sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

ARTIGO - Talento do "Bumbum" (PN)

 TALENTO DO “BUMBUM”
Pierre Nadie*

 

Ao tentar analisar o contexto de nossa cultura hodierna, parece-me que perdemos nossa identidade cultural de povo brasileiro. Os fatos,  que movem essa nova geração, são de uma pobreza a toda prova. 

Não se lê mais. A bíblia do português – Os Lusíadas – jaz em memória desmemoriada. Machado de Assis, Rui Barbosa, Gonçalves Dias, José de Alencar, Monteiro Lobato, Carlos Drummond, Josué Montello, Rachel de Queiroz e tantos outros foram lançados nos Gulags ou atirados à fogueira. 

A carência de leitura empreguiça o pensamento, atrofia o poder criativo, anula a criticidade e lança-nos naquilo que o instinto luxurioso e usurário instiga. Acorrenta-nos ao palatável e embriaga-nos de manipulações, que nos alienam. 

Nem mesmo a espiritualidade e as crenças escapam, pois, os parâmetros parece ajustarem-se ao “c’est moi” (sou eu): há adaptações bíblicas para todos os gostos, como se a Palavra de Deus tivesse envelhecida e à criatura humana coubesse a obrigação de adaptá-la às necessidades e mudanças da hipermodernidade. 

A Internet domina o pensamento e impõe ideias: é o cruel torturador “magister dixit”, o ínclito poder “Roma locuta”.  Um achismo, sem fundamentos e sem consistência. 

Há uma massa que cresce com o fermento da ignorância, com ares de “sapiência”: o pior ignorante é o que se considera sábio. 

Do berço esplêndido erguem-se zumbis ou talvez sonâmbulos. 

Informações substituem o fático por narrativas, perdem a imparcialidade e encavernam-se em trincheiras, dramaticamente, opiniáticas e, insidiosamente, partidárias. Instala-se intolerância como prerrogativa de direitos, criam-se ilhas de “inclusão”, as quais, com a justificativa de defender grupos, atacam, caluniam e perseguem quem não partilha de suas convicções. 

O repertório musical, que admira e empolga multidões,  é apelativo, quando não vulgar e, abertamente, pornográfico. 

Onde andam os Chico Buarque, Gilberto Gil, Tim Maia, Roberto Carlos, Elis Regina, Djavan, Emilinha Borba, Dalva de Oliveira? Onde andam os nomes da música clássica, que tem embalado emoções, mentes e corações? 

Não, não dá para comparar nem competir com Anitta, Negro do Borel, Ludmila. 

Como diz José Maria Vasconcelos, em seu livro Um Olhar Diverso do Mundo e da Cidade, à página 82, “desses atuais o talento emana do ‘bumbum’, extenuante exposição erótica nos shows e programas de tevê”. E, citando Marco Antônio Villa, ele conclui: “a república dos rastaqueras, onde a ignorância e a fragmentação tomaram conta do cenário cultural”. 

Há, sim, bons talentos, boas literaturas, nessa geração. 

Não, não se constitui um libelo, mas uma exposição das entranhas, uma visão entre tantas outras e que deve fazer parte de uma concertação, que não seja anódina. 

“Ao mestre com carinho” e não “Senhor das Moscas”.



ARTIGO - Atitudes (JSN)

 ATITUDES
João Soares Neto*



“Suas atitudes falam tão alto que não ouvem o que você diz”
(Ralph Waldo Emerson)


Todos, no Brasil, resolveram cobrar o outro. Cobram tudo. Desde fraternidade expansiva, como se a maledicência e o uso indevido das confidências não fossem uma fraqueza do ser humano. 

Falam de gestos, querendo significar atitudes, posturas, comportamento. O gesto conhecido, com testemunhas e datas marcadas, não deve ser o que mais representa e importa. Parece-nos que a exposição, a divulgação e o conhecimento reduzem os gestos a uma mera pantomima. 

