domingo, 31 de janeiro de 2016

APRECIAÇÃO LITERÁRIA - Paulo Barguil (VM)


TESE DE DOUTORADO DO PROF. DR. PAULO MEIRELES BARGUIL
Vianney Mesquita*


A sabedoria não pode acrescentar um dia sequer à nossa existência, todavia reduz o terror da morte.(EDWARD YOUNG, poeta inglês. YOpham-NM-EUA, 03.07.1683 – VWelwyng-UK, 05.04.1765).


Agrada-me por demais proceder a notas rápidas, após segunda leitura, a respeito de mais uma obra de vulto editorial na messe educativa e no disciplinamento científico contíguo no Ceará, de autoria do Prof. Dr. Paulo Meireles Barguil, o qual assina, também, dentre outras produções de relevo, o livro Há sempre algo novo, publicado pela Editora ABC, Fortaleza, 2000, comentado aqui neste medium no dia 25 de outubro de 2015, também após decodificação complementar.

O conjunto de escritos ora criticado arrima-se em seu texto de doutoramento defendido sob banca abonada junto à Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará, onde, hoje, desenvolve trabalho docente na qualidade de Professor Associado, ali titulado duas vezes no plano de estudos acadêmicos elevados – como Scientiae Magister e Philosophiae Doctor (mestre e doutor).

Cuido de O Homem e a Conquista dos Espaços, no qual Barguil expende penetrantes conceitos, racionalmente pensados e jungidos à obtenção de haveres educacionais, ao dilatar esta ideia metafórica à contingência de estudantes e docentes na vivência da escola propedêutica e média do Brasil.

Experiente produtor de textos com matizes acadêmicos, ele conhece de sobejo a literatura atinente a esta linha investigativa, motivo por que logrou ajuntar, a fim de incorporar e validar as hipóteses, em auxílio à sua preciosa indústria intelectiva (trazida de apropriados assentos universitários), peças de ilustrados autores – cearenses, brasileiros e estrangeiros – examinando, assim, o tema com erudição e profundez.

O autor submete à balha matizes e particularidades do tríplice vínculo professor-aluno-escola, num ensaio cujos achados revelam, infelizmente, nossa inópia administrativo-educacional, mas que poderão, doravante, servir de norte a políticas oficiais em proveito da Educação em vários aspectos aduzidos no volume.

Ao reunir indicadores empíricos e escopos doutrinários em simbiose e consentânea relação, Paulo Barguil procede, exaustivamente, ao cruzamento de tabelas, bem como à exibição de outros recursos dispostos pela ciência da Estatística Descritiva, granjeando, por fim, desvestir todas as suas suposições e certificar, com nitidez cristalina, as hipóteses concebidas antes da análise do assunto, o que concede ao seu experimento o certificado da certeza relativa, porquanto, por natural, nas Ciências, nomeadamente naquelas de caráter social, não se cogita em verdade absoluta.

Induvidosamente, este é um trabalho de elevado ânimo da inteligência, porquanto demonstra a força acadêmica de quem o firma, de modo a constituir aporte de peso à literatura educacional do Brasil, enriquecido pelas reflexões interdisciplinares, por onde o autor circula com serenidade e altivez, em consequência de seus preparativos de vida universitária desenvolvidos à risca, com vistas a poder exibir porte ufano de intelectual devidamente ultimado na seara escolhida para trafegar profissional e cientificamente.


CRITICA LITERÁRIA - Sobre Rimas & Rimas (VA)

SOBRE 
RIMAS & RIMAS
Vicente Alencar*


(Abas do Livro de Pereira de Albuquerque "Rimas & Rimas – Caminhos do Ceará", publicado em Fortaleza pela Editora Expressão Gráfica)


Consciente, equilibrado. Exímio observador e calmo por natureza, o poeta Pereira de Albuquerque encontra em todos os detalhes da vida sobejos motivos para, deles, extrair poesia. Nada lhe escapa à observação: o amor, a crítica social, a felicidade, a educação o (des)governo, a religião, a paz, o futebol, os falsos profetas, e tudo mais.

Afirmar essas verdades é para ele apenas a maneira que escolheu para nos brindar com as suas redondilhas – os notáveis heptassílabos onde dá largas à sua aguçada percepção do mundo, enxergando, inclusive, o que outros não veem.

Aliás, essa qualidade dos poetas de enxergar além do seu tempo (tão duramente criticada pelos desafetos da poesia) é que dá lugar, muitas vezes, a frases como esta: “...afinal de contas é um poeta, deixem-no para lá!” Pois justamente esses poetas são os observadores críticos do mundo, que gira desgovernado, mercê, é claro, dos “inteligentes” que sabem de tudo e teimam em dirigi-lo, preterindo os mais capazes.

