terça-feira, 30 de agosto de 2016

ARTIGO - Nada de Novo no Front (RV)


NADA DE NOVO NO FRONT
Reginaldo Vasconcelos*



Durante as mais de dez horas do simulacro de interrogatório de Dilma Rousseff no Senado, na noite de ontem, 29 de agosto, conforme o rito surreal estabelecido, o que se viu foi uma roda monótona em que ela repetia ad nauseam as mesmas teses surradas, que não se podiam refutar porque não havia o direito de réplica – e o Presidente da Sessão recomendava aos senadores que não repetissem perguntas, e que a ré se ativesse ao tema específico dos dois crimes de que é inquinada. Então, “nada de novo no front”.

Pousou a depoente, como sempre, de paladina da democracia brasileira – e isso ninguém contestou – quando se sabe que sua violenta e baldada militância juvenil – que lhe proporcionou grande sofrimento – pretendia implantar no País uma ditadura comunista, a exemplo da russa, da chinesa, da cambojana, da cubana,  todas sepultadas pela história sobre um mar de cadáveres – com exceção da China, que ainda não é democrata mas abandonou o comunismo, e de Cuba, cujo regime caquético ainda caxinga entre a miséria do povo e a caridade mundial.

De fato, Dilma foi presa, torturada e seviciada pela odienta truculência do governo militar, mas foi solta e anistiada, enquanto caso tivesse sido dissidente do regime em qualquer dos países comunistas citados teria sido submetida ao “paredão” e não estaria hoje contanto a história – e contando a história com inverdades.

A “narrativa do golpe”, em seu ensaiado e orientado discurso tautológico, para não agredir o Presidente Lewandowski, que estava ali legitimando o devido processo legal, evoluiu para um formato ornitorrinco. Segundo ela, o processo transcorre de forma legal e regular, porém se converteria em “golpe parlamentar” se ao fim e ao cabo fosse ela condenada. Que o impeachment era constitucional, porém deixaria de sê-lo se resultasse na condenação de uma inocente: no caso, sua augusta pessoa.

Funcionei por muitos anos no Tribunal do Júri, onde vi muito inocente terminar condenado pelo Conselho de Sentença, seja pelas circunstâncias infelizes em que se inseriu nos fatos, à míngua de boas testemunhas, eventualmente servido por um mau advogado de defesa, por acaso submetido a uma acusação muito severa. Nestes casos, por mais lamentáveis, nunca ninguém alegou que o processo tenha sido ilegítimo, nem que o réu tenha sido vítima de uma conspiração proposital. Erros judiciários acontecem. 

O fato é que quem dará o veredicto sobre se são crimes ou não as condutas imputadas a Dilma pela competente acusação, e se foi ela quem as praticou, e se o fez de forma dolosa, são os Srs. Senadores pela maioria de dois terços, de modo que, pelo rito dromedário estabelecido para o impeachment, pelo menos este belo traço equino, analógico ao Tribunal do Júri, permanece: o Conselho de Sentença é livre e soberano.

         

CRÔNICA - Palestrando com Geneton (TL)

PALESTRANDO COM GENETON
Totonho Laprovitera*



Foi numa quinta-feira que Raimundo Fagner chegou e me perguntou se eu conhecia o Geneton Moraes Neto. Eu disse que só da televisão. Aí, o cantor pegou o telefone e ligou para o repórter.

– Geneton, estou aqui com um amigo que é seu fã. Fala com ele. E me passou o telefone.

– Alô, Geneton, é o Totonho. É um prazer falar com você.

– Ô, velho, o prazer também é meu.

– Olha, sobre o Drummond eu digo que devemos bastante ao poeta, pois ele contribuiu em muito para a virada da arquitetura brasileira, quando era chefe de gabinete do Ministro Capanema, da Cultura, na época em que o Rio de Janeiro era Capital Federal.

– Essa história está no meu livro! E contou.

Aí, o Fagner pediu para que eu brincasse com ele.

– Geneton?

– Diga.

– Como sou seu fã, posso lhe pedir um presente?

– Pode... O que seria? Desconfiado.

– Eu gostaria de receber uma pergunta sua, pode ser?

A ligação silenciou um pouco, ele riu e me inquiriu:

– Que você tem a dizer do Oscar Niemeyer?
– Oscar Niemeyer expressa a sua obra arquitetônica como a máxima de Vinícius diz: “a beleza é fundamental!”

