domingo, 29 de abril de 2018

CRÔNICA - A Comunhão (TL)


A COMUNHÃO
Totonho Laprovitera*



Em Sobral, pela homilia do Padre Osvaldo, resolvi ir à missa dominical na Igreja do Abrigo. Quando chegou a minha vez na fila da comunhão, ele parou e, com a hóstia na mão, interrogou-me:

– Em qual paróquia você costuma comungar?

– Padre, a minha paróquia é em Fortaleza. – respondi.

– Qual é o seu nome?

– Antonio

– Mas, lhe chamam por um apelido...

– Totonho.

– Sei... Qual é o seu ofício?

– Sou arquiteto e artista plástico.

– Artista... Se fosse artista eu seria soberbo e não falaria com ninguém... – ironizou.

– Padre Osvaldo...

– Sim?

– Pode me conceder a comunhão, que estou limpo de pecado...

Ele riu, eu comunguei e a fila andou.



CRÔNICA - Acho que Ele Pulou (HE)


ACHO QUE ELE PULOU!
Humberto Ellery*


Eu tenho um sobrinho que foi uma das crianças mais traquinas que eu já conheci. Conto uma, dentre as várias “estrepolias” de sua extensa “folha corrida”.

A sua avó materna, muito religiosa, passava boa parte do tempo rezando, e mantinha na sala da casa um santuário, atulhado de santos de todos os tamanhos e materiais.

Certo dia o Paulinho se aproximou do santuário e, buliçoso que era, começou a mexer. Dona Elvira, que silenciosamente “debulhava” um terço, interrompeu suas orações para admoestar o neto:

Paulinho, não mexa nos meus santos.

Tô mexendo não, vovó, tô só olhando – respondeu o anjinho.  

Paulinho, a gente olha com os olhos, e não com os dedos continuou Dona Elvira.

No momento seguinte: Crás! um santinho de gesso espatifou-se no chão. Dona Elvira levantou-se rapidamente e dirigiu-se ao santuário e, já meio chorosa, ralhou com o neto:

Paulinho, viu o que você fez? Quebrou meu santinho.

Fui eu não, vovó respondeu, com convicção, o pequeno peralta.

Como não foi você, Paulinho? Aqui só estava você. Como pode ser isso?

E o Paulinho, bem compenetrado, como quem conta um segredo, sussurrou:

Vovó, eu acho que ele pulou!

Esse fato surgiu na minha memória ao assistir ao noticiário sobre a investigação do caso Rodrimar, quando o Ministro Barroso, que já havia prorrogado a infindável investigação por sessenta dias, concedeu mais outros sessenta dias à Polícia Federal, para ver se, finalmente, encontram algum delito incriminando o Presidente Temer. Acho que se investigassem minha vida com tanto denodo e persistência iriam acabar descobrindo que fui eu quem matou John Kennedy.

O Presidente Temer, bastante irritado, se queixou do fato de seus advogados, mesmo requerendo formalmente à PF, não terem tido acesso a informações, que correm em sigilo – e, no dia seguinte, ler nos jornais trechos selecionados do inquérito “sigiloso”, os quais, postos fora do contexto, parecem comprometedores.

Algumas pessoas maldosas, mentirosas e totalmente irresponsáveis afirmam que esses “vazamentos” rendem verdadeiras fortunas aos vazadores. Tais vazadores, lá de dentro,  extrairiam trechos do inquérito e os venderiam aos órgãos de imprensa, que os publicam, sem nenhum pudor.


Dizem que no Ministério Público Federal é a mesma coisa.  É óbvio que não acredito nisso. Só pode ser mais uma das tais fake news. Também não acredito que algum “repórter investigativo”, na calada da noite, tenha tido acesso ao prédio da PF, se dirigido aos últimos andares da instituição e, compulsando os autos, produzido a matéria. Seria preciso um Tom Cruise para cumprir essa “missão impossível”.

Aliás, os próprios delegados federais afirmaram em nota oficial que não favorecem, nem perseguem ninguém. Eu acredito piamente. Foi Papai Noel quem me confirmou.