Na confecção desse "Rimas & Rimas", Pereira de Albuquerque mostra respeito pelos seus leitores ao burilar vezes e vezes sua obra, tornando-a agradável e de fácil compreensão – o que vem confirmar a seriedade do seu fazer poético.

Tem razão Dimas Macedo, poeta e crítico literário, quando o reputa um dos nossos melhores escritores. A verdade é que me deliciei com a leitura dos originais, onde o troveiro, vindo de Ipaumirim para a conquista da Capital, insere esta quadra no poema “Quatro Estações”:

         Crianças soltando arraias,
         risos... luz em profusão...
         garotas lotando as praias,
         calor intenso!... é verão!

E esta trova sob o tema felicidade, já que, a despeito de tudo, todos os poetas são felizes, embora às vezes não pareçam:

          Felicidade, és a glória
          passageira e merecida
          que estruge  a cada vitória
          que conquistamos na vida!

Mas o garoto que veio do interior não é só alegria. De repente, num rasgo de tristeza, ei-lo a cantar na saudade do Icó, mostrando que nunca perdeu sua identidade com o sertão cearense:

          Se é noite e a Lua vem vindo,
          quando à varanda estou só,
          fico a cismar, repetindo:
          que terra boa é o Icó!

Para concluir, afirmamos que a escalada do poeta neste novo livro repete o sucesso de lançamentos anteriores, como, por exemplo, “Versos de Ontem e de Hoje”, “Outono” e “O Eleitor”. “Rimas & Rimas”, portanto, não precisa de comentários nem de apresentação, pois mostra, por si só, um autor maduro e competente em sua missão.



sábado, 30 de janeiro de 2016

NOTÍCIA COMENTADA - Casal Lula Passa a Ser Investigado

CASAL LULA PASSA A SER INVESTIGADO
Jornal Estadão

O promotor de Justiça Cássio Conserino, do Ministério Público de São Paulo, intimou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a mulher Marisa Letícia e o empreiteiro José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, ligado à OAS, para prestarem depoimento no dia 17 de fevereiro, a partir das 11h, sobre o tríplex do Condomínio Solaris, no Guarujá.

Segundo o promotor, o ex-presidente e Marisa vão depor como investigados. A Promotoria suspeita que imóvel pertença a Lula. Também foi intimado o engenheiro da OAS, Igor Pontes, engenheiro da OAS. 

COMENTÁRIO:

A sabedoria chinesa tem um provérbio que se traduz desta maneira: “Divagarinho, divagarinho é que se pega macaquinho”.

Os Procuradores da República e o Juiz Federal Sérgio Moro, e demais autoridades em atuação nas operações contra a corrupção no Brasil, estão seguindo essa máxima de temperança e paciência.

É lógico que eles já têm sinais muito claros da participação da família Lula nos escândalos supurados na grande pústula brasileira – de “Woldomiro Diniz” ao “Petrolão”, de “Celso Daniel a “Aloprados”, do “Mensalão” ao “Triplo X”.

Mas nem o Ministério Público nem o Judiciário querem cometer açodamentos, porque não podem correr o risco de sofrer contramarchas processuais, que possam melar o seu trabalho e resultar em impunidade.

Eles sabem que há forças contrárias a si nos Três Poderes da República; uma legião de militantes de esquerda, ideológicos e fisiológicos; milhares de não concursados aparelhando a máquina publica; um batalhão de advogados caríssimos, hábeis em paralogismos e manobras chicaneiras. Além de marqueteiros capciosos, cobrando seu peso em ouro para lançar fumaça colorida sobre os fatos tenebrosos.

Bastaria que se considerasse a “teoria do domínio do fato” para que Lula fosse responsabilizado. Alguém pode acreditar que, sendo ele o cartola do clube, não tivesse ciência nem controle dobre o treinador, contratado por ele mesmo, nem do que fazia o capitão da equipe, nem da conduta do resto do time, quando até o trio de arbitragem foi por ele escolhido e indicado? Obviamente não.


sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

ARTIGO - Utopia (HE)

UTOPIA
Humberto Ellery*

Quando Thomas Morus criou sua ilha imaginária, organizada de modo a proporcionar alta qualidade de vida a um povo equilibrado e feliz, deu-lhe o nome de Utopia.

