terça-feira, 27 de outubro de 2020

CRÔNICA - Fiscal da Natureza (AASF)

 FISCAL DA NATUREZA
Antonio de Albuquerque Sousa Filho*

 

 

A nossa primeira viagem a Argentina, Uruguai e Paraguai, foi em janeiro de 1989, realizada  através da Soletur, empresa  pioneira no Brasil  em viagens nacionais e internacionais, utilizando ônibus especiais e confortáveis  e voos fretados à Varig, com acompanhamento de guias  conhecedores  da  História e Geografia  dos locais  e roteiros programados. A Soletur deu inicio às suas atividades em 24/02/1964, sendo extinta em 25/10/2001.



 

A excursão da qual participamos, de ônibus, era chamada “4 Bandeiras”  e começava na cidade do Rio de Janeiro, passando pela cidade de São Paulo, onde embarcamos, seguindo para o Paraná, onde visitamos o Parque Estadual de Vila Velha, situado no município de Ponta Grossa e depois  Curitiba, onde pernoitamos.

 


Na manhã seguinte, fomos a Santa Catarina, passando pelas cidades de Laguna (terra de Anita Garibaldi), Joinville e Blumenau e pernoitando em Porto Alegre.  No Rio Grande do Sul, excursionamos por Porto Alegre, Gramado, Canela e seguimos para Chuí, atravessando a fronteira do Uruguai e Montevidéu.  Fomos para Punta de las Balleinas e Punta del Este. Chegamos a Buenos Aires e seguimos para Tres Arroyos e Baia Blanca e depois para Bariloche, retornando por Baia Blanca e Buenos Aires.

 

Na ida para Assunção no Paraguai, pernoitamos no ônibus. Ficamos ali por dois dias. Retornamos ao Brasil, pelo Paraná, onde visitamos a Usina Hidrelétrica de Itaipu e as Cataratas, passando por Maringá e Londrina. A viagem terminou em São Paulo, onde  permanecemos por mais alguns dias.

 

Era procedimento normal, no início da viagem, que os passageiros se identificassem para os demais excursionistas. Dizia-se o nome completo, o nome de sua acompanhante, cidade de origem, atividade profissional, expectativa da excursão e como gostaria de ser chamado. A apresentação do casal Moisés e Lúcia, do Rio de Janeiro, chamou-nos a atenção de forma inusitada: “Minha mulher chama-se Lúcia, dona de casa.  Eu sou Moisés, fiscal da natureza”.

 

Algumas pessoas sorriram, mas ele explicou-se: “Trabalhei muito na vida. Duvido que alguém tenha trabalhado mais do que eu. Fui empregado da IBM, responsável pela elaboração de relatórios anuais de grandes empresas como a Mesbla, Sears e  Slopper, no tempo em que se usavam cartões perfurados nos computadores.  No período de fim de ano, ficava recluso por dias, dentro do prédio da IBM, para terminar os relatórios anuais das referidas firmas. Tinha um salário substancial, possuía elevado padrão de vida, tinha uma casa ampla e confortável, possuía carro, muitas roupas e  diferentes modelos de sapatos.

 

Ao participar, na casa de um dos meus filhos, da festa de aniversário de um neto, passei mal e fui levado ao hospital. Foi identificado que  tivera um infarto. Era  urgente uma cirurgia no coração. Coloquei três pontes de safena.   Na época, cirurgia do coração era coisa nova e insegura.  O médico recomendou-me que  pedisse minha aposentadoria. Eu não estava preparado para tomar tal decisão, mas fui obrigado a fazê-la”.

 

E continuou: “Pensei bastante e, aconselhado por minha mulher, resolvi pedir aposentadoria e modificar completamente minha vida. Chamei toda a família para uma reunião e anunciei minha decisão. Doei todos os bens materiais, meus e de minha mulher, incluindo casa, móveis, carro, joias, roupas e sapatos.  Comprei um pequeno apartamento em Niterói. Comuniquei que, dali para frente, não daria mais presentes para ninguém e iria viver sem preocupações materiais”.


 

Sua definição de “Fiscal da Natureza”: É sentar numa praça qualquer, olhar a passagem das nuvens, ouvir os cantos dos pássaros nas árvores, verificar as diferentes cores das folhagens das plantas, ver transeuntes que passam pelo local, respirar o ar, tudo sem pressa, sem ter horário fixo ou compromissos inadiáveis. Em resumo: fazer tudo que tinha deixado de fazer, em função do trabalho e da profissão. Tentar aproveitar o máximo da vida, como viajar, encontrar amigos, tomar um café num local agradável.

