domingo, 15 de fevereiro de 2015

ARTIGO (RV)

O ÚLTIMO EPISÓDIO DA SÉRIE
Reginaldo Vasconcelos*

A grande novela do governo brasileiro tem se desenrolado como aqueles filmes de ação em que todos os vilões são eliminados no final – baleados, presos, explodidos, atropelados pelo trem – menos o principal deles, o grande agente do mal, principal antagonista do herói da trama, que se esgueira e escapa ileso, no máximo chamuscado – exatamente para que protagonize o próximo episódio da série.

O Presidente da República seria o maior responsável por todos os atos do Poder Executivo, pois todos os agentes administrativos do primeiro escalão do governo são por ele indicados, e os demais por ele aceitos e abonados, assim como também é ele o grande interessado nas metas eleitorais do seu partido.

Mas, no nosso caso, os escândalos se sucedem na administração petista e o líder principal do partido, grande guru político da agremiação, um certo Luiz Inácio da Silva, passa incólume para o próximo episódio, em que continua atuando ativamente na defesa dos que são apanhados pela máquina da Justiça.

Alguns poucos bois de piranha vão ficando para trás, enquanto no cinema o grande mentor das aventuras ilícitas sai trotando pela porta dos fundos do saloon e se escafede – embora um ou outro bandido ferido e moribundo se redima na última hora e avise ao “mocinho” por onde o seu chefe está fugindo.

Foi o que aconteceu com Roberto Jefferson, que blindara Lula ao denunciar o mensalão, pintando-o como inocente vítima de José Dirceu, certamente imaginando que isso garantiria a si próprio alguma salvaguarda – mas que um vez indiciado e denunciado mandou sua defesa acusar o ex-presidente de chefe da quadrilha, na sustentação oral do seu advogado, no Supremo Tribunal.

Por fim, Lula da Silva, após chocar o ovo da serpente, prestes a eclodir o maior escândalo financeiro da República, “como nunca antes na história deste País”, tomou do seu tradicional salvo-conduto e colocou a bomba chiando no colo da mulher que ele escolheu para explodir ao fim do enredo.

Ministra de Minas e Energia, Presidente do Conselho da Petrobras, Presidente da República, agora não tem como Dilma Roussef escapulir. Não há explicação jurídica que justifique o fato de um gestor público estar no comando de órgãos públicos da área petrolífera, depois no cargo máximo do Executivo Federal, e não ter culpa nenhuma pelo que aconteceu – seja por imperícia, imprudência ou negligência.

Enquanto uma quadrilha faz verdadeira farra de macacos na loja de louças do Governo, uma das maiores petrolíferas do mundo – funcionários públicos sob seu comando supremo, mancomunados com políticos dos partidos que lhe dão sustentação no Congresso, em conluio com empresários que doaram fortunas para suas campanhas eleitorais vitoriosas – não tem lógica aceitar que Dilma Roussef não tenha nada a ver com isso.

Pessoalmente eu continuo achando que Dilma Roussef é uma “inocente útil” no processo como um todo. Não me parece que ela tivesse malícia para arquitetar o “esquema”, que, como se sabe, remonta a governos anteriores, nem ousadia para decuplicá-lo, como ocorreu na dinastia petista, mas apenas ingenuidade para se tornar o bode expiatório do partido.

Então, esta seria a hora certa de se  assumir de vez e em massa a campanha “Volta Lula” – não para a Presidência da República, logicamente, mas para o distrito da culpa e para cenário do crime. Certamente já há algum delator premiado abrindo o jogo sobre o seu real protagonismo no desastre em que o governo atual se converteu.

Humilhação futebolística na Copa do Mundo realizada no Brasil, colapso hídrico e elétrico, gasolina e diesel subindo, direitos trabalhistas e previdenciários reduzidos, PIB minúsculo, inflação voltando, índices de violência em alta, corruptos "saindo pelo ladrão" na caixa d'água da República – com perdão do infame trocadilho. Instalou-se o caos absoluto, e não dá mais para atribuir a culpa à imprensa e às "elites". 


 
*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
          Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ    

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