quarta-feira, 26 de agosto de 2015

CRÔNICA - Parece Castigo (RV)

PARECE CASTIGO
Reginaldo Vasconcelos*

Havia uma mendiga em Fortaleza, lá pelos anos 70, a qual toda a cidade conhecia, pelo método que ela adotava para enriquecer a sua féria de pedinte.

Cabocla clara, talvez quarentona, sempre de vestido enfestado, suas formas roliças não denunciavam miséria absoluta, de modo que não se enquadraria ela no célebre poema Verso e Reverso, de Padre Antônio Tomás:

Essa mulher de face escaveirada / que vês tremendo em ânsias de fadiga / estendendo a quem passa a mão mirrada / foi meretriz antes de ser mendiga”.

No caso, a  criatura parecia não haver atingido o “reverso” a que a poesia se refere, pois em querendo ainda tinha saúde para militar na mais antiga profissão, sem tremor de fadiga nem fisionomia de caveira.

Pelo contrário, ela sentava-se na calçada, recostada na fachada de uma loja, e fazia um vigoroso alarido, clamando por uma moeda, por uma ajuda, apelando exageradamente à piedade dos passantes.

Quem chegava à Praça do Ferreira, por qualquer vertente, já ouvia a latomia pungente daquela mendiga, geralmente instalada entre a Leão do Sul e a Miscelânea, ou entre esta e o Salão Lord.

Não contente com as instâncias verbais chorosas, pedindo ajuda como se estivesse afogando, com uma das mãos ela segurava a barra das calças ou o tornozelo de quem lhe passasse mais próximo, enquanto estendia a outra em concha na direção do seu virtual esmoleiro.

Muitos censuravam a atitude de alguém de aparência sã, dotada de plena capacidade de trabalho, e que recorria à caridade pública por comodismo ou por preguiça. A grande ironia é que, certa feita, sentada no chão em sua função mendicante, na esquina da Farmácia Teodorico, um veículo envolveu-se em acidente, no cruzamento das ruas, subiu a calçada e lhe decepou uma das pernas.

Após receber alta da Santa Casa de Misericórdia ela voltou a pedir esmolas, agora exibindo uma real mutilação incapacitante, para enfim justificar a mendicância, sem mais carecer de tanta súplica.

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Deu-se muito parecido com a Presidente Dilma Rousseff nesta sua crise de governo, quando ela recorreu à uma imaginária conjuntura mundial adversa para explicar os efeitos de sua incúria e seus desmandos na economia brasileira.

Na verdade, o drama econômico sistêmico internacional aconteceu em 2008, causado pelo desequilíbrio financeiro americano, após o ataque às Torres Gêmeas e as consequentes guerras no Islã.

Na época, o então presidente Lula da Silva declarou que aquele tsunami na economia do Primeiro Mundo chegaria ao Brasil como uma tênue “marolinha”, o que até se confirmou, à medida que tudo se normalizou rapidamente.

Agora, revelado o estado gravíssimo em que se encontram as nossas empresas estatais, sangradas em bilhões de reais durante a administração petista para o financiamento de campanhas, com o enriquecimento ilícito dos executivos envolvidos, Dilma resolveu culpar pela sua desídia a velha “marolinha” ocorrida há sete anos.

Então, como aconteceu com aquela mendiga cearense, a justiça divina parece lhe puniu pela blasfêmia. Sobreveio esta semana a explosão da bolha da economia chinesa, ameaçando de crash todas as Bolsas de Valores. Agora tudo ficará ainda pior, e doravante a Presidente poderá dizer, com alguma verdade, que o agravamento da nossa desgraça vem de fora. Parece castigo.

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