EPIDEMIAS E
ECONOMIA
NO MUNDO
Arnaldo Santos*
Em tempos pandêmicos
causados pelo coronavírus o mundo enfrenta dois graves problemas. O primeiro,
de saúde pública, com altos índices de infectados e mortos em todo o mundo, e o
segundo, de ordem econômica, de consequências ainda impossíveis de se mensurar.
Ao contrário do que parte
expressiva do setor produtivo brasileiro quer fazer parecer, bem como alguns
políticos mal intencionados, ou incapazes de compreender a realidade (este
parece ser o caso do Presidente Bolsonaro),
crises econômicas provocadas por epidemias têm precedentes na história,
séculos antes da globalização.
Claro que não podemos ignorar
que os contextos históricos e de desenvolvimento científico são muito
diferentes. Essa realidade nos impossibilita fazer comparação direta, mas apesar
da distância no tempo, todas são epidemias, e guardam características
sociológicas e econômicas comuns, que também encontramos em outras graves
crises de saúde, como a gripe de 1918 – conforme observa a professora de
História Econômica da Universidade de Barcelona, Carmem Sarasúa.
Em respeito à História,
também é imperioso reafirmar que, na sequência de todas as pandemias, ancorada
nos fundamentos do capitalismo, a economia se refez, e sempre com resultados
quantitativos e qualitativos ainda mais significativos.
Nessa perspectiva, os
setores industriais, comerciais e de serviços tiveram que rever seus modelos de
produção, as relações de trabalho, (ainda que com perdas para os
trabalhadores); e, do lado da sociedade como um todo, foi necessária a
incorporação de novos hábitos e padrões de consumo.
Na segunda metade do Século
XIV, por exemplo, quando nem existiam os aviões, a economia medieval na Europa
experimentava um ambiente de ascensão, pelo aumento da produção agrícola, o
desenvolvimento das cidades e a expansão das atividades comerciais.
Nesse ambiente, o mundo
assistiu à peste negra interromper esse processo expansionista, matando milhões
de pessoas, do Leste da Ásia à Europa Ocidental (estudos demográficos indicam
que houve a diminuição de um terço da população da Europa), o que dá uma
dimensão do tamanho da retração das atividades produtivas; nem por isso a
economia perdeu a capacidade de se reinventar. Agora não será diferente, nem no
Brasil e nem no resto do mundo.
Os rebatimentos da peste
negra provocaram uma vertical redução das atividades comerciais, bem como a
desestruturação dos processos produtivos pelas propriedades feudais, forçando a
redefinição dos seus métodos, dos hábitos de higiene, e da cultura política
vigente, sob os quais se assentavam as instituições que davam sustentação à
ordem feudal.
O que se vivenciou a seguir
foi uma Europa em transformação, se preparando para compreender o mundo moderno
que ainda estava vindo.
Quando olhamos para o Século
XX, nos deparamos com as duas maiores crises da História, que são a Primeira e
a Segunda Guerras Mundiais, (1914/1918 e 1939/1945), em que os impactos
econômicos em escala mundial foram infinitamente maiores do que os esperados
para o pós-coronavírus.
Nesses tempos de
coronavírus o Brasil deve revisitar a História (há muitas lições a aprender,
para entender o presente), se capacitar para absorver os impactos que serão
legados pela Covid-19, para o surgimento de uma economia ainda mais
desenvolvida e moderna, assentada em novos modelos de produção, comércio e
serviços, que surgirão a partir do aprendizado que vamos acumular, com
experiência vivenciada, além de criar uma infraestrutura de ação e combate a
eventuais epidemias que o Brasil possa vir a enfrentar no futuro.
Ninguém desconhece que os
rebatimentos dessa pandemia, especialmente sobre as economias das unidades
subnacionais, serão ainda mais agudas. No curto prazo teremos a diminuição da
produção, e o encolhimento do comércio, combinado com aumento do desemprego, e
da subutilização da força de trabalho, provocando o crescimento da
informalidade.
Essas consequências serão
tanto menores, quanto maiores forem as ações políticas e econômicas do Governo
Federal, em uma ação articulada com os governadores.
A julgar pelo que estamos
vivenciando, as perspectivas não são das melhores.
COMENTÁRIO
Uma
breve e excelente aula de história e sociologia, com pauta para os aspectos
políticos e econômicos, em um posicionamento óptico de crítica cidadã. Parabéns, Dr. Arnaldo Santos.
Edmar Oliveira