TANTICO
Totonho Laprovitera*
Tantico era um personagem popular de Sobral que, para todo canto que fosse, só andava carregando um cupido no ombro e um carneiro no laço. Conhecido vendedor de bichos, era especializado em passarinhos ensinados – segundo as más línguas, alcoolizados. Dizem que ele os vendia todo sábado de manhã no mercado, mas os bichinhos escapuliam e regressavam para sua casa à noite.
Pois bem, depois de um bom tempo sumido, Tantico foi encontrado.
Havia virado atração de circo internacional, como afoito e destemido trapezista
estrangeiro. Com todo destaque, anunciado como “El gran Tantyko, lo intrépido de los aires”, exibia-se com
arrojadas piruetas, seguidas de múltiplos e arriscados mortais. Todas essas
proezas, acreditem, sem rede de proteção!.
Aí, nos anos 70, em uma noite de apresentação em Brasília, Tantico
foi reconhecido pelos conterrâneos Marcelo Mincharia e Zé Lírio que, do
apinhado poleiro circense, assistiam ao grandioso espetáculo.
– Será que é ele?
– Acho que é...
– É a cara dele...
– Peraí...
– Tantico, macho véi, desce daí, bicho doido! – gritaram em dois
tempos.
Do alto da plataforma, o artista espiou! Confirmado, era ele mesmo!
Avistando a dupla com o rabo do olho, Tantico ajeitou o cós da apertadíssima e
surrada calça de malha encarnada, espalmou as mãos cheias de breu e, com os
punhos exageradamente amarrados de ataduras, em espetacular tainha se lançou ao
ar, esgoelando-se com um autêntico uivo alencarino. Agarrado ao trapézio, já se
balançando, estridentemente bradou: “¡Ahí adentro, Guarany!”.
“Aí dentro, Guarany!” é o grito de guerra da torcida da agremiação
de futebol cearense Guarany Sporting Club, popularmente conhecida como Guarany
de Sobral, o Cacique do Vale!.
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