Pelo menos, ao lembrar daquela passagem entre o meu sobrinho danado e a sua angélica avozinha, não tenho mais dúvidas: esse pacote de informações sigilosas “pulou” dos últimos andares do prédio da PF e caiu bem na Redação da Folha de São Paulo.


sexta-feira, 27 de abril de 2018

NOTA ACADÊMICA - Lista Tríplice Está Completa



HOMEM DO ANO NO CEARÁ 
EM 2018
ÂNGELO GUERRA RECEBE INDICAÇÃO 
LISTA TRÍPLICE ESTÁ COMPLETA


O engenheiro Ângelo Guerra, Diretor-Geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), recebeu, na manhã desta sexta-feira, 27 de abril, uma comissão de acadêmicos da ACLJ (Reginaldo Vasconcelos, Arnaldo Santos e Vicente Alencar), que lhe foram comunicar a indicação de seu nome ao título de Homem do Ano no Ceará em 2018, láurea que será outorgada, após sumário processo eleitoral, em dezembro deste ano.




A candidatura do Dr. Ângelo Guerra foi proposta pelo também engenheiro Cássio Borges, jornalista na juventude, ex-diretor da autarquia, Membro Titular da ACLJ, que assevera estar sendo ele considerado, no seu meio profissional, “o melhor Diretor-Geral do DNOCS nos último 30 anos” – o que o credencia de fato para concorrer ao honroso título desta entidade, jornalístico-literária.



Assim, a escolha do “Homem do Ano no Ceará em 2018” se dará a partir de uma lista tríplice já definida, composta por:

1. Romildo Carneiro Rolim – contador, administrador, especialista em Gestão Empresarial e em Normas Internacionais de Auditoria Interna, mestre em Avaliação de Políticas Públicas, funcionário de carreira do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), conhecedor de todos os setores do Banco que já dirigiu ou gerenciou, indicado e nomeado Presidente daquela Instituição Financeira Federal por critério de absoluto mérito técnico; 

2. Ubiratan Diniz de Aguiar, advogado, ex-deputado, Ministro Emérito do Tribunal de Contas da União, que integrou e presidiu, atual Presidente da Academia Cearense de Letras (ACL), cuja gestão tem se empenhado em:

a) unir todas as instituições congêneres no Ceará (fundou o Colégio de Presidentes de Academias e Entidades Culturais do Ceará);

b) atrair as novas gerações de estudantes ao ambiente literário, para estimular a cultura e a arte no Estado;

c) criar um memorial da ACL (a academia de letras mais antiga do Brasil), com modernos recursos técnológicos, a ser instalado no subsolo do Palácio da Luz;

d) e em conscientizar a Administração Pública da importância social do imprescindível apoio das três esferas de Governo às atividades culturais.

3. Ângelo José de Negreiros Guerra, nascido em Fortaleza, com origem familiar na região jaguaribana, formou-se na Universidade de Fortaleza (UNIFOR), e logo que se graduou começou a exercer intensamente a engenharia, ciência para a qual se considera vocacionado.

Sem ter nenhuma conexão política, nem tampouco partidária, ficou surpreso quando foi comunicado de que seria nomeado Diretor-Geral do DNOCS, o que significa que a indicação de sua pessoa atendeu a critério eminentemente técnico.

Isso explica o seu reconhecido desempenho à frente do DNOCS, tantas vezes comandado no passado por pessoas jejunas em hidrologia, em irrigação, em açudagem, desconectadas da história meritória daquela Autarquia Federal, bem como descompromissadas com o destino glorioso que o Órgão merece e que certamente ele terá.



Todos os indicados ao título são grandes destaques cearenses no âmbito nacional, de modo que, após a eleição do Homem do Ano, os demais serão distinguidos com títulos de mérito e subidas homenagens, que lhe serão conferidas pelos agraciados nos anos anteriores – o Líder Empresarial Beto Studart (Homem do Ano 2016) e o Senador Eunício Oliveira, atual Presidente do Senado Federal (Homem do Ano 2017).  

MENSAGEM - O Brasil que Queremos




O BRASIL QUE QUEREMOS




Eu sou Reginaldo Vasconcelos, da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, com os acadêmicos Rui Martinho Rodrigues e Vicente Alencar, falando da Tenda Árabe em Fortaleza, Ceará. O Brasil que queremos é aquele que trate a Cultura como prioridade maior que a Educação nas verbas estatais. O País tem doutores, empresários e políticos bandidos, mas não há atores, músicos, artistas plásticos, ou literatos criminosos.
  

quinta-feira, 26 de abril de 2018

ARTIGO - Quem Vem Lá? (RMR)



QUEM VEM LÁ?
Rui Martinho Rodriuges*



Durante a campanha presidencial de 1930, Getúlio Vargas percorreu algumas cidades, fazendo comícios. João Batista Luzardo (1892 – 1982), gaúcho de Uruguaiana, esperava a comitiva em algum lugar estratégico para, com grande vozeirão, saudar a comitiva. 


