quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

CRÔNICA - Uma Coisa é Uma Coisa II (RV)


UMA COISA
É UMA COISA
E OUTRA COISA
É OUTRA COISA
II

Reginaldo Vasconcelos*


Ao contrário do que a grande imprensa quer passar ao público, Oprah Winfrey e Catherine Deneuve não estão em trincheiras opostas, quando uma lidera o “Movimento Vestido Negro”, contra o assédio sexual no meio artístico, e a outra assina um manifesto a favor do direito masculino de “importunar” o mulherio.

As atrizes de Hollywood, lideradas pela apresentadora de TV americana, insurgem-se, muito justamente, contra o que no Brasil se conhece como “o teste do sofá” – aquele hábito nefasto de trocar por sexo participações ou empregos glamorosos, que os poderosos da mídia põem em prática, explorando a vaidade e a ânsia femininas de usar a beleza para obter celebridade.

As francesas, por seu turno, estão criticando o vezo “politicamente correto” de tentar demonizar o flerte, a paquera, a azaração, o xaveco – conforme se queira designar, de maneira mais tradicional ou mais moderna – contestando o exagerado sexismo que vem atrapalhando as sadias aproximações amorosas entre os rapazes e as moças, entre os homens e as mulheres.    

De fotógrafos de modelos a diretores de cinema, passando por produtores de televisão, tradicionalmente eles submetem as moças que tentam espaço no meio artístico ao incômodo de ter que deitar com eles (“sair” com eles ou “ficar” com eles), a exemplo do que se tem revelado recentemente em relação a importantes nomes do grand mond “holiudiano”.

É claro que o assédio sexual não se dá somente no ambiente artístico, mas também acontece em todo o meio profissional, sendo que, sabidamente, somente fazem carreira por essa via mais fácil as mulheres que cedem à tentação, e assumem a oportunidade, considerando que isso possa constituir uma boa troca, lícita e justa. As demais têm como rechaçar os avanços, bastando adotar uma maneira de vestir discreta, uma postura adequada, recorrendo às respostas evasivas contra insinuações subliminares.

Sim. Claro que não se está falando nos casos em que a coação física seja usada, quer na empresa, quer na rua, na sala do chefe ou no ônibus lotado, porque aí já se ingressa direto na seara criminal, em que patrão algum vai querer se aventurar – pois quando o faz se expõe a pagar muito caro. Somente os tarados sexuais e os intimoratos penais praticam estupro, em qualquer de suas formas e graus, delito que não é tolerado nem mesmo pelos criminosos de outras castas.

Enfim, a Oprah protesta contra a “cantada” imprópria e insistente, com o uso indevido do poder econômico ou hierárquico, com a aplicação de chantagem profissional, visando a obtenção de sexo hedonístico, sem real vínculo amoroso. Então, ela reclama de excessos licenciosos. Ela repudia abusos sexuais que de fato são intoleráveis.

Já as francesas apoiadas pela insigne Deneuve, essas combatem os exageros culturais trazidos pela onda feminista que assola o mundo moderno, quando se pretende criminalizar as investidas amorosas normais, os naturais amavios desferidos pelos homens enamorados, no jogo de sedução que forma os casais, inibindo dessa maneira que aqueles que se sintam atraídos por alguém manifestem livremente os seus legítimos interesses. Então, a sua intenção é nobre e também tem justa causa.

O torpedo espirituoso, escrito ou verbal 
– do tipo e ainda dizem que boneca não nada,  e a nora que a minha mãe queria – ou o assobio lisonjeiro de fiu-fiu, que no Ceará era aspirado e se denominava coió, tudo isso está hoje proscrito ao campo da mais ignóbil violência moral contra as mulheres – e é com isso que as francesas não concordam.

Recentemente flutuou pela Internet um vídeo nacional em que uma jovem transeunte, vestida de maneira muito sensual, passa por um grupo de homens que estão na calçada, e em seguida retorna, para os agredir verbalmente e ameaçar aos berros, supostamente por haverem eles “olhado” para a  nada discreta bunda dela. Esse é um caso extremo do absurdo contra o qual as francesas estão agora a reclamar.

Mas o que Ms. Winfrey não leva em conta em seu manifesto é que as mulheres não são mais as coitadinhas de outros tempos, hoje bem esclarecidas e “empoderadas”, já tendo conquistado grandes espaços na sociedade, bem como elevados postos de comando, hierárquico e patronal – e a própria Oprah é um exemplo disso – de modo que não lhes cabe mais, exclusivamente, essa carapuça vitimária.

Homens jovens também estão suscetíveis de sofrer assédio feminino (e já faz muito tempo, talvez desde o epidódio bíblico da mulher de Potifar) – no caso deles, geralmente chantageados, menos para a prática de sexo, mas para encetarem namoro com as chefes, quando for o caso, ou até, em situações específicas, para com elas se casarem. Eu mesmo sei de casos recentes que seria indiscreto referir, e outros mais antigos que a modéstia me proíbe detalhar.




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