 

E assim, em cada local que visitávamos durante a excursão, enquanto outros iam às compras, o referido casal ficava a passear e sem comprar nada. Nos momentos mais sociáveis, em determinados jantares, estavam sempre com as mesmas roupas.  Moisés dizia ter apenas quatro anos de idade e nenhuma preocupação. Recomeçou a contar seu tempo de vida a partir do seu renascimento pós-operatório, como “Fiscal da Natureza”.



COLUNA VICENTE ALENCAR - Nº 1869 (26.10.2020)

 VICENTE ALENCAR
EDIÇÃO Nº 1869
SEGUNDA FEIRA
26 DE OUTUBRO DE 2020
FORTALEZA - Capital do Artesanato Brasileiro
CEARÁ - Primeiro Estado do Brasil a libertar escravos

Em 30 de Setembro de 2016 nos criamos o Instituto do Rádio, que objetiva entre outras coisas valorizar a Profissão de Radialista e a Memória de todos aqueles que trabalharam por causas nobres. 


E ficamos satisfeitos quando somos procurados a falar sobre o assunto. Nossa saudade e nossas lembranças entre outros de Mozart Brandão (Maestro), Alfredo Sampaio (Noticiarista e redator), Mauro César Uchoa (plantonista, apresentador e redator), Keila Vidigal (cantora) e tantos outros. 

Domingo, tive o prazer de conversar com um dos homens mais inteligentes que conheço. Chico Pontes, do alto dos seus 92 anos continua sendo um "crâneo". 

Este ano, como não ocorreu o famoso “passeio dos Idosos e Vaidosos a Camocim”, não tivemos oportunidade de viajar juntos. 

Na confluência da Av. Benoni Marcondes, antiga Avenida C com a Rua 27, no Conjunto Nova Assunção, a confusão é grande. Bebida, música brega,  motoqueiros, o diabo a quatro. 

Isso aí é na Grande Barra do Ceará. MAS NÃO É UM PONTO ISOLADO NA CIDADE. EM TODOS OS BAIRROS O PROBLEMA SE REPETE. 

Parte da população, completamente irresponsável em relação ao problema da doença Covid-19, pouco está ligando para o “Virus da China”. Uma pena, pois os que se cuidam podem ficar prejudicados em face dos insanos que não ligam nem para sua própria vida. 

A UNIÃO BRASILEIRA DOS RADIALISTAS, nossa UBR, nos lembra a todos: 

“Prece à Lua”, com Núbia Lafayette. “Lembranças de Icaraí”, com Carlos Galhardo. “Chão de Estrelas”, com Sílvio Caldas. “Ontem ao Luar”, com Carlos José. “Argumento”, com Nélson Gonçalves. 

E tantos e tantos outros como: 

“Guarânia da Lua Nova”, com Sílvio Silva. “Minha Serenata”, com Orlando Dias. “Última Estrofe”, com Marco Aurélio. “Malandrinha”, com Francisco Petrônio. “Noite Escura”, com Ademar Silva. 

E também: 

“Luar do Sertão”, com Vicente Celestino. “Guarânia da Noite Triste”, com José Augusto. “Dai-me um Luar”, com Altemar  Dutra. “Quem é?”, com Silvinho. “Quero beijar-te as mãos”, com Anísio Silva. 

PS. Quero agradecer ao Professor Oliveira, em Dilli no Timor Leste, a leitura desta coluna, e os e-mail que me enviou. Grato a ele pela sua atenção.

Meu contato: vicentealencar25@yahoo.com.br

ARTIGO - Teocracia e Democracia (RMR)

 TEOCRACIA
E
DEMOCRACIA
Rui Martinho Rodrigues*
 

Participação política é exercício da cidadania. É um direito político. Independe da confissão religiosa, inclusive das religiões civis, seculares ou políticas. Muito se fala em Estado laico e teocracia ou eufemisticamente em governo religioso. É oportuno lembrar o significado de Estado laico, religião oficial e teocracia, para relaciona-los com democracia, liberdade de expressão, axiologia e ciência. Tantos aspectos não cabem neste espaço. Apenas indicamos tópicos e fontes que tratam do assunto. 