Começava gritando: “Quem vem lá?!” Ele mesmo respondia, tecendo elogios ao candidato. Hoje temos uma campanha enigmática. Não sabemos ao certo quem serão os candidatos viáveis. Uns podem cair nas malhas da Lava Jato. Outros já caíram. Não sabemos quem são os novatos, apenas que estão surfando na onda da repulsa aos veteranos. Só nos resta avaliar possíveis nomes.

Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF, notabilizou-se pelo denodo com que se dedicou ao processo do “Mensalão”, quando enfrentou a resistência de alguns dos seus pares e enfrentou as dores de quem corta na própria carne, condenando irmãos ideológicos do partido que ele sufragou. É um jurista de méritos, reconhecido internacionalmente. Acabam aí as informações que sabemos ao certo sobre ele.

Comprou apartamento nos EUA. Isso é uma mácula? Não. Valeu-se de uma offshore, artifício tolerado pela lei. Isso é suspeito? Não sabemos se houve algo irregular ou antiético na transação. Agora se diz que ele bate na mulher. Mas só agora isso apareceu. A Suspeita deve recair é sobre essa afirmação. Sabemos que ele não tem experiência administrativa nem parlamentar. Propala-se que é uma pessoa intratável, do que parece ter dado mostras em algumas ocasiões.

Olhando para além da pessoa, perguntamos: quais são as suas propostas? Não sabemos nada além de que o possível candidato pretende ser um governante íntegro, sem a menor tolerância com a corrupção. Isso é o bastante para grande parte do eleitorado.

Mas será que um homem sem habilidade política, sem partido e sem programa poderá promover o expurgo de corruptos, embora tenha de governar com um Congresso eleito pela via tradicional? Será que ele entende de Brasil?

O homem que não soube enfrentar dez companheiros do STF, por mais difícil que isso seja, saberá enfrentar 513 deputados e 81 senadores, mais 27 governadores e 5.570 prefeitos e inúmeras outras fontes de pressão? Não sabemos, mas desconfiamos que a resposta seja não. Talvez estejamos diante de um candidato com algumas semelhanças com os presidentes Jânio e Collor, no que concerne ao jeito de brigão e intolerante, tão sedutor para uma parte do eleitorado.

Democracia exige partidos bem constituídos. Não temos isso. Barbosa concorrerá para fortalecê-los? Até agora não fez nenhum gesto neste sentido. O Brasil precisa de reforma política, tributária, previdenciária e administrativa. O que ele pensa sobre tudo isso? Não sabemos. Um líder precisa ter equilíbrio. Barbosa não tem demonstrado tal coisa.

Quem vem lá? Uma incógnita. Um salto no escuro. Mas o que dizer dos demais? Depois eu conto.


ARTIGO - O Flautista de Hamelin (HE)



O FLAUTISTA DE HAMELIN
Humberto Ellery*


Como queria Ortega y Gasset, “ser de Esquerda é, assim como estar à Direita, uma infinidade de maneiras que o Homem pode escolher ser um imbecil: ambas, com efeito, são formas de hemiplegia moral”.

Eu, particularmente, não sou de Esquerda, pois não sou comunista/socialista, não comungo das ideias de Marx, Engels, Lenin, Gramsci, Trotski, nem outros milhares de esquerdistas, mas que os leio e procuro conhecer-lhes o modo de pensar. Até para criticá-los com base, enfrentá-los nos debates, desde as Assembleias Gerais Permanentes do Diretório Acadêmico João XXIII. (ô saudade!)

Também não aceito o rótulo de “direitista”, preliminarmente porque não sou um produto na prateleira, que precisa de rotulagem para ser reconhecido, mas principalmente porque não concebo que o amplo leque de ideias e ideais políticos, doutrinários e ideológicos com o qual aprecio percorrer meu pensamento, possam ser tão estupidamente empobrecidos e reduzidos a dois focos:   Esquerda e Direita (e ainda tem um tal de “Centro”, que também não sei o que é!). É como pintar o Arco-Íris de preto e branco (e de cinza, ao centro).

