quinta-feira, 31 de março de 2016

CRÔNICA - Coerente Decisão (HE)


COERENTE DECISÃO
 Humberto Ellery*


O Senador Walter Pinheiro, da Bahia, acaba de anunciar seu afastamento do Partido dos Trabalhadores.

Este político, quando era ainda Deputado, cometeu uma deselegância comigo, quando eu estava na Câmara dos Deputados, onde desempenhava a função de Assessor Técnico da Liderança do PMDB.

Casualmente encontrei o Deputado Ariosto Holanda no corredor das comissões e iniciamos uma conversa (o Ariosto foi meu professor e é meu amigo).

Então apareceu o Deputado Walter Pinheiro (eu o conhecia de vista), muito apressado, e ao ver o Ariosto puxou-o pelo braço de maneira brusca, dizendo: “Ariosto preciso falar com você, é urgente” – e saiu arrastando o Deputado pelo braço – sem um boa-tarde,  um “com licença”, e não dando tempo ao meu interlocutor de dizer tchau, que apenas me olhou meio desconfiado e me fez um aceno com a mão enquanto era levado numa quase “condução coercitiva”. Naturalmente fiquei agastado com aquela atitude descortês.

Mais tarde encontrei o Deputado Paulo Lustosa e sua mulher Angélica (que é minha irmã), a quem relatei o fato, bastante aborrecido, e fazendo severas críticas ao mal-educado Deputado. Angélica, em tom conciliador, interveio dizendo que realmente o Walter falece de “polimento” social, é meio grosso, mas um homem de bem, um político sério – o casal o conhecia bem de perto. 

Passei então a olhar a atuação parlamentar do Deputado Walter Pinheiro, hoje Senador, com atenção, e pude observar que ele realmente tem sempre atitudes dignas, que culminaram agora com sua desfiliação do PT. Não vai ficar um homem sério nessa organização pejada de tantos criminosos. 


ARTIGO - Golpe e Ameaças (RMR)

GOLPE E AMEAÇAS
Rui Martinho Rodrigues*


Advertência de guerra civil, poder para incendiar o Brasil, conflitos entre manifestantes e chamamento do “exército do Stédile” tornaram-se declarações comuns. Trata-se de intimidação. A pele de cordeiro foi substituída pela imagem da jararaca. Sempre em nome da democracia.

Proclamações pacifista são misturadas às ameaças. Proclamações contra o ódio, a radicalização, outras em favor da concórdia, são postas como exortação dirigida aos violentos. Mas quem são as jararacas?

As manifestações dos oposicionistas se fizeram, sucessivas vezes, sem que se arrancasse uma flor de um jardim, sem nenhum conflito com a polícia, sem que a pintura de um só carro sofresse sequer um arranhão, sem depredação de lojas ou lixeiras incendiadas. Suas manifestações foram pacíficas. O perigo de violência viria de onde? Os governistas são o perigo. Apelos pela paz, em tais circunstâncias, são ameaças.

A alegação de golpe, o apelo aos militantes, o financiamento de manifestações, seja pela oferta de transporte – inclusive mediante o uso de carros oficiais – seja pelas famosas mortadelas ou pela remuneração em dinheiro de origem nada misteriosa, esta sim, assume a configuração de tentativa de “incendiar o Brasil”. Os manifestantes oposicionistas se apresentam em família, levando crianças, com a participação de idosos. Não são agrupamentos adequados à prática da violência. Manifestam-se em dias feriados, o que demonstra cuidado para não causar transtornos à sociedade.

O golpe foi desmentido pela ministra Carmem Lúcia, do STF, que disse, em clara figura de retórica, não acreditar que a presidente da República tenha alegado existir um golpe em andamento. O ministro Celso de Melo confirmou: não há golpe, mas um processo constitucionalmente previsto. O ministro Dias Toffoli fez coro com os seus pares citados: não há golpe no impeachment. Os ex-ministros Carlos Veloso, Sepúlveda Pertence e Aires Brito também disseram: impeachment e julgamento pelo TSE não são golpes. Até o ministro Luís Barroso, de longa data militante do PT, admitiu que não existe golpe no procedimento constitucional do impeachment. E a OAB, por ampla maioria, apoiou e apresentou novo pedido de impeachment.