O que deve importar a cada um não é esperar gestos dos amigos, é descobrir – cada um a seu modo – a maneira de engrandecer a relação ou dignifica-la por paradoxal que pareça, até com o silêncio. 

A prestação de contas de cada pessoa é com a sua consciência, a sua crença ou os seus valores. Não acrescenta muito dizer, deixar que se saiba ou transparecer o que se faz ou deixar de fazer em benefício do próximo. 

Truísmos? Talvez. O fato é que a sociedade e as pessoas próximas nos veem não como somos, mas como imaginam que somos. Cada um vê o próximo a partir de seus próprios valores e do grau maior ou menor de empatia, simpatia, ou antipatia que nutre. 

Os grupos, as famílias, os companheiros de trabalho e os partidos políticos devem procurar uma nova equação para o relacionamento, não aferindo as relações do próximo com meros atos contrários aos nossos sentimentos, interesses e desejos, mas com manifestação de liberdade, de independência e do exercício do direito de viver. 

É claro que tudo isto passa por uma peneira, que é a própria interação a afinidade, a benquerença, a forma de pensar e o amor. 

O filósofo Immanuel Kant, na sua obra “Crítica da Razão Pública” faz a distinção entre coisas e pessoas. Segundo Kant, o que diferencia coisas de pessoas é o valor. O valor das coisas é extrínseco, atribuído a elas por terceiros, e se chama preço. 

O valor das pessoas é intrínseco, faz parte delas, não é atribuído por ninguém, e é o que se pode chamar de dignidade. Assim, atitudes não devem ser classificadas como produtos para que nosso “preço”, perante terceiros, seja aumentado. 

Atitudes não são meras representações ou dispêndios financeiros. Veem lá do fundo, onde moram ou devem morar o que cada um tem de mais caro. Cada um deveria lembrar o que disse certa vez Abraham Lincoln:



Faço o melhor que sei, o melhor que posso, e o faço até o final. Se ao fim de tudo deu certo, o que dizem contra mim não importa. Se o fim resulta num erro total, dez anjos sussurrando em meus ouvidos que eu esteja certo, não farão a menor diferença”. 

Pois é.

ARTIGO - A Pós-Responsabilidade (RMR)

 A PÓS-RESPONSABILIDADE
Rui Martinho Rodrigues*

 

Desfrutar é o verbo dominante hoje. O dever caiu na hierarquia da axiologia atual, diz Gilles Lipovetsky (1946 – vivo), na obra “A sociedade pós-moralista: o crepúsculo do dever nos novos tempos democráticos”. A palavra “moralista” sugere uma disfunção da moral tradicional, cujo declínio o autor descreve.

 

E os novos tempos são democráticos? Temos uma nova ética indolor? A intolerância de uma nova ortodoxia, eivada de ressentimentos e mágoas está presente na agenda política, nas teses acadêmicas, nas redes sociais, em toda parte. Lipovetsky acertou quanto ao hedonismo e ao declínio do dever, não quanto a tempos democráticos. 

O declínio do dever guarda relação com a banalização e a instabilidade dos valores. Zygmunt Bauman (1925 – 2017) tratou deste fenômeno na obra “Modernidade líquida”, aludindo a fluidez dos valores e práticas. Seria algo que sucedeu ao que chamávamos modernidade ou pós-modernidade. 

Há quem ache que é um aprofundamento do moderno, uma hipermodernidade. O moderno se identifica com a secularização da cultura, que está presente na sociedade líquida, mas a revanche do sagrado também está presente, conforme registro de Leszec Kolakowski (1927 – 2009) em alguns de seus pronunciamentos. 

O advento da centralização do poder político e o absolutismo estimulados pelo cientificismo iluminista, ao lado do naturalismo cosmocêntrico em sincretismo com o antropocentrismo, além da secularização são marcas da modernidade. A fluidez das referências e o relativismo da sociedade líquida são outra realidade. Contrariar a biologia é exemplo de negação pós-moderna do naturalismo. Não é hipermodernidade, é pós-modernidade. 

