sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

POEMA - Final do III Ato (HE)


FINAL DO
III ATO
Humberto Ellery*



I

Lentamente a cortina está fechando,
Não distingo, na plateia, uma só face.
Eu deveria nesta hora estar chorando
Pedindo a Deus que a peça continuasse. 

II

Mas volto ao camarim em passos lentos
Vou arrancar a fantasia e este laço
Vou sem chorar, sem sorrir e sem lamentos,
Tirar de vez a fantasia de palhaço.

III

E o silêncio no Teatro é tenebroso,
Não tive aplauso, nem por um instante.
Mas abomino este silêncio horroroso.

IV

Melhor seria uma estrepitosa vaia
Que este desprezo cruel e sufocante
Este silêncio me gritando: SAIA!



quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

ARTIGO - A Linguagem e a Sociedade (RMR) 30.01.20


A LINGUAGEM
E A SOCIEDADE
Rui Martinho Rodrigues*


A linguagem é um fenômeno central da sociabilidade e do desenvolvimento cognitivo, situada no âmago da hominização, é parte da filogênese. Peter Burke (1937 – vivo), debruçando-se sobre a história social da linguagem, escreveu “A arte da conversação”, assinalando a variedade dos interlocutores, do meio social e dos assuntos tratados.

A linguagem e as formas de interagir variam conforme se escreva um tratado científico, converse informalmente na intimidade ou nas relações formais e outros aspectos. Quem escreve uma tese deve ser parcimonioso na adjetivação. Quem faz propaganda, tende a afastar-se da observância do rigor lógico e da fidelidade aos aspectos objetivos e recorre aos adjetivos.

É comum a queixa de que os ânimos estão exacerbados e os conflitos espreitam as diversas formas de interação. Conflito é pretensão resistida. As redes sociais são lembradas como origem dos confrontos. A presença dos interlocutores poderia inibir a agressividade, explicando os embates virtuais pela ausência física das partes.

Muitos, porém, são os conflitos presenciais. A perda da civilidade; o uso da linguagem chula; a supressão das formalidades; o relativismo axiológico e cognitivo; a mudança cultural que banalizou os mores propiciou o desrespeito e a agressão. Reciprocamente, a tentativa de forçar a mudança cultural promoveu a ideia de intolerância “legítima” como forma de transformar os costumes havidos como opressivos, na forma da exigência do que é concebido pelos aspirantes a tutores da sociedade como correto.

O debate político, a discussão acadêmica, o diálogo informal e todas as formas de interação tornaram-se conflitivas. A crítica é necessária ao desenvolvimento cognitivo, ao avanço da ciência, ao exercício legítimo do múnus público. A boa conversa deve ser uma busca da compreensão das razões do outro e de dar a conhecer as suas próprias razões, não uma competição para consagrar um vencedor e humilhar um suposto perdedor. É frequente, porém, ouvirmos alguém dizer que “fulano é o tal e que ninguém ganha dele”, como se tal fosse o objetivo de um diálogo. Interromper um debate técnico, teórico ou uma conversa erudita dizendo “não fale mal de fulano”, referindo-se a um autor ou a uma pessoa pública que estava sendo analisada é a decadência da educação.

Pessoas minimamente escolarizadas deveriam saber distinguir ataque de análise crítica dos aspectos epistemológicos, históricos, sociológicos, políticos, econômicos. É de bom alvitre não fulanizar o estudo de temas. Mas a análise de teorias e obras de autores deve examinar os méritos e deméritos de autores e personas públicas. Igualmente deplorável é quando o debate prossegue contornando o exame de aspectos essenciais ao objeto de análise, como é o caso dos indicadores que revelam a realidade factual, quando a reflexão precisa deles, como os temas econômicos, demográficos ou ligados a educação dentre outros. Os modos civilizados não tornam menos deplorável tal atitude.