Golpe é falar em golpe, é o sofisma de que “não há base jurídica” para o processo político. A base jurídica é um crime de responsabilidade. Trata-se de um tipo aberto, sujeito ao juízo de valor da autoridade competente. Analogamente ao tipo “dirigir perigosamente”, o crime de responsabilidade não descreve uma conduta única, identificável de modo estritamente objetivo. O que seja crime de responsabilidade é um tipo aberto. Reconhecer a incidência do referido tipo é prerrogativa do Congresso, em sucessivas etapas, nas suas duas casas, sob a vigilância do STF quanto aos aspectos procedimentais. 

Os juízes, no tocante ao mérito, são os parlamentares, que julgam ao modo dos jurados do Conselho de Sentença do Tribunal do Júri, com base na convicção íntima, no juízo de valor da própria consciência. Isso é o que distingue juízo político de juízo técnico. Uma vez obedecido o rito processual definido pelo STF, com os aplausos dos governistas, o julgamento do mérito formulado pelo Legislativo será legal, legítimo, democrático.



quarta-feira, 30 de março de 2016

APRECIAÇÃO LITERÁRIA - Juventude, Professores e Escola (VM)


JUVENTUDE, PROFESSORES
E ESCOLA
Vianney Mesquita*


Ensino como quem reza – com a alma genuflexa (FILGUEIRAS LIMA).

Foi imensa a satisfação de ler o livro-título deste comentário, de autoria da Professora-Doutora Kelma Socorro Lopes de Matos, docente da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará, indicativo da prontidão intelectual desta investigadora de tão boa crase, cujos estudos são constantemente revigorados no campo da Ciência de Paulo Freire e de seus ramos disciplinares e afins, os quais ela demonstra com maestria dominar.

Ao modo como convém a um bom estudo, os achados de sua demanda empírica harmonizam-se à grade teórica empregada pelos mais autorizados estudiosos (incluindo-se ela própria, com diversos ensaios de vulto, bastante referidos em tarefas da dimensão desta), concedendo ao seu livro incontestável valor e alcance científico digno de nota.

Destaca-se da demanda metodológica empreendida notória contribuição pessoal para o esquadrinhamento da relação jovem-escola-professor, diversamente de certos estudos pretensamente desse gênero, os quais costumam fazer recortes e bricolagens de ideias dos outros, que afluem a pouquíssimas ou a nenhuma achega prática a enriquecer o tema relacionado para exame.

É visível e enriquecedor o caminhar tranquilo pelos variados ramos do saber acima do senso geral, cujo léxico a autora deita cadeira no seu emprego.
Evidenciam-se a correção linguística, a facilidade de expressar indicadores da ciência em códigos rapidamente legíveis até pelo mediano leitor, sem subir às elevadas paragens do Português, tampouco descender ao chão da mesmice elocutória ou mesmo enveredar pelo academicismo exagerado de quem (isso é muito comum) intenta demonstrar erudição que não possui.

De jure et de facto, a Professora Doutora Kelma Socorro Lopes de Matos representa, sem qualquer dúvida, uma das grandes expressões da Pedagogia nacional, teórico-prática e não teorista, sem o ranço da segunda, configurado no fato de ensinar a fazer, sem saber executar o que ensina.

Este volume é uma peça acadêmica para ligeira aplicação prática no paradoxo da insondável e simples área que a autora achou de abraçar com vigor: as Ciências da Educação.


terça-feira, 29 de março de 2016

ARTIGO - Erros Hídricos (CB)

ERROS HÍDRICOS
Cássio Borges*


Ainda há muito que se discutir em torno deste tema dos recursos hídricos especialmente no Estado do Ceará,  "o Estado mais avançado em recursos hídrico do Nordeste" segundo a  propaganda oficial. A meu ver, é exatamente o contrário. E provo por A mais B que tudo o que se faz aqui tem o DNA do faraonismo (irreversível).

Por exemplo, nunca imaginei que alguém de bom senso, especialmente sendo engenheiro, um dia viesse a declarar que a Barragem do Castanhão poderia ser ampliada, portanto maior do que ela já é, comprovadamente superdimensionada. Pois foi o que ouvi dizer o Secretário de Recursos Hídricos do Estado do Ceará, Francisco Teixeira, no recente V Simpósio Brasileiro sobre Barragens, realizado aqui em Fortaleza,  ao qual estive presente.

