domingo, 29 de abril de 2012

CHORA A POESIA CEARENSE

BARROS PINHO
Lamentável, sob todos os aspectos, a morte do poeta, escritor, político e amigo Barros Pinho, de quem fui colega na Academia Cearense de Retórica e Academia Fortalezense de Letras. Juntos recriamos o núcleo cearense da UBE, União Brasileira de Escritores. Esse nome de enorme respeitabilidade, também como político, deixa grande lacuna em nossa Literatura.

NA RETÓRICA
      Barros Pinho, Giselda Medeiros e Vicente Alencar
A última vez em que estivemos juntos foi quando de minha posse na presidência da ACLP - Academia Cearense da Língua Portuguesa, que ocorreu há poucos dias, em que demorou-se pouco. Ele também participou das eleições da Academia de Retórica, que reconduziu Maurício Benevides, mais uma vez, à Presidência.

 TAMBÉM EDUCADOR
Piauiense de Teresina, cidade que muito amava, como ao seu Estado, o Piauí, viveu mais da metade de sua vida em Fortaleza. Aqui participou de lutas políticas nos anos 60, foi professor e criador do Colégio Oliveira Paiva e Secretário de Cultura de Fortaleza, sem falar que foi Vereador, Prefeito e Deputado Estadual, eleito em nossa Cidade. Ultimamente prestava seu contributo à Fundação Cultural de Maracanaú.

Postado por Vicente Alencar

sexta-feira, 20 de abril de 2012

FERNANDO CÉSAR MESQUITA É IMORTAL

Tomará posse na Cadeira de nº 2 da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, no próximo dia 04 de maio, no auditório da ACI, o jornalista cearense Fernando César Mesquita.

Ele foi aclamado para suceder a professora Ivonete Maia, falecida no último dia 14 de fevereiro, fundadora da Cadeira nº 2, que tem como Patrono Perpétuo o grande e saudoso jornalista Perboyre e Silva, de quem Fernando César é sobrinho – forte razão sentimental para a sua candidatura e para sua eleição.  

Fernando César Mesquita é Diretor da Secretaria de Comunicação Social do Senado Federal, Presidente da Casa do Ceará em Brasília e membro do Conselho Consultivo da Agência Nacional de Telecomunicações, representante do Senado Federal.

Sua longa vida pública descreve uma história de sucessos. Ele exerceu a assessoria de comunicação de diversos órgãos federais, atuou como porta-voz da Presidência da República, e foi Governador da Ilha de Fernando de Noronha, nos anos 80. No ano passado, Fernando César Mesquita recebeu do Grupo Verdes Mares de Comunicação a Sereia de Ouro, uma das mais importantes comendas do Estado.

No mesmo evento do próximo dia 4 receberá o título de Membro Benemérito da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, que é o mais elevado grau acadêmico, o médico e político Lúcio Gonçalo de Alcântara, intelectual inspirado, imortal da Academia Cearense de Letras, ex-prefeito de Fortaleza, Deputado Federal, Senador da República e Governador do Estado do Ceará.
  
O título lhe será outorgado em reconhecimento aos largos serviços prestados por ele à cultura cearense ao longo de sua vida pública, e por ser instituidor de entidade fundacional, a Fundação Waldemar Alcântara. A láurea coincide com as homenagens que a sociedade cearense lhe vem prestando pelo centenário de seu ilustre pai, ex-governador do Ceará, o também médico José Waldemar Alcântara e Silva.

Na oportunidade, a Academia comemorará o transcurso do seu primeiro aniversário, e como de hábito, um dos acadêmicos fará uma palestra sobre seu tema de domínio. Desta feita, o jornalista veterano Augusto Borges, titular da Cadeira de nº 5 da Academia, patroneada pelo insigne radialista Paulo Cabral de Araújo, discorrerá sobre os primórdios da televisão no Ceará, que ele vivenciou e conheceu.   
 



