segunda-feira, 29 de junho de 2015

NOTA ANIVERSÁRIA

POETISA CONCITA
SOPRA VELAS

Cumpre 85 anos neste 30 de junho a pedagoga e poetisa Concita Farias, Membro Fundador Emérito da ACLJ, Titular da Cadeira de nº 7, cujo Patrono Perpétuo é o saudoso historiador cearense Olavo de Alencar Dutra.

Concita, a decana da ala feminina dos acadêmicos efetivos da ACLJ, foi casada com o grande arquiteto cearense Armando Farias, um dos fundadores do Curso de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará, em que lecionava. 

Precocemente falecido o marido, Concita terminou de criar sozinha a sua prole, nela o acelejano Altino, engenheiro civil, construtor, cronista, blogueiro, fundador do jornal virtual Pelos Bares da Vida, hoje também empresário do ramo de entretenimento, fundador da Embaixada da Cachaça, um pub elegante e uma loja de bebidas finas do mundo todo, situado na Grande Aldeota. Na imagem abaixo, Altino Farias, mulher, filhos e genro, comemorando com Concita, no Flórida Bar, no ano passado, o aniversário de seis anos do jornal Pelos Bares da Vida.

Pedagoga graduada pela Universidade Estadual do Ceará-UECE, Arte Educadora pela Escolinha de Arte do Recife, formada também em Estudos de Ciências Religiosas, pela Universidade Estadual Vale Acaraú-UVA, Concita fundou um estabelecimento de ensino em 1971, "O Cogumelo”, que era absolutamente alternativo para a época, nos seus métodos pedagógicos, pioneiro em grande parte do que se aplica hoje em todas as creches, escolas maternais e jardins da infância, confirmando o acerto do que então ela fazia.

“O Cogumelo (...) destacava-se pela forma diferente de tratar e ensinar as crianças, sempre utilizando a arte como recurso lúdico, para atingir o fim didático e pedagógico. Poesia, música, desenhos, dança, expressão corporal, dramatização, recreação, teatro de fantoches, recorte e colagem, contação de história, tudo era instrumento de aprendizado para a vida, e também para se chegar ao conhecimento formal, aquele que era exigido para a classe posterior, a Alfabetização”  nos informa a sua filha, a bibliotecária Ana Luíza.

Não significa que lhe tenham todos copiado, posto que isso possa ter acontecido aqui e ali, de modo pontual, mas indica que Concita Farias antecipou, por sábia intuição, metodologia original, que outros só descobririam anos à frente.   


Parquinho? Tinha sim, mas, todo projetado artesanalmente e artisticamente (a arquitetura e a pedagogia se uniam em corpo e alma), visando explorar a coordenação viso-motora – ladeiras e degraus, para subir e descer; pontes, para passar e se equilibrar; pneus coloridos (aqui cabe ressaltar o pioneirismo absoluto), para fazer caminho de obstáculos; anéis de cacimba, para servir de casinha e abrigo; areia, muita areia de praia, para brincar e se sujar. E as mães perguntavam: Tem parquinho? Eram mostrados esses brinquedos, e elas se admiravam pela excentricidade”  acrescenta Ana Luíza.

Aliás, Concita publicou um livro, “Juntando e Desmanchando”, pela Imprensa Oficial do Ceará-IOCE, cujo conteúdo, todo ele em verso, é o resultado de suas experiências e estudos na escolinha O Cogumelo. Destina-se ao público infantil, mas pode também ser aplicado como recurso didático pelos professores, pois é acompanhado de um guia “Ajudando a Juntar e Desmanchar”.

Muito católica, atualmente Concita cumpre atividades na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Fortaleza, ministrando palestras, participando de eventos e cursos, no trabalho de evangelização e junto à Pastoral da Saúde. Dedica-se ainda à revisão do seu próximo livro de poesias. Abaixo, Concita entre acadêmicos acelejanos, por ocasião da posse do Membro Benemérito Deusmar Queirós. 

Altino, Vianney, Reginaldo, Concita, Deusmar 

ARTIGO (RMR)

PRISÃO PREVENTIVA
Rui Martinho Rodrigues*


A regra é a liberdade. Prisão é exceção e é reserva jurisdicional: só pode ser decretada por juiz, exceto prisão disciplinar de militares. A manifestação do Poder Judiciário só se completa com o trânsito em julgado da sentença. É garantia fundamental.