Não basta a irracionalidade de se construir uma obra próxima do litoral (160 quilômetros de distância), em uma seção do Rio Jaguaribe já perenizada pelos Açudes Orós e Banabuiú (um inominável erro de engenharia), de ter uma superacumulação de 6,7 bilhões de metros cúbicos d'água e no final de tanto despautério se ter uma vazão de apenas 10 m³/s, inferior à do Açude Orós, isto é, 12 m³/s,  cuja acumulação é de 2 bilhões de metros cúbicos.  Quanta irracionalidade!, eu repito.

Se o ilustre Secretário acha que ainda há água suficiente para ser acumulada no Rio Jaguaribe, porque não considerar este seu  propósito com a construção do Açude Castanheiro, no Rio Salgado, o principal  afluente do  Rio Jaguaribe por sua margem direita? 

Por que não construir, por exemplo, o Açude Aurora, também na bacia do Rio Salgado, que já foi considerado pelo extinto DNOS (Departamento Nacional de Obras de Saneamento) o pulmão do Projeto de Integração do Rio São Francisco? 

Em entrevista, publicada no Blog do ilustre jornalista Roberto Moreira, o Sr. Secretário diz, de uma forma implícita, que a COGERH, com seus mais de 700 servidores “foi criada para cobrar a água dos açudes do DNOCS” e faz comparação com os 1.500 funcionários daquele Departamento Federal que tem sobre si as ações de cinco importantes atividades em toda a nossa Região.  

Que os confrades da ACE tirem as suas próprias conclusões. E me pergunto: o que faz a SOHIDRA (Superintendência de Obras Hidráulicas) e a própria Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará? Quantos servidores tem o Estado do Ceará cuidando somente desta questão dos recursos hídricos nas três entidades acima citadas? Duas ou três vezes mais do que o DNOCS, de que o Dr. Teixeira pretendeu a extinção, transferindo, na sua curta permanência no Ministro da Integração Nacional, as suas atribuições para a CODEVASF?  De que forma esses erros contra a Região Nordeste, especialmente no que se refere ao Estado do Ceará, podem ser corrigidos?


domingo, 27 de março de 2016

ARTIGO - O Enigma da Crise (RMR)


O ENIGMA DA CRISE
Rui Martinho Rodrigues*


A crise é política, econômica, ética e institucional. Existem aqueles que entendem sejam os insatisfeitos revoltados porque pobre está andando de avião, e outras coisas deste gênero; em razão de maquinações do capital e da imprensa golpista; por moralismo de “direita”  e rotulam os antigovernistas como “fascistas” e “golpistas”. Essa é a cereja do bolo governista.

Defensores do governo esquecem que o acesso dos pobres aos bens e serviços representa mercado para o capital. Não faz sentido dizer que o capitalismo não gosta disso. Existem insatisfeitos com algum grau de inclusão dos pobres? 

Pode ser, mas não representam os interesses do capital, nem constituem uma parcela expressiva dos manifestantes, tampouco deslegitimam os protestos dos insatisfeitos em geral, ou o trabalho do TCU, da PF, do MPF e da Magistratura.

Maquinações do capital supõem um grau de manipulação, aliado a plasticidade da sociedade, em proporções tais que comprometem a democracia. Afinal, se somos todos tão manipuláveis, as eleições de nada valem. Além disso, o capital financeiro lucrou nos governos petistas como nunca antes na história deste país. A alegada inclusão é mercado para o capital, vale repetir.

Falar na imprensa golpista é esquecer o sentimento das redações dos jornais. As camadas letradas passaram por doutrinação desde o ensino fundamental até a universidade. Os “diplomados”, majoritariamente, são parte do segmento mal definido que se apresenta como “esquerda”, que formam a grande maioria dos integrantes das redações da “imprensa golpista”. 

Não se pode atribuir aos integrantes das redações a revolta com o fato dos pobres estarem andando de avião, nem aos jornalistas a condição de serviçais do capital. Nem se pode dizer que os empresários de comunicação obrigam as redações a servir aos propósitos “golpistas”.

Empresários de comunicação recebem muitos favores oficiais, dependem de publicidade e propaganda de empresas estatais e não estão excluídos da doutrinação ideológica das escolas por onde passaram.

