POR UM JUSTICEIRO
EM CADA ESQUINA
João Pedro Gurgel*
“O
Justiceiro” é um quadrinho escrito por Gerry Conway em 1974. Nele, conhecemos
Frank Castle, um fuzileiro da Marinha aposentado que perdeu sua família. Sua
mulher e seus dois filhos são brutalmente assassinados em sua frente, por conta
de negócios escusos que a máfia fez entre si. Completamente transtornado, Frank
abandona seu verdadeiro eu e cria um alter
ego: o “Justiceiro”. Ele não dá a mínima para as prerrogativas conferidas
por nosso Estado de Direito para com os criminosos. Alguém que tem um jeito
mais assustador de fazer justiça.
Estamos
vivendo em franca guerra civil. Fortaleza é uma das cidades mais perigosas do
mundo, dominada por facções criminosas visíveis e invisíveis. Como se não
bastasse o cenário local, todos os dias vemos na TV um show da impunidade.
Por
exemplo, cenas como a do condenado Sérgio Cabral comendo camarão e assistindo aos
mais recentes sucessos do cinema em sua cela, regalias que a maioria dos
presos não tem, sustentadas, muitas vezes não só com dinheiro público, mas com
o assentimento de que nós não podemos fazer nada, e que é isso mesmo.
Para
o Justiceiro não haveria isso. Onde poderia haver o confortável travesseiro da
impunidade, o personagem oferece o medo. A defesa dos mais frágeis através da
brutal reação de quem não tem nada a perder. Logo, a Justiça é respeitada, não
por um pacto social e harmonioso, mas pelo pânico de se chocar com uma punição
real. Mais que ações, os super-heróis costumam propagar uma ideia. Um lema.
Punisher usa uma caveira no peito, para com aquele símbolo avisar aos seus
algozes que chegou a hora de sua punição. Que chegou a hora de temer a Justiça.
Não.
Não consinto que haja um vigilante armado por aí. Não faço apologia ao crime,
nem à autotutela. Mas, devo admitir: estamos com medo. Temos os aparatos
formais de Justiça para nos proteger, mas até seus atores tem medo também. Quem
dera nossos algozes tivessem medo também. Que a ideia de encarar a Justiça
fosse imponente e resolutiva. A ideia. Ainda que em ideia, que houvesse um
Justiceiro a cada esquina.
COMENTÁRIO
Muito pertinente o tema da crônica de João
Pedro Gurgel, atento observador multimídia, com suas percucientes análises do
que se passa no cinema, na TV, e no entretenimento gráfico em geral, trazendo o
frescor da juventude e mostrando que há vida inteligente na “Geração do Milênio”
a que pertence, fora do mundo dos logaritmos aplicados no silício – porque ele detém
inteligência emocional.
O problema da Segurança Pública é de fato muito
grave no mundo todo, inclusive no Ceará, tema da última edição do programa de
TV Observatório, do nosso confrade Arnaldo Santos, resenhado neste Blog – e do ensaio
intitulado Os Dois Tipos de Lixo, escrito por mim próprio para ser postado neste
mesmo sítio lítero-jornalístico digital.
Na rua, dá mesmo vontade de que tivéssemos um
super-herói a cada esquina, protegendo a sociedade. Mas na minha “caverna” o justiceiro
sou eu mesmo. A casa, caro João Pedro, não tem portas – mas tem muros.
Superá-los para adentrá-la, mesmo sem autorização da família e sem mandado da Justiça, não é difícil ao malfazejo... mas é impossível ele
sair. Denunciado por um tribunal de cães de guarda, ele enfrentará um pelotão feroz e certamente será sumariamente
executado.
Reginaldo
Vasconcelos
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