CARCARÁ
Alana Alencar*
Era um Majestoso Carcará (como aquele da música do Caetano…)
Voava enlouquecido pelo quarto pequeno… sem espaço.
Tinha fome de tudo o que era resto.
Eu observava. Não sentia medo!
Eu precisava estar atenta ao bater de suas asas, à sua direção.
De repente, como se num golpe certeiro, o bicho atravessou-me o
peito... e com suas gigantescas garras arrancou-me a alma e todo sentimento.
Saiu em voo leve para longe levando consigo os meus devaneios.
Os matou… os devorou como se fossem carne a sangrar.
Em mim, restou a dor e o oco.
Duas horas da manhã… e os sinos acusaram o próximo ato.
O Carcará voltou… pousou a hierarquia de suas asas sobre a minha
boca como quem pede silêncio.
Devolvendo o que antes me levara, feriu-me a língua...
empurrou-me alma corpo a dentro.
Outra vez, toda em sentimento, percebi que já passava das seis.
Seis horas a mais. Seis horas de paz. Seis horas de pura euforia.
Poema de uma beleza indizível.
ResponderExcluir