Teocracia é “governo exercido diretamente por Deus” (Dicionário da FGV, verbete de J. M. Hernánden-Rubio Cisneros), restando, no Ocidente, o Vaticano, teocracia do tipo indireta, exercida por representante da divindade. Acontece em sociedades culturalmente homogêneas, com uma igreja com uma autoridade central absoluta, como as teocracias islâmicas e as seculares do “centralismo democrático” (Vladmir Ilyich Ulianov, Lênin, 1870 – 1924, na obra “O que fazer”) dirigidas por religiões civis ou políticas, organizadas como partidos. 

No Brasil, os cristãos se dividem em numerosas Igrejas. Só o catolicismo é dirigido por uma autoridade central que já não é incontestável. A diversidade de doutrinas religiosas e da sociedade afasta a “ameaça” de teocracia ou eufemisticamente governo religioso. Evangélicos no Parlamento são heterogêneos e proporcionalmente menores do que a parcela de evangélicos na população. 

Teocracia orienta todos os assuntos. No Brasil as Igrejas opinam, em geral, sobre questões morais e reivindicam liberdade de expressão, direito ao exercício da crítica neste campo. Reagem aos agressores quando acusados de preconceito, ódio ou fobia, ao vilipêndio de símbolos religiosos, sobretudo imagens dos católicos. Fala-se em agressividade dos religiosos. Não se fala nas igrejas incendiadas no Chile, pelo “ódio do bem”. Fossem cristãos incendiando partidos camuflados de igrejas haveria um terremoto. 

Religião oficial, como no Império, não governa em nome de Deus, professa uma religião. No Reino Unido a rainha é chefe da Igreja anglicana e ninguém duvida da democracia britânica. O Estado laico ou secular é neutro em relação as diferentes igrejas para que todas tenham liberdade. Não significa que os cidadãos devam abdicar de suas convicções religiosas, nem submetê-las ao escrutínio do pensamento secular, conforme carta de Thomas Jefferson (1743 – 1826) a uma associação de igrejas batistas, em 1802. Cidadãos podem votar em candidatos que defendam ideias afins às suas. Parlamentares podem apresentar projetos e votar pelo estabelecimento de leis que sejam compatíveis com os seus valores, sem ferir o Estado laico. 

Em todo o mundo, homicídio é crime e as religiões o consideram pecado. Não vamos descriminalizar o homicídio só porque os religiosos o classificam assim. A individualização das penas, que não passa da pessoa do agente é tem ligação com a bíblica que diz: “cada um dará conta si mesmo (...)”, (Carta de Paulo aos romanos, capítulo 14; 12). O ocidente, que deu ao mundo a democracia, o habeas corpus e as garantias individuais, é uma mistura sincrética do pragmatismo romano, presente no Direito e na engenharia, com o pensamento teorético dos gregos e a tradição judaica. 

O monoteísmo hebreu guarda semelhança com o pensamento grego. Difere por ter como premissa a revelação. Mas na análise da revelação usa a mesma lógica que Aristóteles (385/3844 a.C. – 322 a.C.) codificou (não inventou). Tomás de Aquino (1225 – 1274) valeu-se do “motor imóvel” do estagirita para demonstrar a necessidade lógica de Deus. A unidade do cosmo, na origem, faz a ponte entre as tradições grega e hebraica. Não há uma ruptura completa entre o pensamento secular e o teológico.

As pautas dos cristãos atualmente consistem na busca da liberdade de expressão e de consciência, direito de criticar no campo axiológico, manifestando valores da moral tradicional. Confundi-los com preconceito, que é juízo formulado antes de conhecer o objeto, é erro ou sofisma. As referências teóricas dos religiosos incluem liberais ateus (“direita” ateia), como Karl Raymond Popper (1902 – 1994) e Friedrich August Hayek (1899 – 1992), desmentindo a acusação de intolerância. Popper representa uma orientação epistemológica com repercussão geral no conhecimento. Hayek expressa um pensamento econômico, histórico, antropológico e epistemológico com pontos de contato com o ateísmo. A diversidade dos nossos cristãos não tem a ortodoxia das teocracias, inclusive das aparentemente seculares. 