Thomas Samuel Kuhn (1922 – 1996) considerava, com razão, os paradigmas de ciência como incomunicáveis. Acrescente-se: agravada por fatores estranhos aos paradigmas. A dificuldade de comunicação atual tem a contribuição da impregnação inconsciente da sociedade por versões vulgares de paradigmas teóricos e pela repulsa ao rigor metodológico. Os intelectuais são mais acometidos pela cegueira dos paradigmas. O senso comum é mais aberto, mas conflitos estranhos aos marcos teóricos debatidos podem ser a pretensão ou a resistência oculta geradora do conflito.



quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

NOTA CULTURAL - Palestra Sobre Graciliano Ramos

A Academia Cearense se Literatura e Jornalismo (ACLJ), em parceria com a Escola Superior da Magistratura do Estado do Ceará (Esmec), vai promover uma palestra sobre Graciliano Ramos, proferida pelo Prof. Alison Ramos, pesquisador da obra do grande escritor brasileiro. Será no próximo dia 13 de de fevereiro. O local é o auditório da Esmec, nas proximidades do Fórum Clóvis Beviláqua. 

CRÔNICA - O Balão Que Iluminou Fortaleza (WI) - 29.01.20


O BALÃO QUE
ILUMINOU FORTALEZA
Wilson Ibiapina*



O Balão Vermelho, um minúsculo bar com mesas e cadeiras na calçada, funcionou durante pouco tempo numa loja do térreo do edifício Jalcy Avenida. Essa curta existência foi suficiente para aglutinar jovens estudantes que mais tarde iriam mudar a mentalidade de Fortaleza. De lá saíram movimentos culturais que marcaram os anos 60.

Para compreender a importância do Balão Vermelho é preciso situá-lo numa época em que os jovens se divertiam indo à praia, ao futebol, ao cinema, ou bebendo nos botecos do bairro. Vivia-se isolado, separado pela distância e a diferença social. Nem mesmo as escolas conseguiam fazer uma integração maior. Depois das aulas, cada um para seu lado. Os ricos da Aldeota, Praias de Iracema, Meireles, Benfica ou Jacarecanga voltavam a se encontrar nas festas dos clubes elegantes. Não se misturavam com o resto da cidade.

Foi a Universidade que quebrou esse estilo de vida. O Centro Acadêmico, o Ceu, atividades esportistas e o movimento estudantil furaram o cerco. Os jovens começaram a aparecer, não porque ricos, mas por serem inteligentes, criativos, arregimentadores, intelectuais. As faculdades colocaram os alunos num mesmo patamar. Todos se tratavam como colegas universitários e não mais como moradores do Antônio Bezerra, da Aldeota.

Frequentar clubes sociais deixa de ser status. Agora podem abrir o leque de opções As reuniões no bar do Rebouças, um dos primeiros da Beira-Mar recém aberta pelo prefeito Vicente Fialho, começaram a ter outro sentido. No começo era só para beber e aguardar a hora de sair para a serenata. As discussões políticas e culturais foram ocupando espaço. O golpe militar vira assunto e todos se posicionam. Os encontros se transferem para o Bar do Anísio e tudo gira em torno de música, poesia, teatro e política. Nesse tempo surgiam os primeiros prédios de apartamentos de Fortaleza. Dois desses edifícios pioneiros estavam na Duque de Caxias, avenida que corta o coração da cidade... O Ceará e o Jalcy Avenida.

O Edilmar Norões morou anos no Ceará. Tinha como hóspede uma moça que foi enviada de Barbalha. Um dia, um amigo, oficial da Aeronáutica, pede-lhe que hospede, também, a noiva que chegava do Rio. Na primeira noite, a moça chegou embriagada e com um violão debaixo do braço. Um escândalo para aquela época.

Tem também o episódio das duas hóspede de Edilmar indo ao encontro do noivo da carioca no F-80, clube dos oficiais da FAB. As duas novatas pedem a um taxi que as levem ao F-80. O motorista, que também não era muito familiarizado com a cidade, deixa as duas na 80, o famoso cabaré comandado pela Beatriz. Um vexame.

O Edificio Jalcy Avenida abrigava jornalistas recém casados, como Nazareno Albuquerque e Ezaclir Aragão, e muitos jovens vindos do interior para estudar. O Jalcy, por sua localização no centro, perto das faculdades, virou point. Foi Antônio dos Santos, então estudante de Direito, que levou o ex-seminarista italiano Oswaldo Sinibaldi para morar em seu apartamento no Jalcy. Já estavam lá outros filhos de Crateús, como Francis Vale e José Humberto Bezerra.