I Festival de Música da Assembleia

As 36 músicas selecionadas para as eliminatórias do I Festival de Música da Assembleia Legislativa foram apresentadas na noite desta terça-feira, 18, em solenidade no Auditório Deputado João Frederico Ferreira Gomes, no Centro Cultural do Parlamento Cearense.

Agora vai começar a fase eliminatória. As canções serão julgadas durante a realização de seis programas que serão gravados na próxima semana, entre os dias 24 e 26 de abril, sempre a partir das 17h, e exibidos pela TV e FM Assembleia nos dias 5 e 6; 12 e 13; 19 e 20 de maio. A população está convidada a participar das gravações.

Em cada uma das fases, o júri escolherá duas composições que irão participar da grande final do festival, no dia 26 de maio, com transmissão ao vivo direto do novo auditório da Assembleia.

Os 12 finalistas participarão das gravações de um CD e um DVD do evento. Serão premiadas as seguintes categorias: três melhores apresentações, melhor intérprete e cantor ou grupo preferido do público, sendo este último, escolhido por votação na internet, no dia da final.

O concurso foi aberto a artistas de todos os gêneros musicais e tem como objetivo valorizar a cultura nordestina e resgatar a tradição dos grandes festivais.

O Festival de Música da Assembleia recebeu até o domingo passado 436 inscrições de compositores cearenses.

Postado por Hermann Hesse
Coordenador de Programação da 
Assembleia Legislativa do Estado do Ceará 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

NOTAS ACADÊMICAS

POSSE NA AJEB

A professora e escritora Nirvanda Medeiros será empossada as 10 da manhã de amanhã, terça-feira, na Presidência da AJEB (Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil). A solenidade acontecerá no Palácio da Luz. A poetisa Maria Luísa Bomfim que deixa a presidência, após dois anos de profícua administração fará o pronunciamento inicial da manhã, seguindo-se a fala da nova titular.


REUNIAO DA ALMECE

Na última quarta-feira de abril, dia 25, haverá Sessão Solene na Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará - ALMECE, as 19h30min, no Palácio da Abolição. Serão empossados dois novos sócios titulares - Geovane Saraiva e Vicente Teixeira - que receberão saudação do acadêmico Nicodemos Napoleão. A presidência dos trabalhos com o acadêmico Lima Freitas.


Postado por 
Vicente Alencar 


sábado, 14 de abril de 2012

PRESIDENTE LANÇA LIVRO

O professor Rui Martinho Rodrigues, Presidente da ACLJ, está lançando um novo trabalho, em colaboração com mais três educadores, os professores Antônio Germano Magalhães Júnior, Jeimes Mazza Correia Lima e Janote Pires Marques.

O título do livro – “HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO – Teorias, Métodos e Fontes” – é autoexplicativo em relação ao tema abordado, área do conhecimento sobre a qual os autores têm absoluto domínio técnico, tanto teórico quanto prático. A obra foi publicada pela Editora da Universidade Federal do Ceará, filiada à Associação das Editoras Universitárias, sob coordenação editorial de Liduina Farias Almeida da Costa.
 
Rui Martinho pertence ao Departamento de Fundamentos da Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará, sendo Mestre em Sociologia pela UFC e Doutor em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Antônio Germano é graduado em Pedagogia pela UFC e em História pela UECE. É Mestre e Doutor em Educação pela UFC e Pós-Doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); Jeimes Mazza é Historiador, especialista em Metodologia do Ensino da História pela UECE, e Mestre em Educação pela UECE; Janote Marques, professor do Colégio Militar de Fortaleza, é mestre em História Social pela UFC, com licenciatura em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

sexta-feira, 13 de abril de 2012

ACLJ LAMENTA A PERDA DE ITAMAR FILGUEIRAS


A Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, representada pelo acadêmico Aluísio Gurgel do Amaral júnior, se fez presente ao velório do professor de português Itamar Filgueiras.

Itamar era membro da Academia Cearense de Letras, considerado uma verdadeira legenda no ensino de português em nosso estado. Morreu aos 66 anos de idade na quinta-feira, último dia 05 abril, após passar por uma cirurgia, em decorrência de um aneurisma da aorta abdominal.  