Morus buscou no grego os elementos “ou”, que significa “não”; “topos”, que significa “lugar”; e o sufixo típico da toponímia grega “ia”, para criar o vocábulo que se traduz por “não lugar”, ou ainda “lugar que não existe”. Utopia, portanto, é um lugar ideal, com instituições políticas perfeitas, que por extensão significa quimera, fantasia, sonho.

Provavelmente inspirada n´A República de Platão, a obra, por seu turno, inspirou autores outros como Campanella (Cidade do Sol), Francis Bacon (Nova Atlantis), Russeau (O Contrato Social), e até o precursor do pensamento socialista Saint-Simon, em seu projeto de reorganização total da sociedade.

Talvez até por sua característica de irrealizável, suscitou também as assim chamadas antiutopias, como “O Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, e o instigante “1984”, de George Orwell, (onde a TV foi pinçar a ideia do “big brother”, essa baboseira a que têm o desplante de chamar “reality show”).

Todas essas lucubrações me ocorrem por conta de meu indefectível otimismo, pois não aceito o pessimismo de Morus ao sugerir que um bom lugar não existe, tampouco comungo da visão negativista de Orwell ao prenunciar o caos como consequência do avanço tecnológico.

Mas a principal razão que me faz agora pensar em utopia decorre da expressão “destruição criadora”, conceito popularizado pelo economista austríaco Joseph Schumpeter, que em seu “Capitalismo, Socialismo e Democracia” (1942), mostra que a modernização e a inovação dos processos produtivos, que têm lugar numa economia de mercado, promovem a destruição de empresas velhas (ultrapassadas) e antigos modelos de negócios. (Antes dele o anarquista Mikhail Bakunin também argumentou que a força destrutiva do “velho” é a força criativa do “novo”).

Portanto, em vez de lamentar a destruição promovida por treze anos de (des)governo petista, é mais recomendável aproveitar o ensejo e construir um novo país sobre os escombros que restam. No grego existe uma palavra, “eu”, que significa “bom”, como sabemos “topia” significa “lugar”, vamos então fazer do Brasil um “Bom Lugar”. Vamos juntos construir uma Eutopia.

Eutopia existe!


quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

NOTAS ACADÊMICAS - Jáder e Ayrton

NOTAS ACADÊMICAS


SALVE JÁDER

A empresa M. Dias Branco, por deliberação de seu Presidente, Ivens Dias Branco, concedeu patrocínio ao retrato pictórico do saudoso jornalista, político, advogado e intelectual Jáder de Carvalho, que foi Príncipe dos Poetas Cearenses, Patrono da Cadeira de nº 1 da ACLJ, cujo titular vitalício é o filho dele, Senador Cid Carvalho.  

A pintura, em óleo sobre tela, a ser executada pelos artistas plásticos cearenses Messias Batalha, Vlamir de Sousa ou Reginaldo Vasconcelos (ainda a ser definido), comporá a Galeria dos Patronos Perpétuos da ACLJ, que está sendo paulatinamente construída.

O Senador Cid Carvalho, advogado e jornalista, Presidente de Honra da ACLJ, ressente-te, com justa razão, de que seu ilustre pai é pouco lembrado em homenagens públicas, muito menos do que mereceria, como importante figura histórica da vida social, intelectual e política do Ceará nos anos 30, 40, 50 e 60 do século passado.

A cidade ainda não tem nenhum logradouro com o nome de Jáder de Carvalho, e recentemente se aventou denominar assim a praça que se inaugurou defronte ao prédio na nova sede da OAB, no Bairro Edson Queiroz. Mas, depois, a proposta se reduziu para um mero anfiteatro que nela foi construído.
    

SESSÃO DA SAUDADE

Por propositura dos acadêmicos Cid Saboia de Carvalho e Antonino Fontenele Carvalho, a ACLJ promoverá uma Sessão da Saudade em memória do Auditor Federal aposentado Ayrton Vasconcelos, falecido neste último dia 24 de janeiro, aos 83 anos. Cid era amigo do homenageado, assim também Antonino, pecuarista como ele, ambos membros fundadores do Clube do Berro, entidade que congrega caprino-ovinocultores cearenses. 

Ayrton Vasconcelos, genitor do jornalista e advogado Reginaldo, e do Advogado e Pesquisador Adriano, pertencentes ao grupo de idealizadores e fundadores da ACLJ, foi grande incentivador da entidade, com o mérito de haver prestigiado todas as suas Assembleias Gerais, comparecendo a cada uma delas, mesmo já quando cadeirante.

Foi de Ayrton Vasconcelos a ideia da Galeria Pictórica dos Patronos Perpétuos, quando patrocinou pessoalmente o primeiro retrato produzido, o do Chanceler Edson Queiroz, de quem foi amigo e sócio na sua juventude.