Oswaldo Sinibaldi estudava filosofia e dava aula de italiano, mas não ganhava suficiente para sobreviver longe de casa. Foi quando Antônio dos Santos teve a ideia de abrir um bar para Sinibaldi. Alugou uma loja no térreo do próprio Jalcy e deflagrou uma verdadeira operação que envolveu muita gente. Edson Queiroz doou o fogão, outro empresário os móveis. Felix Ximenes se encarregou da decoração e Fausto Nilo do balão que deu nome ao bar e virou símbolo de uma época.

A bebida era gelada num tambor de gasolina cortado ao meio e cheio de gelo protegido por raspa de madeira. Cláudio Pereira ficou com a missão de arregimentar os fregueses. O maior animador cultural da cidade atraiu para o Balão as meninas mais bonitas e inteligentes que cursavam as faculdades das Universidades Federal e Estadual. E ele inventou logo o Gruta, movimento cultural que também levava a meninada a conhecer outros lugares, outros países. O Gruta percorreu o interior com shows musicais e teatro. A integração era total.

Toda a movimentação de Cláudio Pereira era fomentada por Antônio Carlos, Ataliba, René Barreira, Chico Moura, Francis, Calberto, Augusto Cesar Benevides, Aderbal Freire Filho, Chico Farias. Foi no Balão que surgiu o concurso da Garota Cultural, invenção do Cláudio para agitar o meio universitário.

Moema São Thiago, Iracema e Zeneide Maia foram as primeiras a ostentar o título, que foi também de Isabel Lustosa. Augusto Pontes, Rodger Rogério, Ednardo, Belchior, Fagner, Fausto Nilo, Dede Evangelista, Sérgio Costa, Francis. Valder Magalhães, Cesar Rousseau, Brandão, Gustavinho, Teti, Mércia Pinto, Flávio Torres, Wilson Cirino faziam letras e músicas que foram exibidas nos primeiros festivais. O Balão Vermelho fervilhava.

Líderes estudantis, como Fausto Nilo, Genoíno, João de Paula, Machado, Pedro Albuquerque, Álvaro Augusto, Bené Oliveira e Assis Aderaldo passavam por lá até que descobriu-se que a polícia também estava frequentando o local. Maior que o número de clientes foi a conta pendurada. Sinibaldi não tinha capital de giro.

Como ninguém pagava o bar foi minguando. Um dia, Sinibaldi desapareceu, deixando para trás a timidez de ex-seminarista, o bar e as dívidas para o garçom Paraíba. Levou todo o conhecimento que adquiriu nas noites em que passou no comando do Balão, um verdadeiro canudo de doutor na escola da vida.

Do sumiço do italiano para o fechamento foi uma descida só. Mas quando o Balão Vermelho cerrou sua porta já tinha cumprido sua destinação. Além de ponto aprazível para drinque, papo e paquera, foi um verdadeiro caldeirão cultural em efervescência. Ali, gente de todas as cores, credos e classes foi misturada com música, batida de cachaça com limão e muita conversa para dar origem a uma nova forma de encarar a vida, com menos preconceito e mais solidariedade. O Balão Vermelho apagou-se na Duque de Caxias, mas sua luz continua iluminando os jovens que tiveram o privilegio de frequentá-lo. E o Ceará nunca mais teve uma geração tão criativa, confiante e com tanto sucesso.


sábado, 25 de janeiro de 2020

ARTIGO - Dize-me Com Quem Andas... (RMR) - 25.01.20


DIZE-ME COM QUEM ANDAS...
Rui Martinho Rodrigues*


Compreender a conduta social exige que se considere as inter-relações do agente da conduta. Quem são os seus parceiros, apoiadores e opositores. Partidos políticos sinalizam fracamente a natureza do procedimento do agente filiado a essas cooperativas de poder. As tratativas, porém, se fazem em torno de demandas específicas por falta de agremiações programáticas e pela aglutinação dos parlamentares e líderes em torno de demandas particularistas.