Mas existem circunstâncias nas quais a prisão imediata se impõe. Excepcionar as garantias individuais é medida limitada ao campo da reserva legal. Só pode existir nos termos previstos em lei, e portanto escapa à discricionariedade das autoridades.

Prisão antes do trânsito em julgado da sentença só se admite como cautela. Daí o nome de prisão cautelar ou provisória, gênero de três espécies: flagrante; prisão temporária e prisão preventiva. Nos limites deste artigo somente a prisão preventiva será sumariamente apreciada.

A “garantia da ordem pública”, da “ordem econômica”, a “conveniência da instrução criminal” ou o interesse na “aplicação da lei penal” são as hipóteses de decretação da prisão preventiva, quando houver “prova da existência do crime” e “indício suficiente de autoria” (art. 312 do CPP).

Garantia da ordem pública não é comoção ou indignação na sociedade. Esta hipótese deve ser limitada aos casos em que o réu esteja perturbando a ordem pública por sua conduta. Os chamados crimes de “colarinho branco” se incluem entre aqueles cuja prática reiterada pode ser o fundamento da prisão preventiva, conforme a boa doutrina. 

A garantia da ordem econômica também enseja fundamentação para a prisão preventiva na área dos crimes caracterizados pela ausência de violência contra a pessoa, segundo a lei e a doutrina. O interesse na “aplicação da lei penal”, cominado com o argumento da “ordem pública”, alcança a hipótese segundo a qual o réu possa destruir provas, cooptar ou intimidar testemunhas.

A lentidão do processo penal; a desconfiança relativamente a impunidade; o simbolismo da prisão como afirmação da repulsa a impunidade; a inconformidade da população com a criminalidade – e em particular com a corrupção – levou a opinião pública (ou publicada?) a clamar por um punitivismo que entende o Direito Penal como panaceia para alguns dos mais graves males da nossa sociedade.

Aparte os equívocos do maximalismo penal, as hipóteses previstas no CPP para a prisão cautelar em geral – e em particular para prisão preventiva – são necessárias e perfeitamente compatíveis com o Direito penal garantista. O garantismo e o minimalismo penal encontram limite nos citados fundamentos da prisão preventiva.

A corrupção envolvendo somas bilionárias é poderosa o bastante para fragilizar a aplicação da lei penal, seja pela via da cooptação, seja pela rota da intimidação – além da possibilidade da destruição de provas documentais. A continuidade delitiva evidenciou-se, depois do mensalão, quando réus continuaram recebendo propinas até depois de condenados.

Filio-me ao garantismo penal, mas entendo que as prisões decretadas pelos motivos anteriormente elencados são plenamente justificáveis, mormente quando se trate de réus com grande poder de influenciar a instrução penal, como nos casos de corrupção nas mais altas esferas da República.

*Rui Martinho Rodrigues
Professor – Advogado
Historiador - Cientista Político


NOTA DO EDITOR:

Em entrevista no programa Canal Livre, da TV Bandeirantes, na madrugada desta segunda-feira (29.06.15), o Ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello criticou as prisões preventivas decretadas pela Justiça Federal do Paraná contra os diretores de empreiteiras do Governo.

Considerou que o perfil dessas pessoas da elite financeira do País não deveria autorizar essas medidas de cautela judicial, tomadas pelo Juiz Federal Sérgio Moro, que preside a chamada Operação Lava-Jato do Ministério Público e da Polícia Federal.  

O Ministro insinuou que a finalidade dessas prisões seria constranger os empresários a firmar com o Ministério Público acordos de leniência, no caso de empresas, ou  de delação premiada, em caso de pessoa física, tendo em vista redução de penas em troca de confissão espontânea, nomeação de comparsas, colaboração com investigações e devolução de verbas públicas por eles desviadas.

Diante dessas ilações gravíssimas do Ministro, o jornalista Fernando Mitre, que participava da mesa, indagou a Sua Excelência se ele considera que as delações já realizadas no Juízo do Paraná não foram espontâneas. 

