quinta-feira, 29 de novembro de 2018

CRÔNICA - Tenda Árabe (WI)


Tenda Árabe
Wilson Ibiapina*



Estava olhando aqui no blog da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, uma reunião na Tenda Árabe. Trata-se de um espaço criado pelo advogado e jornalista Reginaldo Vasconcelos para reunir os amigos, principalmente, os que são membros da ACLJ. A Tenda fica no quintal de sua casa, entre a Embaixada da Cachaça e a cozinha de sua residencia.


São as fontes da bebida e da comida que abastecem os frequentadores da Tenda. Na Embaixada,  o Altino Farias disponibiliza qualquer marca de qualquer lugar do Brasil, ali na Rua João Brígido, 1245. “Cachaça é momento”, diz Altino.  

Da cozinha do Reginaldo saem  as peças de resistência.   Esse local de encontro saudável só me faz lembrar  o professor  Filgueira Sampaio, autodidata que durante anos  lecionou em vários ginásios, colégios e academias da capital cearense.

Foi jornalista, membro da Associação Cearense da Imprensa e  trabalhou no diário católico “O Nordeste”.  Dirigiu em Fortaleza,  o  Instituto Valdemar Falcão, onde procurou sempre imprimir a seus alunos uma educação dentro dos mais rígidos princípios de fidelidade á Pátria. 

Um dia, no inicio da década de 60, eu e o Narcélio Limaverde fomos convidados pelo jornalista Teixeira Cruz para conhecer o grande poeta popular, que vinha do Cariri. O encontro foi  na residência do professor Filgueira Sampaio, fundador da Associação Cearense de Folclore, que teve como seu primeiro sócio honorário o historiador, folclorista e poeta Luis Câmara Cascudo. 

A associação, assim como a Tenda Árabe, recebia os convidados no quintal da  casa do professor, debaixo de uma árvore frondosa, que até hoje nem eu nem o Narcélio lembramos  se era  oiti ou pé de jaca. Não pergunte que árvore é aquela que nos abriga na Tenda Árabe. O professor Filgueira mandou servir um vinho de nome Velho Capitão. Dizia  que era uma homenagem a Assis Chateaubriad, na época nosso patrão nos Diários e Emissoras  Associados.

Quando ainda estávamos no segundo gole, o professor começa a apresentar o homenageado da noite, um poeta simples, mas dos mais competentes. Antônio Gonçalves da Silva, que fazia versos como quem sabe ler e escrever.  E foi logo se apresentando:

Eu sou de uma terra em que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba do sofrer
Não nego meu sangue, não nego meu nome
Olho para a fome, pergunto o que há?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará

Era o Patativa do Assaré sendo lançado pelo professor Filgueira Sampaio. Um autodidata que honrou o Ceará e enobreceu a profissão. Um exemplo de vida dedicado á Educação. O Narcélio e eu viramos frequentadores da Associação, por suas atrações e pelo Velho Capitão.
  
Hoje, temos o Reginaldo, que  reúne intelectuais em sua Tenda. Expande cultura, congrega, agrega, diverte e incentiva. Reginaldo é hoje o que o Claudio Pereira foi no passado: um animador cultural, como foi o professor Filgueira Sampaio. Nas suas reuniões, além do folclore e da poesia popular, discute-se assuntos da Academia, como o título  “Homem do Ano no Ceará em 2018”, que será entregue ao engenheiro Ângelo Guerra, o melhor diretor do Dnocs. Entram temas como  disco voador, passando pela economia, literatura, esporte, religião, mulher – e vão  até  ao papo furado, aquele que quando se olha o relógio já acabou o dia. Uma tenda das mil e uma noites, uma tenda dos milagres.




COMENTÁRIO

O querido confrade Wilson Ibiapina escapa de se tornar um frequentador inveterado na nossa Tenda Árabe, porque mora longe, radicado em Brasília há tantos anos. Então, torna-se um frequentador eventual da Tenda e da Embaixada, como nos dois registros fotográficos.

Mas de lá ele saúda a cearensidade nessa crônica preciosa, lembrando gente tão grada como o nosso Narcélio Limaverde e o pranteado Patativa do Assaré – aquele recendente ao praiano murici, que medra nas dunas fortalezenses, este último trescalando o olorinho da sertaneja carnaúba.