Invertendo o provérbio popular, equivocadamente havido como bíblico, teremos: “dize-me quem é contra ti e eu te conhecerei”. O Ministro da Justiça, Sérgio Fernando Moro, enfrentou grande resistência como magistrado. Quem se opunha ao seu trabalho? Os réus e os seus representantes, apoiados pelos parceiros, apaixonados pelas personalidades processadas julgadas e condenadas ou fanáticos por ideias. Estava na companhia do magistrado: TRF/5; STJ e STF, que ratificaram 95% das suas decisões; a maior parte da opinião pública; observadores internacionais qualificados cujo apoio se fez na forma de prêmios e comendas.

Sérgio Moro, quando do exercício da judicatura, atravessou a linha da reta conduta? A aprovação dos tribunais superiores diz que não. E as gravações das interceptações telefônicas? Não tiveram a autenticidade verificada por perícia; não são válidas; e não contêm algo de grave, além de conversas entre pessoas que durante anos trabalhavam juntas, sem que isso traduza poder ou influência do juiz sobre o Ministério Público Federal (MPF). Cerca de 150 recursos interpostos pelos membros do Parquet contra decisões de Sérgio Moro desmentem a tese do conluio.

Por outro lado, quem se opunha ao trabalho do magistrado em Curitiba? O que o juiz estava fazendo? Combatendo o maior esquema de corrupção do mundo, com enorme alcance internacional, recuperando bilhões de reais, apesar de todas as dificuldades que estão à espera de quem enfrenta semelhante desafio. Sabendo quem eram os seus opositores, poderemos saber o magistrado que ele foi. Quem se opunha a ele eram corruptos e corruptores.

O juiz agora é ministro. Decorrido pouco tempo do exercício de sua nova atividade a criminalidade caiu bruscamente. A apreensão de drogas ilícitas atingiu proporções nunca vistas. Iniciativa legislativa foi encaminhada ao Congresso, propondo medidas destinadas a aumentar a eficiência do combate aos crimes de todo gênero. Mas foram modificadas no Legislativo e o Presidente não fez todos os vetos sugeridos pelo Ministro. Se opõem ao Ministro os que temem o fortalecimento da persecução penal. Apoiam-no: o Ministério Público (MP), polícia judiciária dos estados e da União; a maioria da magistratura e da sociedade. A ele se opõe quem teme a maior eficiência dos órgãos de combate ao crime.

Discute-se a respeito das garantias constitucionais. Mas temos polícia judiciária; corregedorias das polícias; MP; corregedoria do MP; Conselho Nacional do MP; juiz de primeiro grau; corregedoria de justiça; Conselho Superior da Magistratura; Tribunal de Justiça ou TRF; STJ; STF. Não funcionam? Então a décima segunda camada de garantias resolverá? A prescrição da pretensão punitiva é proporcional às penas aplicadas. Processos se arrastam por muitos anos. Assim os réus graúdos passam dos 70 anos de idade e os prazos prescricionais se reduzem pela metade. Temos 11 freios e contrapesos. Quem quer o décimo segundo com o juiz de garantias? Os corruptos e a mentalidade de quem pensa na próxima eleição, não no interesse público.

Eu te conhecerei pelos teus adversários. Conhecerei os teus adversários pelos interesses deles.


terça-feira, 21 de janeiro de 2020

CRÔNICA - O Homem Só (RV)


O HOMEM SÓ
Reginaldo Vasconcelos*


O homem viaja sozinho, e a estrada é fêmea. Coleante, viva, a estrada evolui na paisagem incitando os humores, fazendo revolverem os fluídos do desejo.

As venus que desfilam pelos shoppings, as sereias seminuas que enxameiam pelas praias, todas elas não superam o interesse que desperta a rara mulher que a estrada tem na margem, às vezes caboclinha miserável em suas chitas pobres, outras vezes prostituta industriada nos róseos e amarelos, visgo para os olhos cansados dos caminhoneiros.

