quinta-feira, 15 de agosto de 2019

ARTIGO - Hong Kong (RMR)


HONG KONG
Rui Martinho Rodrigues*


Hong Kong está nos jornais. Ex-colônia britânica, vive uma grave crise política. É uma pequena faixa de terra pertencente à China. Sem nenhum recurso natural, goza de um status diferenciado dentro da grande nação asiática. Foi palco de batalha entre japoneses e britânicos na IIGM. Miserável no pós-guerra, superpovoada, teve a população multiplicada por dez desde o fim do grande conflito. Hoje os seus habitantes desfrutam de uma renda um terço maior do que os britânicos de quem foram colônia até 1999. A crise atual é puramente política. Não tem nenhuma relação com alguma insatisfação econômica. O problema reside na relação com o país ao qual pertencem, embora tenham autonomia que estaria sendo objeto de restrição por parte de Pequim.

O milagre econômico de Hong Kong antecedeu o desenolvimento da China e tem a peculiaridade de ter uma carga tributária de 14% do PIB (a nossa é de 33,58% no momento), nenhum imposto sobre ganhos de capital ou receitas de juros; nem sobre valor agregado e a média dos tributos sobre importação e exportação é quase zero. Apesar disso (ou por isso?) não tem déficit orçamentário do governo e a dívida pública é quase inexistente. Hong Kong é classificada como o lugar de maior liberdade econômica do mundo. Não é apenas uma das economias mais livres: é uma das mais ricas do mundo, conforme nos informa Lawrence W. Reed (1953 – vivo). A facilidade de fazer negócios lá, segundo o Banco Mundial, é das maiores do planeta. A prosperidade daquele pedaço da China não resultou de elaboradas fórmulas de pensadores geniais (ou geniosos?).

Sir John James Cowperthwaite (1915 – 2006), governador britânico da então colonia do Reino Unido é o pai do milagre. Pediram-lhe que elaborasse um plano para estimular a economia da colônia, mas o escossês viu que HK já estava se recuperando sem intervenção do goveno. Enquanto a metrópole, sob o governo trabalhista do primeiro ministro Clement Attlee, enveredava pelo caminho do dirigismo estatal, Cowperthwaite optou o que nomeou como “não intervencionismo positivo”. Ele não acreditava em protecionismo nem subsídios, nem sequer para as chamadas indústrias infantes, por entender que se forem mimadas não amadurecerão. O Reino Unido patinou na estagnação econômica durante longos anos. Hong Kong experimentou um milagre econômico extraordinário.

A Argentina tem um grande território, é extremamente rica em recursos naturais, há mais de um século tem um população com índice de escolaridade satisfatório e chegou a figurar entre as nações mais prósperas do mundo. Depois da prosperidade inicial, o caminho seguido pelos nossos vizinhos do sul foi o oposto do escolhido por Hong Kong. Os resultados também foram opostos. A estagnação tem sido o desempenho médio da economia argentina por mais de meio século, apesar (ou por causa) de muita regulamentação, carga tributária alta, dirigismo estatal e medidas de proteção social. Será que proteção desprotege, como diria o “filósofo” Eramos Carlos (1941 – vivo)?

Argentina e Hong Kong não são casos únicos de cada tipo de fenômeno. Os tigres asiáticos todos guardam semelhança com o exemplo da ex-colônia britânica encravada na China. A América Latina em geral guarda semelhança com o exemplo argentino. Até a União Europeia, que alcançou alto grau de desenvolvimento antes de adotar o Estado Provedor e abundantes regulamentações protetoras, hoje está sendo ultrapassada pelos asiáticos. A experiência histórica nos diz alguma coisa?


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