Insistir no argumento do “golpe”  depois que o STF legislou sobre o rito do processamento do impeachment no Congresso e tal legislação está sendo seguida; depois que a unanimidade do TCU declarou que a Lei de Responsabilidade Fiscal foi violada; depois do trabalho da PF, do MPF e da Magistratura, quando os ministros dos tribunais superiores, em sua maioria, foram nomeados pelos governos petistas; depois que a OAB pediu o impeachment, por 26 votos contra 2 dos integrantes do seu Conselho Federal; depois do clamor de parcela tão expressiva da sociedade insistir nessa alegação de que esteja em curso um golpe é seguir o caminho do engano. É uma teoria conspiratória envolvendo um amplo leque de instituições e personalidades, que exige muita credulidade para ser levada a sério.

Opositores e governistas esquecem que os candidatos a reis filósofos, que militam com os governistas, estão querendo impor uma nova moral privada. A agressividade com que são tratados os sentimentos das pessoas ligadas à moral tradicional moveu uma parcela significativa da sociedade para as oposições, o que é um fato relevante.


quarta-feira, 23 de março de 2016

ARTIGO - História Literária Cearense (JESR)

LITERATOS PALMACIANOS
  FIGURA PREEMINENTE
José Edmar da Silva Ribeiro*


No momento em que se aproximam a instalação e a posse dos primeiros árcades da recém-instituída Arcádia Nova Palmaciana (Palmam qui meruit ferat), cuja fundação foi aventada pelo escritor e agente principal deste artigo, em homenagem ao novel instituto cultural e científico, tenciono com o texto preencher uma lacuna relativa às informações (não equívocas, porém, incompletas) a respeito de fatos sem o devido e importante registro, o que é necessário para reempossar a história no seu verdadeiro lugar narrativo e comprometido com a verdade.

Embora até hoje se verifique o empenho dos historiadores palmacianos com vistas a transmitir a veracidade, incluindo as comunicações pertinentes à literatura local, na qualidade de curioso, noto que suas informações não exprimem com exatidão as narrativas atinentes à produção de obras editadas em livros e revistas científicas (e magazines mais populares) por parte de escritores da Terra, em decorrência de motivos de natureza vária, como, por exemplo, a falta de circulação das obras, em razão do pequeno número das tiragens – limitadas no teto em mil exemplares e tendo como piso publicações de até duzentos volumes  entre tantas outras razões.

De tal modo, esse claro se resume na ausência de visão pública das ocorrências editoriais, conquanto haja boa publicidade de tais acontecimentos nos chamados (talvez até impropriamente) meios de propagação em massa. Isto já sucede, por exemplo, com a progressão, sempre aumentada, na área do Direito Comercial, do escritor e árcade da Arcádia Nova (sodalício local recém-instituído), advogado e literato conterrâneo dos aqui referenciados, José Damasceno Sampaio, atual presidente da Academia Cearense de Letras Jurídicas  cujo ativo fixo já conta com uma dezena de livros, indicados em disciplinas de Direito Comercial em cursos jurídicos de todo o País – a quem é preciso se dar mais preeminência nas descrições informacionais e pedagógicas no âmbito da literatura de que cuido.

De jeito semelhante, particularmente na seara da criação científica, aconteceu com o acervo dos escritores naturais de Palmácia-CE – Prof.a Dr.a Maria Graziela Teixeira Barroso (Palmácia, 06.05.1926 – Fortaleza, 13.05.2011), Prof. Dr. Teobaldo Campos Mesquita, Prof. Dr. Kilmer Coelho Campos (filho do imediatamente seguinte), Prof. Dr. Robério Telmo Campos,  Prof.a Dr.a Inês Teixeira e Prof. MS Francisco Antônio Guimarães (todos da Universidade Federal do Ceará), bem como do engenheiro-MSc Francisco José Coelho Teixeira (atual secretário de Recursos Hídricos do Ceará).

Os produtos intelectuais – livros (Graziela, Teobaldo e Robério, vários) e dezenas de artigos científicos publicados em periódicos especializados por esses autores – inclua-se Pedro Eymard Campos de Mesquita (eng.o. agr.o do DNOCS) – aparecem repetidamente nos veículos de comunicação social, todavia escapa às demandas dos descritores da História palmaciana a identificação dos meios difusores onde devem ser procuradas essas informações: nas universidades, imprensa especializada, convites para lançamentos, media informáticos etc.