Também não aceito para mim as imputações com que a esquerda brinda  seus adversários de direita:

a. “têm ódio aos pobres, não os querem nos aviões nem nas faculdades”;

b. “defendem a exploração dos pobres trabalhadores pelos capitalistas cruéis; odeiam estrangeiros”;

c. “defendem o lucro capitalista antes da justiça social – e outras bobagens que aprisionam o pensador numa ‘caixinha’”.

Logo eu! Liberal e conservador, que odeio prisões, por virtuais que sejam!

Atualmente a coisa ficou mais ridícula com o surgimento dos termos “mortadela” e “coxinha”. Mortadela se refere ao pão com mortadela, que os sindicatos (esquerdistas) distribuem com seus militantes nas suas manifestações políticas e passeatas.

Mas coxinha, ao contrário do que pensa a maioria, não tem nada a ver com o salgadinho (que eu adoro). Em São Paulo, há já algum tempo, esse termo tem sido usado para identificar aqueles que antigamente eram chamados de “dandys” “almofadinhas”, “mauricinhos”, principalmente por seu modo de vestir, sempre limpo e engomadinho (vide João Dória).

Voltando à dicotomia Esquerda X Direita, ou melhor, “mortadelas” X “coxinhas”, observei que a direita passou décadas em silêncio, sem participar do debate político nacional, satisfeita com sua posição de “maioria silenciosa”. Numa mistura de covardia e falta de cultura política, fugiam do debate com a esquerda, por carência de argumentos para enfrentar a polêmica, e por medo dos rótulos absolutamente depreciativos que a esquerda cunhou para qualificar os “coxinhas”.

Mas agora, com a vergonhosa derrocada do PT, símbolo maior das esquerdas (são várias), e tendo a revolução da Internet colocando um megafone nas mãos de qualquer abestado que se julga um Aristóteles, a direita se encheu de coragem, e entrou em campo disposta a ir a la recherche du temps perdu, mas completamente por fora do que está se passando, com muita disposição mas sem conhecer as regras do jogo, nem pra que lado tem que chutar, sai afobadamente dando botinadas nos parceiros, confraternizando com os adversários e fazendo gol contra.

Como entender, por exemplo, os “coxinhas” incensando o Ministro Roberto Barroso, que:

1. enquanto advogado defendeu gratuitamente o Cesare Battisti, braço assassino de um grupo terrorista de extrema esquerda chamado Proletari Armati per il Comunismo;

2. se cacifou para chegar à suprema corte por conta dessa advocacia graciosa, e chegou criticando o excessivo rigor do “mensalão”, que definiu como “um ponto fora da curva”, quando o Marco Aurélio disse que o “novato” chegou querendo dar aulas aos veteranos;

3. “ressuscitou” os embargos de infringência, com isso livrando o Dirceu, o Vaccari, o Genoíno, o João Paulo da prisão em regime fechado, para desespero do Joaquim Barbosa que queria “lascar todo mundo”;

4. mentindo descaradamente frente ao povo brasileiro, alterou o Regimento Interno da Câmara dos Deputados para evitar uma votação secreta, que seria perigosa para a Dilma;

5. estuprou a CF88 para retirar da Câmara dos Deputados o poder de aceitar a denúncia contra a Dilma, e transferiu esse poder ao Senado Federal, onde se julgava que a “presidenta” teria mais chances;

6. mais uma vez estuprou a CF88 descriminalizando um aborto ao terceiro mês de gestação.

E chega! Prometo um artigo inteiro só falando do Barrosão. Tenho muito mais a dizer.

Para concluir, quero alertar para o falar melífluo e falacioso do Barrosão, que encantou os “coxinhas”. Lembra o flautista de Hamelin, que segue à frente, seguido pelos ratinhos embevecidos pela melodia suave e doce de sua flauta, enquanto os conduz ao Rio Weser, onde os matará afogados.

Pobres “coxinhas”!



COMENTÁRIO

Será que eu poderia assinar esse texto? Não querendo carona na autoria do Humberto Ellery, porque não desejo passar por coautor de trabalhos para os quais não tenho o talento necessário. A pergunta, retórica, vale apenas como declaração de admiração e apoio ao modo como ele diz, e ao que ele diz.

