A PRESUNÇÃO
MESSIÂNICA
Rui Martinho Rodrigues*
Platão,
nas primeiras linhas da República, afirma que não se contrata senão um
marinheiro experiente para capitanear um navio. Pretendia com isso legitimar o governo
dos filósofos, havidos como sábios. Confundiu juízo de valor, típico das
decisões políticas, com juízo de realidade, próprio das atividades técnicas,
como pilotar navios. Sócrates apresentava as virtudes como decorrentes do
esclarecimento. O mal era a ignorância.
Joseph
Artur Gobineau, intelectual “esclarecido”, ao gosto dos reis filósofos, errou
feio com uma estúpida teoria racista. Foi acompanhado pela intelectualidade do seu
tempo. Cesare Lombroso, errou feio quando pretendeu explicar o crime pelos
traços anatômicos do crânio e da fisionomia, também acompanhado pelos sábios do
seu tempo. O Grande sábio ateniense que concebeu um governo de filósofos,
retratou-se mais tarde, em obra de maturidade, “As leis”, que os intelectuais
divulgadores escondem.
Keynes
falou em efeito manada, ao descrever os erros praticados pela maioria dos
“técnicos” que orientam investimentos em bolsas, nos momentos de crise. Sowell
critica o que ele chama de “intelectual ungido”, imbuído de espírito
messiânico, armado de presunção de superioridade moral e intelectual, por
estarem sempre errados. Isaiah Berlin e Paul Johnson atribuem tais ao fato de
eles se atrelarem a movimentos, perdendo o senso crítico e sofrendo o efeito
rebanho mencionado por Keynnes.
O
Ministro do STF Luís Roberto Barroso defendeu a tese platônica dos reis filósofos, ao
afirmar que com frequência o papel da mais alta corte é ser uma “vanguarda
iluminista” para a sociedade. Não admira que a
judicialização da política tenha avançado tanto, usurpando a função
legislativa. A hegemonia da ideologia dirigista produziu uma geração de
intelectuais “ungidos”, ao mesmo tempo em que persuadiu a sociedade a aceitar o
jugo do messianismo que erra sempre. A superioridade moral e intelectual deles
é mistificação.
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