A ideia de um mundo líquido, dinâmico parece sugerir tolerância. Não obstante o relativismo, a intolerância também se faz presente. A liberdade é seletiva. A substituição da moralidade tradicional não é a aurora de um tempo de liberdade. Introduz severa condenação aos “infelizes que não creem” na nova ortodoxia. 

Os novos gestores da “moral” pós-moderna ou líquida se portam como severos inquisidores do Santo Ofício, reedição do velho farisaísmo, condenam severamente os transgressores do novo moralismo. 

Colocam fardos nos ombros do povo, mas eles mesmos não movem um só dedo para movê-los (Mateus, 23;4). A estatização da solidariedade é exemplo disso. Exime o seu proponente de amparar o necessitado, transferindo a responsabilidade para o Estado financiado por quem tem renda maior do que o arauto do distributivismo. Como anjos de luz anunciam um novo tempo de tolerância, paz e harmonia. Mas estimulam o “ódio do bem”, ressentimentos históricos e uma “tolerância” que quer impor uma mudança cultural. 

Intelectuais ungidos, conforme descritos por Thomas Sowell (1930 – vivo), na obra “Os intelectuais e a sociedade”, falam em nome da secularização da cultura, mas são devotos das religiões políticas que se expressam nos moldes descritos por Raoul Girardet (1917 – 2013), na obra “Mitos e mitologias políticas”. 

A tolerância dos novos gestores da moral só beneficia transgressores dos valores tradicionais. Anthony Daniels (pseudônimo Theodore Dalrymple, 1949 – vivo), na obra “A faca entrou” descreve o declínio da responsabilidade pessoal. Psiquiatra forense, relata expressões dos criminosos, do tipo “a faca entrou”, como que sem uma mão que a guiasse. Responsabilizar armas, estruturas sociais, econômicas, políticas e culturais, excluindo a responsabilidade pessoal é a marca da modernidade líquida, da pós-moralidade e da ascensão do neomoralismo que deplora o dever.


terça-feira, 26 de janeiro de 2021

ARTIGO - Doce Mar Selvagem (RV)

 DOCE MAR SELVAGEM
PAULO XIMENES NOS BRINDA
COM UM CENTIFÓLIO
DE POEMAS
Reginaldo Vasconcelos*



 

 

O poeta Paulo Ximenes expõe sua verve nesse livro primoroso, cujo título e capa evocam a sua infância praiana e iracemita, entre os diques e píeres que amasiam aquele bairro histórico da cidade com o indômito e verdeal oceano, de onde ele trouxe a maresia de seus versos.     

De lá ele pervaga os sítios bucólicos das cercanias da cidade-mãe, por onde delibou a sua meninice, a rua de sua adolescência e mocidade e da paixão insuperável, além dos sertões acres por onde foi exercer sua profissão na juventude, dos quais voltou para nidificar, constituir família, ter seus filhos. 

Por fim, vai buscar em sua lira os céus surreais do Planalto Central, sob os quais, na madureza de seus anos, ele derrama o amor mais longevo, amor antigo que hoje se espraia para os netos, que lá medraram e que de lá lhe afagam o seu avoengo coração. 

A recomendação prefacial é da grande mestra da palavra, a poetisa Alana Girão de Alencar, nossa confreira eterna na imortalidade acadêmica da ACLJ – e a capa, de beleza épica e pelágica, é da doce Celi Girão.

Evoé!, meu velho amigo e irmão, parceiro fiel em tantas batalhas pela vida. Lavivá!, grande vate alencarino – e já aqui lhe peço a senha para obter o meu exemplar do livro próximo, obra já a caminho entre a gaveta e o prelo. 

Destaco aqui o primeiro poema que eu conheci da coletânea publicada, até porque participei do momesco sarau que ele descreve, último grito de carnaval que nos foi viável antes da grande pandemia, e que por essas e por outras se tornou indelével no afeto e na lembrança.


