla liberdade de imprensa, sem reprimir manifestações populares, sujeitando-se ao crivo severo, e nem sempre ético, de cada uma das casas dos demais Poderes da República.

E, em última análise, o Brasil vinha atolado até o pescoço em lixo humano, em todas as esferas da vida nacional, com agentes públicos mancomunados com empresários desonestos, produzindo uma sangria hemorrágica no erário.

Não se pode negar que a economia do País vivia um caos – fosse por meio de mera incúria administrativa, fosse por vias da corrupção, fosse mantendo “bondes da alegria” com fins eleitoreiros, fosse através de conchavos ideológicos com republiquetas de bananas, das Américas e da África, em que grassam as mais odientas ditaduras, em forma de comandita ou em regime hereditário.

Sendo assim, precisávamos mesmo de um tosco “limpa-trilhos”, a pá de aço de uma retroescavadeira, porque um para-choque de plástico não iria resolver, visto que um presidente débil e muito maneiroso, cheio de ademanes delicados, ostentando punhos de renda, não resolveria o drama moral e ético que o País vinha vivendo.

Seja como for, é preciso pensar no bem do País, e torcer que o Governo dê certo – apesar das pessoais frustrações político-ideológicas – pois adotar o “quanto pior melhor” é antipatriótico e desonesto. Desejar e trabalhar para que o Presidente fracasse é desprazer o bem comum, em nome de convicções políticas próprias. É como desejar a morte do ente querido só para contrariar a tese médica.

O que é fato é que Bolsonaro não se revelou um autoritário perigoso, com tendências revolucionárias, nem um racista desumano, ao contrário do que se temia, nem um homofóbico intolerante, desmentindo o que se dizia. E reformas difíceis, mas necessárias, vêm sendo implementadas.   

Ademais, sob Bolsonaro a economia vem melhorando, e com tendência de baixa de rentismo especulativo e alta das aplicações em Bolsa de Valores, sem inflação e com juros baixos, em viés de crescimento do mercado de trabalho – o que a grande imprensa não pode negar (vide matérias abaixo) – mas que não dá o devido crédito ao Governo, como se os bons resultados fossem obra exclusiva do acaso ou do destino. E é claro que, se fosse o contrário, teria logo sido eleito o culpado, que não seria outro senão o Presidente da República.



  
Embaixo, a mensagem de fim de ano do Presidente Jair Bolsonaro, ao lado da Primeira-Dama Michelle  e no link mais abaixo um longo vídeo com a sua prestação de contas pessoal. Vale conferir, até para fundamentar a crítica e fazer as censuras pertinentes. 




CRÔNICA - Pensamento (ES)


PENSAMENTO
Edmar Santos*


Um ano que se finda, outro prestes a iniciar. Tempos festivos, mas também, espera-se, de muita reflexão.

Quando queremos externar nosso pensamento, geralmente usamos a fala; esta, com sons “formados por um conjunto de letras”: as palavras.

Sementes são “óvulos maduros” que vão gerar outros seres.

Que importa isso? Já explico: É que eu estava lendo a bíblia cristã, na versão de Peterson (2011), e em seu prefácio li uma palavra composta que me chamou a atenção: “Palavras-sementes”. Fiquei absorto por um átimo de tempo.

Refletindo sobre essa formação e o sentido que ela carrega, me coloquei em um exercício de autocrítica: quantas sementes andei espalhando? E, mais importante: de que tipo?

Uma coisa é certa: sei que falei muito. Não é para menos! Como diria Gibran (1883-1931): As palavras são muito pobres e insuficientes para expressar os sentimentos íntimos do coração do homem”. Ele estava certo: sei que nem sempre falei o que queria; nem a metade disso.

Semeei muita coisa boa, já colhi bons trigos, quem sabe outros virão. Sei que também lancei sementes de joio por aí, e os que já colhi foram por merecer. Lição: não é que devamos semear menos, temos que escolher melhor as sementes que vêm do coração. “A gente colhe o que semeia”.

Em 2020 o tempo será de exercitar o aprendizado.

Feliz ano novo!


quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

NOTA CULTURAL - Crianças Cantantes (IM)


CRIANÇAS CANTANTES 
DE VIÇOSA
Inês Mapurunga*



Um coral de crianças, da escola “O Pobre de Deus, do sertão de Viçosa do Ceará, local denominado Oiticicas – berço de minha mãe – se apresentaram na Padaria “Pão da Vida”, daquela cidade serrana em que nasci – cantando hinos de natal, sob a minha regência.


