O
Mais-que-perfeito
Vinicius de Moraes*
Ah, quem me dera
Ir-me contigo agora
A um horizonte firme, comum,
Embora amar-te.
Ah, quem me dera amar-te
Sem mais ciúmes,
De alguém em algum lugar
Que nem presumes.
Ah, quem me dera ver-te
Sempre a meu lado,
Sem precisar dizer-te,
Jamais, cuidado!
Ah, quem me dera ter-te,
Como um lugar
Plantado num chão verde,
Para eu morar-te.
Ah, quem me dera ter-te,
Morar-te até morrer-te.
"A poesia
não é de quem a escreve, mas de quem precisa dela”.
Mário, o ingênuo carteiro do filme italiano de 1994, do livro de Antonio Skármeta, “O Carteiro e o Poeta” (Il Postino).
Apaixonado por sua Beatrice Russo, o carteiro assina e dedica a ela um poema de Pablo Neruda, e confessa a Neruda tê-lo feito.
Ante a reclamação de plágio que o autor lhe faz, compreensivo e condescendente, ele reage com essa frase magistral.
NOTA DO EDITOR
Esse poema de Vinícius de
Moraes, que Maria Betânia declama na gravação de um documentário para a
televisão, tem uma curiosa e ousada inversão, semelhante àquela que o poeta
praticou no seu “Soneto da Fidelidade”:
De tudo ao meu amor serei atento / Antes e com tal zelo, e sempre,
e tanto...
A ordem lógica dos termos
seria:
Antes de tudo ao meu amor serei atento / e com tal zelo, e sempre,
e tanto...
Neste poema “O
Mais-Que-Perfeito” a inversão também ocorre na primeira estrofe:
Ah, quem me dera
/ Ir-me contigo agora / A
um horizonte firme, comum / Embora, amar-te.
A ordem lógica dos termos
seria:
Ah, quem me dera
/ Ir-me contigo embora agora
/ A um horizonte firme, comum / Amar-te.
Já no
último verso do poema, Vinícius dota o verbo “morrer” de transitividade, quando
em português ele é intransitivo: “Morrer”. Ninguém se morre, e ninguém morre outrem.
COMENTÁRIO
É muito bom ler os
acréscimos editoriais. Eles enriquecem os textos.
Júlio Soares.
Este comentário foi removido pelo autor.
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