Mas o homem que viaja por acaso não esperava o encanto mágico, a hipnose ofídica das fêmeas hermas. Ele mesmo descobre súbito que está só no automóvel, de uma solidão descortinada, de uma simesmisse sedenta e latejante, que toma vulto a cada quilômetro de silêncio e lonjuras.

Na ponta da estrada o homem encontra o seu destino, a cidade estranha, que é sempre de trato cordial, mas hostil em sua intimidade. Os populares prestimosos, o comércio sorridente, o hotel confortável, mas as mulheres, por mais ávidas ensimesmas, não contemplam nem de longe as urgências afetivas do forasteiro.

Elas interpõem às novas relações todas as formalidades do protocolo, todas as pacientes regras lapidares da sedução, todos os talvezes entrevistos no desafio da conquista, numa maçante releitura.

O viajante solitário, no entanto, não tem tempo, ponderando entre labaredas. Tem a noite pela frente, sem amizades frescas que lhe tragam novas anedotas, sem amigos velhos que lhe preencham os sentidos.

Exasperado como quem perdeu a própria sombra, o homem rende-se enfim ao furor másculo, contra os pudores e princípios, e se lança à procura do amor profissional, por mais barato seja na essência, por mais custoso ao bolso. Uma vez exilado de suas posturas costumeiras, vai temeroso das deformações morais que devem ter as marafonas, já que das mazelas físicas ele imagina ter defesas. A esta altura da vida o homem descobre, só então, que valioso servido de ancoragem essas criaturas prestam às vezes a quem esteja à deriva no Cosmo.

As mulheres de ninguém são várias nos rostos, nos modos, nos preços, e aquele solitário encontra a melhor sorte. O prostíbulo verte mel sobre o seu peito sedento, evocando aquela reflexão madrinha que o Chico Buarque pôs em música, fazendo cruzarem pela mesma rua a feira e a prostituta – a santa e o monstro podem vir de qualquer lado.

A cafetina quer saber se a “mercadoria” agrada. “Ontem, um homem importante que veio à festa da cidade gostou de mim”; ela mesma, vaidosa, mercantiliza-se. Diante da mulher coisificada para o mérito sem honra, a besta recua, embora não arrede.

O homem experiente vai tentar colar os cacos, para recompor no diálogo aquele ser materno-filial, antes de qualquer afago, que não lhe servem os agrados que degradam. Bela e meiga, como saída da Pasárgada de Bandeira, ela mal supera vinte anos.

No outro dia o homem sozinho foge de volta pela estrada, antes que a obra improvisada no amor tópico se transforme em descabido afeto crônico. Leva consigo uma nova saudade e uma lição: Deus deve prover os passarinhos e os peixes do oceano.



COMENTÁRIO

Ai, meu Deus, que crônica poética mais linda!!! Você tem o dom de contar histórias que nos fazem apaixonados, pela beleza das palavras, em construção de frases arquitetadas pela alma! Como pode tanta poesia numa história!? Sou sua fã incondicional! E, sim, estavas do outro lado da história de minha alma. Do lado de Danton.

Karla Karenina


CRÔNICA - Quo Usque Tandem (HE)


QUO USQUE TANDEM*
Humberto Ellery**



Desde ontem resolvi “mergulhar” na poesia de Bukowski, em busca de um poema  intitulado “Então Queres Ser Um Escritor”. Pretendo ler esse poema hoje na nossa reunião da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, que acontece nas noites de terça-feira na Embaixada da Cachaça, Rua João Brígido nº 1245 (em frente à Procuradoria Geral da República).

O poeta Charles Bukowski (quando aos três anos migrou com os pais, da sua Alemanha natal para os EUA, teve seu nome “americanizado” para Henry Charles Bukowski) era conhecido como “Velho Safado” (tradução livre para Dirty Old Man) por causa de sua poesia, seus romances, afinal toda sua obra literária ser marcadamente obscena, pornográfica, bem como por ser um alcoólatra devasso, boêmio que fez da sarjeta seu habitat. Um “poeta maldito”.

Por seu inegável talento foi tido por Jean-Paul Sartre como o maior poeta da América, do que discordo. Mesmo admirando sua poesia, não vejo em sua obra a dimensão poética de Ezra Pound ou T. S. Elliot (este, embora tenha adotado a cidadania britânica, nasceu em St. Louis, Missouri). Aliás, esta não é a única discordância minha com o autor de Le Diable et Le Bon Dieu.