A escola e a padaria pertencem a espíritas de Viçosa, que mantêm um projeto de reforço escolar, com programas de arte e esportes, que acolhe 240 crianças da região. A canção executada no vídeo acima – “O Sino dos Carneiros” – é de minha autoria.


terça-feira, 24 de dezembro de 2019

ARTIGO - O Desprestígio dos Especialistas (RMR)


O DESPRESTÍGIO
DOS ESPECIALISTAS
Rui Martinho Rodrigues*



Intelectuais alcançaram grande prestígio. A escrita e a imprensa difundiram as ideias dos pensadores que antes falavam para um círculo restrito de pessoas. Depois de Johannes Gensfleisch Zur Laden Zum Gutenberg (1397 – 1468) veio o enciclopedismo e o jornalismo.

A Revolução Francesa guarda relação com a difusão de ideias iluministas por estes meios. Igualdade, liberdade e fraternidade são exemplos de promessas que deram prestígio e acatamento aos pensadores.

A “fraternidade” da guilhotina degolou milhares de cabeças, inclusive dos seus arautos, como Jeorges Jacques Danton (1759 – 1794) e Maximilien François Marie Isidore de Robespierre (1758 – 1794). Mas não desacreditou os ideólogos. Quem explica a realidade são os intelectuais, que se justificam, o que é humano, e o fazem com grande habilidade.

A violência jacobina pode ser desfavoravelmente comparada com a revolução de 1688, no Reino Unido. Esta fez conquistas semelhantes ao que a francesa prometeu. A violência na França foi desnecessária, mas empolga admiradores até hoje.

Intelectuais gostam da “fraternidade” da guilhotina e não se autoincriminam. Os seus fracassos não impediram que conquistassem amplo apoio. Lembrar os direitos de todos sem falar em obrigação ou esforço faz prosélitos. O jusnaturalismo é invocado por alguns, como se direitos potestativos tivessem exigibilidade. É engano ou enganação.

Teologias invocam a fraternidade para legitimar exigibilidade do que representa ônus contra terceiros, como se o bem-estar material fosse parte do cristianismo. Este, porém, diz: “Na vida tereis aflições” (João, 16;33). O cristianismo é uma soteriologia voltada para o sobrenatural; é escatológico; prega a solidariedade como responsabilidade pessoal intransferível, não podendo ser delegada ao Estado, para se evadir do ônus pessoal, assim transferido para terceiros.

Um intelectual francês frequentemente vinha ao Brasil. Era incensado e propunha políticas generosas. Deixou de vir para não responder por crime de pedofilia. Paul Bede Johnson (1928 – vivo), no livro “Os intelectuais”, descreve os maiores pensadores revelando o mal caráter da maioria deles.

O fracasso das experiências salvadoras dos “sábios”, desde o malogro de Platão (428/427 a.C. – 348/347 a.C.) em Siracusa, ao tentar por em prática suas ideias, não desanima os ideólogos. Eles perseveram no erro. Platão escreveu “As leis” se retratando do que havia dito na “República”. Professores, porém, não recomendam a leitura da retratação.

O desequilíbrio de muitos intelectuais e o fracasso de suas teorias começa a causar descrédito, ao que reagem atacando a classe média. Usam abusivamente a categoria de análise classe social. Mas teorias de estratificação social não são pacíficas. Seria preciso dizer se usam o critério da origem da renda, de Karl Heirinch Marx (1818 – 1883) ou a quantidade de renda (posição no mercado), de Maximiliam Karl Emil Weber (1856 – 1920), para demarcar as classes.

Não são científicos ao fazer proselitismo. A classe média, nas universidades, só encontra autores “progressistas” por quem é odiada, como Marilena de Souza Chaui (1941 – viva), que prega paz e amor, mas odeia a classe média por quem é admirada e a quem vende livros.

A classe média deu muitos revolucionários; mora nos bairros elegantes e vota nos candidatos “progressistas”. O conhecimento pode ser obstáculo epistemológico (Gaston Bachelard, 1884 – 1962) e causar a cegueira dos paradigmas (Thomas Samuel Kuhn, 1922 – 1996).

O povo percebeu e a política sentiu tudo isso.

Aracajú, 23/12/19.


CRÔNICA - Então É Natal (TL)


ENTÃO É NATAL
Totonho Laprovitera*


Ah, se todo dia fosse Natal...


Hoje contarei sobre breves passagens que nos fazem entrar de vez no espírito natalino.