Têm bom curso nas notas atuais expressas nos mass comunications, principalmente na rede mundial de computadores, os atuais escritores serranos Rocildo Muniz (um dos seus produtos, dentre outros, é O Arraial das Palmeiras se fez Palmácia) e Iolanda Campelo Andrade, em bons livros, cujo excepcional poema Bordados Literários, que vai ser publicado em Reservas da minha Étagère  2016 – do escritor palmaciano Vianney Mesquita, sobre quem me reportarei adiante, além de outras edições de alteado valor, e na Revista da Academia Cearense da Língua Portuguesa. Contabilizam-se, ainda, Gilardo Gomes (Deus Falando em Poesias), Antônio Carlos Sampaio de Oliveira e Junior Holanda, por exemplo, também como compositores de edições em infólios preparados por gráficas profissionais.

Porque bastante festejadas, com a máxima justiça e a mais supina honra para o Município de Palmácia, como intelectuais e escritores de visão estadual – e até nacional – são bastante conhecidos, apreciados e amados por aquele povo serrano, aparecendo vez por outra na imprensa e constantemente na internet, as doutas e inesquecíveis figuras dos Professores Vicente de Paulo Sampaio Rocha e José Rebouças Macambira, ícones da intelectualidade cearense, isto é, não somente palmaciana, em virtude de sua atuação no meio cultural da Terra das Palmeiras, havendo ambos deixado como herança aos seus conterrâneos realizações literárias e científicas de qualidade no campo da Língua Portuguesa, da qual eram docentes.

O Professor Vicente Sampaio, em bons tempos de completude de sua existência terrenal profícua e de benquerer à sua Cidade, quando voltou a ali morar, após reforma de sua atividade professoral ao longo de mais de 30 anos, viveu em profusão, sempre inserido ou à frente de seus motos culturais e científicos, havendo legado ao acervo literário palmeirense os livros Português nosso de cada dia (com parceria de Rosimir Espíndola Sampaio) e Dicionário de Etimologia, Pronúncia e Termos Jurídicos, de modo que seu nome não se pode desvincular, em tempo algum, do romaneio histórico do seu Município, pois filho estremecido que, à Palmácia do seu tempo, devolvia todo o carinho e a afeição a si dispensados, fatos que jamais podem deixar a lembrança dos seus conterrâneos.

José Rebouças Macambira, linguista, gramático e poliglota, após se mudar para Fortaleza, jamais voltou a residir na terra natal, onde nasceu em 17 de novembro de 1917, porém nunca deixou de visitá-la e de lhe dedicar atenção máxima, sempre se referindo a ela em suas peças de assinalada qualidade métrica e insuperável entusiasmo poético, como ocorreu com os poemas “Palmácia de Ontem” e “Bacamarte”, inseridos em Musa de Aquém e de Além.

Mencionado imortal, que pertenceu à Academia Cearense de Letras e à Academia Cearense da Língua Portuguesa, editou oito livros didáticos, no terreno científico do Código de Camões e na poesia, entre os quais Estrutura do Vernáculo (1986), Estrutura da Oração Reduzida (1971) e Musa de Aquém e de Além (1981), todos multicitados em trabalhos acadêmicos de críticos, jungidos às suas temáticas, tanto no Brasil como nos demais oito países onde tem curso a Língua Portuguesa (Portugal. Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Guiné-Bissau, Timor Leste e Macau).

Como visto nas menções procedidas até aqui, não reside nenhuma dúvida, por conseguinte, quanto à precedência literária desses dois palmacianos de escol em relação aos demais escritores aqui mencionados, consoante resta cristalino nas composições procedidas por historiadores-literatos locais.