SARAU MOMINO

Caiam lantejoulas sobre mim
e sobre versos e marchas delirantes.
Não pretendo, por Deus, eu, doravante
perder um sarau tão bom assim!
 
Durante o ano a labuta me corrói
em meses longos e rasos de alegria.
Vou garimpar, então, nesta folia
o que há de mais doce e não me dói.
 
Renasço agora – que é carnaval
loucura solta e efervescente,
nessa roupagem viva, diferente,
na magia momina de um sarau!
 
Preciso de confetes e serpentinas
Tragam-me! Estou rapaz!
Tomei uns drinques e já sou capaz
de vê-los pierrôs e colombinas.

(PX)

 

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

ARTIGO - Relacionamento Humano - Parte I (PN)

 Relacionamento
Humano
Pierre Nadie* 

Parte I


“Dê-me um ponto de apoio e deslocarei o mundo”. Tal assertiva de Arquimedes volta-se também para o que procede de cada um de nós. Apoio é base, é matriz, é sustentáculo. 

Nossos relacionamentos, sejam de amizade, de parceria ou de intimidade e aliança carecem de um “eu” real e sincero para outro “eu” real e sincero... E a verdadeira semente medrará, por certo. 

Assim, vamos refletir um pouco. 

Quando te encontro, escondes o que és para mim. Queres permanecer uma lenda, com medo de me perderes. E eu, também me ocultando de ti, sem saber que “sou o que não sou”, quero ver em ti o que me apetece, imagem pré-fabricada, o meu “narciso” ponho em ti. 

Quando, porém, me aproximo de ti, estabeleço um relacionamento, passo a conhecer o outro de ti, que és tu. E, como eu não me conheço, mostro-te o outro de mim, que sou eu. Nos dias que seguem, o outro que te conheci me decepciona, ao te apresentares como és, contrariando minhas expectativas. 

Fecho-me, então, sem te ouvir, sem querer saber quem tu és. E tu descortinas em mim o eu que te ocultei. Minha imagem já não corresponde à impressão, que havia produzido, para te provocar o afeto de miragem e fantasia. 

Os “eu te amo”, “eu te quero”, “eu te admiro”, “eu gosto de você” ou limitam-se a cartõezinhos frios, a olhares inexpressivos, a frases de efeito em sua dubiedade ou saltam para fora do relacionamento, ficando cada um à espreita de posturas indesejadas, reais, mas sem a possibilidade de, pelo menos, um armistício para diálogo de rearranjo de ambas as partes, para construir um relacionamento, uma amizade, que possa se fortalecer, na contingência e amadurecer, nas limitações que em cada pessoa assentam. 

Diante dessas dissonâncias, o desastre pode tardar, mas está se preparando e, com certeza, o estouro do tsunami acontecerá, inexorável. 

Tu vives sem dialogar e sem querer ver minha face real. E eu passo o tempo alimentando minha decepção da expectativa que fiz de ti... críticas, injúrias, descontentamentos avolumam-se. 

Quanto mais o tempo passa, mais fundo fica o fosso entre ti e mim, entre mim e ti. Eu sem te conhecer. Tu sem me conheceres. Nós sem nos conhecermos. Ofensas mútuas, atitudes de afastamento, posturas de menos valia. Cada um sem se autoconhecer, sem se ouvir, impingindo culpa ao outro. 

Não acontece o amor pelo cultivo elogioso de nossas qualidades, nem o ajuste pelo ódio às falhas que de fato temos. Só a compreensão do outro, a partir de si – um mergulho em si, uma atenciosa escuta e respeitosa do outro – pode gerar o amor. O outro não é minha foto, nem eu sou a identidade do outro. Tamanho fosso construído, na intolerância ovidiana, o retorno passa a milhas da resiliência. 

Não posso querer me amar no outro, tampouco o outro amar-me em mim. Ninguém é reflexo de ninguém. 