O corpo foi velado na Funerária Ethernus, no bairro da Aldeota, e, a pedido do próprio professor, vergava a bata com que ele dava aulas, e tendo no bolso as canetas que habitualmente utilizava. O corpo foi cremado na segunda-feira (09/04), em cerimônia reservada a familiares.

Segundo Aluísio Gurgel, a sentinela ao corpo do ilustre professor e literato, titular da Cadeira de nº 5 da ACL, deu ensejo ao encontro ocasional de grandes luminares das letras e do magistério no ceará, que entre inúmeros alunos e ex-alunos lamentavam a irreparável perda, enquanto rememoravam marcantes passagens de suas vidas junto ao mestre.

«Ele era referência no ensino da língua portuguesa em todo o território nacional», declarou o Deputado Heitor Ferrer. O momento de dor foi mitigado pela confraternização de tantos amigos e discípulos. «Itamar agora é luz e brilha na eternidade», sentencia Aluísio Gurgel.  

domingo, 8 de abril de 2012

ACADÊMICOS NA TV

A televisão cearense reprisou neste domingo, 08 de abril, matérias recentes com dois acadêmicos da ACLJ, o engenheiro Cássio Borges, que é Membro Honorário, e o cineasta Rosenberg Cariry, titular da Cadeira de nº 27.

A TV Assembleia exibiu novamente uma conferência sobre os recursos hídricos no Nordeste, que o Dr. Cássio Borges proferiu, com grande brilhantismo e erudição, no final do mês passado, em audiência pública promovida pela Deputada Eliane Novais no dia Internacional da Água (29/03). Aliás, a mesma exposição ele já fizera em outros estados da Federação.


Já o programa Memória Viva, da TV O Povo, com Rosenberg Cariry, entrevistado polo jornalista Ruy Lima, foi também reprisado neste domingo. O cineasta fala de sua vida, de sua carreira, e pontifica sobre o passado, o presente e o futuro do cinema nacional. Fala também da recente viagem que fez pelo interior cearense com o dramaturgo paraibano Ariano Suassuna, com quem filmou um documentário. 


sábado, 7 de abril de 2012

SOBRE O BIG BROTHER BRASIL


O que a sociedade brasileira está discutindo, a propósito do programa Big Brother Brasil, é a moralidade dela mesma. Nós, e de certa forma o ocidente todo, nos tornamos uma sociedade amoral e hedonista. A dansinha da garrafa, por exemplo, há alguns anos, era estimulada por certos pais, que se divertiam vendo filhas, ainda criança, praticando a coreografia sensual. As drogas alucinógenas, por outro lado, reinam em todo o ocidente.

A explicação desse fenômeno é muito simples: o rescaldo de três guerras mundiais, duas quentes e uma fria, inflou a propaganda, dos dois lados, sob a bandeira da libertação, da ampla liberdade, ao longo do século XX. Em consequência, tornamo-nos uma sociedade hedonista e sem moral, na qual “é proibido proibir". Ou seja, o avanço da democracia levou à vulgarização e ao alargamento do conceito. Nesse processo, qualquer “autoridade” foi confundida com “autoritarismo”.

A psicologia e a pedagogia, formas de conhecimento extremamente inexatos e nebulosos, prenhes de ideologia, difundiram a ideia ridiculamente falsa segundo a qual o diálogo é a única e infalível forma de resolver todos os problemas enfrentados por educadores. Isso afastaria toda e qualquer forma de disciplinamento, agora estigmatizado como "violência", "desrespeito", ou ação "deformadora e traumatizante do educando".

Pais, clérigos e professores, ansiosos por mostrarem-se modernos e esclarecidos (de fato seriam "pós-modernos"), movidos pelo comodismo, uma vez que enfrentar rebeldia de filho é desgastante e trabalhoso, aderiram sofregamente aos modismos do "politicamente correto". A par disso, os aludidos educadores cometeram suicídio moral, adotando condutas que fariam corar até o "frade de pedra" da serra de Uruburetema.