O Ministro Marco Aurélio se furtou a responder objetivamente, pois declarar que os depoimentos prestados pelos empresários presos não foram espontâneo seria dizer que são ilícitos e inválidos, já que obtidos por meio de extorsão. Enfim, o Ministro quis deixar no ar o seu entendimento, mas não o quis baixar à terra.

CRÔNICA (VM)


O FRAZÃO E O BRÁS
Vianney Mesquita*


Podemos convencer os outros com as nossas razões, porém somente os persuadimos com os motivos deles. JOSEPH JOUBERT. (YMontignac, 05.05.1754 – Villeneuve-sur-Yonne, 04.05.1824).


Durante certo tempo em que o cratense Anselmo de Albuquerque Frazão, convidado pelo reitor, dirigia um dos órgãos suplementares da U.F.C. – a Imprensa Universitária – trabalhavam no ateliê de desenho da Casa os profissionais Assis Martins (cronista assíduo deste jornal), Elísio Cartaxo, José Raimundo Monte – o Büí (falecido em acidente de motocicleta), e o Brás, este cujo nome completo me escapole da lembrança, já meio enfastiada de tanta solicitação.

Também militava ali, como parte de sua ação acadêmica, o Professor Geraldo Jesuino da Costa, acadêmico titular desse Sodalício, ao chefiar a edição gráfica das revistas da Instituição, editar o Jornal Universitário, desde o tempo do reitor Professor Paulo Elpídio de Meneses Neto, orientar seus estudantes na disciplina Editoração, ministrada para o Curso de Comunicação Social, bem assim desenvolver outras ações paralelas e afins. Posteriormente, sob os reitores Professor Antônio de Albuquerque Sousa Filho e Roberto Cláudio Frota Bezerra, exerceu por 12 anos múnus como Diretor da então excepcional Casa Publicadora, a qual, hoje, porque os órgãos de controle do País não permitem, está semelhante ao “H” da Brahma – não serve para coisíssima nenhuma!

A tantos artesãos de uma arte maior, adiciono a incomparável figura do Alberon Soares, pintor e gravador da melhor felpa, muito recentemente desaparecido, cujos inteligentes e espirituosos chistes o faziam admirado ainda mais por parte de quem o conhecia, ajuntando-os, em complemento, aos seus dotes de artista das telas e gráfico a mancheias, antes das grandes fulgurações da Informática, divisora da já envelhecida taxinomia das Artes Gráficas em duas grandes fases diametralmente opostas – antes e depois do computador.

Esse pugilo de grandes artistas, pois, quase diariamente era engrandecido pela comparência do Prof. Dr. José Liberal de Castro, da vizinha Arquitetura, onde entrava na discussão do futebol, rememorava as estórias engraçadas da Universidade e relatava, quase sempre com muita pimenta, os registos valiosíssimos do seu recheio casuístico, minucioso ao extremo.

Jamais me esqueço de uma vez ter ouvido do Alberon o fato de ele haver lido o convite para os 15 anos da Rosa Frazão – sobrinha do Anselmo, que também trabalhava da IU e não era mais essa juventude toda – reproduzido na seção O Povo há 50 Anos, mantida no periódico de Demócrito Rocha e Paulo Sarasate; dizia ter sido ela a bibliotecária que normalizou o Código de Hamurabi.

Frazão é homem reto, verdadeiro, autêntico, sem evasivas enganosas nem justificativas matreiras, porém, às vezes, como marca de sua personalidade, meio ríspido, mas de uma severidade que termina na graça, resvala para o gracejo. Há pouco tempo, saía da Agência do Banco do Brasil da Reitoria, muito sério, reclamando das máquinas do Estabelecimento, que apenas soltavam dinheiro para quem tivesse saldo...

A proeminência destas linhas está, porém, neste fato derradeiro. Trata-se do caso das férias concomitantes, ordenadas pelo Frazão, de Assis Martins, Elísio Cartaxo e Büí, deixando o Brás sozinho no ateliê, fato que o aborreceu por demais.

No segundo ou terceiro dia do isolamento do Brás, o Frazão adentrou a sala, desejou “bom dia”, sem resposta do funcionário. Tentou, outra vez debalde, entabular conversa.