O desafio de amar despenca, enfim, desfiladeiro abaixo, sem vontade de parar, com amarguras a disparar.


“Ontem, eu te amei e tu me amaste. Nos amávamos. Hoje, eu te rejeito e tu me rejeitas. Nos rejeitamos. Eu te perdi e tu me perdeste. Nos perdemos. E pagamos alto preço por isso. Choramos lamentos. Lamentamos chorosos”. 

Eis o que, ignorantes, fizemos conosco, sem perceber que, de amor e de amizade, é cada pessoa que dá o ritmo e define o compasso.


ARTIGO - Eleições Americanas (LA)

 ELEIÇÕES AMERICANAS
Luciara Aragão*


O escândalo das fraudes e corrupção nas eleições americanas revela uma doença no coração do sistema, comprometido pela China, desde Washington, corrompido por dinheiro e tráfico de influência dentro e fora de suas fronteiras.

As possibilidades de uma investigação aberta, audiências no Senado, no estilo Watergate, para expor o funcionamento corrupto e estabelecer as bases para reforma anticorrupção, não parecem fáceis de alcançar. Certamente, alguns estão de acordo que a destruição do esquema deveria ser feita agora antes que termine por corroer toda a estrutura do Estado. Não acreditar na capacidade de ação que salvaria a República e o Estado ainda parece deixar perplexa boa parte da população que já fizera do sistema americano um artigo de fé.

A vulnerabilidade da economia acentuada pela Covid 19 e o uso dela para fins políticos, com bloqueios previamente acertados e imposição abusiva de regras, foi um dos elementos utilizados para a corrosão. A Flórida é uma exceção uma vez que com um governador responsável cuidando da pandemia e usando a liberdade de modo correto. De fato, há dificuldades de se pedir respostas a pessoas responsáveis palas falhas sociais e políticas, pois constituem uma elite que vive como se dependesse de um conjunto de regras próprias e diferentes das que regem os demais, quebrando a unidade a igualdade que deveria continuar a presidir o sistema americano.

A sombra de negócios nebulosos, a infiltração do sistema pelo China, a corrupção e o tráfico de influência, integram o modelo de negócios sombrios sob o apanágio da legalidade. Nomes como o dos Clinton, Biden e irmão, os problemas dos Hunters e família, são todos casos de vital importância e em boa parte já denunciados e esclarecidos. Estarem sendo abafados pela mídia, também comprometida e aliada com uma elite estragada é a legitimação de que todos devem se safar. Tanto as alternativas de reconhecer, como agir contra o problema parecem assustadoras. A solução encaminhada é a de negá-lo. Igualmente assustador, é reconhecer que o problema abafado não será dissolvido e permanecerá erodindo o sistema democrático norte-americano.

A Democracia vigente nos Estados Unidos, foi um símbolo envolvendo valores reconhecidos e plantados desde os fundadores do sistema americano, a partir da integridade da Constituição e valorização da República. A negação das evidências de fraude e da atuação de grupos radicais como os Antifas, a partir da invasão do Capitólio, foi o princípio de eliminação das evidencias e a lavagem de mãos de uma justiça comprometida com financistas e objetivos espúrios. 

Orquestrados dentro do Deep State, com uma órbita capaz de atrair quase todo o Partido Democrata e mesmo grande parte dos Republicanos, os Estados Unidos se despiram de valores morais e éticos, atraídos pelo modelo de uma nova América, regida por princípios todos diversos, dos alicerces pretendidos por seus fundadores.

Ao novo presidente, apóstata de todo o legado histórico recebido, além de um pseudo-católico, envolvido que é com a legitimação do aborto e sob quem pesam acusações de pedofilia, cabe o dirigir a demolição de valores e do orgulho de “ser americano” assinalando a inauguração da  decadência  do Império.

