quinta-feira, 30 de abril de 2015

ARTIGO (RV)

DEMOCRACIA NÃO É ISSO
Reginaldo Vasconcelos*



O Congresso envia e a Presidente sanciona a triplicação da verba pública destinada no Orçamento ao Fundo Partidário. O governador de Minas Gerais, no mesmo dia, condecora um inimigo da Nação, líder de um movimento ilegal, que depreda criminosamente laboratórios de pesquisa, invade propriedades produtivas, ataca o agronegócio – este que tem sido a salvação do nosso Produto Interno Bruto.

O governo  inicia um segundo mandato impondo ao povo um enorme sacrifício, com aumento de tarifas e de impostos, queda do emprego, redução de direitos trabalhistas, alta de combustíveis, volta da inflação, como consequência de mandatos anteriores do mesmo partido, deixando claro que se reelegeu com base em flagrante propaganda enganosa divulgada na campanha.

Esse partido, com o apoio absoluto da base aliada, levou esta República à total bancarrota, praticando gestões temerárias, corrupção sistêmica, loteando o Estado, abalando gravemente a empresa petrolífera que era o orgulho nacional. Mas pede ao povo paciência e tolerância, enquanto mantém a máquina inchada e distribui privilégios financeiros.

Não. Democracia não é isso. Democracia é fazer o que o povo quer, sempre no interesse coletivo, combatendo a pobreza pela educação e pelo pleno emprego, com estímulo à economia – ao invés de viciar os pobres com políticas públicas que produzem eleitores sem os tirar da ignorância.  

Democracia é a possibilidade de destituição do governante a qualquer tempo, se este errar gravemente ou enganar o povo, como no parlamentarismo.  O conceito de que democracia seria apenas convocar eleições regulares e manter a liberdade de expressão é equivocado.

Ora, se a consciência popular é constantemente conspurcada pela falácia e pela mentira; se grupos violentos juridicamente despersonalizados são aliados do governo; se as eleições não permitem recontagem de votos; se há captação de sufrágio por meio de assistencialismo desvairado; se o Poder Legislativo é cooptado e os tribunais aparelhados, o voto perde a legitimidade e a imprensa livre fica bradando no deserto. 

Não há censura direta à imprensa, mas toda a mídia eletrônica é concessão do Poder Público, e há verba pública a favor do silêncio espontâneo, e contra a oposição dos mais ousados. O grupo político atualmente no Governo que lutou para instalar uma ditadura de esquerda, hoje se diz democrata, enquanto a diplomacia oficial corteja ditaduras e o País lhes faz empréstimos sigilosos. Não, isso não é democracia.

Tampouco é sinal de democracia hígida o fato de haver constantes protestos de rua, passeatas contra o governo, depredações e panelaços, interrupção de vias, invasão de prédios públicos, greves por todo lado.

Se o povo está tão insatisfeito, a democracia não está funcionando bem, pois o voto livre e consciente em bons representantes, bem como um Judiciário acessível, eficiente e célere são as únicas vias republicanas para a intervenção efetiva dos cidadãos na imposição da ordem pública. Revolta popular sinaliza que a democracia está sangrando.  

Sim. A livre manifestação popular significa que não há uma clássica ditadura, mas significa também que o povo está infeliz, e que a representação parlamentar é ilegítima, seja pela fraude política na propaganda enganosa, seja pelas falhas da lei vigente, que coloca no poder pessoas de maus antecedentes, ou mesmo sem votos, pelas vias da suplência e do quociente eleitoral.

Significa ainda que não há confiança na Justiça para julgar ações populares, ações civis públicas e dissídios, com rapidez e eficácia, com força para coagir o Estado a obedecer e a pagar quantias certas que ele deve aos cidadãos.  

Não, não. Democracia não é isso. Isso é um regime caviloso em que o povão é ideologicamente seduzido e desse modo conduzido a manter um projeto de poder, que na verdade alimenta e se retroalimenta de um sistema plutocrático – como nos têm revelado as operações heroicas do Ministério Público e da primeira instância da Justiça Federal.