Encerramos o assunto, nos despedimos, e passei o telefone de volta para o Fagner, que a seguir me emprestou o livro “O Dossiê Drummond”, de Geneton Moraes Neto.





NOTA DO EDITOR:

Geneton Moraes Neto foi o repórter pernambucano falecido no último 22 de agosto, aos 60 anos, o qual se notabilizou nacionalmente pelas entrevistas que obteve, principalmente para a Rede Globo de Televisão, com grandes personalidades do cenário nacional – das artes, das letras, da política – algumas publicadas em livros.  

sábado, 27 de agosto de 2016

ARTIGO - Ainda a Seca (RMR)

AINDA A SECA
Rui Martinho Rodrigues*


Vivemos mais um ano de um longo período de secas. Estamos em um semi-árido situado nos trópicos, circunstância agravante, única no mundo. Somos também o semi-árido densamente povoado. A elevada densidade demográfica agrava a vulnerabilidade às irregularidades climáticas, problema resultante do sucesso no combate aos efeitos das secas. A concentração populacional se deve, em grande parte, a ação do DNOCS, construindo reservatórios que ofereceram água para o consumo humano e animal, proteína animal do pescado e, em anos mais recentes, propiciando irrigação.

A crítica de estudiosos paulistas, que designaram ironicamente a construção de reservatórios como “solução hidráulica”, criticando ainda, equivocadamente, as “obras contra a seca”, propondo convivência com escassez de chuvas, ao invés de combate ao fenômeno natural, não procede. A captação do precioso líquido não é solução para todos os problemas. A água é indispensável a permanência da população no sertão. Possibilita o abastecimento humano e animal. Não se abandona uma providência por não ser uma solução para todos os problemas. Soluções parciais são úteis e necessárias.

A expressão “obras contra as secas” não significa combate ao fenômeno climático, mas aos seus efeitos. Longas expressões são abreviadas com a supressão de algumas palavras, sem perder o sentido para quem conhece o assunto. Assim é que a expressão “de cujos”, usada em direito das sucessões, não tem sentido para quem não sabe que originalmente dizia-se “aquele de cuja sucessão se trata” (de cujus hereditate agitur); habeas corpus era “dá-me o direito e tenha (ou ande com) o corpo”, foi reduzida simplesmente para “tenha o corpo”. Não sabem os intelectuais ler o sentido lógico de “obras contra [os efeitos] das secas?”.

A densidade demográfica, embora represente um problema em face da aridez da região, é um desafio decorrente de um êxito, que foi a oferta de condições para a permanência da população no sertão, palavra que resulta da corruptela de desertão. A caatinga é quase um deserto.

A construção de novas barragens está chegando ao limite além do qual pode haver deseconomia de água pelo represamento. O espelho d’água das represas amplia a evaporação limitando o volume a ser represado na proporção do volume recebido pelos reservatórios.

O Castanhão, em quem se depositaram todas as esperanças para o abastecimento da Grande Fortaleza, de várias cidades e irrigação, está secando, apesar da enorme capacidade de acumulação do açude aludido. Trata-se de um reservatório cuja configuração é descrita como “prato”, por terem grande espelho d’água em relação à acumulação, fato que propicia grandes perdas por evaporação. Some-se à configuração imprópria para um reservatório em região de grande insolação e fortes ventos propiciadores de grande evaporação, à localização sobre uma falha geológica e temos uma evidente falha de planejamento. Nem é preciso falar na rachadura, pertencente à execução da obra, fato que certamente deixa as cidades a jusante do açude insones, em anos chuvosos.

É como penso, na condição de leigo na matéria.


ARTIGO - Processo Frankenstein (RV)

UM PROCESSO
“FRANKENSTEIN”

PUNINDO ERROS POLÍTICOS
UTILIZANDO MEIO JURÍDICO

O processo de impeachment que está em curso no Brasil obedece a um rito “Frankenstein”, já que se pretende político e jurídico, e estes dois conceitos são tão distintos e paralelos que nem no infinito se encontram. 

Ora, durante as atípicas sessões de julgamento os senadores se convertem em “juízes”, o que é uma qualificação absurda, já que eles não possuem o principal atributo da magistratura, qual seja a isenção, a imparcialidade, a equidistância.