Desmoralizados ou neutralizados os tradicionais gestores da moral, a onda pós-moderna entregou a missão de educar aos artistas, intelectuais e ativistas políticos, que se empenham em demolir todas as referências morais. Alegam que tais referências "neurotizam", contrariam a "natureza humana", não encontram fundamento em "verdades científicas", invocando ainda o "relativismo" ético e gnosiológico.

Assim, o teocentrismo foi substituído pelo antropocentrismo, para uns; para outros, pelo cosmocentrismo (a matéria cósmica, com supostas "leis naturais", no centro de tudo). Ora, quando o homem "é a medida de todas as coisas", nos termos da filosofia sofista, temos o fim dos limites pedagógicos.

Historicamente, isso não deu certo na civilização grega, nem na romana. Artistas e intelectuais, que nunca em tempo algum foram cultores dos bons costumes, agora como arautos da “nova moral”, não podem criticar o BBB – salvo quando tenham interesse político em implantar o controle dos meios de comunicação, nos termos da "vontade de potência" denunciado por Nietzsche. Então, o que temos de fato é um projeto de ditadura dos "politicamente corretos".

Esses adeptos do relativismo frouxo, tanto no campo moral quanto epistemológico (teoria do conhecimento), não podem reclamar do BBB, como de resto, não podem reclamar de nada. Para eles, não seria o homem a "medida de todas as coisas", consagrando a arbitrariedade e a irresponsabilidade?

Os novos gestores da moral não sabem como conciliar o relativismo radical com a afirmação das suas próprias verdades. Quando nenhum conhecimento merece crédito, quando nenhum valor moral tem valor em si mesmo, o relativismo moral e cognitivo também perde o status de verdade, já que tal não existe. Os alegados efeitos deletérios das medidas disciplinadoras, "produzindo neuroses e traumas", também são afirmações mortas pela doença do relativismo radical.

A alegação é de que a educação contraria a natureza, já que estaria em franca contradição com as "pulsões de vida", a que Freud referiu. Isso, porém, não seria relativo? Quando se diz que certas condutas havidas como imorais pela moral tradicional contrariam a natureza, não mais ouviremos que o homem não pertence à natureza? Que não existe "natureza humana"? Que o homem é inteiramente "construído" historicamente?

O que se conclui é que quem está corrompida é a sociedade, não apenas a TV. Médicos fazem intervenções desnecessárias, advogados chafurdam na lama do crime, juntamente com policiais e demais agentes da lei; clérigos se envolvem em crimes sexuais; estudantes praticam corrupção no seio dos seus movimentos políticos e fraude nos trabalhos escolares.

A expansão do conceito de "bem público" ou do "interesse público", submetendo-nos todos ao controle do Leviatã (Estado hipertrofiado), não será a solução. Os agentes do Estado também estão corrompidos. Veja-se o caso das drogas alucinógenas: a repressão é inteiramente falha, apesar do comércio de drogas, como qualquer outro comércio, ser necessariamente público, do conhecimento de todos. O nome disso é "corrupção generalizada".

Esses "novos gestores da moral", não obstante se declarem relativistas, defendem violentamente dogmas pétreos, em nome dos quais querem regulamentar as relações entre pais e filhos, com a famigerada "lei da palmada"; querem controlar o que nós comemos, proibindo o consumo de frituras; querem nos proibir de ter meios de defesa, alegando que armas são perigosas para quem as tem (isso não é relativo?), declarando-nos incapazes de tomar decisões, de exercermos a guarda de armas e de utilizá-las criteriosamente.

Dizem-se "politicamente corretos", mas estão muito longe da coerência. Talvez se pautem pela frase atribuída ao Assis Chateaubriand, segunda a qual "a coerência é um atributo dos imbecis". E nos levam a recitar esta outra sentença, do meu homônimo Rui Barbosa: "De tanto ver triunfarem as nulidades (...) o homem sente vergonha de ser honesto" (e de ser coerente). De minha parte, ando me sentindo um imbecil.