*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ

CRÔNICA (AM)

  
FEL PARA UM EMBUSTEIRO
(Lances Gaiatos do Teatro)
Assis Martins*

Os homens inclinam-se naturalmente a julgar virtuosos os outros homens; é aí que está a vantagem dos impostores e trapaceiros. (Abade GALLIANI – 1728-1787).

Está no misto do anedótico e veraz cearense uma presepada das grandes que fizeram com o Chico Bastião, numa representação do Mártir do Gólgota (Almeida Garret), aqui em Fortaleza. Ele era um dos atores mais competentes no papel de Jesus Cristo, durante muitos anos. Uns dizem que aconteceu nos palcos da Piedade, outros informam que foi no Theatro José de Alencar. A autoria da brincadeira é atribuída em versões diversas a pessoas diferentes, mas a maioria assevera que aconteceu, de verdade.

Nos intervalos das peças, a birita corria sempre solta. A canalha levava o tira-gosto que, escondido entre as rotundas e cenários de papel de cimento, fazia o regalo dos papudinhos, com o devido cuidado para o diretor não descobrir. O resultado era a euforia geral no fim dos espetáculos. Ainda bem que não havia exame antidoping nos apóstolos; tampouco nos figurantes. Nem na Guarda Pretoriana.
 
Até que a brincadeira não melindrou o Chico. Pelo contrário. Ele até gostou. Aconteceu no palco do [...]. Já ouvi diversas variantes, com menção a locais diferentes.

Final dos últimos atos, casa superlotada, o pessoal já muiado e, em cena, o Cristo, moribundo na Cruz, consegue balbuciar:  Tenho sede! Deem-me água...! Um soldado responde com rispidez:  Prova deste fel; tu bem o mereces, embusteiro...! Então, esfrega na Sua boca uma lança com a ponta enrolada com algodão embebido em cachaça Palmacinha.

E eis que o grande ator sacrodramático, Chico do Bastião, consegue ainda dizer, antes do Consummatum est: mais fel, mais fel...


*Assis Martins 
Funcionário da U.F.C.
Cronista e Ilustrador. 
Bacharel em Geografia e Tecnologia e Gestão do Ensino Superior 
pela Universidade Federal do Ceará.


terça-feira, 28 de abril de 2015

DISCURSOS DE POSSE NA ACLJ




SAUDAÇÃO
A IGOR QUEIROZ BARROSO 
NOVO BENEMÉRITO DA ACLJ
Por Reginaldo Vasconcelos
(Proponente)
23.04.2915



Por que Igor Queiroz, neto de Parsifal e Olga Barroso, e de Edson e Yolanda Queiroz, foi indicado e eleito Membro Benemérito da ACLJ:


“É claro que a ascendência ilustre, mesmo nos “quatro costados”, como no caso de Igor, não credencia alguém de per si a ingressar no silogeu, em qualquer de suas categorias acadêmicas.

Entretanto, essa circunstância de ancestralidade honrosa ganha grande importância quando, além dela, a pessoa tem méritos próprios, tem afinidade com a cultura e as artes, tem serviços relevantes prestados à literatura e à imprensa no Estado, tem virtude moral e caráter nobre, e faz gosto em se integrar à confraria. E esse é precisamente o caso do empresário Igor Barroso".
................................................................................................

Sobre as finalidades sociais da ACLJ:

"Ter ações editoriais importantes, promover simpósios, organizar certames, realizar pesquisas, manter um fórum cultural e jornalístico permanente na internet, estimular o beletrismo e as belas artes, preservar a língua culta, dar pareceres no seu campo de especialidade e de interesse – é essa a nossa complexa atribuição institucional, entrevista nas atividades pulsantes que a inspiram e denominam: a literatura e o jornalismo.

Vale notar, a propósito, que desde os  gregos, o exercício da virtude está no cerne semântico da palavra “academia” – seja, como no nosso caso, na seara do pensamento e do intelecto; seja, como no caso da universidade, na acepção de ensino, pesquisa e extensão; seja, no campo olímpico, o fisiculturismo, as artes marciais e a ginástica.

Enfim, academia não é somente um lugar de ser e de estar, mas principalmente um local de fazer, de produzir e de crescer. É parlamento, é ateneu, é tribunal. Não é tão-somente um museu de almas vivas, mas antes usina que revitaliza tradições, que imortaliza espíritos de luz, e que opera energicamente para superar limites, revelando horizontes novos nas virtuosas vocações".