E Ibiapina perpetra o exagero de me comparar a outros grandes, como o já antigo Filgueira Sampaio e o ainda recente Cláudio Pereira, entre os maiores catalisadores das pessoas de letras e das artes cearenses, perigando me fazer, imodestamente, acreditar ter esse mérito.

Resta-me acrescentar que a árvore que ainda enfeita a Tenda Árabe é um Cedro-do-Líbano, com exatamente a minha idade, ainda hirto como o cadáver de El Cid em seu cavalo, servindo de nicho ao ícone mariano na sua feição vinda a Iria, que, segundo a crença da minha saudosa mãe, vela por mim.

Quero anotar ainda que o espaço tido como o lounge da ACLJ na Embaixada da Cachaça que chamamos “Tenda Árabe” ganhou esse nome por influência do Senador Artur da Távola, o grande jornalista, político e musicófilo carioca, que costumava conversar comigo pela Internet a partir de um cômodo especial de sua casa, no Rio de Janeiro, que ele assim denominava, pois ele era neto de árabe pela sua linha materna.

Reginaldo Vasconcelos
     


NOTA CULTURAL - Edição Especial da Tapioca Cultural


EDIÇÃO ESPECIAL
da
TAPIOCA CULTURAL


O Prof. Juarez Leitão, da Academia Cearense de Letras, promoveu nesta quarta-feira (28.11.18) uma edição especial da sua “Tapioca Cultural”, evento em que ele recebe, a  cada mês, uma plêiade de intelectuais cearenses.



Desta vez a reunião, em clima de confraternização natalina,  foi em torno do jovem poeta cearense Mailson Furtado, da cidade de Varjota, ganhador do Prêmio Jabuti de Literatura, com o seu livro-poema “À Cidade”, eleito “Livro do Ano” pela Câmara Brasileira do Livro. 

A atual presidente da Academia Cearense de Letras, a escritora Angela Gutiérrez, posando com  o homenageado. 

A ACLJ esteve representada nesta edição da Tapioca Cultural pelos acadêmicos Reginaldo VasconcelosHumberto Ellery, na imagem pousando com Mailson Furtado e com o Desembargador Byron Frota, respectivamente.


 



Disseram presente também os Membros Beneméritos da ACLJ, o Bibliófilo José Augusto Bezerra e o ex-governador Lúcio Gonçalo de Alcântara, que hoje preside o Instituto do Ceará  Histórico, Geográfico e Antropológico, ambos imortais da ACL. 



NOTA ACADÊMICA - Reunião na Tenda Árabe - Momento Cultural na Embaixada

REUNIÃO 
NA 
 TENDA ÁRABE


Na noite da última terça-feira (20.11.18) reuniram-se na Tenda Árabe os acadêmicos Adriano Jorge, Altino Farias, Paulo Ximenes, Rui Martinho Rodrigues, Arnaldo Santos e Reginaldo Vasconcelos.



A experiência gastronômica desta vez foi da mesa nordestina, vatapá de camarão com paçoca de pilão, à base de carne de sol gorda, cebola roxa e manteiga de garrafa. 



O  prato pertence ao repertório da cozinha regional da família do Presidente Reginaldo Vasconcelos, transmitido às gerações atuais  pela saudosa matriarca.  Seguiu-se à reunião a sessão leitura de poesia e de prosa poética, o “Momento Cultural da Embaixada da Cachaça”.



Esta prática artística e performática nasceu em Chicago, na Green Mill Tavern, em meados dos anos 80, por inciativa do escritor Marc Kelly Smith, disseminando-se por todo o país e depois pela Europa, e por outras partes do mundo. A palavra Slam refere a poesia produzida para ser lida em público.


Roberto Paiva, cliente da casa, sempre presente entre os leitores, abriu a sessão de leituras, seguido por  Sérgio Simonetti, que declamou poesias sertanejas, dos trovadores de sua cidade de Assu, no Rio Grande do Norte, terra de grande produção poética.









Vicente Alencar disse um de seus poemas, e Paulo Ximenes também apresentou um texto próprio.

Romeu Duarte prestou uma homenagem ao poeta Luciano Maia, da Academia Cearense de Letras e da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, lendo um poema de sua lavra, e depois algumas peças de Dejoses, de quem declamou três curtos versos. (Vídeo abaixo)



Reginaldo Vasconcelos leu uma crônica de seu livro O Passado Não Passa, intitulada Rachel Vive, escrita quando do falecimento da grande escritora e jornalista, em 2003. 