Na solenidade, prevista para a manhã do próximo dia 20 de fevereiro, sábado, no Palácio da Luz, sede da Academia Cearense de Letras,  a viúva receberá, em nome do homenageado, o título de Membro Honorário post mortem.

NOTÍCIA COMENTADA - Lula na Operação Duplo X

MINISTROS CObraM tratamento mais respeitoso a Lula

Agência o Globo


O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, disse na noite desta quarta-feira, ao comentar a 22ª fase da Operação Lava-Jato, que mira na investigação de ocultação de patrimônio adquirido com recursos desviados da Petrobras, batizada de Triplo X, que há uma “obsessão” em criminalizar o ex-presidente Lula.

Wagner disse que é preciso esperar o fim das investigações “antes de colocar carimbos” em quem quer que seja. E disse que Lula prestou inestimáveis serviços à sociedade, tem um carisma enorme e por isso virou “objeto de desejo” dos que querem vê-lo investigado, mas que por tudo que fez em benefício do País, é preciso que tenha um tratamento mais respeitoso.

(Lula) Deu uma contribuição, independente da convicção de cada um que considero inestimável à sociedade brasileira e ao Brasil e eu acho que sinceramente deveria ter um tratamento mais respeitoso — defendeu o ministro.

CARDOZO: “ESPECULAÇÕES INDEVIDAS”

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, classificou nesta quarta-feira de “especulações indevidas” as análises de que a fase Triplo X da Operação Lava-Jato mira o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele ressaltou que o juiz Sérgio Moro, responsável pelas investigações em Curitiba, já afirmou que não há qualquer procedimento em relação ao ex-presidente.

— Até onde sei, essa investigação está sob sigilo. Apenas posso dizer de situações que são públicas. Recentemente, o juiz Sérgio Moro disse que o ex-presidente Lula não é investigado e eu não recebi nenhuma informação de qualquer ato investigativo em relação à essa pessoa do juiz Sérgio Moro. Isso está claro pelo Judiciário. O ex-presidente não está sendo investigado e nem me parece que tenha sido determinada qualquer medida na investigação de hoje. Quaisquer outras situações são especulações indevidas — afirmou Cardozo.

COMENTÁRIO:

O ex-presidente Lula, que se diz a “alma viva mais honesta do País”, deveria ter interesse em ser investigado pela Operação Lava Jato, para, enfim, provar à Nação a sua pretensa honestidade.

Ser objeto de investigação não representa desrespeito aos honestos, quando haja fundadas suspeições contra eles, das quais se queira o cabal esclarecimento.

E as suspeitas contra Lula são fundadas, pelo fato de que a imensa corrupção no País durante as administrações petistas é incontroversa, e há uma legião de correligionários, aliados políticos, amigos, ex-colaboradores de seu governo e parentes seus condenados, presos ou investigados.

Por fim, alegar que o ex-presidente mereceria um tratamento jurídico especial é querer subverter o preceito democrático de que “todos são iguais perante a lei”.

Demais disso, tentar minimizar as acusações brandindo acertos pontuais de governo e virtudes que o acusado ostente pode ser entendido com antecipação de argumentos de defesa, e portanto como admissão tácita do envolvimento de Lula nos escândalos. 

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

CARTA - Não Controla Enchentes (CB)

NÃO CONTROLA ENCHENTES
Cássio Borges*


CONCEDI ENTREVISTA POR TELEFONE A ESSE PORTAL DE NOTÍCIAS (Tribuna do Ceará) SOBRE O AÇUDE CASTANHÃO, E ENDOSSO TUDO O QUE DISSE, MAS, NO FINAL, FAÇO UMA RESSALVA.  

TUDO É IMPORTANTE SER DITO SOBRE ESSA OBRA PARA QUE A POPULAÇÃO POSSA ENTENDER TODA A SISTEMÁTICA DOS RECURSOS HÍDRICOS DISPONÍVEIS NO ESTADO DO CEARÁ NA QUAL ELA FAZ PARTE.

ENVIEI O E-MAIL, ABAIXO TRANSCRITO, PARA O EDITOR DO PORTAL DO SISTEMA JANGADEIRO PRESTANDO ESCLARECIMENTOS ADICIONAIS À REFERIDA ENTREVISTA.

Caro Felipe Lima

Li a matéria que foi publicada no Portal da Tribuna do Ceará no último dia 25 em entrevista que prestei, por telefone, a esse veículo de comunicação. Tudo bem, mas no final, houve um engano ao ser atribuída a mim a afirmação de que o Açude Castanhão “romperia caso houvesse um inverno excepcional como os dos anos de  1974 e 1985”.