................................................................................................

Boas-vindas ao novo Benemérito:

"Tem grande força simbólica para nós outros o fato de que, ao completar os primeiros quatro anos de existência, cumpridos com tanto brilhantismo e sucesso, a ACLJ receba e instale na mais nobre ala de suas dependência acadêmicas, a dos Membros Beneméritos, esse lorde, esse gentleman, esse fidalgo, que, por seus próprios méritos e suas grandes qualidades pessoais reconhecidas, conquista hoje mais um título merecido e vitalício.

Bem-vindo, confrade Igor Barroso, a essa modesta casa cearense de culto à beleza artística e literária, de registro de memórias, de busca de saberes. Depois de ler a longa entrevista que você prestou à Professora Erotilde Honório para os anais da ACLJ, em que  revela um surpreendente sentimento humanístico e humanitário, na condição de proponente de seu nome para essa quadratura benemérita, fiquei exultante.

Esse título de benemerência que a ACLJ lhe outorga, com a chancela de personalidades como Cid Carvalho, Adísia Sá, Fernando César Mesquita, Martins Rodrigues, Concita Farias, Rui Martinho, Miguel de Azevedo, Cássio Borges, Vianney Mesquita – para citar apenas alguns dos confrades que já viveram o bastante para esplender vigor ideológico e virtude moral – é uma láurea que, esteja certo, honra a memória de seus avós ilustres e certamente orgulhará a sua prole, inclusive o pequeno Victor, o qual, do ventre da mãe já nos irradia os auspiciosos eflúvios da felicidade e do triunfo que recebe da família.”






















DISCURSO DE POSSE DE 
IGOR QUEIROZ BARROSO
(Honra e Desafio)




 Vocação literária cearense:

"Marca de pioneirismo na área foi a criação da Academia Cearense de Letras, em 1894, antes mesmo da instalação da Academia Brasileira de Letras. Mas o ponto alto do período de efervescência se deu com a famosa Padaria Espiritual, idealizada pelo poeta Antônio Sales, para fazer intercâmbio dos cearenses com os escritores de todo o Brasil e do estrangeiro. 

Na esteira desses brilhantes antecedentes, insere-se a nossa Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, que tem o objetivo de servir à educação e à cultura cearense, dentro dos padrões de renovação de mentalidade exigidos pela contemporaneidade.  

Com efeito, a nossa Academia, não somente cumpre a tradição histórica das entidades culturais, como também executa um dever de responsabilidade social, ao complementar a ação sempre insuficiente do Poder Público no que diz respeito à ampla e permanente difusão da cultura local".

 ................................................................................................

Participação honrosa:

"Comungando com iguais propósitos, é com imensa alegria e com justo orgulho que recebo o título de 12º Membro Benemérito da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo. Engrandece a mim, ainda tão jovem, receber uma comenda que já distinguiu minha querida avó, Yolanda Queiroz, e o meu admirado tio, Chanceler Airton Queiroz, para citar apenas meus parentes na lista dos já homenageados por essa atuante entidade".

 ................................................................................................

Formação moral e intelectual e experiência jornalística:

"Entre as leituras que sempre me fascinaram, cito em primeiro lugar a Bíblia Sagrada, o livro por excelência, que se tornou a base de minha formação moral e espiritual. Já a obra do escritor alemão Thomas Mann, me impressionou pela sua análise psicológica da condição humana, e foi decisiva na minha formação intelectual. Mas gostaria de enfatizar  a importância do brasileiríssimo Machado de Assis, cujo talento na arte de escrever me deu inesgotáveis lições de vida.

Com o romance de Brás Cubas, aprendi a enfrentar dificuldades da existência, com as tintas da ironia; com o sábio conto O Alienista, comecei a cultivar a tolerância e a fazer o meu exercício de humildade.

Uma das minhas experiências mais profícuas foi ter trabalhado na Diretoria Administrativa do Diário do Nordeste durante cinco anos. Ali, no convívio com profissionais de primeira linha, conheci de perto a relevância do Jornalismo para a construção de uma sociedade consciente. Desde então, leio os jornais diariamente como fontes acreditadas de informação e opinião, divulgadas com ética e responsabilidade".