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

ARTIGO - O Martelo das Bruxas (RMR)


O MARTELO DAS BRUXAS
Rui Martinho Rodrigues*



As pessoas apontadas como bruxas, em certos momentos da Idade Média, eram torturadas para confessar as culpas a elas atribuídas. A confissão seria prova de culpa. Caso resistissem, também seriam culpadas, pois só os poderes de bruxas poderiam fazer com que resistis ao martírio. Tal procedimento recebeu o nome de martelo das bruxas. A luta pelo Direito afastou o dito martelo dos processos, juntamente com outros procedimentos. A política, todavia, continua a exercitar a prática medieval.

Compromissos de campanha devem ser cumpridos. Não devemos profligar quem honra promessas. As nomeações para o futuro governo, por qualificação técnica, foi compromisso de campanha. Poderá marginalizar os partidos. É reprovável? Sim, quando as agremiações políticas são merecedoras deste nome. Mas o que temos são agrupamentos obedientes a lideranças personalistas, formando “panelinhas”. Ademais, embora possamos discordar do procedimento e criticá-lo, não devemos deixar de reconhecer que se trata do cumprimento de promessa aprovada democraticamente pelas urnas. Nem devemos esquecer que os agrupamentos que não estão sendo consultados não são propriamente partidos.

Reprovávamos a troca de favores, o atendimento de interesses particularistas como guia das decisões políticas. Agora não devemos reprovar o procedimento que rompe com o presidencialismo de cooptação. As urnas pediram isso. É razoável a preocupação com a governabilidade, sem a cooptação. Mas é preciso tentar algo diferente, embora possa resultar em fracasso. Bancadas temáticas poderão substituir as “panelinhas” rotuladas de partidos? Só o tempo sabe a resposta. 

Lideranças personalistas, corporativismos e patrimonialismo são forças poderosas que não podem ser ignoradas, mas não devemos nos submeter a elas sem a menor resistência. Bancadas temáticas não anulam as forças do modelo que o eleitorado rejeitou, mas é oportuno tentar transformar a negociação com tais bancadas em tratativas programáticas, focadas em planos de governo, não em cargos. Posições na administração poderão resultar de tais acordos, mas para contemplar programas e realizações, sendo ainda condicionadas ao atendimento das exigências de qualificação dos postulantes de cargos.

A nomeação de pessoas cuja orientação política diversa do pensamento dominante nos espaços denominados por Althusser (1918 – 1990) como aparelhos ideológicos, constitui irregularidade? Não. Nomear pessoas representativas de correntes de opinião integrantes de uma frente vitoriosa é próprio do jogo democrático. Podemos criticar as posições políticas, mas não o acolhimento de tais posições, quando tenham sido respaldadas nas urnas.


terça-feira, 27 de novembro de 2018

NOTA JORNALÍSTICA - Medalha Ivens Dias Branco


BETO STUDART
RECIPIENDÁRIO
DA MEDALHA
IVENS DIAS BRANCO


A Academia Cearense de Literatura e Jornalismo (ACLJ), na pessoa de seu Presidente, foi convidada a comparecer à solenidade de outorga da Medalha Ivens Dias Branco, evento que terá lugar no Palácio da Abolição na noite do próximo dia 06 de dezembro.

Instituída pelo Governo do Estado do Ceará, a Medalha Ivens Dias Branco se destina a distinguir uma personalidade da sociedade cearense a cada ano, desta vez agraciando o empresário Beto Studart, Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).

O paraninfo da medalha, o megaempresário Ivens Dias Branco (1934-2016), de ascendência lusitana, foi um exemplo ideal de brasileiro – íntegro, próspero, modesto. 

Natural da cidade cearense de Cedro, a par de um fenômeno empresarial, foi um modelo de pessoa, um ícone de decência, de honradez, de dignidade.

Bom filho, bom marido, ótimo pai, parceiro ideal nos negócios, patrão excepcional e, especialmente, verdadeiro amigo dos amigos – o nome de Ivens Dias Branco confere peso excepcional a essa comenda criada pelo Governo Estadual.