Eu disse, na realidade, que o açude Castanhão ‘não controla enchentes, caso houvesse um inverno excepcional como os de 1974 e 1985’Os projetistas e promotores desse empreendimento, no caso a Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Ceará e seus dirigentes, passaram e continuam passando a falsa sensação para a sociedade que o referido açude controla enchentes no Baixo Jaguaribe, o que não é verdade. Em outras palavras, afirmo que o tal ‘volume de espera’ só serviu para aumentar o custo da barragem e deslocar a população ordeira de quatro municípios atingidos por sua bacia imensa e desnecessária bacia hidráulica.

O ‘volume de espera’ do Castanhão pode armazenar 2,3 bilhões de metros cúbicos de água, da cota 100m a cota 106m. Não há duvida que o Açude Castanheiro (eu disse Castanheiro, em Lavras da Mangabeira), na bacia do Rio Salgado, afluente principal do Rio Jaguaribe por sua margem direita, com 2,0 bilhões de m³ de acumulação, faria muito melhor este papel, além de se situar na cota 230m, podendo levar a água por gravidade para a  maior parte do Estado do Ceará, o que é impossível ser feito pelo Açude Castanhão, situado próximo do litoral, construído na cota 50m.

Este é mais um lamentável erro de engenharia cometido por aqueles que se dizem os ‘maiorais’ da hidrologia do Nordeste. Já havia feito este registro no meu livro ‘A Face Oculta da Barragem do Castanhão – Em Defesa da Engenharia Nacional’, editado em 1999. Não preciso citar nomes. Eles estão nesse livro. Que imensas saudades vamos sentir do DNOCS!

CARTA-RESPOSTA - Raimundo Mariano C. Branco (VM)


 AO PROF. DR. RAIMUNDO MARIANO G. C. BRANCO
Vianney Mesquita*


Vendo-me prostrado, desprezam-me os amigos: todo mundo corta lenha de árvore tombada. (Autoria desconhecida).


Fortaleza, 26 de janeiro de 2016
Prezado Professor Mariano,
bendigamos ao Senhor.


Recebi, hoje, comunicação de sua autoria, via e-mail, dando conta de meu também correio eletrônico, do dia 22 deste mês, a respeito da doença de sua Meire.

Verdade insofismável descansa nesta epígrafe, quando nos encontramos sob a fraqueza de um padecimento. E eu não posso, não devo, tampouco intento, subtrair galhos de uma porta-sementes de caule ereto e indiviso, ora pai e mãe, na sua potente incolumidade, como está você na doença – passageira, é claro – da sua Meire.

Isto porque, logo depois, retornará à vida em normalidade, lance em que terá extraído judiciosas leituras da medonha quadra, assustadora circunstância de uma enfermidade grave, a nos reduzir a um micromicro de valor perante a vida.

Desculpe, Prof. Dr. Mariano, mas não posso acatar seu pedido de remissão, relativamente à nossa amizade, pois não há que de nada se redimir. Ao se dispor nas condições de Adão e Eva, os portadores da Felix culpa (a que se refere no correio eletrônico a mim enviado), configurada na nódoa pecaminosa em relação à divina desobediência no Paraíso e referida no Gênesis, no que respeita a mim, seu comportamento exprimiu-se sempre como plenamente natural, perante uma pessoa com quem não trava maiores aproximações, a não ser aquelas relações triviais da contingência acadêmica.

Seu escrito de resposta ao meu citado correio é belo e fértil em teor, e até admira sua riqueza expressional, sem desvios linguísticos quaisquer, como intenta apontar, a não ser sob o aspecto estilístico – matéria, aliás, que não é (ainda) dos seus tratos universitários, os quais são expressos, principalmente, nos elevados ensaios e pesquisas de Geoengenharia, do mesmo modo que também não posso me enfronhar em assuntos da Geofísica de Exploração, por exemplo, de petróleo e gás, de que o amigo é senhor, nacionalmente reconhecido como autoridade.

No que concerne à insígnia romana com a qual termina seu e-mail de hoje (26.01.2016) – “Sou homem e nada do que é humano a mim é alheio” (Homo sum; humani nihil a me alienum puto) – sei que farão, todos os da família, para, sem sair da humanidade a que não lhes sobra estranho, tudo suportar com sobranceria e resignação a patologia (ou conjunções patológicas) da sua Meire, motivo por que, também eu e os nossos adotamos a solidariedade expressa pelo cartaginês Públio Terêncio Afro neste muito conceituado e mencionado moto latino, representativo da solidariedade humana.  

