HONG KONG
Rui Martinho Rodrigues*
Hong Kong está nos jornais. Ex-colônia britânica, vive uma grave crise política. É uma
pequena faixa de terra pertencente à China. Sem nenhum recurso natural, goza de
um status diferenciado dentro da grande nação asiática. Foi palco de
batalha entre japoneses e britânicos na IIGM. Miserável no pós-guerra, superpovoada,
teve a população multiplicada por dez desde o fim do grande conflito. Hoje os
seus habitantes desfrutam de uma renda um terço maior do que os britânicos de
quem foram colônia até 1999. A crise atual é puramente política. Não tem
nenhuma relação com alguma insatisfação econômica. O problema reside na relação
com o país ao qual pertencem, embora tenham autonomia que estaria sendo objeto
de restrição por parte de Pequim.
O milagre econômico de Hong Kong antecedeu o desenolvimento da
China e tem a peculiaridade de ter uma carga tributária de 14% do PIB (a nossa
é de 33,58% no momento), nenhum imposto sobre ganhos de capital ou receitas de
juros; nem sobre valor agregado e a média dos tributos sobre importação e
exportação é quase zero. Apesar disso (ou por isso?) não tem déficit
orçamentário do governo e a dívida pública é quase inexistente. Hong Kong é
classificada como o lugar de maior liberdade econômica do mundo. Não é apenas
uma das economias mais livres: é uma das mais ricas do mundo, conforme nos
informa Lawrence W. Reed (1953 – vivo). A facilidade de fazer negócios lá,
segundo o Banco Mundial, é das maiores do planeta. A prosperidade daquele
pedaço da China não resultou de elaboradas fórmulas de pensadores geniais (ou
geniosos?).
Sir John James Cowperthwaite (1915 – 2006), governador britânico da
então colonia do Reino Unido é o pai do milagre. Pediram-lhe que elaborasse um
plano para estimular a economia da colônia, mas o escossês viu que HK já estava
se recuperando sem intervenção do goveno. Enquanto a metrópole, sob o governo
trabalhista do primeiro ministro Clement Attlee, enveredava pelo caminho do
dirigismo estatal, Cowperthwaite optou o que nomeou como “não intervencionismo
positivo”. Ele não acreditava em protecionismo nem subsídios, nem sequer para
as chamadas indústrias infantes, por entender que se forem mimadas não
amadurecerão. O Reino Unido patinou na estagnação econômica durante longos
anos. Hong Kong experimentou um milagre econômico extraordinário.
A Argentina tem um grande território, é extremamente rica em
recursos naturais, há mais de um século tem um população com índice de
escolaridade satisfatório e chegou a figurar entre as nações mais prósperas do
mundo. Depois da prosperidade inicial, o caminho seguido pelos nossos vizinhos
do sul foi o oposto do escolhido por Hong Kong. Os resultados também foram
opostos. A estagnação tem sido o desempenho médio da economia argentina por
mais de meio século, apesar (ou por causa) de muita regulamentação, carga
tributária alta, dirigismo estatal e medidas de proteção social. Será que proteção
desprotege, como diria o “filósofo” Eramos Carlos (1941 – vivo)?
Argentina e Hong Kong não são casos únicos de cada tipo de
fenômeno. Os tigres asiáticos todos guardam semelhança com o exemplo da
ex-colônia britânica encravada na China. A América Latina em geral guarda
semelhança com o exemplo argentino. Até a União Europeia, que alcançou alto
grau de desenvolvimento antes de adotar o Estado Provedor e abundantes
regulamentações protetoras, hoje está sendo ultrapassada pelos asiáticos. A
experiência histórica nos diz alguma coisa?
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