Malgrado, a data e o horário da solenidade deste ano, para outorga dessa importante láurea ao empresário Beto Studart, coincidiram com aquelas previstas para a Assembleia Geral Ordinária da ACLJ, já marcada e publicizada com grande antecedência, portanto insuscetível de mudança.

Lamentável por todos os títulos essa coincidência de data, tendo em vista pertencer Ivens Dias Branco ao panteão dos Membros Beneméritos da ACLJ, e o homenageado deste ano, o empresário Beto Studart, por seu turno, figurar nesta mesma  casta honorífica.



Porém, a ACLJ se congratula com o Governador Camilo Santana, pela iniciativa, cumprimenta o agraciado Beto Studart, e saúda a família Dias Branco – notadamente a nossa estimada Dona Consuelo, a atual Primeira Dama do Empresariado Cearense – bem como a Dra. Graça Dias Branco da Escóssia, que sucedeu ao ilustre pai na mesma dignidade benemérita.         

CRÔNICA - Oração Que Transforma (ES)


ORAÇÃO QUE TRANSFORMA
Edmar Santos*


O poema “Recomeço” do poeta cearense Bráulio Bessa soa como “uma oração”; como outros, também sinto assim. Diz mais ao coração do que ao ouvido.

Existem poesias, músicas, imagens, etc., que tomam o contexto de orações pela simplicidade e ao mesmo tempo, profundidade que alcançam em nosso eu mais submerso e primitivo. Propondo-nos um mergulhar em nossas angústias até não termos mais fôlego e, depois, resurgirmos renovados. Toda oração nos tenta a acreditar no impossível aos olhos humanos. Fé!

Orar crendo, sentir e viver a “dor que transforma” e que não pode ser curada com analgésicos, diferente da “dor que machuca”, esta qualquer pouquinho de Gelol faz passar. Que caiam todas as lágrimas que nos tragam a cura. Primeiro passo para superação!

Viver em busca da felicidade é suportar os momentos infelizes com a mente focada e esperançosa em um amanhã diferente e melhor; ainda que hoje prefiramos a escuridão do quarto à noite. Não importa quantos amanhãs tenhamos que esperar!

Oração de qualquer forma, sincera e profunda tem poderes transformadores que a ciência especula, explica alguma coisa, mas não entende toda pra aceitar. Ciência tem espírito, mas é científico!


RESENHA - Observatório (25.11.18)

PROGRAMA OBSERVATÓRIO


A edição deste domingo, 25 de novembro, do Programa Observatório, do jornalista Arnaldo Santos, recebeu o jornalista e advogado Reginaldo Vasconcelos, e os juristas e professores Roberto Martins Rodrigues e Rômulo Leitão, este último Procurador do Município de Fortaleza, todos componentes de sua equipe de debatedores.



O tema central foram as expectativas sobre o futuro Governo Bolsonaro, eleito em outubro último, e que realiza a transição neste momento,  enquanto forma o seu Ministério. 

Arnaldo Santos inciou o debate pontuando que o Presidente Eleito Jair Bolsonaro suavizou o discurso, que durante a campanha tinha um viés preconceituoso e autoritário, mas que agora se mostra mais moderado, resiliente, seguindo uma linha mais conciliadora e mais cordata.  


Roberto Martins Rodrigues comendou a conduta presidencial, considerando inconsistentes as posições de Bolsonaro, que avança e recua, manifestando o seu receito de que, em face disso, o seu Governo fracasse – embora asseverando que deseja e torce pelo seu pleno sucesso, no interesse do País. 
  
Reginaldo Vasconcelos obtemperou que os aparentes recuos do Presidente Eleito Bolsonaro também seriam avanços, já que ele tem demonstrado humildade na disposição de recuar nas suas posições mais polêmicas, ouvindo os mais proficientes conselheiros. E que ele vem cumprindo o compromisso essencial, que é o de fazer nomeações baseadas em critérios técnicos e meritórios.

Rômulo Leitão manifestou preocupação com a falta de apoio parlamentar que o novo Executivo vai enfrentar, já que pretende governar com as bancadas temáticas do Congresso, e não com os partidos, concordando com Arnaldo Santos que essa falta de sintonia com as Casas do Legislativo foi a razão dos dois impeachments de presidentes ocorridos no Brasil – além de ter dado causa a outros fracassos políticos no passado.    

