quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

CRÔNICA - Por um Justiceiro em Cada Esquina (JPG)


POR UM JUSTICEIRO
EM CADA ESQUINA
João Pedro Gurgel*



“O Justiceiro” é um quadrinho escrito por Gerry Conway em 1974. Nele, conhecemos Frank Castle, um fuzileiro da Marinha aposentado que perdeu sua família. Sua mulher e seus dois filhos são brutalmente assassinados em sua frente, por conta de negócios escusos que a máfia fez entre si. Completamente transtornado, Frank abandona seu verdadeiro eu e cria um alter ego: o “Justiceiro”. Ele não dá a mínima para as prerrogativas conferidas por nosso Estado de Direito para com os criminosos. Alguém que tem um jeito mais assustador de fazer justiça.

Estamos vivendo em franca guerra civil. Fortaleza é uma das cidades mais perigosas do mundo, dominada por facções criminosas visíveis e invisíveis. Como se não bastasse o cenário local, todos os dias vemos na TV um show da impunidade.

Por exemplo, cenas como a do condenado Sérgio Cabral comendo camarão e assistindo aos mais recentes sucessos do cinema em sua cela, regalias que a maioria dos presos não tem, sustentadas, muitas vezes não só com dinheiro público, mas com o assentimento de que nós não podemos fazer nada, e que é isso mesmo.

Para o Justiceiro não haveria isso. Onde poderia haver o confortável travesseiro da impunidade, o personagem oferece o medo. A defesa dos mais frágeis através da brutal reação de quem não tem nada a perder. Logo, a Justiça é respeitada, não por um pacto social e harmonioso, mas pelo pânico de se chocar com uma punição real. Mais que ações, os super-heróis costumam propagar uma ideia. Um lema. Punisher usa uma caveira no peito, para com aquele símbolo avisar aos seus algozes que chegou a hora de sua punição. Que chegou a hora de temer a Justiça.

Não. Não consinto que haja um vigilante armado por aí. Não faço apologia ao crime, nem à autotutela. Mas, devo admitir: estamos com medo. Temos os aparatos formais de Justiça para nos proteger, mas até seus atores tem medo também. Quem dera nossos algozes tivessem medo também. Que a ideia de encarar a Justiça fosse imponente e resolutiva. A ideia. Ainda que em ideia, que houvesse um Justiceiro a cada esquina.




COMENTÁRIO

Muito pertinente o tema da crônica de João Pedro Gurgel, atento observador multimídia, com suas percucientes análises do que se passa no cinema, na TV, e no entretenimento gráfico em geral, trazendo o frescor da juventude e mostrando que há vida inteligente na “Geração do Milênio” a que pertence, fora do mundo dos logaritmos aplicados no silício – porque ele detém inteligência emocional.

O problema da Segurança Pública é de fato muito grave no mundo todo, inclusive no Ceará, tema da última edição do programa de TV Observatório, do nosso confrade Arnaldo Santos, resenhado neste Blog – e do ensaio intitulado Os Dois Tipos de Lixo, escrito por mim próprio para ser postado neste mesmo sítio lítero-jornalístico digital.  

Na rua, dá mesmo vontade de que tivéssemos um super-herói a cada esquina, protegendo a sociedade. Mas na minha “caverna” o justiceiro sou eu mesmo. A casa, caro João Pedro, não tem portas – mas tem muros. Superá-los para adentrá-la, mesmo sem autorização da família e sem mandado da Justiça, não é difícil ao malfazejo... mas é impossível ele sair. Denunciado por um tribunal de cães de guarda, ele enfrentará um pelotão feroz e certamente será sumariamente executado.

Reginaldo Vasconcelos
   

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