E se reúnem para ouvir testemunhas, que nada mais são do que expertos em economia, ou em Direito, cada um deles partidário de quem fez o seu arrolamento, e que nada mais faz do que externar sua opinião ideológica. Malgrado, testemunha deve ser alguém isento, que presenciou o fato controverso nos autos, ou que sobre ele ouviu coisas relevantes.

As pessoas intimadas ou convidadas em juízo para elucidar detalhes técnicos são peritos, ou são amicus curiae, requisitados pelo juízo – jamais são testemunhas arroladas pelas partes. Toda sorte, neste processo de impeachment não há mais que se discutir “questões de fato”, mas apenas “questões de Direito”, de modo que, a rigor, descaberiam testemunhos.

Defendem os partidários do Governos que os decretos não autorizados foram editados pelos motivos administrativos e sociais os mais relevantes, o que não tem força para elidir a sua condição de crime. É como se alguém assaltasse pessoas para doar o produto dos seus delitos a instituições de caridade, e com base nisso pretendesse se manter inocente e impune.
 
Dizem também que as “pedaladas”, em que instituições financeiras controladas pelo Governo foram obrigadas a custear programas sociais e empréstimos subsidiados, em montantes astronômicos, durante meses e anos, para quitação posterior, não são as “operações de crédito” vedadas pela lei, mas apenas “operações fiscais”.

De fato, as “pedaladas” não são contratos de mútuo, que se verificam nas operações de créditos tradicionais, até porque a Presidente não foi aos birôs dos gerentes dos bancos fazer o cadastro e pedir empréstimos. Mas as pedaladas constituíram uma maneira transversa de o Governo se financiar, sendo especificamente isso que a lei pretende coibir.

Ao aplicar a norma jurídica, o seu intérprete não pode se ater a tecnalidades semânticas, mas identificar a chamada “intentio legis”, para ser fiel ao resultado que o legislador pretendeu produzir. E o que a Lei de Responsabilidade proíbe é que o Governo se financie por intermédio dos bancos públicos. E foi isso que foi feito. E é nisso que se constitui o crime.   

Mas, na realidade, a Sra. Presidente da República é objeto de processo de afastamento constitucional do cargo eletivo principalmente por razões políticas, tendo em vista que “fez o diabo” para conseguir a reeleição, como, por ato falho, ela mesma declarou que faria.

O Governo teve que fazer essas adulterações, porque ele cometeu erros crassos na administração das verbas públicas, permitiu a corrupção mais desvairada e praticou favorecimento descabido a empresas e instituições cooptadas para o seu projeto de poder (como está hoje escancarado pela Justiça Federal), de modo que, se revelasse a verdade, a Presidente não se reelegeria.

Assim, em face de mudanças nefastas na conjuntura internacional, o País arrostou dificuldades fiscais para os quais não se preparara, e que se fossem escancaradas a reeleição não ocorreria.

Demais disso, a chefe do Executivo e o seu partido político “aparelharam” a máquina pública com militantes não concursados, intelectualmente incapazes e sem parâmetros na ética, para que, a ferro e a fogo, lhes defendessem os interesses.

Além do mais, havendo aliciado uma grande base parlamentar, eminentemente fisiológica – que, a soldo de cargos e de emendas financeiras, aprovavam o que ela bem quisesse – a Presidente Dilma Rousseff não soube lidar com essa alcatéia de asseclas famintos, que, tratada com indiferença e arrogância, terminou por voltar-se contra ela vide Eduardo Cunha.     

Por fim, em campanha eleitoral milionária falseou a verdadeira situação das finanças do Governo, por meio de maquiagem de dados, recorrendo à chamada “contabilidade criativa”, e obteve a maioria de votos com promessas falsas e, inclusive, infactíveis – o que caracteriza captação ilícita de sufrágio e produz uma fraude à democracia.

Mas, como vige entre nós um presidencialismo canhestro, a nossa legislação não prevê nenhuma punição para o “estelionato eleitoral”, quando um candidato engana o eleitorado e, depois de eleito faça o que fizer, ou ainda não faça o que deveria – é mantido até o fim sob absoluta blindagem mandatícia.

Acontece que a Constituição Federal prevê o instituto do impeachment, que oferece uma maneira legítima de se afastar um presidente – embora por meio de um processo penosos, difícil, confuso, que admite defesa política sobre as mais claras evidências jurídicas.

Enfim, Dilma Rousseff, de fato, cometeu os ilícitos de que está sendo inquinada – e, oficialmente, é com base nesses crimes exóticos que vai ser banida do poder. Diz que os cometeu porque os seus antecessores os cometiam, o que, do ponto de vista criminal, não é argumento admissível.