Arnaldo lembrou que ao entrevistar Collor de Mello para a sua tese de mestrado, que se transformou em livro, o ex-presidente confessou que a sua deposição começou a ser urdida na sua campanha à Presidência da República, por ele se recusar a subir em palanques de candidatos ao Legislativo, e evitar salamaleques com parlamentares. 

Teme Rômulo que, ao ter que flexibilizar suas promessas de campanha, diante da grave realidade que vai enfrentar, Bolsonaro decepcione o eleitorado e isso provoque convulsões nacionais de grande porte, como grandes passeatas e greves, e que o País tenha que partir para o seu terceiro processo de impeachment

Em relação a essas perspectivas sombrias, Reginaldo lembrou que a quebra da ordem pública durante o Governo Bolsonaro, de modo a comprometer a paz social, poderá por em risco a democracia, pois os militares no poder tenderão a reagir de forma enérgica. E em acontecendo o impeachment, quem assumiria a Presidência seria o vice, nada menos do que o General Hamilton Mourão, um militar de linha dura

O Observatório, apresentado pelo Jornalista e Sociólogo Arnaldo Santos, titular fundador da ACLJ, vai ao ar todos os domingos, pela TV Fortaleza, canal 6 da Multiplay, às 23 horas, com reprises às segundas e sexta-feiras, às 22 horas.

CONVITE - Prêmio CDL de Comunicação - Cid Carvalho



sexta-feira, 23 de novembro de 2018

NOTA ACADÊMICA - Geraldo Amâncio Entre Imortais


GERALDO AMÂNCIO
ENTRE IMORTAIS 

A Decúria Diretiva da ACLJ elegeu nesta semana, para a Cadeira nº 28 da ACLJ, que tem como patrono o grande Patativa do Assaré, o poeta popular Geraldo Amâncio, detentor do título de Mestre da Cultura, status concedido pela Secretaria da Cultura do Governo do Estado do Ceará.

Essa cadeira foi fundada pelo cineasta Rosemberg Cariry que, algum tempo depois da posse, pediu a sua própria sublimação, evoluindo para a casta dos Membros Honorários. Rosemberg Cariry não se furta em participar de instituições culturais, de modo a prestigiá-las, porém prefere não se manter a integrá-las de forma efetiva, porque toda a sua energia e toda a sua agenda são dedicadas ao seu trabalho no cinema, de muito esforço e de muitas viagens pelo Brasil e pelo mundo, no qual ele quer se manter inteiramente concentrado.

Geraldo Amâncio, natural da Cidade de Cedro, é o mais representativo e atuante artista do repente de viola e da Literatura de Cordel, vertente da intelectualidade cearense especializada na sua cultura de raiz, que ainda não tinha um representante na quadratura da ACLJ. Amâncio apresentou, por anos, programas de TV dedicados a esse métier, em várias emissoras locais.     

Aliás, Geraldo Amâncio fundou com Rosemberg uma ONG dedicada à obra de Patativa do Assaré, que hoje cabe apenas àquele administrar, em face das referidas conveniências deste último, de modo que nada mais justo que um passe ao outro esse “bastão”: a cadeira acadêmica da ACLJ patroneada pelo seu mestre em comum.


O Presidente Reginaldo Vasconcelos, acompanhado pelos confrades Adriano Jorge e Paulo Ximenes, compareceu, na noite de ontem (22.11.18), a um avento público organizado na praça central da vizinha cidade de Aquiraz, denominado “Mestres do Mundo”, em que Geraldo Amâncio se apresentou, entre outros tesouros vivos da cultura do Estado, e, na oportunidade, fez-se o anúncio público da eleição de seu nome para a vaga acadêmica.
 
Geraldo Amâncio tomará posse na próxima Assembleia Geral da ACLJ, e, como já se tornou tradição, descerrará o retrato pictórico do patrono da Cadeira, Patativa do Assaré. Rosemberg, se estiver na Cidade, pretende comparecer para lhe vestir a beca.        

NOTA CULTURAL - Relançamento do Livro "O Outro Nordeste"


O OUTRO NORDESTE

O APRESENTADOR
(Rui Martinho Rodrigues)


Rui Martinho Rodrigues 
Antônio Vicente Mendes Maciel, Antônio Conselheiro (1830 – 1897) teria dito algo como “a roda grande ainda vai rodar dentro da pequena”. Hoje se cumpre a profecia do líder do arraial de Canudos: sendo um modesto professor de província, tenho a honra de apresentar “O Outro Nordeste”, um clássico conhecido por todo brasileiro letrado, de um autor com estatura de Titan. Ouso fazê-lo, todavia, por ter a possibilidade, como disse Isaac Newton (1643 – 1727), de me colocar sobre os ombros de gigantes para contemplar o trabalho de Djacir Menezes (1907 – 1996).