Então, Frazão pensou consigo: “Tem mouro na costa”!

Indagou, pois: – o que está acontecendo, rapaz?

Seu Frazão, como o senhor me faz essa maldade de me deixar aqui sozinho, com tanto trabalho, isolado! Faz medo até alma!

– O que isso, Brás! A gente pensa que faz um giro e faz é jirau! Olhe: pelo fato de não ter direito ainda a férias, quis deixar você sozinho, por vários motivos: não tem quem lhe encha o saco; seu café é servido ligeiro, porque não tem outras pessoas; você pode cantar e assobiar à vontade, sem atrapalhar ninguém. Por fim, você pode até p....., que não há quem diga que foi você. Além do mais, a catinga é sua ...

O jeito que teve foi rir... E gargalharam ambos.


*João VIANNEY Campos de MESQUITA é Prof. Adjunto IV da UFC. Acadêmico Titular das Academias Cearense da Língua Portuguesa e Cearense de Literatura e Jornalismo. Escritor e jornalista. Árcade fundador da Arcádia Nova Palmaciana. Membro do Conselho Curador da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura-FCPC-UFC.

CRÔNICA (WI)

CAYMMI E SEU IRMÃO AMADO
Wilson Ibiapina*




O centenário de Dorival Caymmi foi festa. Os filhos Nana, Dori e Danilo gravaram um CD com 28 músicas do famoso baiano para comemorar a data. Sua neta, Stella, filha de Nana, publicou livro com entrevistas que fez com o avô ao longo de dez anos. Stella, que tem o mesmo nome da avó, é jornalista, doutora em literatura e cantora. 

Ela conta que, aos cinco anos de idade, Caymmi encolhia a barriga, a bermuda caia e ele ficava só de cuecas. A menina se acabava de rir com a brincadeira. Um dia, a avó ajudava Stella a fazer o dever de casa e resolveu perguntar quem descobriu o Brasil. A criança respondeu na bucha: "Jorge Amado!" Diz Dona Stela: "Caymmi achou o máximo e saiu espalhando por toda a Bahia".
Jorge e Caymmi eram amigos e parceiros. Fizeram juntos a toada "É Doce Morrer no Mar", gravada em 1941. Em 1959 ele gravou o LP "Caymmi e seu violão. Depois autografou e deu o instrumento de presente à dona Noé, mulher do Dr. Abner Brígido, o famoso Dr. Bié que inventou o corso do carnaval de Fortaleza. 

Nos anos 70, numa festa no Rio, o cantor Jamelão sentou-se no violão, que estava numa cadeira. O raro DiGiorgio, devidamente oferecido à dona Noé, virou pó, ficaram só as cordas. Ela morreu sem saber que Jamelão, o homem que destruiu aquela relíquia, estava naquela festa a convite do Sérgio Costa, sobrinho dela.  

No momento em que o país festejava o secular  Dorival Caymmi, a Internet fez circular esta carta que um dia ele mandou pro seu amigo Jorge Amado. Olha que coisa saborosa:

"Jorge meu irmão, são onze e trinta da manhã e terminei de compor uma linda canção para Yemanjá, pois o reflexo do sol desenha seu manto em nosso mar, aqui na Pedra da Sereia. Quantas canções compus para Janaína, nem eu mesmo sei, é minha mãe, dela nasci.

Talvez Stela saiba, ela sabe tudo, que mulher, duas iguais não existem, que foi que eu fiz de bom para merecê-la? Ela te manda um beijo, outro para Zélia e eu morro de saudade de vocês.

Quando vierem, me tragam um pano africano para eu fazer uma túnica e ficar irresistível.

Ontem saí com Carybé, fomos buscar Camafeu na Rampa do Mercado, andamos por aí trocando pernas, sentindo os cheiros, tantos, um perfume de vida ao sol, vendo as cores, só de azuis contamos mais de quinze e havia um ocre na parede de uma casa, nem te digo. Então ao voltar, pintei um quadro, tão bonito, irmão, de causar inveja a Graciano. De inveja, Carybé quase morreu e Jenner, imagine!, se fartou de elogiar, te juro. Um quadro simples: uma baiana, o tabuleiro com abarás e acarajés e gente em volta.