 ................................................................................................

Honra e desafio:

"Ao ser participado da concessão do título de Membro Benemérito desta Academia, o preclaro acadêmico Reginaldo Vasconcelos destacou como uma das razões da escolha ser eu detentor da tradição e da genética de dois gigantes da vida pública cearense, meus avós, o Governador Parsifal Barroso e o Empresário Edson Queiroz, ambos secundados por suas grandes mulheres, Dona Olga e Dona Yolanda.

Por essa vinculação com os meus inolvidáveis ascendentes é que estou sumamente feliz com o título que acabo de receber, e pelo qual agradeço a generosidade dos membros da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo".




GALERIA MINO



Pintura do Mino, denominada “O RÉU”, cujo tema sugere adequação à decoração de um escritório de advocacia criminal, ou outro ambiente da Justiça. Mede 50 cm x 50 cm, e o preço é R$ 2.900,00. Fone (85)32.24.84.70.  

segunda-feira, 27 de abril de 2015

ARTIGO (RMR)

O LEGADO SOFISTA
Rui Martinho Rodrigues*


A democracia nasceu na Grécia, embora com algumas características não muito democráticas, como escravismo e sacrifício de crianças (eugenia negativa). Era apenas o embrião de democracia, não democracia propriamente. Prevalecia nela o coletivo sobre o indivíduo, sem reservas, volatilizando as garantias individuais. Daí a admissão do sacrifício de crianças. A semente da democracia, todavia, estava plantada. Consistia na ideia de que as decisões coletivas deveriam seguir uma racionalidade demonstrável, substituindo a força e o fato consumado, justificando as reuniões na ágora, para discutir e votar.

Corromper as fórmulas políticas parece ser um traço da condição humana. Logo surgiram defensores do relativismo radical. Os sofistas representaram o refinamento destas teses. Na ausência de conhecimento válido não subsiste razão, exceto aquela de quem exalta o relativo laxista. A demonstração, alicerçada na razoabilidade e em evidências foi substituída pelo convencimento. Era a decadência da civilização helênica e com ela da proto democracia grega, levada de roldão junto com a ética, o sentido da realidade e a todas as referências pelas quais nos norteamos.

Paradoxalmente, porém, a desorientação do relativismo extremado pode gerar a sensação de segurança das referências. A subordinação e a entrega total ao discurso sofista geram uma sensação de segurança própria do convencimento, não do conhecimento. Este depende de demonstrações com razoabilidade, associada à lógica falibilista (não se confunda o falibilismo popperiano com a dúvida metódica cartesiana). A certeza não é filha da razão, mas do convencimento. Contemporaneamente o convencimento virou técnica refinada e assumiu o controle da política. Marqueteiros são convocados, sempre que se verifica um fato político importante. Aconselham líderes e influenciam o público.

Quem adere ao relativismo laxista, nos planos cognitivo e moral, sabe mentir de modo convincente. Representa indignação de acordo com o desiderato de substituir a demonstração pelo convencimento. Uma consequência imediata é desviar o debate dos fatos e ideias para o campo pessoal, desqualificando o interlocutor. O ataque substitui a acusação. Não se discutem as ideias, mas se o interlocutor e de “direita” ou “esquerda”. Não se procura demonstrar a efetividade de medidas propostas, deslocando-se o debate para o campo das intenções, dizendo quem é a favor ou contra “o bem”.

Assim, as pessoas são discriminadas como “do bem” ou “do mal”. As intenções em favor do bem “legitimam” as políticas. O desprezo pelas evidências implica em fechar os olhos para a realidade. A suposta superioridade moral das pessoas “do bem”, leva ao ódio para com os “do mal” (Marilena Chauí falando da classe média). Estimular o ódio e atribuir esta prática inescrupulosa ao outro é tática de convencimento. Daí resultam erros crassos na condução da economia, reiteradamente praticados.

Isso tem nome: demagógica, populismo, experiências recentes do nosso continente.