A edição que agora está sendo lançada foi enriquecida pelas valiosas contribuições de Antônio Paim, Paulo Elpídio de Menezes, Filomeno Moraes e José Estevão Machado Arcanjo, merecedoras da atenção do leitor, por serem novidades desta edição. Registre-se, ainda, que esta edição contém escritos do próprio Djacir Menezes que não fazem parte do “O outro Nordeste”, relacionados com o debate suscitado pela obra. 


A ÉPOCA E O AUTOR

Quem escreve o faz em um lugar e uma época, com muitas marcas daí resultantes. A pessoa do autor, porém, não se limita a expressar a influência do contexto histórico. Exagerar a importância da influência do meio seria incorrer naquilo que Karl Raymond Popper (1902 – 1994) classificou como mito do contexto. A perspectiva pessoal é proporcional ao vulto do pensador, com as suas contribuições, sem que isso signifique subjetividade sôfrega. Tomo a liberdade de situar “O outro Nordeste” na época e no lugar em que foi pensado, acrescentando algumas considerações sobre a pessoa do autor, também situado no tempo e no espaço, antes de abordar a obra clássica.

Um arquiteto, ao projetar um prédio, não precisa fazer nenhum material a ser usado na construção. A elaboração e execução do projeto se vale dos elementos produzidos por terceiros. As considerações que se seguem resultam de um modo de reunir contribuições como um arquiteto reúne materiais de construção em seu projeto. Não apresento aqui nenhuma informação inédita. Tento apenas ressaltar e associar achegas de autores cujos créditos tenho o cuidado de registrar.

Djacir Menezes nasceu em 1907, ano que para Eric Hobsbawm (1917 – 2012) pertence ao século XIX, pois segundo o historiador britânico a vigésima centúria só teria começado em 1914, com a IGM, mas no Brasil talvez o séc. XIX só tenha acabado em 1930. Abolição e República eram novidades de menos de duas décadas quando Djacir nasceu.

Logo, porém, entraria no século XX. O XIX pertenceu, inquestionavelmente, no mundo das letras, a Charles Darwin (1809 – 1882). Djacir Menezes entraria em contato, precocemente, com o naturalismo materialista tão fortemente marcado no “espírito da época”, como é referido por Antônio Paim, nos comentários desta edição.

Nota encaixada no final da presente publicação, encontramos o registro de um incidente em que o jovem Djacir, desafiando o professor de Filosofia do curso colegial, citou um autor naturalista, que via na generalização do darwinismo uma chave para encontrarmos respostas de largo alcance para as inquietações filosóficas. A resposta do professor aludiu a Immanuel Kant (1724 – 1804), apontando para um caminho alternativo ao itinerário árido do materialismo. Foi o bastante para acicatar a vontade de saber de Djacir Menezes, que passaria a estudar com denodo o autor referido pelo professor.

Mais tarde Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda (1892 – 1979) cruzaria o caminho de Djacir Menezes. Preocupado com a cientificidade do Direito, o autor de “O Outro Nordeste” publicaria, em 1932, “O problema da realidade objetiva”, adotando algumas teses neokantianas, distinguindo-se do mestre e amigo. Filosofia, como Direito, História, Sociologia e Geografia são algumas das disciplinas integradas por Djacir Menezes em suas reflexões, agindo claramente como polígrafo.

A Escola Culturalista Brasileira foi uma poderosa referência teórica e metodológica do autor da obra aqui apresentada. Nenhuma influência, porém, o aprisionou intelectualmente. Contrariando a tese da incomunicabilidade dos paradigmas, de Thomas Kuhn (1922 – 1996), Menezes sempre abriu os alforjes em que se constituem os paradigmas teóricos e metodológicos, refazendo suas lógicas e construindo sínteses distintas do ecletismo frouxo.