Rui Martinho Rodrigues


terça-feira, 24 de abril de 2018

CRÔNICA - Cinco Elefantes Incomodam Muita Gente (HE)


CINCO ELEFANTES
INCOMODAM MUITA GENTE
Humberto Ellery*



Quem é da minha geração deve lembrar de uma bobagem  que os gaiatos inventaram para  frescar com a nossa cara (zoar, curtir, tirar sarro, bullying, são termos de outra geração). A brincadeira consistia em perguntar como era possível colocar cinco elefantes dentro de um fusca. Enquanto o abestado ficava matutando, tentando descobrir a resposta, o gaiato respondia: “três atrás e dois na frente”. Quá-quá-quá (kkkkkkkkk também não é do meu tempo).

Em seguida, o gaiato tornava a perguntar: “e cinco girafas?” a resposta era também três atrás e duas na frente, só que precisava abrir o “teto-solar” (que era a grande novidade do verão de 64). Apelidada de “cornowagem”, a versão com teto-solar foi uma novidade que foi logo cancelada – saiu de linha.

Lembrei agora dessas bobagens ao saber que o Lúcio Funaro delatou ao MP que certo dia entregou um envelope, contendo um milhão de reais em propina, ao advogado Jose Yunes, dizendo ser destinado ao Eliseu Padilha, para entregar ao Temer. Ou coisa parecida. Não prestei muita atenção à narrativa.

Eu fiquei impressionado foi com o tamanho desse tal envelope. Supondo que era um desses comuns, que acondicionam papel A4, e considerando suas dimensões (21,0 cm X 29,74 cm) o envelope então deve ser ligeiramente maior que o A4 para nele caberem muitas folhas, com alguma folga. Talvez 25 cm X 35 cm.

Sabendo pelo Banco Central que uma cédula de R $ 100,00 mede 7 cm X 15,6 cm X 0, 01 cm, não precisa entender muito de geometria para saber que dez mil notas de cem reais, que perfazem um milhão de reais, colocadas uma em cima da outra dá uma pilha de um metro de altura. Dez mil X 0,0001 m = 1 m.

Mas com um pouco de criatividade podemos colocar “três atrás e dois na frente”. Pegamos pequenos pacotes de dez mil reais, de apenas um centímetro de altura cada, e arrumamos assim: colocamos três pacotes de dez mil no fundo do envelope; a cédula tem apenas sete centímetros de largura, portanto uma ao lado da outra ocupam 21 cm, como o envelope tem 25 cm de largura cabe com alguma folga.

Em seguida, colocamos mais três pacotinhos de dez mil na frente dessas, no mesmo plano. Considerando que a cédula tem 15,6 cm de comprimento, duas cédulas medem então 31,2 cm e o envelope tem 35 cm de comprimento, então cabe. Dessa maneira já acondicionamos sessenta mil reais no envelope, faltam só novecentos e quarenta mil. Mole.

Enquanto eu tentava dar a solução para esse problema lembrei que o Rocha Loures precisou de uma mala para carregar “apenas” quinhentos mil, o Vaccari usava uma mochila, por que diabos o Funaro tinha que vir com um envelope para transportar um milhão de reais? Só para me dar trabalho!

Voltando ao acondicionamento dos restantes novecentos e quarenta mil reais no envelope milagroso, vi que poderíamos colocar mais quinze camadas de sessenta mil, que somadas à primeira camada de sessenta mil já estava com dezesseis centímetros de altura (não esquecer que cada pacote de dez mil tem um centímetro de altura).

Se o envelope ainda não rasgou (será de borracha?) já colocamos dezesseis camadas de sessenta mil reais, perfazendo novecentos e sessenta mil reais. O envelope já está supercheio, e ainda faltam quarenta mil reais, o que fazer? Abre o teto-solar.

Viu como é fácil? Só não aprendi ainda foi acondicionar dólares na cueca!


segunda-feira, 23 de abril de 2018

ARTIGO - Desinformação Jurídica (RMR)


DESINFORMAÇÃO 
JURÍDICA
Rui Martinho Rodrigues*




Juiz natural não se define só pela competência territorial (local da prática do delito) e em razão da matéria (características de delito): pode ser por conexão ou continência entre os objetos dos processos e por prevenção, se o juiz acumulou conhecimento relacionado ao objeto em processo anterior. A desinformação procura confundir, tenta negar a competência do foro de Curitiba para julgar o caso da propriedade dada como propina em São Paulo.