*Rui Martinho Rodrigues
Professor – Advogado
Historiador - Cientista Político
Presidente Emérito da ACLJ

VICENTE ALENCAR. EDIÇÃO Nº 786.


Não esqueça:
"Salvemos a floresta amazônica. Ela está sendo desmatada diariamente. as autoridades se fazem alguma coisa contra isso, quase não se percebe, não se tem noticia".

AUDIFAX
A morte de Audifax Rios sábado (23), em Santana do Acaraú, vítima de enfarte agudo do miocárdio, deixou de luto toda a comunidade acadêmica e de imprensa. Um desfalque que jamais será recomposto.

SAUDADE
A saudade de todos nós do ilustrador, do cronista, do escritor, do jornalista, do escritor, do excelente criador e redator de publicidade, do editor. Tantas e tantas qualidades numa só pessoa.

ALMANAQUE
Fica órfão o seu ALMANAQUE que bimestralmente chegava as nossas mãos sempre com uma mensagem nova, arejada, bem vinda, querida. Agora tudo não passa de saudade. Uma pena.

O POVO
As sextas-feiras em O POVO estarão incompletas, pois sua crônica, seu artigo, sua verve não encontraremos mais por lá.

LUTO
Por sete dias está de luto a Academia de Letras e Artes do Nordeste – ALANE, presidida pelo médico e escritor Francisco Nobrega Teixeira. Audifax era um dos Membros Titulares da ALANE e compunha no seu Conselho Editorial.

LEÃO CHEGOU LÁ
Clássico não tem favorito como todo mundo sabe. E ontem na primeira partida da série decisiva deste ano no Campeonato Cearense o Fortaleza venceu o Ceará por 2 a 1 placar construído no primeiro tempo. Segundo jogo será no próximo domingo.

515 ANOS
Ontem dia 26  de abril, 515 anos da realização da primeira Missa no Brasil, na Coroa Vermelha (BA) oficiada por Frei Henrique Soares, de Coimbra.

ANIVERSÁRIO
No próximo dia 30 de maio vamos comemorar os 123 anos de fundação da Padaria Espiritual que foi criada em 30 de maio de 1892. O fato ocorreu na Rua Formosa, 105, centro.

PIONEIRO
Um movimento modernista pioneiro, criado bem antes da Semana de 1922 em São Paulo.

MINO
Circulando o número 141 da RIvista do MINO, uma publicação genuinamente cearense de um dos nossos maiores criadores.

HOJE
Das 22 às 23 horas de hoje (segunda-feira) pela 620 AM - Rádio Assunção Cearense ou através da Internet [radioassuncaocearense.com] você acompanha o  Programa Vicente Alencar – Educação, Cultura e Esporte. Logo depois do Programa Liberdade de Expressão, do Morais Filho e antes das Últimas do Esporte. Conto com a sua audiência, aqui no Brasil ou no exterior.

DIA DO GOLEIRO
Passou em brancas nuvens no futebol profissional "O Dia do Goleiro" comemorado ontem, dia 26, numa homenagem a Aílton Corrêa Arruda, o lendário goleiro  Manga, nascido em Recife, em 26 de abril de 1927. Ele defendeu entre outros clubes o Sport Recife e o Botafogo de Futebol e Regatas, bem como a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1966.

SANTA ZITA
Numa homenagem a Santa Zita, nascida em 27.04.1212, num arraial próximo a localidade de Luca, na Itália, comemora-se hoje o dia da Empregada Doméstica. Ela trabalhou durante 40 anos para uma família nobre, mas sempre foi pessoa generosa e humilde. Foi canonizada pelo Papa Leão X.

DUAS TROVAS DE ANTONIO SALES
Sabes qual é o escultor
Que mais goza a minha estima?
– É o teu pai, que é o autor
Da mais perfeita obra prima.

A saudade dói, porém
a grande infelicidade
É não ter no mundo alguém
de quem  se tenha saudade.

