O BECO SEM SAÍDA
Rui Martinho Rodrigues*
Fora das instituições não há salvação. É
necessário preservá-las acima de tudo.
Os poderes do Estado democrático têm
instrumentos de defesa contra os desvios de conduta das minorias corruptas e
totalitárias. A democracia, infelizmente, não dispõe de defesas contra as
maiorias que eventualmente venham a se assenhorear dos órgãos do Estado de
Direito no mais alto nível da organização republicana. O aparelhamento das
instituições por organizações criminosas e totalitárias, caso venha a tornar-se
maioria no âmago do aparato jurídico e político das mais altas esferas do
Estado, não terá nenhum remédio institucional.
A prisão do senador Delcídio do Amaral
desencadeou uma série de conjecturas na imprensa. O líder do governo teria
arquivos altamente explosivos. A conversa mantida por ele com o filho do senhor
Nestor Cerveró, preso como protagonista do escândalo da Petrobrás, em que o
senador hoje prisioneiro jactou-se de ter no bolso as mais altas autoridades da
República, segundo se especula, seria confirmada pela documentação dos citados
arquivos.
Documentos obtidos ainda ao tempo da CPI
dos Correios, presidida pelo senador do PT de Mato Grosso do Sul, teria provas
obtidas por meio de pesquisas em computadores apreendidos, envolvendo um grande
número de figurões do poder Legislativo e de outros escaninhos, na mais alta
hierarquia da vida pública. Tais documentos não teriam sido agregados ao
relatório da referida CPI porque a maioria do Congresso não aceitaria.
A maioria do Parlamento não promoverá o seu
próprio expurgo. As mais altas esferas do Executivo e do Judiciário também não
cometerão suicídio. A população desmobilizou-se, abandonando as ruas. Não
surgiram, ainda, as esperadas lideranças dotadas de credibilidade, vontade e
autoridade moral para galvanizar a nação contra o domínio das instituições
democráticas pela organização criminosa e seus cúmplices que se assenhorearam
do Estado brasileiro. Não temos partidos nem programas ou, se os temos, não são
levados a sério.
A sociedade civil está aparelhada ou
igualmente corrompida; há omissão das organizações que a compõem, deixando-se
quedar silentes diante do quadro calamitoso de devastação econômica, moral,
política e institucional nos deixa sem esperanças; o quadro institucional
concorre para dificultar a solução do problema econômico; as despesas públicas
são, em sua maioria, intocáveis, por força de dispositivos
do nosso ordenamento jurídico. Enfim, não há espaço para um ajuste econômico.
A mentalidade dominante continua iludida
com o almoço sem conta, prometido pelo populismo. A história é imprevisível,
não encoraja futurologias. Mas o conjunto dos fatos sugere que estamos na rota
seguida durante décadas pela Argentina. Aquele país optou pelo desastre, mas
partiu de uma condição privilegiada, tendo gorduras para queimar. Nós estamos
optando pelo caminho ladeira abaixo, já estando numa situação muito mais
precária do que a dos nossos vinhos do sul, quando escolheram o mesmo roteiro:
populismo e corrupção.