NOSSA CASA EM CHAMAS
Rui Martinho Rodrigues*
O Presidente Emmanuel Jean-Michel Frédéric Macron referiu-se aos
incêndios na Amazônia dizendo: “A nossa casa está em chamas”, e “A floresta
amazônica é o pulmão do mundo”. A atmosfera não tem fronteiras. Os limites
nacionais não valem para quem está sendo sufocado. O oxigênio é produzido nos
oceanos, e nem toda Amazônia é coberta por florestas. Nela existem amplos
espaços formados por campos, entre os vales dos rios. A decomposição de matéria
orgânica no solo úmido e quente da floresta produz dióxido de carbono. O saldo
entre a produção de oxigênio e gás carbônico pode até ser desfavorável. O
senhor Macron sabe de tudo isso. Não é tolo. Pretende nos fazer de tolos.
Macron e a senhora Angela Merkel não se preocupam com o
desmatamento realizado em países cuja agricultura não tem aptidão para
concorrer com a dos franceses e alemães, como Congo, Indonésia, Malásia e Peru.
O argumento do patrimônio universal dos recursos naturais da Amazônia
foi muito bem colocado pelo então senador Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque,
que se disse disposto a apoiar a internacionalização da Amazônia, depois da
internacionalização das patentes industriais e de remédios tão necessários ao
bem-estar de humanidade. O argumento da casa comum não é apenas falacioso. É caviloso, como capciosa é a tentativa de nos considerar incapazes
de gerir os nossos recursos por termos incêndios descontrolados.
Grécia,
Espanha, Portugal, EUA, Austrália e a própria França têm tido – recentemente –
centenas de incêndios descontrolados, causando vítimas e até atingindo cidades.
A “nossa casa” não queimou nestes e em outros casos. Nem estes países foram
considerados sem aptidão para soberania. Estação seca e quente, acidentes e
crimes são as causas. Governos não são responsabilizados e recebem ajuda para
enfrentar o fogo. Nós não recebemos ajuda, mas ameaça de sanções econômicas e
de intervenção.
O General Eduardo Dias da Costa Villas Boas, em visita a unidade
militar na Amazônia, encontrou, entre índios, o rei da Noruega. O monarca
entrou no Brasil, não visitou o presidente de nenhum dos três Poderes e teve
autorização para fazê-lo em segredo. Qual o sentido de tal procedimento? E do
presidente francês querendo nos embair com o tal “pulmão do mundo”? Protecionismo.
O agronegócio brasileiro é imbatível. Produz até três safras por ano e usa a
melhor tecnologia do mundo. Não tem interesse em queimadas arcaicas. Não é
incendiário. A agricultura brasileira cresceu mais sobre o cerrado que sobre a
floresta; e mais por aumento de produtividade que pela expansão da área.
O protesto dos coletes amarelos diz alguma coisa sobre a atitude do
senhor Macron: desviar a atenção dos seus problemas internos. E a Amazônia tem
províncias minerais riquíssimas. As economias francesa e alemã estão desacelerando.
Isso lembra protecionismo, lembra o acordo Mercosul-UE. As maiores reservas indígenas
estão localizadas nas fronteiras.
Ameaça de sanções, de intervenção e a tese da
“nossa casa” nos dizem que a velha preocupação com a cobiça estrangeira não é
teoria da conspiração. Somos uma nação pacífica. Negligenciamos a nossa defesa.
Países mais pobres, como Paquistão, Irã, Turquia e Índia, são muito mais
armados. Si vis pacem parabelum, diziam os romanos. O primeiro dever do
príncipe é preparar a guerra, disse Nicolau Maquiavel (1469 – 1527). Nossas
divisões internas não legitimam eventual cumplicidade com a cobiça estrangeira.
É hora de união. Não queremos ser uma Líbia.
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