 SEGUNDA-FEIRA, 27 DE ABRIL DE 2015.
 CEARÁ   AQUI FOI CRIADA A PRIMEIRA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL

* Vicente Alencar 
Jornalista, Poeta. Escritor
Presidente da União Brasileira de Trovadores - UBT Fortaleza.
1º Vice-Presidente da ALMECE - Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará.
Secretário Geral da Academia Fortalezense de Letras
 Membro da Academia Cearense da Língua Portuguesa, 
da Academia Cearense de Retórica e da
Sociedade Cearense de Geografia e História
 Titular da Cadeira nº 27 da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo

ARTIGO (VM)


PERCALÇOS NA
FEITURA DE UM LIVRO
Vianney Mesquita*

Grande livro seria aquele em que a metade do gênero humano lesse o que pode e deve oferecer aos demais cinquenta por cento! (SEVERO CATALINA DEL AMO. Y Cuenca, 1832; Madrid, 1871 – 39 anos).

Dias atrás, na décima oitava oportunidade na vida, passei pela emoção de ensaiar experiência ditosa: a de recolher o recheio da étagére, abrangendo textos do meu varejo escritural, com data inaugurativa em setembro de 2014 (e previsão de lançamento em julho-2015), quando já houvera pinçado o sortimento textual que encorpou o livro Nuntia Morata – Ensaios e Recensões, publicado em 02 de  outubro do ano imediatamente transato.

Este sucesso dista do primeiro evento exatos 31 anos, quando, em Sobre Livros – Aspectos da Editoração Acadêmica (Brasília:Proed/Fortaleza: Edições UFC – 1984), trouxe ao lume, em avant première autoral, as compreensões acerca da edição de trabalhos no âmbito das casas publicadoras das universidades federais brasileiras, no ensejo em que desenvolvi as atividades de secretário-executivo da citada Editora da Universidade Federal do Ceará, vitoriosa – e ainda persistente – iniciativa do preclaro reitor Prof. Paulo Elpídio de Meneses Neto, hoje sob as mãos diligentes do Professor Antônio Cláudio Lima Guimarães, pessoa desprovida de qualquer defeito.

Os originais transitam sob a desvelada atenção do professor, imortal da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, Geraldo Jesuino da Costa, o mago da editoração cearense, que procede, com arte, graça e profissionalismo, aos provimentos estéticos das modernas artes gráficas, com vistas a conferir aos Guardados da Minha ÉtagéreAproximações Literocientíficas – a configuração continental do volume, consentânea em relação às exigências da Modernidade no concernente à manifestação graficovisual do livro de papel. Afortunadamente, pois, não se podendo contar com a qualidade e o alcance do CONTEÚDO das minhas nem sempre assentes concepções, por seguro, pelo menos, remanescerá garantida a essência do CONTINENTE, a ser explícita por tão alteado intelectual e artista coestaduano, como fez com sua pintura excepcional nas capas do mencionado Sobre Livros, bem assim, mais recentemente, do Arquiteto a Posteriori (2013) e de Nuntia Morata (2014).

Já no Posfácio de Impressões – Estudos de Literatura e Comunicação (Fortaleza: Agora, 1989), eu já exprimia a noção de que edificar uma obra, por simples que saiam seus teores, não encerra mera operação gráfica, como pensam, decerto, aqueles ainda à espera de publicar um livro, conquanto já hajam trespassado os outros dois pressupostos ditos para o ente humano estacionar-se feliz: gerar um filho e plantar uma árvore.

Operado por dezenas de mentes, triplicado número de mãos e muitas naturezas em pensamento – inclusos os “arquitetos ao depois” – o livro, malgrado o desembaraço da editoração moderna em computação gráfica, sempre ensejará algo a se pretender, em virtude daquela heterogeneidade operacional, a torná-lo rebento de uma coletividade fundada pelas pessoas que, afetuosamente ou não, o constituíram.

Neste caminho, onde não apenas medram inteligências, mas também prosperam espinhos e calhaus pontiagudos, não sei mais asseverar se quem escreveu ou – mais bem terminante – aquele tangido pela conceição intelectiva, é, na realidade, o componente mais valioso desta complicada, dispendiosa e dulcíssima empresa.

A fim de se alevantar um produto escrito, há vera convergência de forças, para, uma vez juntadas todas as pedras desse quebra-cabeça lúdico-intelectivo, se aportar à consecução da sua finalidade.