Os que invocam o nome da ciência não respeitam os procedimentos científicos. A beleza e a riqueza incomparáveis da poesia, que tanta contribuição oferece no campo da subjetividade, da arte e dos sentimentos não pode legitimar estudos econômicos, jurídicos ou históricos. Nestes a licença poética é sinal de despreparo ou técnica de manipulação, como chorar a pobreza comparada crescente, esquecendo a redução secular da pobreza objetiva. Viva a poesia como arte. Viva o rigor epistemológico na ciência. 

A inconformidade em face da alternância dos grupos distintos no poder é antidemocrática. Tal inconformidade trata a moral tradicional como fobia. Mas não considera fobia, nem intolerância ou ódio incendiar igrejas ou o alarmismo com a suposta iminência de uma teocracia, enquanto aplaude ou silencia teocracias seculares ditatoriais. 

Descrevem o processo civilizatório começando com um paraíso perdido por um pecado original (apropriação dos meios de produção), seguido da promessa messiânica de um salvador (o proletariado), mandado por uma divindade (a História com o seu determinismo), e a volta ao paraíso (sociedade justa e sem classes), explicado por autores com status de profeta, divulgado por intelectuais atuando como teólogos, apoiados pela catequese de professores, jornalistas e outros ativistas ao modo do clero missionário. 

A afinidade do pensamento político com os mitos foi descrita, de modo comparável ao destas linhas, por Raoul Girardet (1917 – 2013). Não é uma denúncia de plágio. É a identificação da pertinência ao mesmo gênero. Michael Oakeshott (1901 – 1990) comparou a promessa de chegar ao céu pelos próprios meios com a Torre de Babel. 

Raymond Aron (1905 – 1983) falou no “ópio dos intelectuais”, na obra com este nome, tratando ainda, na obra “De uma sagrada família a outra”, da sacralidade secular da filosofia de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831) e seguidores, passando a sacralização do pensamento de Karl Heirinch Marx (1818 – 1883). Thomas O’Dea (datas de nascimento e morte incógnitas), na obra “Sociologia da Religião”, define o fenômeno religioso como a reunião da radicalidade, com a totalidade e a transcendência. Podemos acrescentar que os três fatores estão presentes nas religiões políticas. 

Apropriação da epistemologia de Hegel, para a qual o racional é real, levou ao dogmatismo e a hierarquia de consciências como verdadeira e falsa, ao modo da revelação, conforme Leandro Augusto Marques Coelho Konder (1936 – 2014), na obra “A derrota da dialética”. Estados teocráticos supostamente seculares, constituídos desde o século XX, com raízes na Revolução Francesa, têm verossimilhança maior com o propalado governo religioso apocalíptico do que o protagonismo dos cristãos.


segunda-feira, 26 de outubro de 2020

NOTA ACADÊMICA - Sarau Virtual da ACLJ (25.10.2020)

 SARAU VIRTUAL DA ACLJ
(25.10.2020)

   

A Academia Cearense de Literatura e Jornalismo (ACLJ) promovia, nas noites de terça-feira, na casa de bebidas finas Embaixada da Cachaça, um poetry slam, consistente em um pequeno sarau de poesias, prosa poética e performances musicais acústicas ao vivo, segundo uma prática que começou nos EUA e se difundiu pelo Planeta.


   
Mas essa rotina cultural saudável foi interrompida pela pandemia de Covid-19, e então o grupo de habitués passou a se reunir virtualmente nas manhãs de domingo, em que acadêmicos, artistas, intelectuais e poetas em geral, frequentadores daquele reduto boêmio e cultural, matam a saudade e mitigam a carência de convívio, mantendo em atividade a ACLJ, apesar do isolamento social obrigatório.




PARTICIPANTES

Estiveram reunidos na conferência virtual deste domingo 12 participantes. Compareceram, o Jornalista e Advogado Reginaldo Vasconcelos, o Bibliófilo José Augusto Bezerra,  o Ambientalista e Candidato a Vereador João Pedro Gurgel, o Advogado e Sionista Adriano Vasconcelos,  o Engenheiro e ex-oficial de Marinha Humberto Ellery, o Agrônomo e Poeta Paulo Ximenes, o Juiz de Direito Aluísio Gurgel do Amaral Júnior, o Físico e Professor Wagner Coelho, o Agente de Exportação Dennis Vasconcelos e o Marchand Sávio Queiroz Costa   todos da ACLJ. Além destes, compareceram como convidados a Corretora de Imóveis Cristiane Vasconcelos e a infanta Luíza Ellery.