Por Rui Martinho Rodrigues 

sexta-feira, 6 de abril de 2012

BARES, AMIGOS E TIRA-GOSTOS - Crônica

A vida é passageira. Muito chata em alguns momentos, noutros nem tanto. Já imaginaram vocês o quanto seria absolutamente chata se não fosse finita?

Nesta madrugada de céu cinzento e chão molhado, acordei um tanto reflexivo, pensando na vida. Revi, como num instantâneo, o que acumulara até então. Naturalmente que não revelei muita coisa, além de filhos, dívidas e as amizades que fiz.

Recordei o doce período da infância para me certificar de que das amizades construídas naquele início de passeio, poucas perduraram. A maioria se perdeu nos becos e esquinas desta sofrível caminhada.

Cheguei à conclusão de que amigos, confiáveis ou não, fazemos nas mesas de bares, em torno de copos e tira-gostos. O trabalho, a que muitos conferem a dignidade da vida humana, para mim é apenas um atributo que nos garante a sobrevivência neste mundo cão em que nos digladiamos, tendo como pano de fundo a “livre” concorrência.

Portanto, minha história de vida – rica ou não – resume-se a um movimento contínuo por entre bares, na companhia de amigos e tira-gostos. Voltei ao tempo em que, ainda menino e seguindo a sombra de meu pai, saía nas manhãs de domingo para apanhar os chamados jornais do sul – O Globo, JB, Estadão e Folha – na banca do Almeida, na Praça do Ferreira e depois esticar até o bar do Sá Filho, o Flórida.

Todos falavam ao mesmo tempo, quanta confusão! Impressionava-me como todos se entendiam naquela babel de palavras. Lá, além do primeiro copo de cerveja, me foi revelada a delícia que era o seu fígado acebolado. Até hoje me trás água na boca só de lembrar...

Agora, cercado de outras responsabilidades, preencho as manhãs de domingo com idas ao São Sebastião para acompanhar a gestora do lar em suas compras. Entanto, para não perder a viagem, sento com amigos no restaurante “5 Estrelas” – tocado por cinco agitadas senhoras – para atualizar as fofocas e comer um assado de panela. O melhor assado de panela da cidade...

Às sextas-feiras, vou ao Dallas, ambiente burguês de cozinha internacional, que, se por um lado não é grande coisa, por não oferecer um tira-gosto exclusivo, por outro é imenso, pela corriola que lá se reúne. Amigos de interesses diversos, mas que de uma hora para a outra se travestem de economistas, sociólogos ou cientistas políticos para, num estalar de dedos, apresentarem soluções para todos os problemas do Brasil...

Uma vez por mês vou ao restaurante do Alfredo, lá pras bandas da estrada do fio. Noitada boa, papo animado regado a bons vinhos e charutos, tendo como pivô o prato da casa: o pombo cheio. Como diria o Macário Batista, é iguaria para se comer rezando. Mas cuidado jornalista, nunca peça as fêmeas, indigestas para os homens, e que costumam engordar em demasia as mulheres...

De repente, chama-me a atenção o despertador barulhento. É hora de largar a vida e retornar à batalha diária pela sobrevivência...

Por Dorian Sampaio Filho

segunda-feira, 2 de abril de 2012

NUDEZ REPUBLICANA

Segundo a famosa fábula de Andersen, o rei desfilava nu, imaginando estar usando roupas de um deslumbrante tecido especial que somente as pessoas inteligentes poderiam enxergar – segundo o falso tecelão que o vendeu ao rei, por uma quantia milionária.  

Obviamente, o próprio rei não via a ficta roupa, mas não podia admitir isso. Se o fizesse se confessaria idiota, pois todos acreditavam que apenas os mais argutos poderiam ver o tecido mágico. Os áulicos da corte, na mesma linha, elogiavam as vestes imaginárias do monarca, pois precisavam fingir que as estavam apreciando.