Por conseguinte, no emaranhado de ideações, em teia enredada de intenções, é que podem aparecer os equívocos, máxime para os leitores mais aprestados, como (folgo com isso dizer) ocorrem ser os meus, componentes do “alto clero” do “Vaticano” acadêmico do Ceará.

Sucedem, quase sempre, os vieses do autor, pretensa primeira figura do empreendimento librário. Aparecem suas proposições desacertadas e confusas, assentadas em fontes também falazes, indutoras compulsórias aos enganos. Surde a multiplicidade de procedimentos, uns editoriais, outros plásticos e demais condutas gráficas, muitas vezes carentes de concertos e consertos, sem contar com as reiteradamente descabidas incursões do escritor aos originais, para modificar, mexer, introduzir adendas, transmudar a versão anterior e, mui especialmente, a fim de desequilibrar a paciência dos operadores, os quais, no fim, jamais são reconhecidos, no entanto, restam inculpados pelos desacertos eternamente conduzidos pela publicação, a induzirem à falácia milhares, talvez milhões, de desavisados consultantes.

Acontece de ser, pois, nesta baralhada toda que o modelo enseja o registo de erros não reparáveis – raríssimamente nenhum, nas mais das vezes muitos e reiteradamente alguns.

Descansa no anedotário e no folclore das antigas tipografias, reverberando até hoje na ambiência das gráficas modernas, a mofa segundo a qual editores e operadores tipográficos asseveram – seja isto registado, e com sobrada razão – o fato de ser o autor o que mais atrapalha a obra. Para alguns, melhor seria que as produções a editar não tivessem escritores. Não fosse assim, contudo, não haveria quefazer para os críticos – os mencionados arquitetos ao depois, que desmancham as obras e, ao remontá-las, sobram esses parafusos da capa do Arquiteto a Posteriori (foto), que a diligência e o desvelo profissional do acadêmico Geraldo Jesuino da Costa retrataram na cobertura deste (quiçá) arremedo editorial da minha colheita, lançado em 2013.

Conquanto seja fato latente na execução de qualquer trabalho editorial, ordena-me a consciência evidenciar a coautoria de editor, capista, revisores, prefaciadores, autores de guarnições, bibliotecários, digitadores, amigos e conselheiros – bons muitos, mas insuportáveis outros – para se poder perlustrar ínvios quanto livres caminhos, a fim de cumprir um desiderato: o de a pessoa humana deixar marca por onde transita, como no verso de Ovídio – Non omnia moriar. (1).

De todo modo, também como sucedeu com os demais, ocorre com este nascituro projeto de livro – Guardados da Minha Étagere Aproximações Literocientíficas com o qual me afanei, prazerosamente, em dias às centenas e no curso de milhares de horas, subtraídas ao sossego corporal para labor do espírito.

Malgrado possa ele ser objeto dos retrocitados transtornos editoriais, assevero haver sido fomentado com estreme atenção, conquanto, me insertando na posição de mortal, explique, sem a pretensão de justificar, alguns lapsos que poderão nele vir explícitos. Terêncio defende-me: Homo sum. Humani nihil a me alienum cogito (2). E caso, todavia, não tenha logrado que o nascente volume se compadeça à expectação do meu leitorado, sobejou a intenção, decerto, nobilitante de o ter pretendido fazer.

Quid deceat, quid non. (3).


1) Não morrerei completamente – frase da autoria de Públio OVÍDIO Nasão, poeta romano, retratando o fato de que o homem deixa obras edificadas. Daí, a morte incompleta: vão-se os homens,  permanecendo, porém,  suas obras.

2) Sou homem e nada reputo a mim alheio do que é humano – sentença célebre da lavra de Públio Terêncio Afro, poeta cômico tunisino (Cartago), tirando a responsabilidade do ser humano naquilo que não pode fazer

(3) O que convém, o que não convém. Preceito de Quinto Horácio Flaco, poeta latino nascido na Apúlia, expresso na Arte Poética, 308. Corrija-se o que é mau, conserve-se o que é bom; veja-se quid deceat, quid non.


*Vianney Mesquita 
 Docente da UFC 
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa  
Acadêmico Emérito-titular da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo 
Escritor e Jornalista