TRAIR E COÇAR
(UM CONTRAPONTO ANTROPOLÓGICO)
Reginaldo Vasconcelos*
E,
como estes, as pessoas têm as pulsões instintivas que originalmente lhes
serviam para a busca do alimento, a preservação da vida, a conquista de
parceiros, o zelo da prole.
A
faculdade da comunicação e o consequentemente raciocínio reprimem os instintos, à medida que
o ser humano se submete às crenças místicas, às normas jurídicas, às convenções
da sociedade, em prol das boas relações entre as pessoas, a partir da
experiência civilizatória acumulada.
Todavia,
como tudo que é objeto de pressão se fluidifica e tende a vazar pelas brechas
que encontrar, os comandos instintivos se esgueiram pelos esconsos da conduta
humana, em forma de pecado e transgressão.
Acontece que na mais ampla classificação científica do reino animal o “bicho homem” é vertebrado, pulmonado, bípede, vivíparo, placentário, terrestre, mamífero, ubíquo, e... polígamo, como os lobos e os cavalos – e não monógamo, como os roedores e os pássaros.
O
troglodita mais capaz tornava-se líder tribal, e então tinham direito a mais
fêmeas, e às fêmeas melhores. Logicamente ele tinha mais filhos, e filhos
melhores, e dessa forma os homens e mulheres mais fracos transmitiam sua genética muito menos.
Os
párias se tinham de contentar com uma só mulher, de sua mesma casta, norma de
conduta que terminou se generalizando na sociedade moderna, seja por força de lei
ou por orientação religiosa, que impõe a monogamia universal, exceto em alguns países muçulmanos e africanos.
Porém,
alguns machos da espécie humana não conseguem controlar o impulso de conquistar
novas parceiras e de obter variação sexual, mesmo amantíssimos da suas consortes,
o que explica a manutenção da prostituição feminina e o adultério masculino.
Como
os instintos operam de forma diversa nas fêmeas, movidas por outros hormônios,
o adultério feminino tem etiologia própria. Diferentemente do homem, que trai
ainda quando plenamente feliz com a companheira, a mulher somente o faz quando
está insatisfeita física ou moralmente com o marido ou namorado.
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