A
RESPONSABILIDADE
DAS ELITES
Rui Martinho Rodrigues*
A compreensão de que quem influencia os destinos da humanidade são
as elites é amparada em sólida argumentação. Abundantes observações empíricas
amparam este entendimento. Carl W. Mils (1916 – 1962) seguiu este caminho.
Estudou o poder nos EUA, na obra “A elite do poder”, em que identifica as elites
política, que nomeou como “diretório político”: guerreira, a qual referiu como
“cúpula militar”; econômica, nas palavras dele “ricos associados”; e as
“celebridades”, entre as quais colocou intelectuais e artistas. Qualificou os
intelectuais, que vivem do saber, com a expressão “ascensão maligna do perito”.
É preciso identificar os diferentes grupos integrantes das parcelas
influentes da sociedade, os seus interesses, os meios de que se valem para
exercer o poder, entre outros aspectos. Segundo Gaetano Mosca (1858 – 1941) as
elites são cinco: guerreira, sacerdotal, política, econômica e intelectual. Nem
sempre todas estão presentes.
Quanto mais diversificadas e maior a concorrência entre elas mais
democrática a sociedade. Quando as elites econômica, sacerdotal e militar foram suprimidas ou manietadas, restando apenas a
elite política de um partido único, como nas experiências do socialismo real,
instalou-se uma ditadura. O “reinado do terror”, do partido Jacobino, também
foi isso.
Inúmeros pensadores reconheceram a concentração de poder nas mãos
das elites. Roberto Michels (1876 – 1936) chegou a formular a “lei de ferro da
oligarquia”, segundo a qual o poder tenderia a ser sempre oligárquico. A
oligarquização de regimes revolucionários e libertários é fato histórico. A
Revolução Francesa desembocou na nomeação de integrantes da família Bonaparte
como reis de vários países. O regime comunista da Coreia do Norte,
revolucionário e “proletário”, instituiu um poder hereditário.
Elites não são homogêneas quanto a interesses, motivações, métodos
de ação, meios de que se valem para exercer o poder ou visão de mundo. É ilusão
pensar em uma ação orquestrada das elites, nos termos das teorias
conspiratórias.
Quem são as elites aqui mencionadas? Os intelectuais, segundo
Raymond Aron (1905 – 1983) são os escribas, letrados e peritos. Thomas Sowell
(1930 – vivo) restringe os intelectuais aos que tratam apenas de ideias, sem
enfrentar problemas práticos, já que engenheiros não são lembrados como
integrantes desta categoria, mas filósofos e poetas o são. Podem “pisar nas
nuvens distraídos”.
No Brasil os escribas defendem interesses corporativos com unhas e
dentes nas corporações poderosas, acumulando privilégios. Os nefelibatas
aliam-se aos escribas, aproveitam a convergência de interesse e vendem ilusões
justificando privilégios corporativos alegando que os mesmos podem ser
alargados para todos, sem precisar investir nem aumentar a produtividade e sem
esforço. Basta o leviatã publicar uma lei criando direitos.
O grande capital entra na aliança com o capitalismo de compadrio,
mafioso, como as grandes empreiteiras acumpliciadas com partidos
revolucionários, de intelectuais que se dizem defensores do proletariado.
Deterioração das contas públicas, estagnação da produtividade, corrupção e
degradação dos serviços essenciais é o que resulta disso.
A aliança mafiosa de parte das elites dominou a opinião pública.
Diversificar as elites e estabelecer competição entre elas é o caminho para
modificar a situação descrita. A ação penal iniciada em Curitiba poderá
contribuir para abalar o capitalismo parasitário. Falta alcançar os escribas e
nefelibatas.
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