Em meio aos festejos deste final de ano, um amigo me segredou que recebeu o telefonema de uma colega de repartição dizendo: “Ei, amor, vamos fazer um pré-natal...” Ela se referia à antecipação da festa natalina, mas ele quase morreu do coração!

Falando em Natal, lembro bem do seguinte trecho de uma homilia do Padre Osvaldo, na dominical Missa na Igreja do Abrigo, em Sobral.

Na manhã seguinte à noite de Natal, dois meninos foram conferir os presentes.

O primeiro, ao encontrar debaixo da cama um belo caminhãozinho de brinquedo, daqueles de flandres e molejo na suspensão, perguntou: “Pai, e se ele quebrar? Mãe, e se eu perder? E se alguém me tomar?”.

O segundo, ao encontrar apenas três bocados de esterco de cavalo debaixo da rede, perguntou: “Pai, mãe, quede o meu cavalo?!”.

Bem, Dia de Natal é reservado para os cristãos praticarem somente o bem. Sendo assim, que o espírito natalino dure um pouquinho mais, né? Ser humano é ser fraterno e justo. 

Amar ao próximo é amar a si mesmo, é amar a Deus, que nos fez,num gesto de desprendimento, à sua imagem e semelhança. 

Que o Natal nos renove a fé, e o Ano Novo seja uma porteira aberta para nossos sonhos e realizações!


COMENTÁRIOS:

Essa croniqueta do Totonho Laprovitera, que ele já fez publicar no jornal físico e virtual “O Otimista”, me comoveu especialmente porque, tratando de uma homilia do Padre Osvaldo, ele diz do menino que deduziu ter ganhado um cavalo.

Eu fui um menino que ganhou um cavalo, o Valete – e tenho uma crônica em que, me referindo à minha primeira experiência amorosa, digo: “... e me senti como um menino que ganha um cavalo”.


Não só isso, dei um cavalo de presente de Natal a uma das minhas filhas – na verdade um pônei fêmea, a Babalu – que lhe foi entregue dentro do quarto de dormir, em plena cidade. Foi um lindo sacrifício cumprir isso.

Reginaldo Vasconcelos

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Que história linda a do cavalo!!! Da crônica e do comentário do Reginaldo!!! O que mais me chamou a atenção foi a palavra "quede". Só quem tem origem sertaneja entende!

Karla Karenina

   


segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

MENSAGEM DE FIM DE ANO



MENSAGEM DE FIM DE ANO
2019

Em meu nome, e em nome da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, quero deixar uma mensagem de fim de ano aos amigos e aos confrades, fazendo uma saudação especial ao novo membro titular, O Dr. Cabeto Martins Rodrigues, que acaba de tomar posse; ao Dr. Cândido Albuquerque, Magnífico Reitor da Universidade Federal do Ceará, eleito o Homem do Ano em 2019; ao Economista Mansueto Almeida, Secretário do Tesouro Nacional, por sua vez eleito Destaque Cearense; bem como ao Maestro Marcelo Melo, que recebeu a Medalha do Mérito Cultural da ACLJ.

Faço ainda uma menção carinhosa ao nosso Presidente de Honra, o Senador Cid Saboia de Carvalho, ao nosso Presidente Emérito, o Prof. Rui Martinho Rodrigues, e aos nossos decanos, o Dr. Cássio Borges e a Poetisa Concita Farias.

Agradecendo ainda o empenho dos confrades Alana Alencar e Karla Karenina, Paulo Ximenes e Júlio Soares, que organizaram três grandes saraus de poesia para a ACLJ neste ano.  E louvando principalmente os nossos Beneméritos mais assíduos – os empresários Graça da Escóssia, Beto Studart, Igor Barroso, Paula Frota, José Augusto Bezerra e Lúcio Alcântara.   

Enfim, augurar a todos os acadêmicos um feliz natal, no seio de suas famílias, e um 2020 repleto de realizações, extensivamente a todos quantos vêm contribuindo para o engrandecimento da nossa Confraria, na sua nobre missão institucional.

Lavivá!

Reginaldo Vasconcelos
     PRESIDENTE DA ACLJ   


POEMA DE NATAL - Manjedoura (HE)


MANJEDOURA
Humberto Ellery*

I

O casal de judeus bateu na porta
de pensões, estalagens, residências,
em busca de abrigo. Quem se importa,
de hospedar judeus sem referências?

II

A mulher, em gravidez adiantada,
sentia que o parto estava perto.
O homem, não pensando em mais nada,
saiu em busca de um lugar coberto.

III

De repente um abrigo de animais,
um telheiro a proteger vacas e bois.
Na rua, pelo menos, não estou mais.

