DEL’ALMA
Totonho Laprovitera*
Del’Alma, a morena
da boca bem frocada,
era dama toda noite
Beijava um de cada,
buscando algibeiras
nos bolsos pelas beiras,
ao fim da madrugada.
Del’Alma, argentina
das bandas do Serviluz,
talvez lá do Paraguai
Quando apagava a luz,
caqueava bem no breu
Na casa do “seu” Abreu,
atacava os zulus
Del’Alma, amorosa,
temperava-se de sal
do suor dos largados
O que bem fazia mal
nada via, cegava
Calada, segredava,
partia sem dizer tchau
Nota do Autor: Toda espilicute, Del’Alma era uma saliente
empregada doméstica que marcou época na Avenida Beira Mar, trabalhando na casa
do Cláudio Pereira.
Nota do Autor: Cláudio Roberto de Abreu Pereira foi um
notório agitador cultural cearense (1945 – 2010), boêmio romântico, graduado em Direito e pós-graduado em
outras Ciências Humanas em grandes universidades do Brasil, da França e dos
Estados Unidos, jornalista e militante dos mais nobres ideais, antagonista
clássico do Regime Militar que o País atravessou e no qual foi preso e torturado, protetor
das letras e das artes no Estado, em que ocupou cargos públicos relacionados ao
setor cultural. Sequelado medular em acidente desde jovem, dizia-se que a sua
cadeira de rodas era uma “cadeira voadora”, já que ele era onipresente a todos
os bares e a todos os eventos importantes da Cidade. Sua casa, na Avenida
Beira-Mar, era ponto de encontro de jovens artistas que se projetariam no
cenário nacional. Cláudio Pereira é Patrono Perpétuo da Cadeira de nº 38 da
ACLJ, cujo titular vitalício é hoje Totonho Laprovitera.
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