quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

ARTIGO - Utopia Ideológica (RV)

UTOPIA IDEOLÓGICA
Reginaldo Vasconcelos*



“O esquerdismo é uma doença juvenil incurável”, pode-se dizer, parafraseando o velho Lenin

Segundo Dmitry Sidorenko (nosso Membro Honorário em São Petersburgo), mesmo na Rússia de hoje, em que o índice de Felicidade Interna Bruta (FIB) é mil vezes mais elevado que no período soviético, ainda há por lá idosos acometidos desse mal, esquerdistas saudosos dos ímpetos revolucionários que lhes embalaram a juventude e movimentaram os seus hormônios.

Esses marxistas veteranos não aceitam que a causa a que dedicaram a vida toda foi baldada, e por isso não assimilam a realidade de que o comunismo fracassou, embora seja evidente que seu país desfruta agora de avanços tecnológicos garantidores de conforto e segurança, que caracterizam o chamado “bem estar social”, e que somente a competitividade da economia de mercado e a plena liberdade de expressão das democracias capitalistas proporcionam.

Não foi o socialismo que iniciou a produção, a captação, o uso da energia elétrica. Tampouco desenvolveu o automóvel, o avião, a cibernética, a telefonia móvel, para citar os avanços mais sensíveis. Mas também se deve ao capitalismo a pesquisa médica e farmacológica de ponta, as pontes cardíacas, os transplantes de órgãos, mercê dos interesses econômicos concorrenciais entre as nações e as empresas, que financiam as grandes universidades e os grandes laboratórios científicos.

Sim. O capitalismo é desumano – observado do ponto de vista ideológico, não na perspectiva filosófica. É um regime baseado na democracia, que é deplorável (excetuando-se os demais sistemas), segundo timbrou Winston Churchill. O capitalismo democrático permite a cruel dicotomia entre pobres e ricos, e, pior que isso, entre paupérrimos e riquíssimos, restando as normas protetivas da dignidade humana, as políticas sociais e a caridade pública para suprir precariamente as carências dos menos favorecidos pela sorte, mais incautos e imprevidentes, “fundistas” na competição existencial antropológica.

No capitalismo impera a lei da selva. É verdade. Mas não tem jeito. É inelutável enfrentar a meritocracia, tanto na selva quando na vida em sociedade. “Prefeririam, os delicados, morrer” – diria Carlos Drummond de Andrade. Missionários de uma certa denominação cristã, em seus esforços proselitistas, costumam distribuir folhetos em cujas gravuras se retrata o éden onírico que perseguem, um ambiente onde vivem em paz as raposas e os coelhos, as gazelas e os leões.

Trata-se, literalmente, de uma utopia (do latim, “lugar de existência impossível”) – a menos que fosse possível converter carniceiros em herbívoros, o que eliminaria o seu controle populacional e terminaria por matar todos de fome.

Ora, tanto os místicos quando os socialistas em geral precisam enfrentar a realidade de que a única maneira de preservar (e de melhorar) o bem coletivo é aceitar a sorte individual e respeitar a diversidade dos potenciais e dos destinos pessoais, bastando cuidar para que todos tenham oportunidade de evoluir (mobilidade social) e que os mais pobres tenham o mínimo necessário. É só assim que a banda toca. Não dá para promover a felicidade de todos produzindo uma economia engessada, em um cenário social monocromático.

Por esse equívoco filosófico, a ideologia socialista, de uma bela inspiração humanitária dos seus teóricos originais, converteu-se hodiernamente na legião universal dos derrotados ressentidos, a cultuar a ideologia da inveja odiosa, politicamente impulsionados pela bandeira do paternalismo social. Falanges de pretensos heróis da raça, sempre sectários de um demagogo investido em salvador da pátria, pregam que a culpa da pobreza é da riqueza.


Na verdade, a riqueza é reprodutiva e distributiva. Há regiões do Planeta onde não há riqueza, e, por isso, ali todos são pobres. Mas não é possível uma sociedade em que todos sejam ricos. Conclui-se que o ideal é promover o desenvolvimento econômico como um todo, gerando empregos e tributos, para que mesmo os pobres tenham boa qualidade de vida e dignidade social, com oportunidades individuais de evolução. 

Um país rico como o Brasil ainda tem pobreza mais aguda em razão da falta de espírito púbico e da cleptocracia instaladas no poder. Assim mesmo, enquanto as esquerdas bradam contra a má distribuição de renda e a desigualdade social, alegando que os ricos ficam cada vez mais ricos, a pobreza de hoje tem confortos e oportunidades de progresso que não tinha ainda ontem. Conclusão: deixemos os ricos em paz, inspirando apenas a boa inveja criativa, estimulante do empreendedorismo, pois eles tocam a iniciativa privada, que impulsiona a economia, e a vida melhora para todos.


   

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