Se eu tivesse tempo, ia ser pintor, ganhava uma fortuna. O que me falta é tempo para pintar, compor vou compondo devagar e sempre, tu sabes como é, música com pressa é aquela droga que tem às pampas sobrando por aí. O tempo que tenho mal chega para viver: visitar Dona Menininha, saudar Xangô, conversar com Mirabeau, me aconselhar com Celestino sobre como investir o dinheiro que não tenho e nunca terei, graças a Deus, ouvir Carybé mentir, andar nas ruas, olhar o mar, não fazer nada e tantas outras obrigações que me ocupam o dia inteiro. Cadê tempo pra pintar?

Quero te dizer uma coisa que já te disse uma vez, há mais de vinte anos quando te deu de viver na Europa e nunca mais voltavas: a Bahia está viva, ainda lá, cada dia mais bonita, o  firmamento azul, esse mar tão verde e o povaréu. Por falar nisso, Stela de Oxóssi é a nova iyalorixá do Axé e, na festa da consagração, ikedes e iaôs, todos na roça perguntavam onde anda Obá Arolu que não veio ver sua irmã subir ao trono de rainha?

Pois ontem, às quatro da tarde, um pouco mais ou menos, saí com Carybé e Camafeu a te procurar e não te encontrando, indagamos: que faz ele que não está aqui se aqui é seu lugar? A lua de Londres, já dizia um poeta lusitano que li numa antologia de meu tempo de menino, é merencória. A daqui é aquela lua. Por que foi ele para a Inglaterra? Não é inglês, nem nada, que faz em Londres? Um bom filho-da-puta é o que ele é, nosso irmãozinho.

Sabes que vendi a casa da Pedra da Sereia? Pois vendi. Fizeram um edifício medonho bem em cima dela e anunciaram nos jornais: venha ser vizinho de Dorival Caymmi. Então fiquei retado e vendi a casa, comprei um apartamento na Pituba, vou ser vizinho de James e de João Ubaldo, daquelas duas línguas viperinas, veja que irresponsabilidade a minha.

Mas hoje, antes de me mudar, fiz essa canção para Yemanjá que fala em peixe e em vento, em saveiro e no mestre do saveiro, no mar da Bahia.  Nunca soube falar de outras coisas. Dessas e de mulher. Dora, Marina, Adalgisa, Anália, Rosa morena, como vais morena Rosa, quantas outras e todas, como sabes, são a minha Stela com quem um dia me casei te tendo de padrinho.

A bênção, meu padrinho, Oxóssi te proteja nessas inglaterras, um beijo para Zélia, não esqueçam de trazer meu pano africano, volte logo, tua casa é aqui e eu sou teu irmão Caymmi”.


*Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ



ARTIGO (CB)


Diário do Nordeste 16/06/15 

* Cássio Borges
Jornalista e Engenheiro
Especialista em Recursos Hídricos e Barragens
Ex-Diretor do DNOCS
Membro da ACLJ

ARTIGO (PMA)

A CULTURA DO TER
Paulo Maria de Aragão(*)


Na tela o artista cinzela o sentimento estético, sensação idêntica despertada pela música e poesia, ao exprimir emoção criativa do espírito. Em qualquer circunstância, com ou sem liberdade, o desejo humano se externa em manifestações artísticas polimórficas. Talvez recolha inspiração na obra singular do “arquiteto” joão-de-barro, construtor da fantástica morada, esculpida em argila, com bico e pés, símbolo de veneração e preito à natureza.

O magnata Jorge Soros;
Benemerência material.
Infelizmente, a cultura do ter – apesar de não colher a felicidade – se tornou objeto rentável à produção e ao consumo. Desse modo, no mundo contemporâneo, o drama de Hamlet “ser ou não ser” transfigurou-se para “ter ou ser”. Anulam-se, assim, os dons artísticos naturais, impedindo-os de ascender ao transcendental, enobrecidos que são pela natureza imaterial da imaginação poética.