Processo que tenha por objeto a ocultação de propriedade em São Paulo, e um réu com domicílio neste Estado, tendo conexão ou continência com processo em Curitiba, relacionados a crimes cometidos na circunscrição judiciária do Paraná, na forma de pagamento de propina por empreiteiras a agentes públicos, a competência por conexão ou continência será da circunscrição judiciária do Paraná.

Poderá, ainda, haver competência por prevenção, caso o juízo do Paraná já esteja julgando fatos ligados ao objeto situado em São Paulo. A competência em razão da matéria, no caso, é da Justiça Federal, pois afeta órgãos da administração da União.

Temos, ainda, o debate sobre a necessidade de ato de ofício do agente público, retribuindo a propina; e sobre a escritura (registro de propriedade) do sítio e dos apartamentos. A consumação do crime de corrupção passiva se dá quando o agente público pede ou aceita vantagem indevida, não quando a recebe, nem quando se realiza a vantagem negociada. É crime formal. Não precisa produzir efeitos materiais, basta o agente pedir ou aceitar vantagem indevida em troca de retribuição. Isso vale para Lula, Aécio, Temer.

Registro de propriedade em cartório é anulável. O processo penal se baseia no que o Direito Processual Penal chama de “verdade real”. O registro de um imóvel pode ser desconsiderado, quando, por exemplo, tenha constado na declaração do IR como propriedade de quem agora nega ser seu dono (D. Marisa declarou, durante alguns anos, ser proprietária do tríplex), principalmente se o dito imóvel sumiu das declarações aludidas após o início das investigações. Um conjunto de circunstâncias pode ser prova lógico-formal.

A compra de um apartamento não dura sete anos; vendedor não faz reforma mais cara do que o imóvel, a pedido de um possível comprador, sem a transação está consumada; grande empreiteira não faz reforma de apartamento, mas caso o faça, não paga o material adquirido para tal fim valendo-se de dinheiro vivo; não se faz um apartamento caro (um tríplex) em condomínio de cooperativa de bancários, salvo quando se queira ocultar o patrimônio. Um prédio para pobres desvaloriza e dificulta a venda do apartamento de luxo. Isso tudo é prova lógica, semelhante a uma senhora que engravida após uma longa ausência do marido: dispensa perícia, confissão, documento ou testemunha.


CRÔNICA - Peixe Para Tira-Gosto (TL)


PEIXE PRA TIRA-GOSTO
Totonho Laprovitera*




O grande brega-star Falcão me contou que o notável violonista Tarcísio Sardinha anda bebendo num bar fuleragem que só, lá pelas bandas do Rodolfo Teófilo, airoso bairro da cidade de Fortaleza.

Pra vocês terem ideia da coisa e do lugar, os frequentadores diaristas formam mesa na calçada, onde desenham a giz um peixe para bem servir de tira-gosto. Funciona assim: Depois de um gole de cerveja ou um trago de cachaça, o papudim pega uma quengada chinela japonesa e esfrega e apaga o pedaço de peixe, escolhido pra “comer”.

Pois bem, noutro dia, depois de uma talagada de cachaça tamanho dum bonde, um deles aloprou e apagou a cabeça do peixe por inteiro. Foi um deus-nos-acuda e o pau comeu de esmola, na calçada!

– Ôoorra, esse carniça traçou a cabeça do peixe todinha!




– Arre égua, sem-futuro, vai botar boneco por causa dum pedaço réi de peixe?

– Fuleragem, tu não deixou escapar nem o oi do bicho!

– Ah, mói, desse jeito não tem condição, não...

– Garai, tira-gosto é pra beliscar, né almoço, não...

– Agora pronto, o mundo vai se acabar!

– Pois, faça o seguinte: pelo menos beba uma cachaça melhorzinha...

– Por que?

– Ora, porque com cachaça boa, o tira-gosto sobra...

– Home, quer saber duma coisa?

– Não.

– Não é uma ova! Pegue o resto desse peixe véi e...

– No seu!

– Me respeite, seu fela!

Resumindo. Acabada a enronha, com a intervenção da turma do deixa-disso, quando deram fé, já tinham apagado – “comido” – o peixe inteiro! Pra não perder a viagem, mortim de fome, um esgalamido lambeu a calçada, como prato fosse!

E é desse jeito, comumente, em derradeira confusão, que acaba a longa jornada de batente do já famigerado Bar do Peixe.