ESCRITA & MODISMO
Assis
Martins*
É realmente maravilhoso, nos seus distintos
estádios, o desenvolvimento da comunicação humana por intermédio da escrita. Muito
interessante é o fenômeno atual que se estabelece na escrita do dia a dia nas
telas dos computadores e afins: o Internetês!
Façamos uma pequena introdução a essa saga
através dos séculos, e, sem pretensão de esmiuçar o assunto, apenas como
curiosidade sobre essa linguagem virtual esdrúxula, usada, notadamente, pelos
jovens.
O homem primitivo utilizava sinais e gestos
para se comunicar com os seus semelhantes numa linguagem conduzida pela emoção.
Quando as relações entre os grupos foram ficando cada vez mais complexas,
cresceu também a sua capacidade de relacionar coisas e fatos: era o início do
desenvolvimento do raciocínio dedutivo.
A comunicação entre grupos humanos, à medida que
gradativamente ganhava novos símbolos e se desenvolvia, ensejava, pari passu, um aumento na sua capacidade
de fazer ligações entre coisas materiais e os diversos estados psíquicos - como a tristeza, o medo, a alegria etc.
Os estudiosos, até hoje, não conseguiram
explicar como se deu o desenvolvimento da escrita ao correr dos séculos. Sabe-se
é que, antes do aparecimento do papel, o homem utilizou em vários estádios o
material disponível na natureza para sua comunicação: a pedra (a primeira lei
dos Hebreus no Monte Sinai), o mármore (túmulos, placas); a argila e o metal. Do reino vegetal, recorreu ao papiro, ao passo que, do reino animal, louvou-se
no pergaminho.
Longuíssimo decurso se deu, até que surgiu a Internet,
desenvolvida em 1969, na época da guerra fria para comunicação entre bases
militares estadunidenses e, graças aos avanços tecnológicos, se tornou, em 1995,
esse importante meio para diversão, interatividade e comunicação em escala
mundial.
Com o desenvolvimento das diversas plataformas
no meio virtual (Facebook, Twitter, Instagram e outras), foi-se estabelecendo uma escrita-padrão, cujas
características são o descarte das regras de acentuação, o desprezo às normas
gramaticais e o uso de termos que se aproximam da fala.
Essa linguagem bizarra no meio on-line é bem característica do espírito
rebelde da juventude, cada vez mais descolada, e tem um formato peculiar que
leva a uma enturmação das comunidades
virtuais que têm interesses comuns. Como é um meio onde o estímulo visual
predomina, as emoções – amor, raiva, amizade e outras – são representadas pelos
emoticons (pequenos desenhos) e os
bate-papos são animados por bichinhos e palavras piscantes (gifs).
Há uma relação muito grande de palavras
abreviadas já consagradas pelo uso, algumas mais corriqueiras como Add: adicionar; Amg: amigo; Amr: amor; Bjs: beijos; Pq: porque; Qdo: quando
etc.
É claro que não podemos esperar que a
juventude, inquieta e antenada, com o dinamismo natural da idade e a velocidade
das mudanças tecnológicas, se comunique por meio das redes sociais com o estilo
empolado da norma exigida pela gramática. Seria esquisito ler diálogos neste
teor: “...prezado amigo, sugiro que adiemos
sine die nosso encontro” ou “...saibas
que será de bom alvitre uma conversa amistosa para...”. Em suma, quanto
mais a tecnologia avançar e mais usuários acessarem a internet, mais esse
dialeto será consolidado.
Séria discussão está sendo configurada nos
meios acadêmicos com relação ao futuro da nossa língua. Alguns são contra,
baseados no argumento de que há uma grave ameaça ao idioma pátrio com a
abreviação de vocábulos, inserção de estrangeirismos, o que configuraria o
surgimento de uma gramática particular; afirmam também que a falta paulatina do
contato com os livros pode ser um péssimo legado para as gerações futuras.
Outra corrente de pensamento pondera que um
conjunto de palavras sem nexo, regras de sintaxe, semântica e pontuação não
pode criar e estabelecer uma gramática-padrão; ademais, o desenvolvimento
tecnológico cada vez mais acelerado, enseja o aparecimento de novos termos, num
processo que continua ad infinitum.
Sem tomar partido nesse debate, podemos
observar que os jovens não são tão alienados como alguns pensam. Muitos, mesmo
sendo usuários frequentes das redes sociais, hashtags, chats e outras
ferramentas, vivem estudando as regras gramaticais, tanto para usá-las em
concursos, como no ambiente formal das suas futuras profissões.
Um conselho sensato ao jovem é que curta da
maneira mais agradável como lhe aprouver o contato virtual com as suas galeras,
mas não se descuide do modo correto do idioma pátrio, mesmo com a chatice das
regras, com as ciladas da pontuação, da semântica, da sintaxe e as rasteiras da
nova nomenclatura.
Vá para as balada, aproveite a vida e olho
muito vivo: se for redigir, não beba!
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