RESENHA
Edmar Santos*
O Aeroporto e a Cidade: usos e significados do espaço
urbano na Fortaleza turística.
Obra
de Wellington Ricardo Nogueira Maciel – Fortaleza: EdUECE, 2010.
O
livro procura aprofundar um olhar sociológico sobre a presença urbanística
estrutural e operativa do aeroporto da cidade de Fortaleza, capital do Estado
do Ceará, com escopo em demonstrar que os efeitos de sua presença vão além do
projetado, e vislumbrado, seja pelos entes governamentais, seja pelos
projetistas responsáveis por seu desenho arquitetônico, o qual acaba influenciando,
desta feita, não apenas no impacto turístico – principal objeto do equipamento –
mas, também, na vida da população de seu entorno, e/ou na população que o toma
como referência de meio possível de garantia de sobrevivência. Entrementes,
reflete sobre os tipos conceituais e reais dos deslocamentos ocorrentes no
âmbito intra e extra-estrutura do aeroporto, como aspectos característicos do
modelo social presentemente em curso.
Destarte,
a obra apresenta-se muito bem subdividida tematicamente por seus cinco
capítulos, os quais estratificam o assunto mantendo, porém, a imprescindível e
envolvente coesão sobre o tema abordado. Nesse ínterim, elabora sua
argumentação, apresentando o arcabouço teórico que norteia sua pesquisa, ao
mesmo tempo em que – como cabe a um pertinente pesquisador – ora conecta seu entendimento às teorias
existentes quando essas pertinem, ora as refuta, quando se distanciam do que
constata empiricamente.
O
assunto da obra, em primeiro momento a prefaciação – diga-se de passagem, muito
bem construída – nos situa sobre o que a abordagem temática escolhida pelo
autor vem a nos iluminar, pelo menos a maioria de nós, sobre um equipamento que
nos passa ao largo em sua função e influência social.
Introdutoriamente,
é levantada a questão da inafastável tomada do Aeroporto de Fortaleza, a
exemplo dos demais, como sendo um espaço por onde fluem as conexões aceleradas
tão características da sociedade hodierna. Segue por demonstrar o papel
econômico e globalizante que o equipamento possui, como importante
influenciador na economia da Cidade, além de promover expressivos impactos
urbanos.
Apresenta-nos,
a cada item sequencialmente posto, por sua lupa de pesquisador, interessantes
observações sobre usuários não previstos, espaço de passagem, a disputa pelo
direito à Cidade por parte dos moradores, espaço de transição, aspectos
regionais climáticos e geográficos influentes na demografia do entorno do
aeroporto, todos tomados como pontos de reflexão, apesar de, por vezes,
passarem ao largo de políticas públicas e do conhecimento de boa parte da
sociedade, são de extremo impacto e produzem efeitos urbanísticos inesperados. Aduz
ser admirável a inexpressiva abordagem científica das ciências sociais sobre
tão importante equipamento urbanístico que possui tamanha influência
socioeconômica. Talvez o seu mote, cremos.
O
empirismo da pesquisa vai conduzindo o autor a olhares diferenciados e
confrontantes com as teorias que embasam sua dinâmica de pesquisa, os quais
acabaram por lhes restar inequívoca a presença do uso, por alguns atores, de
formatos diversificados e até fora do que se predispõe o equipamento. Colunado
por teóricos como Guiddens, Simmel, Augé, Martins, dentre outros, segue por
meio dessa observação direta que, ao fim e ao cabo, propiciou constatar variações
importantes entre teorias sociológicas e realidades vivenciadas no cotidiano.
Constatou,
por exemplo, que as angústias e traumas de antigos moradores, existentes e
perenes no consciente das pessoas, por conta dos deslocamentos forçosos, pelas
desapropriações, são repercutidos nas gerações posteriores; esses abalos
psicológicos, os quais em relação aos primeiros, em princípio, surgiu como um
empecilho aos trabalhos, favoreceu uma abordagem mais propícia com a nova
geração, favorecendo o aprofundamento na identificação dos efeitos da presença
do aeroporto não apenas no espaço urbano, mas efetivamente na vida das pessoas,
a destacar, os moradores do entorno.
Restou
uma observação pertinente e comum, pelo menos no Brasil, da característica de
que esses equipamentos comumente são instalados em áreas urbanas carentes, que
contrastam com os “aero-shoppings” de seus espaços internos. Por tal
desenvolvimento da pesquisa, há, no autor, o vislumbre de poder agregar alguma
contribuição nos aspectos dos planejamentos, seja para as estruturas atuais,
suas ampliações ou novas construções, mormente às identificações das
características identificadas quanto, nas palavras do autor, aos “usos’ e
“significados” verificados nos aeroportos, não apenas de seu espaço interno,
esse “não-lugar”, mas principalmente do ambiente de seu entorno.
A
obra aqui apresentada, seja pela importância sociológica do tema, seja como ela
está vultosamente cheia de significados que fogem ao conhecimento, tanto dos
usuários diretos dos aeroportos, quanto pelos usuários indiretos desse
equipamento, seja pelas autoridades públicas, seja por instituições que as projetam
e constroem, torna-a, antes de tudo, uma obra a ser apreciada com acurada
atenção; inexoravelmente por trazer-nos à luz detalhes devidamente embasados na
apreciação científica, que influenciam direta ou indiretamente na vida das
pessoas, seja em seu desenvolvimento econômico e cultural, seja no que tange ao
direito das populações ao espaço da Cidade.
O
autor em referência, Wellignton Ricardo Nogueira Maciel, possui bacharelado em
ciências sociais, mestrado e doutorando. Presentemente é professor substituto
junto à Universidade Estadual do Ceará (Uece).