TEMA DE ABERTURA

O Presidente Reginaldo Vasconcelos abriu os trabalhos com o debate sobre a campanha eleitoral municipal em curso, notadamente sobre a conveniência das carreatas neste momento de pandemia, questionando-se ainda a eficácia de panfletagem e bandeiraços para a obtenção de votos, nestes tempos cibernéticos em que as pessoas estão amplamente politizadas e informadas, portanto imunes a recursos de oba-obas.

A propósito deste tema João Pedro Gurgel apresentou um artigo, abaixo reproduzido.

SOBRE “MOSTRAR FORÇA” NA POLÍTICA

A política tem jargões próprios e “mostrar força” é um deles. A ideia materializa o anseio do candidato (ou de seus apoiadores) de ver sua campanha com adesão popular. Por meio de carreatas. Bandeiradas. Carros de som rodando. Mas eu acho isso muito tosco. E vou dizer o porquê. 

Para a Física, a força é uma grandeza medida em Newtons. É um deslocamento em direção a algo. Capaz de ser medido, mensurado e, o mais importante, aplicado. 

Com a política, imagino que não seja diferente. A verdadeira política também é uma grandeza. Desloca-se na direção de resolver os problemas da sociedade. Pode ser medida através do número de projetos, ações, intervenções e anos de trabalho de seu respectivo agente. 

Nesse passo, as carreatas, as bandeiradas, carros de som e toda sorte de show pirotécnico e sonoro fazem bem ao ego dos candidatos, mas não é sinal de força. Forte seria o agente que de fato contribuísse para a comunidade. Com o posto de saúde funcionando, escolas e demais serviços que o Poder Público deveria ofertar com qualidade. 

Logo, a ânsia desmedida por mostrar força política revela não os fortes, mas sim os fracos. Afinal, o que é autêntico e verdadeiro não faz questão de se exibir. Simplesmente faz. O que é verdadeiro, sincero e autêntico é forte por natureza. Buscar desesperadamente mostrar força política seja o mais claro sinal de não ter nenhuma. 

João Pedro Gurgel



ASSUNTOS ABORDADOS

O tema central desta semana foram as relações sociais entre homens e mulheres, as diferenças intrínsecas entre os dois sexos, a superior capacidade administrativa delas, sua habilidade de dividir atenções sobre atividades diversas, sua excepcional desenvoltura profissional no meio jurídico, a dificuldade de reagir aos imprevistos que elas geralmente manifestam, a temática diferente entre a prosa masculina e a feminina. 

Por mais independentes financeiras, investidas em cargos de chefia, cultas, ilustradas, quando se reúnem as mulheres preferem conversar sobre a estética corporal e o figurino, o ambiente de trabalho, a administração da casa, sua decoração, a criação dos filhos, as festas em família – enquanto os homens filosofam, falam da profissão, falam de política, falam de futebol, falam de conquistas amorosas.

Neste momento em que se estuda e reestruturação da ACLJ, discutiu-se a conveniência da participação de mulheres em clubes sociais e confrarias – Escotismo, Rotary, Maçonaria – e as dificuldades surgidas em grupos mistos, desde o alunado colegial até a construção civil e o serviço militar. 

Nesse mesmo diapasão José Augusto Bezerra relatou um evento sobre a participação da mulher na sociedade, do qual ele participou representando a Maçonaria, e de que também participava a feminista, política e sexóloga Marta Suplicy. 

Narrou o nosso grande Iosephus Augustus que rebateu a crença de que as mulheres tenham sido profissionalmente discriminadas pelos homens, e que pela ação das feministas teriam, enfim, conquistado espaços indistintos no mercado de trabalho.

Naquela oportunidade, ele argumentou que o ingresso feminino em todos os campos de atividade se deve principalmente à ciência, às novas tecnologias, às novas demandas sociais, e não à ação das ativistas. 

As nossas avós eram limitadas pelas gravidezes seguidas, que eram tão inevitáveis quanto necessárias à formação de grandes proles, para trabalhar pelo sustento da família. Além dos entojos, dos partos, dos resguardos, do aleitamento  – dificuldades que a farmacologia e a medicina contornaram bem como era empecilho a menor compleição física e muscular feminina, imprópria para trabalhos mais pesados, que hoje, através da informática, elas comandam, e as máquinas que elas controlam executam.

