segunda-feira, 10 de agosto de 2015

ARTIGO - A Política e os Novos Tempos (RMR)

A POLÍTICA E OS NOVOS TEMPOS
Rui Martinho Rodrigues*

Vivemos uma crise econômica desencadeada e agravada por uma crise política, com uma face formada pela debilidade dos partidos e instituições de representação de interesses; enquanto outra face é a falta de lideranças dotadas de credibilidade e estatura de estadistas. A sociedade não tem canais de expressão representativos. Práticas políticas antigas já não funcionam. 


Enganar a todos por algum tempo tende a ter uma duração cada vez menor, embora os atores possam praticar o autoengano com sofreguidão. Enganar a alguns todo o tempo tende a ter um contingente cada vez menor e mais instável de iludidos. Registros eletrônicos indeléveis, somados à integração global, tornando cada vez menos secretas as transações e contas bancárias na Suíça ou em outro lugar, contribuem para tanto. A colaboração negociada de réus completa a nova realidade.

Até a concentração da população nos espações urbanos, onde a informação, os contatos sociais e a efervescência política se fazem sentir com mais força, contribuíram para criar a novidade social, cultural e política. A independência do Ministério Público e do Judiciário produz resultados.

As práticas políticas transformam-se mais lentamente do que a tecnologia de comunicação. As redes sociais, a popularização de bens como rádio, televisores e computadores, integrando o planeta, criaram uma nova realidade. O patrimonialismo, o nepotismo e os métodos de cooptação por meios ilegais, o enriquecimento ilícito e o desfrute de patrimônio alheio, seja de um ente público ou de um particular, pela prática do crime de concussão (quando o agente público, valendo-se do cargo, exige vantagem indevida), estão ameaçados.

As instituições foram surpreendidas. Não estão preparadas para a dessacralização dos valores que embasam a probidade administrativa e o significado do civismo. O messianismo político, arvorando-se em defensor do bem, pratica crimes sob a desculpa de fins superiores. Analogamente aos grupos de extermínio, desviam-se dos objetivos apresentados como escudo moral. Estes milicianos da política tornaram-se hegemônicos no campo das ideias. A sociedade ficou sem representação minimamente íntegra, cedendo a um relativismo laxista no campo ético e cognitivo.

A presunção de superioridade moral e intelectual é o mais poderoso fator de degradação moral. A chegada ao poder, por parte de quem se acha legitimado para violar a lei e a moralidade social, passando-se por esclarecido e intelectualmente superior, nos arrastou à crise cujos desdobramentos são imprevisíveis.

A tecnologia de comunicação expõe em demasia, destrói os ídolos de pés de barro. O rádio, veiculando discursos empolgantes, produziu a era dos líderes, com Vargas, Peron, Mussolini, Hitler. A câmara omnipresente, exibindo a miséria humana, deixou no passado o tempo das lideranças personalistas. Somos convidados a buscar o caminho do aperfeiçoamento institucional. Impasse e oportunidade se apresentam. Não podemos perder mais uma oportunidade histórica, sob pena de nos argentinizarmos, ou algo pior.




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