Para endireitar a via histórica, entretanto, impõe-se conceder destaque a outro escritor, cuja longa obra em livro foi iniciada em 1984, coetaneamente, portanto, às produções dos seus dois há pouco aludidos compatrícios. Este a quem me refiro, que é linguista, poeta, ensaísta, cronista e analista literocientífico, não tem o nome, inexplicavelmente, retratado nas alusões históricas da verve escritora da Cidade – conquanto reconhecido e celebrado em Fortaleza, em registros de mais de uma dezena de autoridades literárias – fato configurador de lacuna bastante grave, encobrindo, pois, a exatidão dos fatos e, injustamente, preterindo o fulgor de suas múltiplas produções, amplamente reconhecidas pelo universo crítico, no âmbito do Estado e do Brasil.
Cuidem, por consequência, os historiadores literários palmacianos de incluir Vianney Mesquita, escritor de cerca de duas dezenas de livros, espessos em continente e recheados do melhor conteúdo, objeto de apreciações de figuras como Genuíno Sales, Renato Casimiro, Francisco Carvalho, Pedro Henrique Saraiva Leão, Régis Kennedy Gondim Cruz, Batista de Lima, Adísia Sá, Neide Azevedo Lopes, Gilmar de Carvalho, Giselda Medeiros, Ítalo Gurgel – entre muitos do Ceará – e Márcia Siqueira (Minas Gerais) e Leilah Santiago Bufrem (Paraná), a primeira ao se reportar à A Escrita Acadêmica – Acertos e Desacertos (UFC) e a outra, em tese de doutorado, comentando acerca do primeiro livro escrito no Brasil a respeito de editoras universitárias – Sobre Livros – Aspectos da Editoração Acadêmica (Fortaleza:UFC/Brasília: Ministério da Educação, 1984), de sorte que o escritor sob comento também é ponto de destaque na história do livro no Brasil.

De tal modo, a fortuna crítica desse produtor editorial já é bem vasta, incluindo, também, um texto meu, como guarnições (orelhas) do seu derradeiro livro, editado em 2015, intitulado Reservas da minha étagère, onde expresso as qualidades ínsitas a ele – a quem conheço e da sua amizade privo há cerca de 35 anos na Universidade Federal do Ceará – em particular no terreno da crítica e das manifestações em língua portuguesa que, aliás, fogem do trivial e delimitam seu correto e inconfundível estilo.

João VIANNEY Campos de MESQUITA (Palmácia, 17.08.1946), jornalista e professor da Universidade Federal do Ceará, membro das Academias Cearense da Língua Portuguesa (da qual foi presidente por duas vezes) e Cearense de Literatura e Jornalismo, além da Arcádia Nova Palmaciana (sodalício por ele fundado), possui vários prêmios de Literatura e Comunicação em concursos promovidos por entidades culturais do Ceará. Compõe bloco do Dicionário da Literatura Cearense, de Raimundo Girão e Conceição Sousa (1987) e é autor, entre muitos mais, em 32 anos, desde o primeiro trabalho editorial (o dito Sobre Livros), de UFC – Ciência, Cultura e Tecnologia (com GURGEL, Í; MENESES NETO, 1984); Mecanismos de Promoção Editorial para as Universidades Federais do Nordeste (Plaqueta – Univ. Fed. da Bahia, 1982) Estudos de Comunicação no Ceará (com Gilmar de Carvalho- UFC, 1985); Impressões – Estudos de Literatura e Comunicação (UFC, 1989); Resgate de Ideias (UFC, com Fátima Portela Cysne - 1996); A Fortuna Crítica de Carlos d’Alge, in D’Alge, C. O Sal da Escrita. (UFC, 1997); Os Versos Ecléticos de Vasques Filho - Estudo Introdutório. (UVA1998); Fermento na Massa do Texto (Edições Universidade Vale do Acaraú – UVA, 2001); Repertório Transcrito (UVA, 2003); ... E o Verbo se Fez Carne (UVA, 2004); Para além das Colunas de Hércules (In BARRETO, A.; MOREIRA, Rui Verlaine. UVA, 2004); Arquiteto a Posteriori (UFC, 2013); R.H.F.- Tributo ao Mestre que Ensinou Fazendo (UFC, 2014 – com Karla Farias); Nuntia Morata, Expressão Gráfica, 2014); Reservas da minha Étagère – Aproximações Literocientíficas. (No prelo); e Contratualismo, Política e Educação – Estudo Introdutório – in VASCONCELOS, J. G.; MARTINHO RODRIGUES, R.; ALBUQUERQUE, J. Cândido, L. B. de. UECE, 2016).

Convém evidenciar o fato de que, além das obras em livro solo e com coautoria, escreveu dezenas de capítulos em coletâneas, artigos científicos em revistas da Universidade Federal do Ceará – LetrasComunicação SocialRevista de DireitoEducação em DebateDesafio – e de outras instituições acadêmicas, como a UFBA e a Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCCAMP.