 
PERFORMANCES LITERÁRIAS

Sem fugir muito do tema das relações homem-mulher, Humberto Ellery declamou o seu mais novo poema, "A Solidão Só" (abaixo transcrito), não sem antes elleryzar um pouco sobre a sua inspiração, de quando, recentemente separado da mulher, procurou o ambiente festivo de um bar para espancar a nostalgia da família e se precipitou em melancolia sufocante.
   

A Solidão Só

 A solidão, em meio às multidões,
me oprime!
Rostos informes, disformes,
sem expressão... 


A multidão me assombra!


E a minha solidão se afoga
em meio a esse mar sem rosto...
Quem são? o que querem? aonde vão?
Por que não me veem?
Não tocam em mim, não me acariciam...

 

Sinto frio, muito frio.
Volto ao meu abrigo e fico só.
Desgraçadamente só!
Melhor assim,
Bem melhor assim.


Só comigo mesmo.
Silenciosamente só!

 

Humberto Ellery 

Dennis Vasconcelos, "para não dizer que não falamos de flores", trouxe à participação sua mulher, Cristiane Nalin Vasconcelos, lendo ele uma crônica dela, em que ela compara a fazenda cearense da infância do marido com a estância paranaense em que ela foi menina, enquanto Humberto Ellery apresentou a neta Luíza, representando as mulheres do futuro. 

Aluísio Gurgel fez uma rápida resenha do livro que está lendo ("O Sal da Terra", de Richard Ford) , e Reginaldo Vasconcelos leu uma de suas crônicas telúricas.  

José Augusto Bezerra, Membro Benemérito da ACLJ, Presidente da Associação Brasileira de Bibliófilos, trouxe, como de hábito, preciosíssimos documentos de sua vasta e preciosa coleção, que foram obras didáticas pioneiras sobre a língua portuguesa: 

A primeira Gramática, de 1536, do português Fernão de Oliveira; a Gramática de João de Barros, de 1540; e a primeira Gramática do idioma lusitano escrita no Ceará, por Francisco Sotero dos Reis, em 1866. Augusto exibiu também exemplar da primeira edição do livro didático "Crestomatia", em que todos os jovens brasileiros estudavam textos, até os anos 50.

DEDICATÓRIA

A sessão virtual da ACLJ realizada neste domingo, dia 25 de outubro, foi dedicada à Modelo gaucha Júlia Weissheimer Werlang Gama, Miss Brasil 2020, eleita no último dia 20 de agosto, que estudou Engenharia Química e é fluente em quatro idiomas, magnífica representante das mulheres brasileiras. Beleza exterior e conteúdo. 


sábado, 24 de outubro de 2020

TROVAS - Coleção Vicente Alencar (VA)

 ALGUMAS TROVAS DA COLEÇÃO
DE VICENTE ALENCAR
Presidente Emérito da UBT – Fortaleza
22 de Outubro de 2020
 

Eu sempre agi com prudência,
às vezes me fiz de mouco,
por capricho e até decência,
ouvi muito e falei pouco.
GUTEMBERG ANDRADE.
 
Tenho gritado por tudo
pela mamãe e o papai
o que me arrasa contudo
é meu grito que nai sai.
WALDIR RODRIGUES +
 
O cantador de viola
É filho da inspiração;
Ele tem a sua escola
na sala do coração.
RUFINO MAIA.
 
Bate o sonho na vidraça
qual uma abelha perdida,
sinto no sonho que passa,
o sonho da minha vida.
FERNANDO CÂNCIO DE ARAÚJO +
 
Será que existem passantes,
que fiquem sem falar nada
das conquistas tão vibrantes
da primeira  namorada?
ALUÍSIO BEZERRA.
  
No sonho, eu era mendiga,
Sim, carente a pedir pão,
e suplicava um abrigo
dentro do teu coração.
CLÉA CAMPELO VIEIRA
  

O Trovador é uma pessoa feliz.

 


quarta-feira, 21 de outubro de 2020

ARTIGO - Dnocs - Triste e Melancólico Aniversário (CB)

 DNOCS
TRISTE E MELANCÓLICO
ANIVERSÁRIO 
Cássio Borges* 

Neste dia 21 o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) completou 111 anos de existência e, pelo que estou sabendo, não  houve sequer hasteamento da Bandeira do Brasil, comemorativo do aniversário deste Departamento Federal, que é, como já foi dito, “o maior fazedor de água do mundo em regiões semiáridas do mundo”.