E alegam os seus defensores que, quanto a isso, houve mudança na interpretação da lei, que então somente deveria valer para o futuro. Mas é a lei que não retroage, não a sua interpretação. Se a lei existe, a eventual tolerância havida antes não exime ninguém posteriormente.

Alem disso, nunca ninguém pedalara em valores tão elevados, e por um tempo indefinido – tampouco nas véspera de uma reeleição, que se baseou exatamente nas falsas estatísticas econômicas que as pedaladas permitiram.

Contudo, obviamente, do pondo de vista da História, não é por ter cometido esses delitos fiscais que a Presidente será defenestrada, mas em razão dos desmandos político-administrativos – o chamado “conjunto da obra” – que ela havia praticado e a levaram a cometer os crimes referidos.



COMENTÁRIOS:

Parabenizamos a ACLJ pelo conteúdo do blog acima e especialmente o amigo Reginaldo pelo artigo Um Processo “Frankestein” - Punindo Erros Políticos Utilizando Meio Jurídico, primorosa e instigante reflexão sobre o atual processo de  impeachment. Creio que é o melhor texto que já li referente a matéria.

José Augusto Bezerra



Esse artigo sobre o impeachment está um primor. É uma peça jurídica e também uma análise política criteriosa e oportuna. Uma autêntica “bruxaria”, no sentido usado por nós, no jargão da ACLJ.


Rui Martinho Rodrigues

NOTA ACADÊMICA


NOITE LITERÁRIA
NA TENDA ÁRABE


Reunião informal de acadêmicos, na noite desta última quinta-feira (25), na mesa da Tenda Árabe, foi das mais agradáveis e profícuas, em virtude do clima anabólico criado pelas mais fraternas amizades. Na oportunidade, além de narrativas de casos vividos de cunho cronicável e anedótico, foram comentados projetos pessoais e institucionais em curso, de viés literário e cultural.


Estiveram presentes os acadêmicos Altino Farias, Adriano Jorge, Cássio Borges, Totonho Laprovitera, Rui Martinho Rodrigues, Inês Mapurunga, Descartes Gadelha, Paulo Ximenes e Reginaldo Vasconcelos.



Novos livros de Cássio Borges, de Totonho Laprovitera, de Paulo Ximenes, todos ainda no prelo, foram temas literários do encontro, bem como uma coleção de livros e discos com obras de inspiração africana, da lavra de Descartes e de Inês, que em breve será lançada em grande estilo no Teatro José de Alencar.

A modelagem e a fundição de quatro novas hermas para a Praça da Imprensa, retratando os jornalistas Manuelito Eduardo, Ivonete Maia, Guilherme Neto e Edilmar Norões, projeto conjunto da ACI e da ACLJ, com apoio da Prefeitura Municipal de Fortaleza, foi outro assunto debatido.

Também se conversou sobre a Galeria Pictórica de Patronos Perpétuos da ACLJ, já em processo de realização, esta com apoio do Ministério da Cultura por meio de programa federal.

ARTIGO - Importância da Imprensa da UFC (AM)

IMPORTÂNCIA DA IMPRENSA DA UFC
NO REPASSE DO CONHECIMENTO (I)
Assis Martins*


Este texto é parte do trabalho acadêmico de nossa autoria, Origem e Desenvolvimento do Livro e a Importância da Imprensa da Universidade Federal do Ceará no Repasse do Conhecimento, defendida como requisito parcial para a obtenção do título de Tecnólogo em Gestão da Educação Superior nessa instituição.

Pareceu-nos de bom alvitre reativar este trabalho numa homenagem à Instituição que completa 60 anos e onde militamos durante mais de vinte, como desenhista e programador de livros e capas de muitas publicações.

A Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará é uma indústria gráfica concebida pelo espírito empreendedor do Prof. Antônio Martins Filho, instalada logo após o ano de fundação da Universidade, com a função básica de atender às necessidades administrativas, intervir na área de produção de livros e periódicos e na divulgação de trabalhos científicos.

Seu papel definiu-se, em primeira instância, em um momento de baixa produção editorial no Nordeste, principalmente no Ceará, o que a situou em um patamar de invejável posição.  A fase experimental de implantação, mesmo em condições físicas improvisadas e com equipamentos incompletos, recebeu da Administração Superior o aval para a conclusão e aprimoramento do seu projeto. Quando se fixou em prédio próprio, concebido tecnicamente para o funcionamento de uma indústria gráfica, inseriu-se de vez na efetiva editoração universitária brasileira.