Quem tem olhos e ouvidos treinados para ver e ouvir, veja, ouça e não será surpreendido...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

ARTIGO - Mercado, Sentimentos e Ilusões (RMR)

MERCADO,
SENTIMENTOS E ILUSÕES
Rui Martinho Rodrigues*

  

Fala-se em ditadura do mercado. Quem é o tal mercado? É o conjunto de oportunidades de trocas, o encontro das demandas com as ofertas. É a expressão da sociedade se manifestando conforma se organiza. O reducionismo economicista, como os demais, limita e desvia a compreensão da realidade. Mas a relevância da forma como as pessoas buscam os seus objetivos (demandas), ajustando-os às oportunidades (ofertas) não explica tudo, mas revela aspectos importantes. 

Intelectuais atuam no mundo das ideias, conforme Thomas Sowell, (1930 – vivo), na obra “Os intelectuais e a sociedade”. São letrados, peritos ou escribas, segundo Raymond Aron (1905 – 1983), na obra “O ópio dos intelectuais”. A posição do intelectual no mercado de profissões é logo abaixo dos homens públicos de peso, como seus lugares-tenentes; são instrumento de legitimação, mormente com a ascensão maligna do perito (comunicólogos, politólogos e outros), conforme palavras de Carl Wright Mills (1916 – 1962), na obra “A elite do poder”. 

O mercado de trabalho dos intelectuais guarda relação com diferentes formas de poder. No Brasil as interações dos intelectuais com a política; o público para quem escreve; editoras e revistas acadêmicas; departamentos de universidades; os seus pares foram abordadas, em parte, por Sérgio Miceli Pessôa de Barros, na obra “Intelectuais e a classe dirigente no Brasil: 1920 – 1945”; Pedro Demo (1941 – vivo), na obra “Intelectuais e vivaldinos”; Edmundo Campos Coelho (1939 – 2001), na obra “Sinecura acadêmica – a ética universitária em questão”; Leandro Augusto Marques Coelho Konder (1936 – 2014), na obra “A derrota da dialética”; Luís Augusto Sarmento Cavalcanti de Gusmão, na obra “O fetichismo do conceito”; Luiz Felipe de Cerqueira e Silva Pondé (1962 – vivo) e suas publicações e vários outros.

As demandas dos intelectuais, na relação com os seus pares, nos campi das universidades, visam a publicação e venda de livros; publicar em revista acadêmica; financiar pesquisa; ser citado por colegas, segundo Pondé. Escrevem sobre o exótico como se fosse desafiador e original, mas é submissão à tendência hegemônica. Alguns relatam mera coleta de depoimentos como se fosse tese. Citam autores como argumento de autoridade, conforme Demo e Campos, nas universidades que são marcadas pela endogamia. 

A subjetividade da seleção dos programas de pós-graduação; o personalismo do orientador nas relações com o orientando; a confusão entre o recente e o inovador; o julgamento da bibliografia pela data de publicação das obras; o credencialismo dos títulos acadêmicos nem sempre correspondentes ao mérito; e a cômoda dialética negativa, que destrói ao modo niilista, como assinala José Guilherme Merquior (1941 – 1991), na obra “Michel Foucault ou niilismo de cátedra”. Emoções substituem a razão e os fatos, conforme Pascal Bernardin (1960 – vivo), na obra “Maquiavel pedagogo” como parte do mercado de teses, vagas nos programas de graduação, financiamento de pesquisa, publicação de artigos em revistas acadêmicas. Não faltam condutas heterodoxas. Vender ilusões, na forma de utopias, facilita tudo isso. 

Universidades, porém, são arquipélagos em que cada ilha tem uma cultura institucional diferente. Mercado é apresentado pejorativamente, devendo ter a torpeza dos seus agentes ser controlada. O mercado da política e o mercado intelectual nele contido, pretende exercer tal controle. Políticos e intelectuais colocam-se como vestais, sacerdotisas de Vesta, de pureza imaculada, candidatos a déspotas esclarecidos. Mas não são piores nem melhores que o comum dos mortais. A política é um mercado como qualquer outro, onde habitam os intelectuais engajados.