Essencialmente, a grandeza material seduz o frívolo que nasce nu, mas quer morrer no leito da opulência, esquecendo que o luxo ficará sobre a terra e ele ficará sob ela. Aos olhos do incauto, o megabilionário do petróleo, dono de Mercedes coberta de ouro branco, é um bafejado pela felicidade. Igualmente o é aquele que adquire jatos executivos, helicópteros e iates. Em contraponto a tais realidades, é de se perguntar: e o modesto lavrador, sem capacidade de consumo, que monta seu burrico, não poderá ser ditoso? 

O asceta Mahatma Gandhi;
Benemerência espiritual.

A vida na sua fugacidade, e se assim fosse reconhecida, certamente faria o homem mais ético, capaz de praticar a solidariedade e atos generosos. Mas, entre nós, embriagou-se pela corrupção, despiu-se do espírito de probidade, de dignidade, de respeito por si próprio. A moeda abriu caminho.

A batalha pelo ter trava-se a qualquer custo. Princípios foram abandonados. A virtude da honradez é esquecida. Morre a fé, enquanto a sociedade, em geral, faz-se dominada pelo TER em detrimento do SER. A ganância do avarento obceca-o cada vez mais; fazê-lo acreditar em uma realidade espiritual, pós-morte, eternamente abençoada, é conversa para inocente dormir. As pessoas perdem a essência, desconhecem-se entre si e usam máscaras para sobreviver; falsas amizades oscilam como no câmbio paralelo e, de tão desacreditadas, assumem relevo os liames virtuais.

Os olhos nem tudo veem, como decantou Exupéry: “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”. Demonstrando que tudo é fé, Shakespeare afirmava que a cada dia algo novo é revelado no mundo – são enigmas para divisar: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia” – reflexo do absolutamente nada da condição humana de TER .


* Paulo Maria de Aragão 
Advogado e professor 
Membro do Conselho Estadual da OAB-CE
Titular da Cadeira nº 37 da ACLJ

sábado, 27 de junho de 2015

NOTA FÚNEBRE

MORRE J. CIRO SARAIVA
*Wilson Ibiapina


A imprensa do Ceará está de luto. Morreu Ciro Saraiva, aos 76 anos.

Hoje cedo, ao abrir o computador deparei-me com este Email:

Prezado Wilson Ibiapina,

Sou neto do Jornalista J. Ciro Saraiva. Venho por meio deste comunicar-lhe o falecimento do meu avô Ciro Saraiva nesta madrugada de sábado. O velório ocorrerá a partir das 14 horas na Ternura, Aldeota - Fortaleza, e o sepultamento está previsto apenas para amanhã de manhã, no Cemitério São João Batista.

João Ciro Saraiva de Oliveira, mais  conhecido como Ciro Saraiva, nasceu em Quixadá. Começou na imprensa em 1953, no jornal O Estado. Depois trabalhou no Correio do Ceará, O Povo e Tribuna do Ceará. Foi radialista na Ceará Rádio Clube, na Dragão do Mar e na Radio Uirapuru.

Trabalhou na TV Cidade e na TV Ceará.  Foi secretário de Comunicação dos Governos Manuel de Castro e Gonzaga Mota e fez parte da equipe de marketing da vitoriosa campanha de Tasso Jereissati ao governo do Ceará, em 1986.

Em 2011  lançou o livro "No Tempo dos Coronéis”, em que relata os principais fatos da política cearense durante a época do regime militar, do Governo de Parsival Barroso, em 1960 à campanha de Tasso Jereissati, em 1986. Depois escreveu "Depois dos Coronéis". Recentemente, vivia para fazer orações, escrever seus livros e tratar da saúde.

Era diabético e  fazia a hemodiálise para ajudar no funcionamento dos rins, problema que o matou nessa madrugada. Nos últimos anos deixou a religião católica, tornou-se  evangélico. Ele foi também O REI MOMO DO CEARÁ.

Do livro Dinastia de Momo, 
do Jornalista Francisco Felix
Quem encontrava ultimamente  o circunspecto jornalista Ciro Saraiva era incapaz de imaginar que este senhor que gastava bom tempo de sua vida em orações e em leitura da Bíblia, foi um dia o mais espirituoso, alegre e divertido Rei Momo da história do carnaval de Fortaleza.