Sobra expressar, por fim, a ideia de que a ausência do seu nome da lista de palmacianos ilustres e de escritor consagrado representa, na realidade, um hiato não justificável e que não há de prosperar após esta intervenção, no alcance do meu raciocínio, absolutamente necessária e oportuna, porquanto Vianney Mesquita, não sobra nenhuma razão, é hoje o maior escritor da Terra das Palmeiras, na relação quantidade e qualidade, evidentemente, sem dos demais pretender, por totalmente descabido, subtrair a relevância qualitativa das suas produções.

Justiça seja feita, porém ...


*Advogado e Escritor
Professor Universitário
Procurador da UFC e 
Assessor do Reitor 
Membro do Conselho 
Editorial das Edições UFC

INFORMAÇÃO HISTORICOLITERÁRIA - Carlos D'alge (VM)


CARLOS D’ALGE
AUTOR CEARENSE TRASMONTANO
Vianney Mesquita*


Um dos males da literatura consiste em terem os nossos sábios        pouco espírito e serem pouco sábios os nossos homens de espírito. (JOSEPH JOUBERT, ensaísta e moralista francês. (YMontignac,         07.05.1754 –VVilleneuve-sur-Yonne, 04.05.1824).

                                                              

Há algum tempo, o escritor Carlos Neves d’Alge está fora do circuito intelectual da nossa Terra, no recesso de sua residência, cuidando da saúde, ultimamente, meio combalida, do que, decerto, se vai liberar, para gáudio de seus pares, admiradores e amigos e vitória da atividade intelectual do Estado e do País.

Nascido em Chaves – Trás-os-Montes – Portugal (24.07.1930), veio jovem para o Brasil, tendo estado no Pará, porém há dezenas de anos tem vida social e literária aqui em Fortaleza, como docente-titular de Literatura Portuguesa da UFC, acadêmico das Academias Cearense da Língua Portuguesa e Cearense de Letras, creditando-se, no rol de várias funções assumidas, as de chefe do Gabinete do Reitor Martins Filho, nos começos da UFC, e Diretor-Presidente da TV Educativa do Ceará – Canal 5.

Tem ativo literário bastante recheado de produções, contabilizando-se, dentre muitas outras, Terra do Mar Grande (1970), As Relações Brasileiras de Almeida Garret (1980), Sintaxe do Compromisso (1981), O Exílio Imaginário (1983) e O Sal da Escrita – Ensaios de Literatura Comparada (1977).

D’Alge transita por vários gêneros, do ensaio à poética, demonstrando ser o intelectual sóbrio e preciso, ao empreender estudos em profundidade acerca das literaturas de língua portuguesa, por ele cultuadas e avigoradas, com textos cuidadosos, nos quais se verifica, com facilidade, o filão da pesquisa bem buscada.

Distinto, em virtude da profusão de seus trabalhos escritos e orais, tem ressalto na sua obra o mencionado O Exílio Imaginário, com trinta estudos, divididos em quatro partes, compostos de fundamentais pontos para o então cultural instante brasileiro. Envolve as relações do Brasil e outros países, com destaque para o africano de expressão lusitana, escritores portugueses clássicos e modernos e sua influência no nosso País. Reporta-se, ainda, a produtores brasileiros de ocorrência marcante na nossa história e até no estrangeiro – como no caso de escrito traduzido para a língua tcheca. Por fim, são expressos pelo Autor do mais à frente referido O Sal da Escrita, os exames de nomes diretamente vinculados à cultura do Ceará, conduzindo-nos ao debate próximo com escritores que carrearam subsídios de relevo para projeção, mundo afora, da cultura do Nordeste brasileiro.

De tal maneira, O Exílio Imaginário, como os demais trabalhos de seleção rigorosa que as Edições UFC (hoje sob a competente direção do Prof. Antônio Cláudio Lima Guimarães) trazem a público, tem a marca do talento e o sinete do método, circunstâncias exigíveis do investigador, dignificando, por consequência, a estante de qualquer estudioso, estudante ou apreciador da literatura de Língua Portuguesa, que poderão se louvar no retrocitado volume para empreender consultas.

Tem ressalto, em meio aos seus bens produzidos, um conjunto de ensaios de literatura lusitana comparada – o há pouco expresso O Sal da Escrita cujo ponto alto, para mim, descansa na remissão à obra da notável escritora Marquesa de Alorna Dona Leonor de Almeida de Lorena e Lencastre (quarta marquesa), a sétima Condessa de Oyenhause, nascida lisboeta (Y1750 - VBenfica, 1839).