CRÔNICA - Onde Está Deus? (JPG)

 Onde está Deus?
João Pedro Gurgel*

 

Estamos tão atônitos, tão perdidos querendo encontrar um sinal de cima, que esquecemos de olhar para os milagres que acontecem ao nosso lado. 

Eu vejo Deus na mãe que não desistiu do filho. No paciente curado. No sorriso de uma criança. Na doçura no olhar de quem tem quatro patas.

Eu vejo Deus de olhos fechados. Por que, no escuro, eu consigo ouvir melhor o silêncio que só Deus faria. E é preciso ouvir o silêncio para aprender a si ouvir melhor. 

Eu vejo Deus quando ninguém mais vê porque talvez Deus não queira ser visto. Não Lhe satisfaz caridade por holofotes. Deus não vai aparecer em manchete de TV porque às vezes notícias ruins rendem mais. Mas Deus é a boa notícia. 

Eu vejo Deus no bem. E tudo de bom que há de vencer. Eu vejo Deus no amanhecer. Eu vejo Deus no entardecer. Eu vejo Deus no anoitecer. 

E você? Onde vê Deus?

CRÔNICA - Cair Para Perceber o Chão (ES)

 CAIR PARA
PERCEBER O CHÃO
Edmar Santos*

 

Sempre ouvi frases de alertas que aludiam a ficar de pé, caminhar de queixo erguido, dar o primeiro passo, levantar a cabeça, dentre outras. No entanto, não recordo de muitas vezes em que me incentivaram a perceber o chão, salvo uma, a saber, olhe por onde anda; porém, de tão poucas vezes que a escutei, a negligenciei quase sempre. Desatento.

Calçado com sapatos e sandálias macios, meus pés vaidosos e soberbos corriqueiramente subestimaram o chão; nunca ligaram para suas variedades de texturas que apresentava pelos diversos caminhos por onde andei. Imprudente. 

Se pedregoso, arenoso, empoeirado,  enlameado, nunca atentei com acurada atenção, pois, os passos apressados sempre fizeram com que o chão não só estivesse abaixo de mim, mas alheio ao resto de mim. Importava mesmo era o trajeto e, de preferência, o mais curto. Para onde? 


Caí. E indo ao chão com pés e o restante do corpo, finalmente percebi, pela dor, a sua dureza; pelo acinzentado no rosto, sua poeira; pela areia na boca, seu gosto árido. Senti. 

Na fração de tempo em que eu estive estendido no chão, também me veio a sensação de seu acolhimento ao meu corpo caído. Sustentáculo. 

E como sempre se propôs ele, me fez base para que eu me levantasse. Ergui-me. 

Agora aprendi a caminhar melhor, mais atento; atento não mais aos calçados macios, ao trajeto mais curto, mas ao chão por onde piso. Passo a passo. 

Humilde, descalço quase sempre, sigo caminhando. Chegarei aonde preciso ir. Destino.

sábado, 16 de janeiro de 2021

ARTIGO - A Festa Comentada (RV)

A FESTA COMENTADA
Reginaldo Vasconcelos*

 

COMENTÁRIOS

Diz-se muito que o melhor da festa são os comentários posteriores. A assertiva insinua que os temas dos convivas sobre o curso dos eventos sejam sempre maliciosos – geralmente sobre falhas na organização e sobre as eventuais gafes cometidas por quaisquer dos convidados. 

Assumindo a vertente bem-humorada e mesmo jocosa desse cacoete universal, tenho escrito crônicas após as nossas Assembleias acadêmicas, glosando o que deu errado ou que deu menos certo que o esperado – algumas vezes sendo eu mesmo o autor da gag e a vítima das risadas. 

À guisa de exemplo, lembro de uma vez em que, discursando sem texto escrito, misturei o nome de duas das nossas venerandas patronesses – não lembro bem se eu disse “Dona Yolanda Dias Branco” ou se falei “Dona Consuelo Queiroz”. 