Essa passagem na vida do brilhante escritor, ele procurava esquecer por achar o carnaval cada vez mais longe do povo, que essa “explosão cultural popular virou coisa de rico marcada pela ferocidade do sexo, pela droga e pelo dinheiro”, conforme ele assinala em seu livro “No Tempo dos Coronéis”. 

Mas tudo começou por causa do incidente que ocorreu no Country Club de Fortaleza, onde hoje funciona hoje o restaurante Serigado, comandado pelo cronista esportivo Sílvio Carlos.

Era o carnaval de 1961. O juiz de menores, Cândido Couto, recebeu denúncia de que menores estavam participando da festa do Country, a segunda-feira mais animada do carnaval cearense. O juiz mandou que a polícia fosse lá retirá-los da festa. A tropa chegou no momento em que o Rei Momo Irapuan Lima e sua corte visitavam o clube.

Edilmar Norões, que fazia parte da corte como cronista carnavalesco, lembra da cena. Algum gaiato gritou para a polícia não prender o Rei Momo. Irapuan Lima, indignado bradou: “O Rei é imprendível!”. A Polícia abriu fogo no salão. O fotógrafo Vieira Queiroz, do Correio do Ceará, foi baleado e o Rei teve que pular o muro para escapar dos tiros.

Depois dessa confusão o Rei Momo abdicou. O presidente da Crônica Carnavalesca, Chico Alves Maia, entrou em campo para encontrar seu substituto.

Para alegria geral a escolha recaiu sobre um jornalista gordinho, recém-chegado de Quixeramobim. Com o nome de Cirão I, o novo Rei Momo se vestiu de Nero e saiu às ruas, segundo ele, com “a disposição de tocar fogo no Carnaval de Fortaleza”. Seu grito de guerra era “Vivo o Cão”.

Um dia, num baile no clube Iracema, Cirão sobe no palco e, ao lado do comandante da Região Militar e do ministro Expedito Machado, proclama no microfone: “O Rei, o Ministro e o General! Viva a irresponsabilidade!”.

Foi, sem dúvida, o mais animado e debochado Rei do Carnaval cearense. Sua performance aumentava a alegria dos foliões. Só ia pra casa com o sol raiando.

Não fez como aquele rei Momo do passado que foi destituído em plena segunda-feira de carnaval. Foliões, que voltavam de uma festa às 6 horas da manhã, flagraram o Soberano de pijama e comprando pão numa padaria.

A Rainha que acompanhava Cirão, Irani, era muito bonita e chegou a provocar uma crise de ciúme na casa dele. Entre a Rainha do Carnaval e a Rainha do Lar, o Rei optou pela Rainha do Lar. Inventou que estava doente e como já era 1965, em plena ditadura militar, ele saiu-se com essa: “Só volto ao carnaval quando houver condições de fazer alegria no Brasil”.

Do livro Dinastia de Momo, do Jornalista Francisco Felix
No carnaval seguinte o Rei já era o Javeh.

Ultimamente, o jornalista e escritor Ciro Saraiva vivia para Jesus, não ousava sequer repetir o brado de guerra que ele usava para incentivar seus súditos. Considerava uma injuria a Deus.

Na verdade, nunca mais apareceu um Rei Momo tão espontâneo, carismático que nem ele. O poeta Rogaciano Leite sentenciou um dia: “No Ceará só existiram dois reis: Luisão e Cirão. O resto é palhaço”.

Eu acho que o melhor mesmo foi o Cirão Primeiro e Único. Que Deus o tenha.

*Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ


NOTA DO EDITOR:

O jornalista Ciro Saraiva, em cargos de direção e de editoria que ocupou em veículos de comunicação de Fortaleza, concedeu a primeira chance na imprensa aos acadêmicos acelejanos Arnaldo Santos e Reginaldo Vasconcelos, então iniciando respectivamente como radialista profissional e como jornalista colaborador. 

Na imagem, Ciro Saraiva acompanha o trabalho do diagramador Paiva, na paginação da coluna Vida Moderna, assinada por Reginaldo Vasconcelos, no suplemento semanal TC Revista que editava no extingo jornal Tribuna do Ceará, em 1980.

Ciro foi alvo de homenagem por ocasião da mais recente Assembleia Geral Ordinária da ACLJ, no auditório da ACI, em 23 de abril deste ano, quando lhe foi outorgada a Comenda Governador Parsifal Barroso. 