IV

Vamos cuidar desta criança loura.
Assim fizeram. E o Rei dos Reis
Teve por berço uma manjedoura!


Que a sublime Humildade presente no nascimento de Jesus, nos mostre neste Natal que a maior das virtudes, a terra fértil de onde brotam todas as outras, possa pautar nossas festas cristãs na comemoração renovada de seu nascimento, ano a ano, e seja nossa guia nesse ano de 2020 que se aproxima.

A Humildade de Jesus nos envolva a todos, e traga alegria, paz e prosperidade aos nossos lares.

São os sinceros votos meus e de minha família.

Beijo vocês todos.


CRÔNICA NATALINA - Mágica de Natal (ES)


Mágica de Natal
Edmar Santos*


Não havia neve. Na verdade, no lugar onde moro nunca houve; o calor beira aos quarenta graus. Chaminé tampouco. Não há necessidade de tê-las. Nem renas. São bichos das regiões frias. Papai Noel? Não. Outro personagem.

– Como se deu uma magia de Natal, então?  – Você indagaria. Foi assim:

No meu guarda-roupas constavam blusas de mangas longas que eu usava para o trabalho, quando estava em atividade administrativa. Ainda me serviam, apesar de eu ter aumentado de peso. No entanto, evitava usá-las, pois, sempre que eu às observava nas cruzetas, elas me traziam recordações de um tempo que eu prefiro deixar para lá. Elas suscitavam imagens desagradáveis. Porém, ainda não tinha me desfeito delas.

Então, certo dia, quando eu saía de um dos plantões em meu lugar de trabalho, um jovem me perguntou se eu teria umas roupas para doar-lhe, pois estava chegando o fim do ano e ele não teria condições de comprar nada. Respondi-lhe que iria ver.

Ao chegar em casa, separei aquelas roupas que ainda me serviam, porém, representavam desagrados para mim. Embrulhei tudo.

Em outro dia, ao entregar o presente ao solicitante, esse se expressou com uma grande alegria, ao ver as roupas e experimentar ali mesmo; foi de uma energia muito agradável. Ele me disse com o tom brando e agradecido:

 – Todas ficaram muito boas. O senhor não sabe o quanto lhe sou grato por ter se lembrado de mim!

Aquelas peças de roupas que me traziam uma certa angústia, passaram a figurar uma alegria real para outro e, por irradiação reflexa, também para mim. A magia foi aí! Nem tanto pela metamorfose na representação daquelas peças, mas, principalmente, por outra coisa: o agradecimento dele não foi necessariamente pelas roupas, mas por eu haver lembrado dele.

Ele não agradeceu ao Papai Noel. Disse: “Obrigado, meu Jesus Cristo!”

Agradeci também!



COMENTÁRIO:

Com Jesus Cristo, seremos sempre capazes de ressignificar nossas vidas, nossos laços, nossas lutas!

Joanna Santos



sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

ARTIGO - A Era da Manipulação (RMR)


A ERA DA
MANIPULAÇÃO
Rui Martinho Rodrigues*


Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) elaborou uma tipologia dos regimes políticos, descrevendo o espírito de cada um deles, bem como a decadência que os acomete. O fundamento maior da monarquia seria a honraria oferecida aos que servem à causa pública.

A democracia buscaria amparo na virtude altruística dos cidadãos, que dedicariam esforços em prol do interesse social, sem visar nenhum benefício pessoal. Previu também a decadência de cada um dos regimes. A Monarquia tenderia a degenerar em tirania, cujo fundamento seria o medo.

A democracia decadente seria demagógica, algo aproximado ao que hoje conhecemos como populismo. O fundamento deste seria o engano, a prestidigitação, as falsas promessas, o engodo como forma de angariar apoio.

Hoje temos a propagação da ideia da igualdade na linha de chegada, também conhecida como igualdade de resultados. Assim, a desigualdade é a tônica da crítica social e das campanhas políticas. A melhoria de todos os indicadores de qualidade de vida nada significa, só porque a desigualdade aumentou.

Redução da mortalidade infantil, mais longa esperança de vida, índice de alfabetização em alta, mais anos médios de escolaridade, acesso ao ensino superior e democratização do acesso aos bens que representam conforto não valem nada. Este último aspecto é desqualificado como “consumismo”, porque já não se pode arguir a velha tese da “pauperização”. A renda melhora, não se fala mais em “exército industrial de reserva”, salvo quando a pregação é dirigida a um público domesticado.