Tudo indica que a atual Direção daquele brioso Departamento Federal foi posto ali com o propósito de consumar o sonho e o desejo de um grupo de empresários e técnicos (se é que se pode, assim, ser  denominado) que sempre teve o apoio total  de alguns  influentes membros da Academia Cearense de Engenharia. Os mesmo que, até recentemente, não sabiam o significado do termo “vazão regularizada” de uma açude e, até hoje, não saber  dizer qual é a vazão regularizada (oficial) do maior açude do Estado do Ceará, o Açude Castanhão.

Os seus projetistas, comprovadamente incompetentes, diga-se de passagem, no caso, do Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS) e da própria Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Ceará,  que apoiou desde o inicio, incondicionalmente,  a aprovação de 30 m³/s (uma quimera) de sua vazão regulariza, estabelecida pelo extinto DNOS. Hoje, já se fala que a vazão regularizada do referido açude é de 10 m³/s, um erro de engenharia de 300%.

Como se pode fazer gestão dos recursos hídricos  com um erro desta magnitude? No livro que escrevi sobre a construção  do Açude Castanhão constam cerca de 8 ou 10 erros graves cometidos na elaboração do projeto, entre as quais o índice evaporimétrico, que foi considerado como sendo de 1.700 milímetros,  quando, no seu Eia Rima, somente elaborado posteriormente, foi  considero como sendo de 2.893,5 milímetros.


Nenhuma entidade mais competente (assim suponho) do que a Academia Cearense de Engenharia para dirimir estas questões que, com certeza, vão atingir em cheio a própria gestão do Projeto de Integração do Rio São Francisco, entregue por mãos incompetentes a uma entidade sem nenhuma experiência e vivência como semiárido nordestino de rios intermitentes que nunca construiu um só açude em nossa Região. Isto é profundamente lamentável. 

Desde o início desta pandemia que eu e mais quatro conceituados técnicos nordestinos, através de videoconferências, elaboramos um belíssimo trabalho técnico/científico em defesa do Dnocs que o intitulamos de REVITALIZAÇÃO E FORTALECIMENTO DO DNOCS. Solicitamos, então, ao Dr. Reginaldo Vasconcelos, eminente Presidente da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo (ACLJ) fazer a Apresentação deste documento, que  transcrevemos logo abaixo para seu conhecimento.


Sobre a referida Apresentação de autoria do jornalista e advogado Reginaldo Vasconcelos, o engenheiro agrônomo e economista José Maria Marques de Carvalho, servidor aposentado do Banco do Nordeste, e um dos autores do mencionado trabalho, mandou-me o seguinte e-mail: 

“Caro Cássio, 

Espetacular a visão do Dr. Reginaldo sobre nosso trabalho. Transmita, por favor, ao Dr. Reginaldo o reconhecimento e gratidão da equipe, pela excelente apresentação. Se o nosso trabalho estava bom, agora, com esta apresentação, ficou excelente, merecendo aquela capa, para conferir o destaque final. 

O DNOCS, por sua história e por tudo que poderá fazer na gestão dos recursos hídricos no semiárido nordestino, merece nosso esforço de voluntários, para sua manutenção e revitalização. 

Continuemos atentos e a postos!

Atenciosamente,

José Maria". 

 

 REVITALIZAÇÃO E FORTALECIMENTO DO DNOCS

APRESENTAÇÃO

 Integrado desde o princípio, na condição de jornalista, aos ingentes esforços em prol dessa gloriosa autarquia nordestina – o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) – recebi os originais deste magnífico trabalho, e a honrosa missão, que os seus ilustres autores me cometem, de lhe fazer a Apresentação.

A constelação de cientistas que se debruçam sobre o tema da manutenção e revitalização do Dnocs, que abraçaram essa causa e que elaboraram o presente estudo, é o crème de la crème da inteligência nacional no campo da engenharia hidrológica – visto que o Nordeste do País, em razão das recorrentes secas, é o foco principal a demandar essa matéria: a acumulação, a administração e a distribuição dos recursos hídricos, para o consumo humano, a pecuária e a agricultura. 