Já com a saúde muito debilitada, ele foi representado na solenidade por seu neto, Jonas Sampaio, que recebeu a medalha e o diploma em seu nome, das mãos do Acadêmico Benemérito Igor Queiroz Barroso.

NOTA ACADÊMICA

JOSEFINA É HOMENAGEADA

A Profa. Josefina, da UFC, e a Magnífica
Reitora, Dra. Fátima Veras, da UNIFOR
A Professora Maria Josefina, Mestra em Sociologia, Doutora em Enfermagem e Pós-Doutora em Ciências da Saúde, dedicou a vida a lecionar, no Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará, disciplina específica relacionada aos cuidados preventivos e profiláticos requeridos por idosos, na preservação de sua longevidade e de sua qualidade de vida, com trabalhos publicados sobre o tema.

Membro Efetivo da ACLJ, Titular e Fundadora da Cadeira de nº 34, que tem como Patrona Perpétua Francisca Clotilde Barbosa Lima – educadora, poetisa, contista, cronista, jornalista, dramaturga e romancista cearense, no final do  Século XIX, início do Século XX – a Profa. Josefina, que também pertence à Academia Cearense de Enfermagem, é casada com o Prof. Dr. Rui Martinho Rodrigues, Presidente Emérito desta academia literária, com quem houve dois filhos, Aline de Fernando Rui. 

Preparando o seu afastamento, por aposentadoria voluntária, do curso de graduação da UFC, para dedicar-se a outras atividades inerentes à docência universitária, como orientadora de pós-graduandos e componente de mesas examinadoras, a professora foi alvo de uma homenagem da sua última turma de formandos, cuja carinhosa manifestação epistolar transcrevemos abaixo.   




Profa. Josefina,


Chegamos em uma nova etapa de nossas vidas, com desafios e obstáculos diferentes. Alguns meio perdidos, outros ansiosos. Uns mais novos, outros mais velhos.
            
Mas duas coisas tínhamos em comum: a vitória por termos conquistado nosso lugar em uma das melhores universidade do Brasil e a apreensão sobre algo novo. O medo do desconhecido ia diminuindo a cada dia que passava. Não só por conta do tempo, mas principalmente por termos a enorme honra de sermos acompanhados por um ser humano brilhante, conhecido por Josefina da Silva. Uma pessoa encantadora, simples, com uma personalidade forte e marcante. Professora Josefina não foi apenas professora, fez papel de amiga, mãe, conselheira e educadora.

Mostrou-nos as faces mais lindas da Enfermagem que muitas vezes são desconhecidas pela sociedade. Ensinou-nos que a Enfermagem é cuidado, mas também é política. Incentivou-nos a batalhar por nossos direitos e defender nossa profissão com unhas, dentes, cabelos e principalmente com argumentos sólidos. Proporcionou-nos aulas maravilhosas e dinâmicas. Fez das nossas quintas-feiras dias maravilhosos.

Ensinou-nos mais do que as disciplinas pediam ou requeriam. Ensinou-nos sobre a vida e os desafios de se viver. Tudo isso faz da senhora mais do que uma professora. É algo que poucos podem se dar ao luxo de ser chamados. A senhora é uma mestra!

Conhecer a história de Ana Neri, Florence, Isabel dos Santos, dos vultos da Enfermagem foi magnífico, mas ter a honra de conhecer um ícone e compartilhar momentos juntos, isso sim, é um privilégio, e com certeza será inesquecível. Queríamos muito que estivesse conosco por muitos e muitos semestres, mas agora é sua vez de começar uma nova etapa.

Professora, tivemos o enorme prazer de ser a sua última turma. Desejamos felicidade na sua nova jornada. Parabéns por ser um exemplo de enfermeira, mestre e mulher.

Ainda estamos engatinhando na Enfermagem, mas, professora, queremos ser pelo menos metade do que a senhora é quando crescermos. Talvez a senhora não tenha percebido o quanto foi importante em nossa vida acadêmica, mas nós sabemos o quanto, e isso nós levaremos para sempre.

À mestra, com carinho,



UFC –Turma de Enfermagem 2015.1.