ANGÚSTIA
Edmar Santos*
A última pedra que
forma o espigão de mais de seiscentos metros que invade o mar da Capital
Fortaleza, defronte à Av. João Cordeiro, foi seu lugar de assento para meditar.
O sol, com preguiça de ir embora, brincava de pintar de laranja o céu da tarde.
Ela estava absorta
em seus pensamentos e a angústia lhe aguava os olhos, que traziam um tom
avermelhado. Lágrimas caíam com pressa de percorrer o rosto de quem tinha pouca
idade, como quem pega carreira para saltar, o nariz afilado lhes servindo de
trampolim para que se precipitassem no mar.
As ondas que se
desmanchavam no choque com as pedras faziam uma borrifação de gotículas, que
ela tentava aparar com a mão direita, enquanto a esquerda apoiava-lhe o queixo
sobre os joelhos. O mar, cheio de paciência e afeto, lhe molhava os pés como
que lhe massageando, enquanto lhe dizia: Sim, sou feito delas – sou água e sal
que escorre de seus olhos.
Ergueu a cabeça, e
olhando o horizonte longínquo fitou uma jangada que deslizava impelida pelo
vento. Contemplativa orou: “Que os ventos também me incitem a vontade de viver!”.
Levantou-se, a
escuridão chegava em tons de azul. Passou a mão pelos longos cabelos pretos e
molhados, fazendo-os em um coque. O pescoço exposto foi envolto pelas mãos
enquanto seus passos davam retorno para o calçadão.
As sandálias do tipo
havaianas coloriam com tiras seus pés alvos e cobertos por uma fina camada de
areia foram sacudidas por fortes pisadas na calçada, como um ritual
inconsciente de firmar-se em pé para uma nova caminhada. Respirou profundamente
de olhos fechados.
Seguiu caminhando,
enquanto a brisa marítima lhe afagava e lhe acolhia os suspiros, como se fosse
uma resposta à sua oração. Seus pensamentos, agora mais calmos pelo descarrego
das lágrimas, dizia-lhe: “Sim, eu posso me perdoar e perdoar os outros.” Seguiu
vivendo.
COMENTÁRIO
Eu diria que, esse vento
que incentiva a vontade de viver seria o sopro de Deus trazendo um renovo para
a vida de tantos que em meio à multidão são acometidos por angústias. Lindas
palavras meu amigo.
Joanna Santos
Eu diria que, esse vento que incentiva a vontade de viver seria o sopro de Deus trazendo um renovo para a vida de tantos que em meio à multidão são acometidos por angústias. Lindas palavras meu amigo.
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