As administrações que sucederam sua fundação e implantação contribuíram, cada uma a sua maneira, quer em termos de redirecionamento de objetivos, em redesenho do “leiaute” industrial ou na readequação de bases tecnológicas para a consolidação do seu papel institucional.

A Lei que criou a Universidade Federal do Ceará foi assinada no dia 12 de dezembro de 1954 pelo Presidente da República, João Café Filho. O seu efetivo funcionamento começou a ocorrer no ano de 1955, oficialmente instalada em sessão solene no dia 25 de junho no Theatro José de Alencar.

Naquela época, apesar de Fortaleza já ser um centro cultural desenvolvido, não havia aqui uma editora capaz de dar atendimento ao volume das produções literárias; além disso, como o livro não despertava grande interesse à iniciativa privada, os investimentos no setor eram poucos.

Segundo o próprio Martins Filho  conforme relata nas suas memórias – ele soube que estava à venda a Tipografia Lusitana, instalada na Rua Major Facundo, cujo proprietário era Clóvis Carvalho Pereira. Dirigiu-se ao local, onde deu uma olhada nas máquinas, equipamentos, tipagem disponível, estoque de material etc. Após rodadas de negociação, ele e o proprietário chegaram a um acordo: o total da compra ficou acertado em Cr$ 700 mil, excluído o estoque de tintas e papel, que seria adquirido pelo preço da praça.

Uma comissão da Imprensa Oficial do Estado avaliou o material, e a proposta foi levada para apreciação do Conselho Universitário, que concedeu autorização para a compra, na sessão de 6 de abril de 1956.

Para o início do seu funcionamento, no dia 24 de abril de 1956, foram arrendadas as oficinas da Editora do Instituto do Ceará. A nova unidade passou por vários locais no primeiro ano de funcionamento: inicialmente, no mesmo prédio da Tipografia Lusitana; depois, mudou-se para a sede da atual Reitoria na Avenida da Universidade 2853, sendo instalada numa garagem onde hoje funciona o Auditório Castello Branco. No dia 17 de julho de 1956, foi feito um crédito especial de Cr$ 620 mil para compra de uma máquina (linotipo). Estava dada a largada!

No princípio, eram apenas sete funcionários, e, no ano seguinte, já contava com vinte, dez contratados e dez tarefeiros. No dia 29 de agosto de 1958, a Gráfica Piauiense foi adquirida por Cr$ 8 milhões, englobando tipografia, clicheria e encadernadora. O equipamento ainda foi ampliado com máquinas compradas à firma Assis Bezerra & Cia.

Sua produção aumentou com o aparecimento de várias coleções como Pensamento Universitário, Carnaúba, Biblioteca de Educação, Biblioteca de Cultura, Documentários de Estudos e Pesquisas, Coleção de Estudos Cearenses e muitas obras sobre Literatura, Direito, Educação, Medicina, Folclore, História, Geografia etc. De grande importância foram os convênios que possibilitaram as publicações das Revistas da Academia de Letras, Academia Sobralense de Letras, Instituto Histórico, Grupo Clã e do Instituto Cultural do Cariri (Itaytera-Crato).

Para se ter noção do crescimento da gráfica, em 1980, contava com cinco linotipos, cinco impressoras automáticas, seis máquinas para confecção de impressos e seis equipamentos para corte, dobragem, costura e grampeamento. Completando o parque gráfico, uma clicheria completa e um equipamento de off-set para composição, gravura e impressão. O quadro de pessoal era composto de sessenta e nove servidores, entre mestres, artífices e auxiliares administrativos de serviços diversos.

A sua sede atual foi inaugurada numa solenidade especial com a presença de autoridades e intelectuais, no dia 25 de maio de 1967, quando recebeu o nome do seu idealizador, o reitor Antônio Martins Filho.
 
Citando ainda suas Memórias, ele diz: “...Se tivesse sido possível, a implantação da Imprensa teria ocorrido no mesmo dia da instalação da Universidade. Não creio seja preciso lembrar que o bem maior da instituição é a produção da cultura e do saber, e que a publicação de livros, revistas e periódicos é a expressão, por assim dizer, de nossas realizações e criatividade em todos os campos da inteligência. Produzindo muito, como produz, a Imprensa nada mais é que o reflexo das atividades globais da Universidade”.

