A POLÍTICA E OS NOVOS TEMPOS
Rui Martinho Rodrigues*
Vivemos uma crise econômica
desencadeada e agravada por uma crise política, com uma face formada pela
debilidade dos partidos e instituições de representação de interesses; enquanto
outra face é a falta de lideranças dotadas de credibilidade e estatura de
estadistas. A sociedade não tem canais de expressão representativos. Práticas
políticas antigas já não funcionam.
Enganar a todos por algum tempo tende a ter uma duração cada vez menor, embora os atores possam praticar o autoengano com sofreguidão. Enganar a alguns todo o tempo tende a ter um contingente cada vez menor e mais instável de iludidos. Registros eletrônicos indeléveis, somados à integração global, tornando cada vez menos secretas as transações e contas bancárias na Suíça ou em outro lugar, contribuem para tanto. A colaboração negociada de réus completa a nova realidade.
Enganar a todos por algum tempo tende a ter uma duração cada vez menor, embora os atores possam praticar o autoengano com sofreguidão. Enganar a alguns todo o tempo tende a ter um contingente cada vez menor e mais instável de iludidos. Registros eletrônicos indeléveis, somados à integração global, tornando cada vez menos secretas as transações e contas bancárias na Suíça ou em outro lugar, contribuem para tanto. A colaboração negociada de réus completa a nova realidade.
Até a concentração da população nos
espações urbanos, onde a informação, os contatos sociais e a efervescência
política se fazem sentir com mais força, contribuíram para criar a novidade
social, cultural e política. A independência do Ministério Público e do
Judiciário produz resultados.
As práticas políticas transformam-se
mais lentamente do que a tecnologia de comunicação. As redes sociais, a
popularização de bens como rádio, televisores e computadores, integrando o
planeta, criaram uma nova realidade. O patrimonialismo, o nepotismo e os
métodos de cooptação por meios ilegais, o enriquecimento ilícito e o desfrute
de patrimônio alheio, seja de um ente público ou de um particular, pela prática
do crime de concussão (quando o agente público, valendo-se do cargo, exige
vantagem indevida), estão ameaçados.
As instituições foram surpreendidas. Não
estão preparadas para a dessacralização dos valores que embasam a probidade
administrativa e o significado do civismo. O messianismo político, arvorando-se
em defensor do bem, pratica crimes sob a desculpa de fins superiores.
Analogamente aos grupos de extermínio, desviam-se dos objetivos apresentados
como escudo moral. Estes milicianos da política tornaram-se hegemônicos no
campo das ideias. A sociedade ficou sem representação minimamente íntegra,
cedendo a um relativismo laxista no campo ético e cognitivo.
A presunção de superioridade moral e
intelectual é o mais poderoso fator de degradação moral. A chegada ao poder, por parte de
quem se acha legitimado para violar a lei e a moralidade social, passando-se
por esclarecido e intelectualmente superior, nos arrastou à crise cujos
desdobramentos são imprevisíveis.
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