De outra feita, em Assembleia Geral da ACLJ em 2018, um convidado veio de outra cidade para prestigiar alguém que seria alvo de homenagem. Porém, se antecipando ao coquetel final, serviu-se no bufê de vários drinques alcoólicos e dormiu profundamente durante todo o correr do evento – levando a Benemérita Paula Queiroz Frota a divertir-se com aquela cena cômica.



 

  

A FESTA 

Na Assembleia Geral de terça-feira, dia 5 de janeiro, a nossa primeira reunião do ano e a primeira durante a pandemia, tudo transcorreu sem falhas – hino nacional completo, hino acelejano perfeito – não executados, como de hábito, pela Banda de Música do Exército ao vivo – mas tocados por meio eletrônico com imagens das bandeiras exibidas no telão. 

Discursos belíssimos, entrega dos diplomas, outorga simbólica dos troféus – que os homenageados não levaram consigo imediatamente, porque as peças eram pesadas e não seria cômodo transportá-las – e a organização comprometeu-se a lhes enviar em domicílio (antes da entrega física os troféus tiveram interferências estruturais que os tornaram mais leves, sem prejuízo de suas dimensões e de sua beleza).

A propósito dos referidos troféus, alguns estranharam o seu formato inusual, e indagaram a respeito. Correspondem ao titulo "Destaque Cearense", conferido ao empresário Alexandre Sales (Troféu Empreendedores Brasileiros), ao médico Cabeto Martins Rodrigues (Troféu Prasinus Angelos), e ao humanista benemérito Igor Queiroz Barroso (Troféu Benemerência Brasileira).




Um troféu é um objeto representativo de uma vitória conquistada, ou um prêmio simbólico por um feito heroico, e não tem forma definida nem feição obrigatória. 

Pode ser uma taça, uma estatueta, uma obra de arte sem conceituação objetiva, mas de beleza lírica e de riqueza semiótica. Para os gregos antigos, uma simples coroa de louro; para os lutadores, um pomposo cinturão. 

No nosso caso, a ideia foi produzir um painel gráfico em que a imagem do ilustre recipiendário de cada um dos troféus figurasse no centro e em destaque, cercado pelos espectros fotográficos de grandes ícones do seu ramo de atividade, seus ídolos e colegas destacados do presente e do passado, no âmbito nacional e no contexto estadual. 

No verso desse painel de honra-ao-mérito a representação artística dos termos da Ata da ACLJ, trazendo os devidos carimbos e selos dos registros em cartório, na qual foi consignada a eleição dos homenageados e a outorga da panóplia. 

A esses troféus o jornalista Lúcio Brasileiro, em sua coluna de O Povo, deu o nome de “pergaminhos”, termo clássico e apropriado. 

Momento glorioso do evento foi a revelação do fato insólito de que o empresário Alexandre Sales teve, na verdade, entre os acadêmicos titulares, dois proponentes de seu nome.

O advogado Cândido Albuquerque, Magnifico Reitor da UFC, detentor do titulo de Cearense do Ano de 2019, o primeiro a lançar o nome de Alexandre para concorrer ao prêmio; além dele o jornalista Marcos André Borges, CEO da VSM Comunicação e da TrendCe, que fez campanha pela sua candidatura e a viabilizou – tendo sido o Reitor Cândido o voto de minerva para o resultado da eleição. 

A outorga dessas láureas foi amplamente repercutida pela mídia impressa e pelas redes sociais, como a Revista Tapis Roube, Adriano Nogueira, do Jornal Otimista, a Márcia Travessoni do Diário do Nordeste, a Balada In do Pompeu Vasconcelos, a Sisi, da Iaritza Gurgel, as colunas do Clovis Holanda e do Lúcio Brasileiro, no jornal O Povo. Foi tema do comentário Doa a Quem Doer, do Senador Cid Carvalho, na Rádio Cidade.