Orações a mancheias.
Mais um abraço

Vianney Mesquita.


COMENTÁRIO - Filosofia, Educação, Realidade (VM)



FILOSOFIA, EDUCAÇÃO, REALIDADE  
Livro da FACED-UFC,
Lugar de Excelência Acadêmica
Vianney Mesquita*


A Filosofia cansa-se, contínua e eternamente, em busca do absoluto, e é a poesia a única que o atinge. (CHRISTIAN FRIEDRICK HEBBEL. *Wesselburen, 18.03.1813- Viena, 13.12.1863).


O ambiente da Academia é júbilo permanente; espetáculo movido pelo saber perenemente reciclado; regozijo diuturno induzido pelas energias da inteligência cotidianamente renovada no convívio contingente dos espaços institucionais – aulas, laboratórios, reuniões formais e conversas de corredores e cantinas. Tudo é ensejo para descobertas. Todas as ocorrências servem à causa do saber e ao engrandecimento dos feitos humanos.

Só posso, entretanto, me reportar à Universidade Federal do Ceará  U.F.C., a qual conheço de sobejo, como aluno e docente. Estive da USP – Universidade de São Paulo, é verdade, porém como estudante, e na UNIFOR, feito técnico-administrativo, assessor do Reitor Prof. Dr. Antônio Colaço Martins.

É assim nossa Academia, fundada em 1954, hoje somente adentrando os 62 anos, pioneira do Ceará, eminência na produção científica no Brasil. Tenho, pois, de asserir, entusiástica e ufanosamente – pois verdade insofreável – a distância de sua qualidade em relação a diversas outras instituições universitárias do Estado, as quais cresceram geometricamente, pelos próprios méritos – seja isso expresso - mas, também, com o concurso de pesquisadores e docentes que na U.F.C. se jubilam por período de serviço, indo para ditas IES, a fim de lhes alargar as fileiras na tríplice e indissociável relação – pesquisa, extensão e ensino.

A U.F.C. foi, há algum tempo, alvo de políticas equívocas, provou o saibo amargo da falta de recursos materiais, o que não foi suficiente para descaracterizá-la como instituto competente e próspero, pois possui como anteparo seus recursos humanos incessantemente reprocessados ex-vi da infrene atividade investigativa e dos relatos de seus resultados.

Em particular, a Faculdade de Educação – FACED, que eu houve por bem escolher para dar continuidade às minhas manifestações afetivas à Instituição – se exprime como lugar de excelência, hajam vistas a extraordinária formação e o preparo intelectivo de seus mestres e investigadores, os quais prontificam os quadros de educadores profissionalmente idôneos, grande parte dos quais retorna à Faculdade para desenvolver programas de mestrado e doutorado, consoante aconteceu com a Professora Doutora Valéria Cassandra Oliveira de Lima, móvel de matéria por mim publicada no blog da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, no dia 17 deste mês (janeiro-2016).

Com o devido conhecimento de causa, assevero o fato de que os melhores trabalhos, os que conferem mais prazer de emendar – quando há corrigendas a fazer, naturalmente – são os textos da Faculdade de Educação, pela propriedade como os autores emitem seus conceitos, em razão do vigor empregado nos atos de busca, pela aplicação na demanda de hipóteses substitutivas das suposições falseadas e em decorrência do fato de primarem pela singularidade e ineditismo dos seus supostos.

Agora, volto a ler Filosofia, Educação, Realidade, com 28 escritos de primeira qualidade, em continente e teor, décimo tomo da Coleção Diálogos Intempestivos, tempestiva invenção do Professor Doutor José Gerardo Vasconcelos, cuja inquietude - que o faz, inclusive, ser divisado equivocadamente como brincalhão, descomprometido e estroina - conduz seus orientandos de mestrado e doutorado a executarem peças de inconcusso crédito acadêmico, partes das quais estão como recheios de (nada menos) dez volumes do conjunto librário sob nota.

Dos 28 segmentos, procedi à releitura atenta, de sorte a poder, modestamente, atestar a grandiloquência e o seu vulto intelectivo, pois tecidos em obediência aos ditames metodológicos e pousados nos mais prestigiosos e acatados autores. A maior parcela dos seus segmentos capitulares discrimina, didaticamente, a reflexão doutrinária de consagrados filósofos, no que diz respeito às vinculações estreitas do pensamento lógico e das Ciências da Educação no panorama da realidade hoje experimentada.  A respeito desse conjunto de artigos, publiquei um capítulo do meu livro Repertório Transcrito – Notas Ativas e Passivas (Sobral: Edições UVA, 2003, pp. 119-121), em texto transversalmente diverso do que escrevo neste lance.