Não se pode dizer que “navegar” na obra poética de Bukowski seja uma experiência “agradável”, no sentido estrito dessa palavra, mas por ser altamente provocador, sincero, e traduzir as mazelas de sua vida louca numa linguagem coloquial e direta, nos faz encarar a sarjeta onde viveu de uma maneira instigante e até natural. Por tudo isso inspirou os jovens rebeldes e as gerações beat, estando presente em diversas músicas de bandas de rock, como Guns N´Roses (“Nightrain”), U2 (“Dirty Day”), Red Hot Chili Peppers (“Mellowship Slinky in B Major).

Uma frase sua, bastante provocativa, está martelando minha cabeça, agora que já passei dos setenta: “Algumas pessoas nunca enlouquecem; que vida horrível elas devem ter...” Pois é, até quando vou continuar escondendo minha maluquez atrás de uma fingida e cansativa lucidez? Quo usque tandem???



 *Quo usque tandem é uma frase latina que abre um dos quatro discursos de Cícero, proferidos no Senador Romano, as chamadas “Catilinárias”, em 63 a.C, que significa “Até quando?”. A Frase completa seria Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? (Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?).



segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

ARTIGO - Conhecimento Empírico ou Ordinário (VM)


CONHECIMENTO
EMPÍRICO
OU ORDINÁRIO
(Fragmentos de Raciocínio)
Vianney Mesquita*


Scientia est antidotum eius quod est venenum ingens alacritas consecuta quam superstitione provecta. (ADAM SMITH -1820 – 1903) – foto **


Para iniciar os curtos juízos aqui expressos, convidamos o estimado leitor a revisitar o texto Confluência Método-Saber, publicado neste medium no dia 11 deste mês, onde deitam raízes as ligeiras ideias aqui contidas acerca do saber rotineiro.

Com bastante frequência, o sujeito cognoscente não procura encontrar os liames que amarram um objeto aos demais; tampouco examina e perscruta as poucas relações por ele descobertas entre esses objetos. É este o tipo de conhecimento empírico ou ordinário – o dito entendimento rotineiro, sem os ligames do saber parcialmente ordenado.

Neste – de perfil vulgar – o objeto é conhecido sem considerar os demais. A preterição do exame, esse desinteresse inconsciente em relação ao encadeamento dos fatos, o faz conhecimento primário, pobre, não científico, porquanto abandona a procura das suas causas, detendo-se, apenas, na comprovação das coisas isoladas.

O de ordem vulgar opera sem rigor de sistematização de relações. Procede daí a apreensão dos fatos na sua individualidade, ignorando seus fautores (ou condições determinantes), quais causas o produziram ou que princípios o governam. O filósofo da Ciência e antropólogo inglês (foto) Herbert Spencer (1820-1903), considerando a carência do conhecimento, cunhou para essa modalidade a ideia de conhecimento não unificado.

Atentemos, no entanto, para o que proclama a literatura de Filosofia e Metodologia da Ciência – cujos lineamentos de ordem geral servem de substrato para este minguado escrito, consoante está enlarguecido no nosso livro Esboços e Arquétipos (2016 – foto): em sendo conhecimento vulgar, injustificado, não relacionado, insuscetível a provas, não implica, todavia, assinalar que traga sempre a tacha de falso.

O conhecimento vulgar, é azado relembrar, constitui quase todo o patrimônio da Humanidade. A seu turno, o de composição científica é como que uma exceção na vida e ocupa muito pouco o seu tempo.

Oportunamente, voltaremos com proposições respeitantes ao conhecimento parcialmente unificado.


** A ciência é o grande antídoto do veneno do entusiasmo e da superstição.


sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

NOTA SOCIAL - Deusmar Queiroz Foi Absolvido


DEUSMAR QUEIROZ
FOI ABSOLVIDO
FEZ-SE JUSTIÇA

O megaempresário cearense Deusmar Queiroz, fundador do Grupo Pague Menos de Farmácias, com mais de 1000 lojas em diversos países, foi alvo de processo judicial penal por crimes fiscais, ou contra a ordem financeira.