O Dnocs, por seu turno, entidade secular pioneira no combate à estiagem, mais propriamente aos deletérios efeitos da seca sobre as populações xerófilas, é uma das instituições científicas mais veteranas e beneméritas do Brasil – a exemplo do Museu Nacional, do Instituto Butantan, do Instituto Pasteur, da Fundação Oswaldo Cruz – malgrado tenha sido tratado como o “patinho feio” dos equipamentos estatais, pelo desprestígio político que marca a nossa região setentrional. 

Entretanto, nenhum estamento científico tem reunido mais conhecimento e mais experiência sobre o fenômeno da estiagem que o Dnocs, e sobre os métodos mais adequados de contornar os seus efeitos no semiárido brasileiro, valiosíssima expertise conquistada com “a mão na massa” há tantas décadas, na construção de açudagem e irrigação, no desenvolvimento de culturas próprias, nas pesquisas em piscicultura e em ações de peixamento dos açudes, assistindo os sacrificados habitantes da caatinga com atenção e desvelo. 

Tamanha é a tradição dessa entidade neste quadrante do País que dificilmente se encontra um nordestino que não tenha uma história que vincule ao Dnocs a sua história pessoal – beneficiários ancestrais das suas ações sertanejas, agricultores humildes, pecuaristas heroicos, ex-servidores do Órgão, familiares destes – eu inclusive, descendente do engenheiro Aires de Sousa, um dos seus mais antigos diretores, neto e filho de fazendeiro cearenses, sobrinho de diversos engenheiros do passado da entidade.

Por essas ligações de família, testemunhei pessoalmente, na minha infância, a construção do Açude de Orós, as operações sociais e humanitárias do Dnocs durante a seca de 1958, em torno dos seus postos agrícolas implantados nos sertões, verdadeiros oásis a que as populações famélicas se acostavam para garantir a sobrevivência – os “fornecimentos”, as obras de emergência, não raro o avião da autarquia socorrendo pessoas doentes e transportando técnicos e autoridade científicas para o sáfaro sertão. 

Nesse período, o então emergente Estado de Israel enviou ao Brasil os seus engenheiros para trocar experiências com os cientistas do Dnocs, a fim de compartilharem conhecimentos sobre as agruras climáticas do nosso semiárido, e as securas do deserto em que aquele país foi construído. O melhor aproveitamento da água, as culturas mais resistentes ao estio, as políticas estatais mais proativas na viabilização e proteção da agricultura e da pecuária em áreas mais agrestes do Planeta. 

Enfim, nesta obra intitulada “Revitalização e Fortalecimento do Dnocs”, elaborada pelos engenheiros Otamar de Carvalho, Cássio Borges, José Maria Carvalho, Ângelo Guerra, Flávio Saboya e Evandro Bezerra estão cientificamente fundamentadas todas as razões pelas quais o Dnocs deve ser mantido e revigorado pelo Governo Federal, bem como estão escrutinadas as fórmulas administrativas para o seu soerguimento, com o melhor aproveitamento dos seus potenciais técnico-científicos para a melhoria do índice de desenvolvimento humano e o progresso econômico do Nordeste. 

Reginaldo Vasconcelos   

 


CRÔNICA - Fragmentos (ES)

 FRAGMENTOS
Edmar Santos*


I

DIFERENTES E JUNTOS

Enquanto casal, a história deles se assemelhava a de Eduardo e Mônica, cantada pela banda de rock brasileira Legião Urbana. As discussões sempre eram um misto de beleza e drama existencial.

– Só queria saber o porquê! – ele indagava, com o drama que lhe era característico.

– Adrede – ela lhe respondia com a beleza intelectual que lhe era peculiar.

II

UM ENCONTRO

Ele era, para ela, como o Universo: Amplo em si, escuro em força e repleto de incontáveis mistérios.

Ela foi ao seu encontro, com ímpeto explorador e curiosidade de astronauta. Encontrou um mundo próximo, explorável e habitável; entretanto, ao contemplar a infinitude universal, concluiu que havia muito mais do que sua percepção poderia alcançar.  Incertezas.

Contemplativa, concluiu para si mesma: “Que incrível tudo isso!”.  Seguiu viagem.

III

EM NOME DO PAI

Por teu nome que está no meu, peço-te que troquemos perdões.

Te perdoo por teu silêncio e ausências;

Te peço perdão pela rebeldia e desobediência.