Por pretexto de espaço, entretanto, haja vista a longa relação de quase duas dezenas de capítulos, não procedo aqui a comentários de per se, porém evidencio, nesta demonstração global de autoria, os nomes das Professoras Doutoras Maria do Socorro de Sousa Rodrigues e Kelma Socorro Lopes de Matos, que me impressionaram sobremodo, aliás, conforme sucedeu com os demais, pela propriedade da argumentação epistemológica em que foram elaborados.

O Organizador, Professor Dr. José Gerardo de Vasconcelos, exprime o fato de que a seleção de capítulos não denota [...] de forma alguma um somatório de vontades e verdades. É um campo minado pela travessia de conceitos, percursos e processos de subjetivação. Encontro de educadores, artistas, matemáticos, cientistas e filósofos unidos pela paixão da pesquisa e distintos pela postura e condução de suas linguagens. Artífices do conhecimento. O homem hoje é um animal afeito à produção conceitual inscrita na vontade devoradora da paixão, pois, como afirmaria Nietzsche, em Assim falou Zaratustra: A razão é apenas uma víscera do coração.


ARTIGO - A Lenda do Animal Racional (RMR)

A LENDA DO
ANIMAL RACIONAL
Rui Martinho Rodrigues*


Dizem que somos racionais. Sem dúvida somos dotados de razão. Não teríamos construído o magnífico edifício da civilização, inclusive ciência, tecnologia, organização social se assim não fosse. Não significa, porém, que sejamos guiados pela razão. Paixões limitam o uso do discernimento lógico. O próprio conhecimento, quando imbuído da presunção de certeza, pode ser um obstáculo formidável no caminho da sensatez, segundo advertência de Gaston Bachelard. Mais ainda se estimulado por uma pretensa superioridade moral.

Max Planck chegou a dizer que a Física só cresce quando morre uma geração de físicos. Galileu, Pasteur e tantos outros prestam testemunho semelhante acerca dos limites da razão. A escola do racionalismo pós-crítico chega a dizer que a ciência é irracional, conforme expressão de um dos seus maiores expoentes, Thomas Samuel Kuhn, para quem as referências teóricas são viseiras irracionais, motivo pelo qual Galileu, Pasteur e todos os autores de descobertas revolucionária não conseguiram explicar aos doutos os fundamentos de suas descobertas.

Barbara Tuchman, em "A marcha da insensatez", descreve a incapacidade de perceber os próprios erros, por parte de pessoas inteligentes e cultas, incrustadas em governos, apesar de reiteradas advertências. A autora cobre a história da obstinação insensata desde os tempos de Troia até o século XX.

Corria o ano de 2012, vésperas de eleições municipais, quando eu participava de um diálogo com pessoas qualificadas, pela a televisão, o debate foi interrompido para a transmissão da fala da Presidente. Era o anúncio da redução da tarifa de eletricidade. O grupo apoiou. Tentei dizer que isso estimulava o consumo sem estimular o investimento e outras coisinhas mais. Nem mencionei a natureza eleitoreira da medida, obviedade dispensável. Ninguém concordou. 

Algum tempo antes, vivendo situação semelhante, tentei explicar a um grupo de pessoas de bom nível que a tentativa de baixar os juros por decreto, com base no voluntarismo, empreendida pelo governo Dilma, não poderia ser bem sucedida. Seria preciso equilibrar as contas públicas e adotar políticas minimamente estáveis, sem heterodoxias criativas. Os doutos não compreenderam.

A política de tarifas artificialmente baixas já alcançava os combustíveis. Resultado: quebraram o setor elétrico e a Petrobras. Os juros voltaram a subir, contra a vontade do governo. A represa dos preços arrombou. O estrago foi pior do que o da barragem de rejeitos de mineração, em Mariana.

Sair do atoleiro puxando os próprios cabelos, reduzindo a ciência econômica a uma simples gastança, em nome da "teoria da demanda agregada" ou da mal explicada "nova matriz econômica", versões econômicas do moto perpétuo na física, seduz muitos intelectuais. 

Os doutos não entendem algumas coisas evidentes, por mais que se explique. Por que os intelectuais erram tanto? Obstáculo epistemológico, diria Bachelard. Cegueira dos paradigmas, diria Thomas S. Kuhn. Tática de engajamento político, diria o homem do povo. Vaidade de quem não quer retroceder sobre os próprios erros, diriam os antigos. Ou tudo isso, variando de pessoa para pessoa.