Conhecida como Alcipe pelos poetas da Arcádia, a Marquesa de Alorna pertence a um ramo familiar de fidalgos portugueses. Foi perseguida pelo Governo do Marquês de Pombal (o mais célebre, o segundo marquês) – Sebastião José de Carvalho e Melo – expulsor dos Padres Jesuítas do Brasil, quando do Tratado de Madrid. Este a encerrou, juntamente com a mãe e o irmão, no Convento de Chelas, destino também reservado ao pai, preso na Torre de Belém e depois no Forte de Junqueira. O moto da persecução era simples – o parentesco dos Alornas com os Távoras – eis a vinculação com o Ceará.

A obra da Marquesa de Alorna, desde a truculência do mencionado Conde de Oeiras e Segundo Marquês de Pombal, analisada pelo Prof. Dr. Carlos Neves D’Alge, configura-se em seis volumes de composições poéticas, originais e traduções, entre as quais estão os três primeiros cantos de Oberon, de Christoph Martin Wieland (Achstetten – Alem., 05.09.1733 – Weimar, 20.01.1813), bem como as Estações, de James Thomson (Ednam – Escócia, 11.09.1700 – Richmond – UK, 27.08.1748).
 
Após o conjunto textual de Carlos D’Alge, importa evidenciar, a empresária e literata portuguesa Maria João Mendonça Lopo de Carvalho procedeu à edição, em outubro de 2011, do estudo profundo intitulado Marquesa de Alorna, somente a respeito dessa Escritora, ao passo que o livro do intelectual tramontano-cearense encerra outros ensaios de semelhante magnitude, dispondo em paralelo literaturas de língua portuguesa de Brasil e Portugal.   


DUAS NOTAS JORNALÍSTICAS


BRASÍLIA-CEARÁ



O programa Brasília-Ceará, da TV Diário (Canal 22), que vai ao ar às 14:30h das terças-feiras, apresentado da Capital Federal pelo jornalista acelejano Wilson Ibiapina, na edição de ontem (22 de março) rodou reportagem sobre a “Tapioca Amiga”.

Trata-se de encontro sociocultural mensal promovido pelo poeta Juarez Leitão, em seu apartamento de nossa Fortaleza, reunindo ali uma grande plêiade de intelectuais de seu círculo de amizades para um café com tapioca.

A matéria, realizada na tarde do dia 09 de março, aniversário de Juarez Leitão, e foi conduzida pelo advogado e jornalista Reginaldo Vasconcelos.

O repórter entrevistou o anfitrião aniversariante Juarez Leitão e um dos mais frequentes convivas desse fraterno convescote*, o Dr. Lúcio Alcântara, ex-governador do Estado e Senador da República, ambos da Academia Cearense de Letras, este último Membro Benemérito da ACLJ. 



*Termo precioso criado pelo gramático carioca Castro Lopes (Y1827 V1901), que na sua específica acepção de reunião informal e descontraída com pretexto gastronômico não tem sinônimo na língua portuguesa.

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MAIS UMA PÉROLA LÍRICA
DE LUCIANO MAIA

O poeta Luciano Maia, o “Menestrel do Espavento”, Cônsul da Romênia em Fortaleza, imortal da Academia Cearense de Letras e titular da Cadeira de nº 8 da ACLJ (patroneada pelo Barão de Studart), lança novo livro de poemas – mais uma pérola lírica num colar de mais de vinte contas.
 
Aldea Lonxana, obra bilíngue, com 10 poemas em galego e 47 em português, foi lançado na noite de ontem, 22 de março, no Terraço Cultural do Ideal Clube, com apresentação do Desembargador Durval Aires Filho, outro imortal da ACL e da ACLJ, que também assina as orelhas do livro – ou suas “abas”, como se tem preferido. Abaixo, um dos sonetos na língua pátria que o belo livro traz.



PERSEGUIDA ILUSÃO

A cidade acenando das colinas.
O vento beija as suas alamedas.
As pessoas se dizem coisas ledas
em jardins de verbenas e boninas.

As flores, mesmo as flores pequeninas
fazem na relva as suas sombras quedas
a um sol de inofensivas labaredas
sobre as águas pequenas das campinas.

Nesse país há um apaziguamento
dos anseios de cada cidadão
em ser amigo por merecimento.

Todos os sonhos os conduzirão
ao voo de um comungado pensamento
provando de uma côdea da Ilusão.