INSTITUIÇÕES E
DEMOCRACIA
Rui Martinho Rodrigues*
Democracia é um governo consentido pelos
governados, cercado de garantias. O consentimento se dá pelo voto. Garantias
são fruto da desconfiança para com os mandatários.
Normas de contrapoder, impondo obrigações de
não fazer, como não aplicar pena sem prévia cominação legal; não cobrar imposto
sem lei que o autorize; não exercer o mandato além de um prazo determinado; nem
poder além da competência definida pelo ordenamento jurídico; não legislar senão
em harmonia com a Carta Política, esses são exemplos de limitações impostas pela
suspeita.
A limitação dos Poderes tem sido violada. O
STF transformou-se numa casa legislativa, exercendo poder para além da
competência que lhe cabe. Prejulgar, exercer ativismo e populismo judicial
estão presentes no Pretório Excelso.
A corrupção abalou a credibilidade de todos os Poderes da República, assim nivelados por baixo. Não cabe a um deles, fazendo
pose de vestal, exercer funções situadas para além da competência de que está
investido. Isso vale para o Judiciário.
O Legislativo é constituído por correntes
antagônicas. Por isso é o mais representativo dos poderes, sem embargo de
todos os seus vícios. O pluralismo do Parlamento torna mais visível os seus
erros. A transparência deveria prestigiá-lo.
A opinião pública, digo, a opinião publicada (Winston
Churchill, 1874 – 1965), porém, rebaixa a sua legitimidade quando comparada com
o Judiciário. Este é muito mais corporativista porque não é formado por
correntes antagônicas, e as suas lutas intestinas se dão intramuros. Pratica
vigorosa proteção dos seus integrantes, sobretudo na cúpula do Poder. Não
devemos entregar um cheque em branco ao STF. Ele não é mais puro do que o
Congresso.
A crítica aos poderes políticos aponta vícios
do processo representativo. Candidaturas são registrados por partidos sem
representatividade. Candidatos saem do bolso do colete dos donos das
agremiações. Campanhas são elaboradas por publicitários hábeis na arte de
enganar.
O voto tem seus vícios. Mas não existe caminho
alternativo. Cabe aos cidadãos formar agremiações representativas e conceder
mandato a quem os represente. Tal não ocorre, podemos obtemperar. Mas não há
como escapar das consequências da incapacidade de uma sociedade que não sabe
agir politicamente. Cada instituição no seu lugar é o que deve nos inspirar.
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