Porto Alegre,
24 de janeiro de 2016


ARTIGO - Crise e Democracia (AS)

CRISE E DEMOCRACIA
Arnaldo Santos*


Talvez não seja a democracia outra coisa senão os vícios de poucos postos no alcance de todos. (H. BECQUE, dramaturgo francês. Paris, 28.04.1837 – 12.05.1889).


Desde que se abateu sobre o Brasil essa hecatombe moral e ética, revelada pela Lava-jato, ensejando a crise político-econômica agravada no segundo semestre de 2015, uma das frases mais pronunciada pelos políticos, empresários e representantes do Judiciário, e publicada pela imprensa, foi – apesar de toda essa crise, as instituições estão funcionando.

Indago, então: – funcionando sim; mas de que forma? Tão importante quanto isto é como e em favor do que estão trabalhando! O fato de as instituições estarem vivas não traduz o real significado do que se espera delas, quando se experimenta um regime democrático.

Devemos atentar para o fato que o autoproclamado funcionamento” percorreu todo o ano passado, e, nem assim, foi capaz sequer de minimizar efeitos trágicos. Ao contrário, a situação crítica se agravou, e, em alguns episódios, a razão foi a maneira como se moveram. Resolver a crise – o que se espera das instituições, a julgar pelo que assistimos durante todo o ano de 2015 – parece impensável. 

Nas democracias verdadeiramente modernas, instituídas desde o século XVII, o que se exige das instituições (e assim é em todo mundo) é que funcionem de forma a superar as crises, sejam elas políticas, econômicas, éticas ou morais, como as que vivenciamos na atualidade. A sociedade aguarda de nossos institutos é que estes militem para devolver a ordem objetiva das coisas, a fim de o País ter a possibilidade de retomar o desenvolvimento e estabelecer soluções para os problemas econômicos e sociais.

Com origem nesse ponto, convido o leitor a fazer comigo uma rápida retrospectiva acerca do modo como atuaram as instituições públicas brasileiras, nesse período crítico, com foco na atuação do Legislativo e do Judiciário, visto que a origem das atuais circunstâncias é o governo.

Na Câmara Baixa, o que vimos foi uma guerra entre oposição e governo, com parlamentares se agredindo a socos, pontapés e cabeçadas, e cuja procedência então pautada foi a admissibilidade do pedido de impeachment da Presidente Dilma, em detrimento das reformas fiscal e previdenciária, e outros ajustes econômicos propostos pelo ex-ministro Joaquim Levy.

Ainda na Câmara dos Deputados, outro espetáculo não lisonjeiro, protagonizado por atores sem nenhum talento, foi encenado no palco da Comissão de Ética, com a troca do relator, agressões físicas, xingamentos e inúmeros adiamentos da votação do relatório que pede a cassação do deputado Eduardo Cunha, presidente daquela Casa.

Mencionada personagem teve, ainda, o pedido de afastamento da Presidência da Mesa Diretora e do mandato, apresentado ao STF, pelo procurador da República Rodrigo Janot. No Senado, o funcionamento se limitou à sabatina e aprovação do nome do ministro Edson Fachin, para o STF, à votação de alguns vetos da Presidente da República e à reformulação de alguns projetos aprovados pela Câmara, que foi chamada de pauta-bomba.

Também na Casa Alta, a convulsão moral, além de escandalizar o País, foi inédita. Pela primeira vez na história um senador foi preso em pleno exercício do mandato, e apenas quando o período legislativo estava se encerrando, o processo foi instaurado na Comissão de Ética. (Delcidio Amaral, líder do governo, apesar de preso, continua senador).

Passemos agora a percorrer os amplos corredores de um moderno símbolo da arquitetura de Brasília, do outro lado da Praça dos Três Poderes, onde se localiza o clássico teatro do STF. Lá, o funcionamento quase se restringiu à encenação da peça Lava-jato, em seus cerca de 20 atos, roteirizados e produzidos pelo juiz Sergio Moro e dirigidos pelo ministro Theory Zavaski, responsável pela prisão de várias personagens importantes da política e da economia nacionais, dentre eles, além dos presidentes e diretores das maiores construtoras, e da Petrobrás, políticos, e até um banqueiro; ressalte-se que foi um espetáculo, nunca dantes encenado no País. 

Além da Lava-jato, outra ação do STF, que auferiu visão pública, foi a definição do rito que deve ser seguido pela Câmara durante o procedimento do impeachment. Em mais uma ação considerada como “judicialização da política”, o STF anulou a comissão paralela que fora ciada pelo deputado Eduardo Cunha, em conluio com as oposições por ele lideradas, como parte de sua ação contra a Presidente Dilma.