A demagogia de que falava o estagirita assumiu a forma de manipulação por meio de sofisticadas técnicas de manipulação. Assim, não é percebida como demagogia, mas como teorias sociológicas, políticas, econômicas ou como Filosofia e até como Teologia.

Assim, enganam principalmente os mais letrados, que são mais submetidos ao bombardeio das teorias equivocadas, que tanto agradam a quem gosta de se sentir virtuoso, ao modo de D. Quixote, atacando moinhos de vento, tal como o personagem de Miguel de Cervantes Saavedra (1547 – 1616). É deveras gratificante olhar para o espelho e dizer: espelho meu, espelho meu, quem é maior defensor dos pobres do que eu?”. Não importa que tal “defesa” prejudique os supostos beneficiários.

A manipulação fabrica ícones. Promove pessoas a condição de gênios, heróis, mártires, santos ou mistura de tudo isso. Análise política, histórica, sociológica, jurídica ou econômica, com a licença poética para focar no lado trágico da realidade, faz sucesso. Sem vítima e sem perseguidor não há lugar para salvadores. A climatologia é uma ciência de grande complexidade. A ecologia também o é. Ambas repercutem fortemente na economia e na política, áreas do conhecimento que desafiam a nossa compreensão.

Clima, ambiente e interesses políticos e econômicos, inclusive nas relações internacionais, se misturam, formando um conjunto cuja compreensão não é fácil para estudiosos experientes. Pontificar sobre isso exige pessoas qualificadas. Mas não se oferece tribuna aos cientistas sem uma triagem política e ideológica. 



Isso não basta. É preciso deslocar o foco do campo cognitivo para a esfera da sensibilidade, da emoção. Convocar uma menina, leiga e principiante até como amadora, para discorrer sobre o que não entende, é parte da manipulação típica da curva descendente da democracia. É demagogia. Encontra campo fértil onde doutores não são doutos e combatem moinhos de vento, montando teorias que não passam de pangarés, porém fáceis de compreender e de “vender”, porque têm vítimas, perseguidores, mártires e heróis.

Aracaju, 19/12/19.




COMENTÁRIO

Rui Martinho Rodrigues repercute aqui no Blog uma longa e saudável discussão, mantida ontem entre confrades, em alto nível, no Grupo de Whatsapp da ACLJ, sobre o Educador Paulo Freire, seus méritos e seus equívocos.

Coloquei “minha colher” no debate para dizer que os mitos históricos nem sempre são os heróis que se imaginam, ou, por outra, os vilões que se fez deles – a começar pelo notório traidor de Jesus Cristo, Judas Iscariotes, sobre o qual há estudos historicistas absolutórios, bem descritos e fundados.

Lampião foi um bandoleiro celerado, que para alguns se afigura um herói da resistência social, contra os poderes constituídos de seu tempo; Zumbi dos palmares, um bravo olímpico; Lula da Silva um salvador da pátria, que pretensamente se tornou mártir do perverso estamento judiciário federal brasileiro... e assim por diante.

Certa vez, há muitos anos, apaixonamo-nos à primeira vista eu e uma bela moçoila que visitava Fortaleza. Ela tinha constituído, como passatempo, um namorado local, desde a sua chegada, e quando nos conhecemos estava no seu último dia na Cidade. Restava-nos admirarmo-nos de longe, durante o luau que os amigos comuns promoveram na praia do Náutico para a sua despedida.

Então um sujeito, aparentemente benemérito, que eu mal conhecia, notou o nosso drama e montou um estratagema heroico que facilitou o nosso contato e nós pudemos realizar aquela fresca paixão, e nos despedir ao luar como queríamos, desfazendo-se de imediato aquele namoro anterior.

Um dia encontrei o rapaz que tramara aquele idílico resultado, e quis agradecer-lhe pelo que ele fizera por mim naquela noite, quando então, muito honestamente, ele me respondeu que, na verdade, eu não lhe devia nada, porque nada fizera para me favorecer, pois ele agira naquela noite como cupido alcoviteiro porque “era apaixonado pelo namorado da menina”.

Analogicamente, no macrocosmo social, muitas vezes as ideias grandiloquentes e os atos de altruísmo e de bravura das grandes personalidades do passado foram realmente movidos pelos mais torpes interesses, com as intenções mais bestiais.

Não raro os grandes ícones incensados pensaram egoisticamente, plagiaram anônimos, ou agiram por manifesta covardia, de forma vil e injusta, não raro se louvando nos méritos de terceiros que a história sonegou. E entraram para a posteridade como sábios ou como heróis.

Reginaldo Vasconcelos