O FLAUTISTA DE HAMELIN
Humberto Ellery*
Como queria Ortega y Gasset, “ser de Esquerda é,
assim como estar à Direita, uma infinidade de maneiras que o Homem pode
escolher ser um imbecil: ambas, com efeito, são formas de hemiplegia moral”.
Eu, particularmente, não sou de Esquerda, pois não
sou comunista/socialista, não comungo das ideias de Marx, Engels, Lenin,
Gramsci, Trotski, nem outros milhares de esquerdistas, mas que os leio e
procuro conhecer-lhes o modo de pensar. Até para criticá-los com base,
enfrentá-los nos debates, desde as Assembleias Gerais Permanentes do Diretório
Acadêmico João XXIII. (ô saudade!)
Também não aceito o rótulo de “direitista”,
preliminarmente porque não sou um produto na prateleira, que precisa de
rotulagem para ser reconhecido, mas principalmente porque não concebo que o
amplo leque de ideias e ideais políticos, doutrinários e ideológicos com o qual
aprecio percorrer meu pensamento, possam ser tão estupidamente empobrecidos e
reduzidos a dois focos: Esquerda e Direita (e ainda tem um tal de “Centro”,
que também não sei o que é!). É como pintar o Arco-Íris de preto e branco (e de
cinza, ao centro).
Também não aceito para mim as imputações com que a
esquerda brinda seus adversários de direita:
a. “têm ódio aos pobres, não os querem nos aviões nem
nas faculdades”;
b. “defendem a exploração dos pobres trabalhadores
pelos capitalistas cruéis; odeiam estrangeiros”;
c. “defendem o lucro capitalista antes da justiça
social – e outras bobagens que aprisionam o pensador numa ‘caixinha’”.
Logo eu! Liberal e conservador, que odeio prisões,
por virtuais que sejam!
Atualmente a coisa ficou mais ridícula com o
surgimento dos termos “mortadela” e “coxinha”. Mortadela se refere ao pão com
mortadela, que os sindicatos (esquerdistas) distribuem com seus militantes nas
suas manifestações políticas e passeatas.
Mas coxinha, ao contrário do que pensa a maioria, não
tem nada a ver com o salgadinho (que eu adoro). Em São Paulo, há já algum
tempo, esse termo tem sido usado para identificar aqueles que antigamente eram
chamados de “dandys” “almofadinhas”, “mauricinhos”, principalmente por
seu modo de vestir, sempre limpo e engomadinho (vide João Dória).
Voltando à dicotomia Esquerda X Direita, ou melhor,
“mortadelas” X “coxinhas”, observei que a direita passou décadas em silêncio,
sem participar do debate político nacional, satisfeita com sua posição de
“maioria silenciosa”. Numa mistura de covardia e falta de cultura política,
fugiam do debate com a esquerda, por carência de argumentos para enfrentar a
polêmica, e por medo dos rótulos absolutamente depreciativos que a esquerda
cunhou para qualificar os “coxinhas”.
Mas agora, com a vergonhosa derrocada do PT, símbolo
maior das esquerdas (são várias), e tendo a revolução da Internet colocando um
megafone nas mãos de qualquer abestado que se julga um Aristóteles, a direita
se encheu de coragem, e entrou em campo disposta a ir a la recherche du
temps perdu, mas completamente por fora do que está se passando, com muita
disposição mas sem conhecer as regras do jogo, nem pra que lado tem que chutar,
sai afobadamente dando botinadas nos parceiros, confraternizando com os
adversários e fazendo gol contra.
Como entender, por exemplo, os “coxinhas” incensando
o Ministro Roberto Barroso, que:
1. enquanto advogado defendeu gratuitamente o Cesare
Battisti, braço assassino de um grupo terrorista de extrema esquerda chamado Proletari
Armati per il Comunismo;
2. se cacifou para chegar à suprema corte por conta
dessa advocacia graciosa, e chegou criticando o excessivo rigor do “mensalão”, que definiu como “um ponto fora da
curva”, quando o Marco Aurélio disse que o “novato” chegou querendo dar aulas
aos veteranos;
3. “ressuscitou” os embargos de infringência, com
isso livrando o Dirceu, o Vaccari, o Genoíno, o João Paulo da prisão em regime
fechado, para desespero do Joaquim Barbosa que queria “lascar todo mundo”;
4. mentindo descaradamente frente ao povo brasileiro,
alterou o Regimento Interno da Câmara dos Deputados para evitar uma votação
secreta, que seria perigosa para a Dilma;
5. estuprou a CF88 para retirar da Câmara dos
Deputados o poder de aceitar a denúncia contra a Dilma, e transferiu esse poder
ao Senado Federal, onde se julgava que a “presidenta” teria mais chances;
6. mais uma vez estuprou a CF88 descriminalizando um
aborto ao terceiro mês de gestação.
E chega! Prometo um artigo inteiro só falando do
Barrosão. Tenho muito mais a dizer.
Para concluir, quero alertar para o falar melífluo e
falacioso do Barrosão, que encantou os “coxinhas”. Lembra o flautista de
Hamelin, que segue à frente, seguido pelos ratinhos embevecidos pela melodia
suave e doce de sua flauta, enquanto os conduz ao Rio Weser, onde os matará
afogados.
Pobres “coxinhas”!
COMENTÁRIO
Será que eu poderia assinar esse texto? Não
querendo carona na autoria do Humberto Ellery, porque não desejo passar por coautor
de trabalhos para os quais não tenho o talento necessário. A pergunta, retórica,
vale apenas como declaração de admiração e apoio ao modo como ele diz, e ao que ele
diz.
Rui Martinho Rodrigues