O CERTO, O JUSTO E O BELO
João Pedro Gurgel*
Na
peça de cinema “O Advogado do Diabo”, Kevin Lomax (Keanu Reeves) é um jovem
advogado. Promissor, ético e prudente. Nunca perdeu um caso. É reconhecido por
sua beleza física e sua forma ímpar de defender seus clientes.
Certo
dia, John Milton (Al Pacino) o convida para trabalhar em sua banca de
advogados, tida como uma das maiores do mundo. Encantando pelo convite, Kevin
aceita sem pestanejar. Sente que seu passado de pobreza e de vida interiorana
vai ser deixado de lado, pois agora terá o melhor salário, os melhores carros,
grandes jantares, viagens internacionais, etc.
Sem
querer dar “spoiler”, adianto que o
final do filme tem cunho épico: Kevin percebe que não estava trabalhando para
si, mas sim por sua vaidade. Mais que isso: pela vaidade dos outros também.
Defendendo traficantes, violentadores sexuais, estelionatários, enfim, gente
que, mesmo cometendo toda sorte de atrocidades morais, queriam se dizer quites
com a lei. E Kevin, por vaidade, havia aceitado defendê-los.
A
meu ver, “O Advogado do Diabo” não é bem uma ficção. Soa mais como uma
metáfora. O mundo jurídico atual, infelizmente, enclausurou-se em seu
tecnicismo. Buscam-se brechas na lei (seja na sua literalidade, seja nos seus
silêncios) para defender, não o que é correto, mas sim “o que a lei diz ou
deixa de dizer”. Certo e errado, justo e injusto, verdadeiro ou falso são
diagnósticos facilmente desprezados. Em nome de quê?
Da vaidade. Da vaidade em prol de manter a fama de imbatível nos tribunais; a vaidade daqueles que usam do cargo como supremacia moral e dele tiram vantagens escusas; a vaidade dos criminosos que anestesiaram sua consciência de tal forma que uma sentença de absolvição é quase um salvo conduto para sua alma.
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