NOTA

No próximo texto mostraremos as obras mais importantes editadas no período áureo (1956 – 1967), quando já tinham sido impressos  cerca de 300 livros, e aproximadamente, 80 periódicos, além de folders, cartazes, material de suporte administrativo, dentre  outros).




NOTA DO EDITOR:

Neste primoroso artigo o Prof. Assis Martins faz referências saudosas à Imprensa Universitária da UFC, um polo gutembergueano a catalisar e a materializar em livros, por anos a fio, a produção intelectual dos cearenses, da mais vária inspiração lírica e de todas as vertentes científicas  gráfica da qual, em artigo anterior, postado neste Blog em dezembro do ano passado, o Prof. Vianney Mesquita lamenta a desativação das rotativas. Vai abaixo o excerto do texto, para contemplação conjunta dos assuntos correlatos.

..................................................................................................       
“De trato próprio, nos seus faustos, saboreei as delícias da Imprensa Universitária da U.F.C., fundada pelo Magnífico Reitor Antônio Martins Filho – “tipógrafo aos 11 anos” (e sob a direção, antiteticamente responsável, determinada e surreal, de Anselmo de Albuquerque Frazão), onde o vaivém de autores dos mais diversos saberes – de que é feita a U.F.C. – era imenso e constante, sempre sob as vistas e praticamente dependentes dos decisos terminantes desse Reitor Perpétuo (1904-2002), cuja opinião pacificava por definitivo qualquer pendência, ao conceder ao assunto foro de verdade e garantia de vigência.

Ali editei o primeiro livro, em 1984 (Sobre Livros – aspectos da editoração acadêmica), e outros mais, artigos em periódicos científicos da Instituição – Revistas de Letras, Direito, Comunicação Social, Educação em Debate, Jornal Universitário etc – além de acompanhar, feito Secretário-Executivo das Edições UFC,a produção científica levada ao lume por essa Academia, no tempo áureo do Reitor Professor Paulo Elpídio de Meneses Neto (21.06.1979 a 20.06.1983), instituidor do mencionado selo.

Hoje esta marca perfaz 36 anos, e procede, com absoluto êxito, em todos os rincões do Brasil onde comparece a cultura, presentemente sob a mão direita estabilíssima do Professor Antônio Cláudio Lima Guimarães, o qual recorre a outras casas impressoras de Fortaleza para imprimir seus volumes, ao preterir, por pretextos vários, a IU – UFC.

Lastimavelmente, se ofuscou e, num átimo, realmente desapareceu a relevância educativa, cultural e científica da outrora nacionalmente poderosa e efetiva Imprensa Universitária – pois hoje não faz sequer um folder – premida, entre outras razões, mormente de natureza administrativa, pelos ditames dos órgãos oficiais de controle federal, cujas determinações impedem o funcionamento a pleno emprego desse organismo ancilar e indispensável de uma Universidade de vanguarda, sempre à frente de muitas outras suas coetâneas no campo produtivo das ciências e de sua distribuição, a bem da Humanidade, por via da sua elaboração gráfica.

Vai-se rematando, pois, o seu enredo – comentado nas reflexões dos dois primeiros parágrafos deste escrito – de sorte a se lhe agilitar o óbito, quer por incapacidade gerencial, pelo mencionado capricho dos controllers oficiais, desazo da direção maior – Administração Superior – incúria dos funcionários, ou mesmo a conjunção de tantos motos conducentes à morte anunciada de um instituto de tão alevantadas intenções e promotor de tantos resultados, desde sua criação, há exatos 61 anos. Falta pouco, a julgar pelo jeito como as coisas se encaminham, para o terminal Requiescat in pace!”. (Vianney Mesquita in Expressão Gráfica – Sorbonne Cearense da Manifestação Visuoeditorial)

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

CRÔNICA - Os Bacorinhos (TL)

OS BACORINHOS
Totonho Laprovitera*


No Sítio Santa Rita de Cássia, seu Zé resolveu criar alguns bichos. Além da animação que eles levariam ao lugar, alguns deles ainda tornar-se-iam saborosos manjares.

E assim fez. Entre a matança de uma ou outra galinha caipira, a ser preparada à cabidela para o almoço dominical, o velho gato da casa a tudo observava ronronando pela cozinha.

