PRECISAMOS
DE
UM NOVO PARLAMENTO
Cândido Albuquerque*
Denomina-se
parlamento a instituição política que forma parte do governo de um país e que
tem como característica principal estar composta por vários membros, de
diversas tendências ideológicas, religiosas e sociais, sendo, pois, a
instituição que melhor e mais diretamente representa o povo.
Além
da chamada função típica, que é a de legislar (o que não é pouco), no caso do
Brasil, cabe ao Parlamento muito mais, especialmente fiscalizar os atos do
Presidente da República e “zelar pela preservação de sua competência
legislativa, em face da atribuição normativa dos outros Poderes”.
Nesse
sentido, nenhuma reforma importante pode ser introduzida na vida dos
brasileiros sem a aprovação do Congresso Nacional. Nos sistemas bicamerais,
como é o caso do Brasil, surge o Senado da República como um “olimpo” moderno, com
função moderadora, onde representantes dos Estados e do povo, em representação
igualitária e membros com mais de 35 anos, têm a prerrogativa de, dentre outras
atribuições, julgar o Presidente da República e os Ministros do Supremo
Tribunal Federal.
Sim,
é isso mesmo! Os Ministros do Supremo Tribunal Federal estão sob a “jurisdição”
do Senado da República nas infrações político-administrativas
cometidas no desempenho da função, o que, por si só, mostra a
importância do Senado.
Nesse
contexto, enquanto o Poder Executivo normalmente é exercido por um partido, e o
Judiciário é apartidário, o Legislativo, nos regimes democráticos, é
pluripartidário, pelo que, representando quase todos os segmentos sociais,
representa, por excelência, os anseios do povo. É, assim, um poder fundamental
para o equilíbrio democrático da nação, sendo, portanto, a instituição que
melhor e mais eficientemente calibra o equilíbrio entre os demais poderes.
Espera-se, portanto, que seja integrado por homens e mulheres de reputação ilibada
e passado limpo.
No
caso do Brasil, lamentavelmente, não é esse o cenário que se apresenta! E sob
todos os aspectos.
Boa
parte dos deputados e senadores é acusada ou está sendo investigada pelo
cometimento de crimes, e alguns parlamentares são acusados de desvios de verbas
públicas, razão pela qual estão sujeitos a julgamento pelo STF.
Ali,
muitos são “defendidos pelo tempo” e se livram dos processos pela prescrição. E
mais, alguns “operam”, dissimuladamente, com o serviço público, e outros ficaram
ricos contratando, também dissimuladamente, com o poder público.
Esse
é o lamentável quadro do nosso parlamento, apesar, registre-se com louvor, da
presença de alguns que honram e dignificam o Legislativo. Nesse quadro, já se
tornou “coisa comum” o Executivo negociar verbas com parlamentares para aprovar
leis e emendas à Constituição, o que bem demonstra a decadência dos “nossos
representantes”.
Não
podemos mais aceitar que parlamentares negociem indicações para órgãos públicos
de onde esperam vantagens ou que negociem verbas que destinarão a prefeitos em
troca de votos para a reeleição. Precisamos dar um fim nessa promiscuidade, e,
certamente, isso não será alcançado com a recondução de muitos dos que hoje
operam dessa forma e querem voltar. Precisamos mudar a imagem do nosso Parlamento, ou nenhuma mudança será verdadeira.
A
qualidade da composição das nossas casas parlamentares, embora alguns não
percebam, é fundamental para o reequilíbrio do Brasil e a construção do nosso
futuro. Não podemos mais tolerar que políticos profissionais se equilibrem na
função pública, ou que herdeiros mal sucedidos na vida privada encontrem no
parlamento uma atividade profissional.
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