Djacir foi contemporâneo da Revolução Bolchevique, da Semana de Arte Moderna de 1922, da crise de 1929, do tenentismo, da Aliança Integralista Brasileira, da chamada Revolução de 1930, da Escola Culturalista Brasileira, da intensa efervescência intelectual vivida após cada uma das guerras mundiais, da queda da URSS e de todas as profundas transformações históricas do século XX, centúria dominada, no mundo letrado, pelo debate em torno das figuras de Karl Heinrich Marx (1818 – 1883) e Sigmund Schlomo Freud (1856 – 1939). Djacir enfrentou a delicada discussão sobre Marx. Não se deixou dominar pelas viseiras do culto à personalidade, nem pela demonização do autor polêmico, como havia enfrentado o estudo e os debates travados em torno das obras Immanuel Kant (1724 – 1804) e Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831).

É preciso, em alguns momentos, dizer o óbvio: Menezes foi contemporâneo do tempo em que viveu. O que não é cediço e precisa ser dito é que ele não foi apenas isso: colocou-se também, sob certos aspectos, fora dos condicionamentos do seu tempo. Foi assim, nas circunstâncias históricas aludidas, que escreveu “O outro Nordeste”, agora publicado com valiosos acréscimos em forma de comentários produzidos por qualificados estudiosos da temática e da obra citada, além de outros escritos do próprio Menezes agora colacionados ao livro clássico.


O OUTRO NORDESTE

O outro Nordeste”, cujo subtítulo é “Formação social do Nordeste”, foi publicado pela primeira vez em 1937, pela Livraria José Olympio Editora, na Coleção Documentos Brasileiros. Gilberto de Mello Freyre (1900 – 1987) recomendou, em carta dirigida a José Olympio, a obra que se tornaria um clássico, apadrinhando-a, conforme assinala Filomeno Moraes nos comentários colacionados a esta edição. O mestre de Apipucos reconheceu a importância da obra que tem por objeto o Nordeste pastoril e seco, diferente daquele Nordeste úmido e agrário por ele estudado. Entusiasmado com o texto de Menezes, sugeriu o título “O outro Nordeste”.

Acatada a sugestão de Freyre, Formação social do Nordeste, que seria o título dado pelo autor, passou a subtítulo. A obra vinha preencher uma lacuna. O Nordeste da obra de Menezes, adjetivado pelo autor de Casa Grande & Senzala; Senzala como pastoril, fora objeto de estudos de Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha (1866 – 1909), em seu opus magnum “Os sertões”, até então praticamente a única grande obra sobre a região, na qual partes foram dedicadas especificamente a terra e ao homem, antes de abordar a luta. Mas o clássico, elaborado em razão da guerra de Canudos, envelhecera marcado pelo racismo do seu tempo, na parte nomeada como “O homem”.

O objeto e a metodologia são matéria e forma de um livro. Tendo o Nordeste pastoril como objeto, como anuncia o título sugerido por Gilberto Freyre, a obra de Menezes tem como objetivo o que o subtítulo da primeira edição esclarece: a formação social da região.

As personagens, com os seus atos, somados aos fatos do ambiente, compõem a trama que o autor procura elaborar. O enredo de O outro Nordeste integra a Mesologia, distinguindo cuidadosamente as diversas zonas do ecúmeno nos sucessivos capítulos sem cair no determinismo geográfico. O fator humano, que está presente na trama aqui apresentada, ganha destaque na relação com o meio, como fica evidente nos capítulos “Etnogênese das caatingas e formação histórica do cangaço”; e “O binômio: o violento e o místico”.

A organização familial e política, no capítulo “A oligarquia, o comércio, o político”; juntamente com a organização administrativa, o movimento abolicionista e a análise do Ceará dos anos da Primeira República, nos capítulos subsequentes, foram enriquecidas por um apenso com escritos sobre “O processo econômico no ecúmeno do semiárido”, “A seca, o cangaceirismo e a literatura” e “O debate sobre o Abolicionismo Cearense”. A análise multifatorial de Menezes lembra, de certo modo, a constelação de fatores da rica metodologia de Karl Emil Maximilian Weber (1864 – 1920).

Mais não digo porque já me alonguei muito e porque Antônio Paim, Paulo Elpídio de Menezes, Filomeno Moraes e José Estevam Machado Arcanjo já apresentaram comentários cuja leitura recomendo.

Meus agradecimentos ao professor Paulo Elpídio pela subida honra de apresentar esta edição do grande clássico de Djacir Menezes.