E via-se e ouvia-se, passeando pelo terreiro, os órfãos pintinhos ciscando e piando, os capotes com seus estridentes e repetitivos fraquejares – tofraco!, tofraco! – o alvo carneiro e seu balir, e a vaquinha Mimosa que, mugindo, parecia esperar a hora da ordenha. 

Ouvia-se, ainda, o grasnar dos patos, o ruflar das asas do peru gorgolejando, o relinchar do jumento, o trilar dos canários, o martelar da araponga e, entre o farfalhar das árvores, o sabiá gorjeando. Faltava, porém, o grunhido dos porcos. E foi quando Seu Zé resolveu adquirir alguns bacorinhos.

Foi à feira e comprou oito. Depois, repartiu o pão: dos oito, deu quatro ao caseiro Bastião. A intenção era clara: sendo dono da metade dos bacorinhos, Bastião iria dedicar-se muito mais aos bichinhos.

– Na semana que vem, pode esperar, vou trazer uma ração especial pra eles disse o caprichoso seu Zé.

Na sexta-feira, lá estava o patriarca da família Dias. Embora já escuro, era mais ou menos umas seis e meia da tarde, partiu rumo à pocilga pra conferir os suínos. Acompanhado do serviçal residente da propriedade rural, seu Zé empunhando uma lanterna pôs-se a contar a leitegada:

– Um, dois, três, quatro... Esquisito, não estou vendo os quatro restantes...

– É, seu Zé, o senhor tem razão, também não tô conseguindo enxergar.

Só tem quatro mesmo... – Reforçou um dos seus genros.

Ô, Bastião, onde estão os outros quatro?

– Ah, seu Zé, num tão aí mesmo, não.

 – Bastião, e estão aonde?

– Sei lá, seu Zé, já faz mais de três dias que eu vendi os meus!


segunda-feira, 22 de agosto de 2016

CRÔNICA - A Festa Acabou (RV)


A FESTA ACABOU
OS CONVIDADOS JÁ SE FORAM
AGORA VAMOS ARRUMAR A CASA
Reginaldo Vasconcelos*



Acabaram-se as Olimpíadas brasileiras. Abertura e encerramento apoteóticos foram mil vezes melhores do que os do campeonato internacional de futebol de Dilma Rousseff, que teve solenidades pífias.

A vaia ao Temer foi muito menor do que a de Dilma Rousseff na última Copa Mundi. A final da seleção brasileira contra a equipe da Alemanha foi ruim, mas ainda sete vezes melhor que aquela que Dilma pretendia capitalizar em seu favor.

Nesta semana, depois da glória olímpica, virá a olímpica libertação do povo, com o corte do último tentáculo petista que ainda nos sufoca, em torno do pescoço na Nação.

Não sou admirador de Michel Temer. Ele não é o presidente ideal, não é a melhor alternativa, mas é a única opção constitucionalmente admitida. Então, vamos a ele, que “afogado não escolhe barranco”. 

Não vibro com a sua ascensão ao poder porque sei que os governos do pê-tê vandalizaram o País, e não posso esquecer que Michel Temer foi aliado desse partido o tempo todo, por longo tempo um títere seu, como vice-presidente da República. 

Também não posso esquecer que ele pertence ao partido do Eduardo Cunha, e que é da mesma corriola de Renan Calheiros, de José Sarney, de Jader Barbalho, de Romero Jucá, de Delcídio do Amaral, de Sérgio Machado, de Edson Lobão, e outros que tais. Os petistas dizem agora que ele não presta, mas foi Dilma Rousseff e seu partido que colocaram esse rasteiro jabuti lá no alto da palmeira.

Enfim, para um mandato tampão ele nos servirá, até porque estará sob os olhos atentos e suspicazes da cidadania brasileira, com os patriotas do Ministério Público à frente, a Polícia Federal logo em seguida, e, no fundo, o rigoroso magistrado Sérgio Moro.

E o Supremo Tribunal, este terá agora na Presidência a Ministra Carmem Lúcia, que já sinalizou não estar na trupe de bajuladores gramaticais da “presidenta”, enquanto no comando do Tribunal Superior Eleitoral já está o casca grossa Gilmar Mendes.    

Que Deus seja louvado!






COMENTÁRIO:

Machado pelo menos tentou se redimir com sua delação, diferente dos outros que estão arquitetando manobras ainda para fugir das investigações e da justiça.