O processo foi movido pelo Ministério Público Federal, e o empresário sofreu delongada prisão, por condenação em segunda instância, juntamente com dois colaboradores de sua empresa, arrolados como coautores, ou como cúmplices.

Deusmar, que é Membro Benemérito da ACLJ (registro fotográfico da solenidade de posse, em 08.05.2014 ), agora traz a público o feliz comunicado abaixo transcrito, informando que obteve, afinal, absolvição, podendo voltar às suas atividades empresariais e sociais.



A ACLJ, que sempre se manifestou solidária aos acusados, faz aqui uma saudação de público, particularmente ao Deusmar Queiroz e ao Geraldo Gadelha (na imagem, com o Presidente Emérito Rui Martinho Rodrigues), que são nossos confrades e amigos.


Fazemos votos de que ambos superem o trauma da injustiça e retomem de rijo o seu trabalho profícuo, para o bem da economia cearense, gerando impostos e garantindo postos de trabalho para milhares de pessoas.  














Na imagem, o Presidente Reginaldo Vasconcelos e o empresário Deusmar Queiroz, no dia de sua posse na ACLJ.


Queridos Amigos. Depois de 10 anos de sofrimento, no dia 15/01/20 o plenário do RF-5 decidiu por corrigir um grande equívoco. Sempre acreditei na justiça divina, e na dos homens.

“Procurei o Senhor e ele me atendeu, livrou-me de todos os temores” Salmo 33-5.

Finalmente estou livre para viver plenamente.

Deus abençoe a todos.

Deusmar Queirós


quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

POEMA - Os Quatro Elementos (RV)


OS QUATRO ELEMENTOS
Reginaldo Vasconcelos*

Flúmen, teu corpo flui da fonte à foz, segue justo aprofundando a sua vertente, mas eu flagro em seu remanso o ser latente, e arrebato para a minha lavra essa torrente.

Meu peito rente ao teu te inflama a alma, que à minha se funde, flana e foge, pássaro em voo no mais altaneiro nível, para fundar a viabilidade do impossível.


São meus os sólidos e os fluidos do teu soma, me são afetos o sangue, o sal, o flato, a fez e o feto do teu sagrado gral, afeito ao éter que ao teu atmã é vital.

O átomo do espírito é indivisível, quando as moléculas do amor são alinhadas, como os sinais que enfeitam o peixe sável, e a flama da paixão se enfuna e freme, para criar a possibilidade do inviável.

  



COMENTÁRIOS

Neste Poema flanei nas asas do espírito, no tinir do corpo, nas brumas dos sonhos e nas ânsias frenéticas do existir. Aos quatro cantos cardeais!

Um grande abraço, Olímpico Presidente!

Edmar Ribeiro

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Apenas um amor dotado das energias elementares, poderia trazer aos corpos amantes o alinhamento das moléculas que lhes são próprias.

Parabéns Presidente.

Edmar Santos

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Que portento!

É, sem dúvida, ouro de Ofir tauxiado em urna de ébano! Somado à Alana e à Karla Karenina, então, vira diamante.

Bendigamos ao Senhor!

Vianney Mesquita


NOTA SOCIAL - Mensagem de Agradecimento (AS)


MENSAGEM
DE
AGRADECIMENTO
Arnaldo Santos*


A jovem advogada cearense Ana Paula Rocha, Presidente da Associação dos Advogados Criminalistas do Estado do Ceará, recebeu carta de agradecimento do Dr. Felipe Santa Cruz, Presidente Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), pelo apoio recebido por ocasião do pedido judicial de seu afastamento das funções de Presidente do Conselho Federal da OAB, por parte do Ministério Público Federal da Capital da República. 

A Dra. Ana Paula é uma referência como profissional dentre os operadores do Direito, particularmente os advogados, notadamente na sua condição de mulher, presidindo entidade que congrega especialistas em Direito Penal, que atuam na defesa e na assistência da acusação nos processos criminais, área de atuação jurídica tradicionalmente dominada por causídicos do sexo masculino.