Do mesmo modo, todo o povo do reino notava a nudez do rei, mas cada súdito em particular fingia perceber os belos trajes reais, e os aplaudia, pois ninguém queria se revelar um parvo, já que de fato não os podia ver. Até que uma criança, na sua pureza infantil, gritou: “O rei está nu!”. E só assim se rompeu o véu da farsa.

Na vida brasileira há sempre reis republicanos despidos de sua vestimenta moral, todos sabem e comentam, mas ninguém faz nada, porque não aproveita a ninguém afrontar os poderosos. Em regra, para participar do poder é preciso pactuar com essa nudez da ética, ou pelo menos silenciar sobre ela, pois os que tentam rasgar o véu ao final são massacrados.

Por exemplo, todo mundo sabe que cada mandato eletivo tem um preço em dinheiro, cotado em dólares ou euros, e que os vencimentos de um parlamentar, por todo o mandato, nem de longe podem compensar esse valor.

Então, exceto fenômenos como o índio Juruna e o palhaço Tirifica, que se candidatam pela bizarrice notória e que o povo elege para protestar, obviamente todo eleito tem financiadores, entre empreiteiras e partidos políticos, os quais vão lhe cobrar favores econômicos que dependam do cargo assumido.

De repente alguém cai em desgraça na mídia, é filmando recebendo recursos, é gravado prometendo favores, e tudo se afigura como uma grande exceção à regra, tudo parece uma grande novidade.

Que bandido! Que ladrão! Todos o criticam, todos o execram, inclusive colegas de partido passam a apontar-lhe os dedos sujos. Cabe perguntar: “E cadê os outros?”, como indagava o macaco Sócrates. Eu respondo: os outros se misturam à turba para apedrejar a “Geni” da vez, para que pareçam inocentes.

A Presidente, então, sob o clamor do povo, toma da vassoura e faz a sua faxina tópica, coisa que não podia fazer antes para não descumprir acordos, não perverter o sistema político, não perder a governabilidade, não abalar o castelo de cartas que esconde a nudez republicana.

A Polícia Federal é enfim acionada, os Tribunais de Contas abrem sindicâncias, os grandes pretórios judiciais são provocados, e tudo fica no umbral burocrático, até que novo escândalo seja deflagrado pela imprensa, para novamente servir algum sangue fresco ao populacho.

É também consabido que as contratações de empresas privadas para execução de obras públicas são a grande fonte do caixa dois eleitoral, em todo o país e em todas as esferas. Seja por meio de falsas concorrências ou de sua dispensa emergencial premeditada, a corrupção grassa, e como move recursos não contabilizados, essa prática tanto engorda campanhas políticas como gera enriquecimento ilícito.

Assim, exatamente como na fábula de Andersen, o rei vive nu entre nós, mas ninguém quer, nem pode, se rebelar contra os esquemas amorais. Até que a imprensa, assim como o menino da fábula, de vez em quanto diz e demonstra que uma determinada nádega política está exposta, que uma certa genitália real está hirta e ativa contra o interesse público. Então, e só então, com um novo segredo de polichinelo escancarado, a população do país se escandaliza e revolta.

Ora bolas, só os idiotas não sabem que existem pactos entre as empreiteiras dos governos, que estabelecem entre si um confortável sistema de alternância de contratos, o que de fato já constitui uma verdadeira “ética de mercado” – e ninguém se espante com isso, que o crime organizado vive de uma rígida ética própria.

Moral da história: o esquartejamento de meia dúzia de inditosos bodes expiatórios pontualmente flagrados pela mídia e demonizados pelo povo vai saciar a hipocrisia geral, mas não vai mudar essa cultura secular, muito bem acomodada no país. Infelizmente, nem mesmo a bem intencionada Presidente Dilma vai conseguir vestir a nudez republicana, antes que se faça uma improvável reforma política radical. 

Postado por Reginaldo Vasconcelos