Mariana Lobo Bastos

domingo, 21 de agosto de 2016

DISCURSO - Sessão da Saudade de Dona Yolanda (IQB)


DISCURSO DE
IGOR QUEIROZ BARROSO
NA SESSÃO DA SAUDADE DE
DONA YOLANDA QUEIROZ




"Quando uma pessoa é nobre por generosidade e magnanimidade, essa nobreza é suprema", disse Platão.

Ao evocar nesta noite a memória de Yolanda Queiroz, percebi que essa afirmação se aplicava à minha avó que era generosa e magnânima. Porque, segundo o sábio grego, uma pessoa nobre desenvolve no espírito quatro espécies de excelências: a Prudência – Dona Yolanda tinha uma conduta absolutamente correta; a Justiça – Dona Yolanda adotava decisões justas tanto nas relações pessoais como na condução dos negócios; a Coragem – Dona Yolanda era de inabalável firmeza nas adversidades; e enfim a Moderação – Dona Yolanda possuía o controle de suas emoções.

Esses mesmos ideais platônicos são havidos como virtudes cristãs, porque Dona Yolanda era uma verdadeira serva de Deus e foi uma cristã exemplar, tendo vivido segundo os preceitos evangélicos todas as fases de sua vida laboriosa. De jovem adolescente cheia de esperanças, casou-se, gerou filhos e teve a bênção de brincar com netos e bisnetos.

Obrigada pelo destino a assumir a responsabilidade empresarial, respondeu a esse encargo difícil, sem abandonar a sua função de mãe, avó e de amiga. Foi o mais forte elo de união da família, o sol irradiador de ternura e da compreensão, uma imensa capacidade de dar amor, perdoar, de atrair para si a confiança dos que a cercavam. Tratava a todos com simplicidade e se comunicava de forma direta com amigos e colaboradores. A delicadeza e o carisma de sua personalidade foram a chave para o bom desempenho de sua missão terrena em todas as áreas.

Dona Yolanda participou da fundação e consolidação de um dos maiores grupos empresariais do Brasil e construiu uma relação afetiva com o povo do Ceará, que permanecerá sempre na sua lembrança. Ela cultivava a música se deleitava com as artes plásticas, a literatura e os filmes, ainda dedicava tempo aos assuntos da educação e do jornalismo. Ela mesma se definiu como uma pessoa “bem-humorada, curiosa e feliz”.

Todos nós aprendemos a amar Dona Yolanda pelo que ela era como pessoa humana digna e honrada. Eu, particularmente, tive na sua convivência momentos inesquecíveis como o seu primeiro neto e que passou grandes temporadas residindo em sua casa.

Lembro-me de que, algumas vezes, eu saía com ela para passeios de bugre e ela segurava os cabelos louros contra o vento; a acompanhava aos cinemas para assistirmos juntos aos filmes de bang-bang e faroeste com seus artistas preferidos.

Aprendi com ela a ser grato por tudo que recebo dos outros, a não ralhar com meus filhos e a ser tolerante em sociedade. Ela me telefonava para me convidar pessoalmente para seus almoços de domingo e dizer que precisava conversar comigo.

As recordações são inumeráveis e todas elas não fazem senão ressaltar as suas qualidades de um ser humano privilegiado pelos dons de Deus, cujo maior legado, para mim, foram as preciosas lições de sabedoria e amor à vida.

Essa Augusta Academia Cearense de Literatura e Jornalismo teve oportunidade de prestar homenagem em vida à Dona Yolanda. Tendo ela partido para a dimensão da eternidade, ela recebe esta homenagem póstuma o que reitera o apreço desse Sodalício à sua benfeitora.

Por isso, a presente sessão de memória conforta a minha família e, principalmente, a mim, como membro honorário desta seleta instituição acadêmica e que se sensibiliza e se deixa tocar pela saudade de uma avó inigualável com quem desfrutou da mais saudável intimidade familiar.

Dessa maneira, sou grato aos ilustres membros da ACLJ e, em especial, ao presidente Reginaldo Vasconcelos, pela feliz iniciativa desta solenidade. A todos os presentes, muito obrigado.

Igor Queiroz Barroso é
Neto a mater de Dona Yolanda Queiroz.
Contador e Administrador de Empresas pelo MBA - USA (Master of Business Administration).
Diretor Institucional do Grupo Edson Queiroz.
12º Membro Benemérito da
Academia Cearense de Literatura e Jornalismo.